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Tese - Trabalho Completo - Instituto de Artes

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VIVENDO DE CINEMAAntonio Ferreira <strong>de</strong> Sousa Filho<strong>Tese</strong> apresentada à Escola <strong>de</strong> Comunicações e <strong>Artes</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> SãoPaulo, à Área <strong>de</strong> Concentração: Estudo dos Meios e da Produção Mediática,como exigência parcial para obtenção do título <strong>de</strong> Doutor, para a banca <strong>de</strong>examinadores formada pelos professores:Presi<strong>de</strong>nte:_____________________________________________________1 o Membro:_____________________________________________________2 o Membro:_____________________________________________________3 o Membro:_____________________________________________________4 o Membro:_____________________________________________________Defendida em: ............./............./.............


DEDICATÓRIASDedico este trabalho a todos osprofissionais que ajudaram a edificar ahistória do nosso cinema, especialmenteaqueles <strong>de</strong> funções pouco ouvidas nosestudos cinematográficos brasileiros.À minha esposa Cida, pelo carinho,<strong>de</strong>dicação e compreensão pelasausências <strong>de</strong>sse período.À Profa. Dra. Maria Helena <strong>de</strong> Nóbrega(Lena) pelo incentivo.In memoriam:Aos meus pais, Antonio Ferreira <strong>de</strong> Sousae Maria Lour<strong>de</strong>s da Costa Sousa;Aos Profs. Octavio Ianni e Eduardo Leone.


“Se eu não tivesse fé,não continuava a fazer filmes.”(Manoel <strong>de</strong> Oliveira)


SUMÁRIOINTRODUÇÃO.......................................................................................................... 1CAPÍTULO 1: A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOS TRABALHADORESCINEMATOGRÁFICOS DE SÃO PAULO................................................................ 61.1. Um pouco <strong>de</strong> história.......................................................................................... 61.2. Evolução do quadro <strong>de</strong> funções cinematográficas............................................. 131.3. A televisão entra em campo............................................................................... 211.4. Artistas, técnicos e suas escolas........................................................................ 231.5. Convergência tecnológica.................................................................................. 27CAPÍTULO 2: CINEMA: SONHO E REALIDADE.................................................... 322.1. Meu relato pessoal............................................................................................. 322.2. A fundação do SINDCINE e tentativa <strong>de</strong> continuar na profissão....................... 462.3. Invertendo as priorida<strong>de</strong>s................................................................................... 482.4. O ensino como uma ativida<strong>de</strong> paralela.............................................................. 492.5. A fundação do <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Estudos Audiovisuais Roberto Santos.................... 502.6. Fazendo um filme <strong>de</strong> três milhões com trezentos mil........................................ 50CAPÍTULO 3: VIVER DE CINEMA........................................................................... 593.1. A escolha da profissão....................................................................................... 603.2. O aprendizado do ofício..................................................................................... 633.3. A sobrevivência e as ativida<strong>de</strong>s paralelas.......................................................... 683.4. Geração Contemporânea que está dando certo no mercado............................ 77CAPÍTULO 4: O PAPEL DOS SINDICATOS DE TRABALHADORES................... 874.1. Militância............................................................................................................. 874.2. Cassação do Sindicato <strong>de</strong> Trabalhadores e surgimento das Associações <strong>de</strong>Realizadores.............................................................................................................. 92


4.3. Qualificação profissional..................................................................................... 994.4. Reivindicações trabalhistas................................................................................ 1034.5. Limitações quanto à atuação do Sindicato......................................................... 1064.6. Trabalhadores na Indústria Cinematográfica ou Audiovisual?........................... 109CAPÍTULO 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 112REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 118ANEXOS


INTRODUÇÃOO que é viver <strong>de</strong> cinema hoje? Até os anos 1950 trabalhar emcinema, em São Paulo, era uma gran<strong>de</strong> aventura; não era consi<strong>de</strong>rado umaprofissão. Carlos Ortiz 1 , <strong>de</strong>stacado crítico <strong>de</strong> cinema, teórico e diretor <strong>de</strong>filmes, especialmente no período 1948 a 1954, época em que surgiram osgran<strong>de</strong>s estúdios em São Paulo, ao ser indagado sobre a experiência daCompanhia Cinematográfica Vera Cruz diz o seguinte:...foi uma experiência boa, positiva, porque o cinematambém não podia ficar toda a vida nas apalpa<strong>de</strong>las, nessastentativas assim <strong>de</strong> rua, etc.... tinha que se consolidarindustrialmente. Porque o gran<strong>de</strong> problema do cinema atéhoje, a meu ver, do que eu leio, do que eu <strong>de</strong>preendo aí,ainda é esse. Quer dizer, o pessoal <strong>de</strong> cinema tem que viverdo cinema para que possa viver para o cinema. (ORTIZapud BERRIEL, 1981, p. 13).Jacques Deheinzelin, em trabalho ainda não publicado, faz umlevantamento, indicando que, no mundo inteiro, dos anos 1950 para cá, oíndice <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> audiovisual cresceu, no mínimo, 20 vezes e, no Brasil,173 vezes, <strong>de</strong>vido à televisão.Com o ascensão da televisão e da produção <strong>de</strong> filmespublicitários, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se viver profissionalmente <strong>de</strong> cinema, foi aospoucos migrando para esses dois setores, que efetivamente conseguiramindustrializar-se, enquanto a produção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong>ficção, apesar <strong>de</strong> ter melhorado significativamente seu nível técnico,continua com os graves problemas <strong>de</strong> sobrevivência que sempre acaracterizou.1 Carlos Ortiz escreveu crítica <strong>de</strong> cinema em coluna na Folha da Manhã no período <strong>de</strong> 1948 a 1952, dirigiu doisfilmes <strong>de</strong> longa metragem Alameda da Sauda<strong>de</strong>, 113 (1951) e Luzes nas Sombras (1953). Publicou vários livrossobre cinema, a maior parte <strong>de</strong>les com cunho didático (Cartilha do Cinema; O Argumento Cinematográfico e suaTécnica; Dicionário do Cinema Brasileiro; Montagem na Arte do Filme; O Roteiro e sua Técnica)


A Escola <strong>de</strong> Comunicação e <strong>Artes</strong>, da USP acertou aotransformar, recentemente, os dois cursos (Cinema & Ví<strong>de</strong>o e Rádio &Televisão) num único curso <strong>de</strong>nominado Curso Superior do Audiovisual.Outras escolas <strong>de</strong> cinema como a Australian Film Television &Radio Scholl, citadas por Carlos Augusto Calil (2000) em artigo no Jornal daUSP 2 , também adotaram essa medida. O artigo <strong>de</strong> Calil, é uma brilhantejustificativa do nosso objeto <strong>de</strong> pesquisa, juntamente com os estudos <strong>de</strong>Jacques Deheinzelin.A proposta inicial da nossa pesquisa estava voltada para a análisedo impacto das novas tecnologias no processo <strong>de</strong> criação do cinema.Pretendíamos retomar a discussão sobre a autoria no cinema diante da novarealida<strong>de</strong> da tecnologia digital, dando prosseguimento ao trabalho que<strong>de</strong>senvolvemos no mestrado, no qual levantamos a possibilida<strong>de</strong> dasegunda autoria no cinema ou das várias autorias <strong>de</strong> um filme.No <strong>de</strong>correr do processo, entretanto, verificamos que asmudanças não foram significativas e que já havia alguns trabalhos sendorealizados nessa direção, tais como: Impacto das Tecnologias Digitais naNarrativa Cinematográfica, do cineasta gaúcho Carlos Gerbase (2003) eCinema Digital – Um novo cinema?, <strong>de</strong> Luiz Gonzaga Assis <strong>de</strong> Luca (2004).Decidimos, eu e minha orientadora, dar um enfoque maispragmático à pesquisa. Passamos a trabalhar a questão da formaçãoprofissional e da sobrevivência dos Artistas e Técnicos Cinematográficos <strong>de</strong>São Paulo. O objetivo inicial não foi totalmente alterado. Po<strong>de</strong>mos dizer quefoi ampliado, pois passamos a analisar a situação dos profissionais em gerale não apenas da área criativa.Atuando em Sindicatos que congregam profissionais <strong>de</strong> cinemahá mais <strong>de</strong> 25 anos, tivemos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhar ao longo <strong>de</strong>sse2 CALIL, C.A.M. “Novida<strong>de</strong> na USP: o Curso Superior do Audiovisual” in Opinião Jornal da USP,p.2, <strong>de</strong> 03 a 09/04/2000.2


tempo os inúmeros problemas <strong>de</strong>sses profissionais, sejam os relacionadoscom a qualificação ou mesmo com a permanência no meio cinematográfico.Além da condição <strong>de</strong> observador privilegiado dos profissionais <strong>de</strong>cinema, somos um pesquisador, agente do processo que está sendoanalisado, pois ao longo <strong>de</strong>sses anos atuamos, também, como cineasta,cuja trajetória será relatada mais adiante.A partir daí, era necessário <strong>de</strong>limitar o campo <strong>de</strong> pesquisa, tarefanem um tanto fácil, <strong>de</strong>vido a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> funções em que se <strong>de</strong>sdobra aativida<strong>de</strong> cinematográfica,Pensamos inicialmente em restringir por áreas: Produção,Direção, Direção <strong>de</strong> Arte, etc., mas nos <strong>de</strong>mos conta que o importante eraconsi<strong>de</strong>rar o tempo <strong>de</strong> experiência dos profissionais e não apenas a suafunção ou área <strong>de</strong> atuação, uma vez que “viver <strong>de</strong> cinema” é o nosso tema<strong>de</strong> estudo.Dessa forma, <strong>de</strong>cidimos focar nossa atenção nos profissionaisque atuam em São Paulo há mais <strong>de</strong> 20 anos, período esse queenten<strong>de</strong>mos como suficiente para uma certa estabilização no meiocinematográfico.Assim, consi<strong>de</strong>rando o foco <strong>de</strong> nosso trabalho, abordamos nasentrevistas os seguintes tópicos: formação profissional e sobreviver <strong>de</strong>cinema.Realizamos 11 entrevistas com profissionais que iniciaram suasativida<strong>de</strong>s no cinema entre os anos 1950 e 1970 e que persistiram nasmesmas apesar das adversida<strong>de</strong>s, o que po<strong>de</strong>remos observar em seus<strong>de</strong>poimentos.O perfil <strong>de</strong>sses profissionais apresentamos no quadro a seguir:3


<strong>de</strong> cinema <strong>de</strong> São Paulo e da evolução das equipes e das funções <strong>de</strong>ntrodas mesmas;b) no segundo, apresentamos nossa trajetória no cinema;c) na seqüência abordamos a sobrevivência na ativida<strong>de</strong> profissional,<strong>de</strong>stacando a experiência <strong>de</strong> 8 dos profissionais entrevistados (GalileuGarcia; Jacques Deheinzelin, Máximo Barro; Francisco Ramalho Júnior;Penna Filho; Miguel Ângelo; Inês Mullin e Toni Gorbi), cujo critério para tal<strong>de</strong>staque foi o envolvimento <strong>de</strong>monstrado pelos mesmos no tópico emquestão. Esclarecemos que a experiência dos <strong>de</strong>mais (Pedro PabloLazzarini; José Luis Sasso e Carlos Ebert), são trazidas nos quatro capítulos<strong>de</strong>sta tese, uma vez que enfatizam a formação profissional, tema esse queemerge em várias discussões;d) no quarto capítulo abordamos a questão da organização e do papel dosindicato dos trabalhadores cinematográficos;e) para finalizar fazemos uma reflexão sobre as experiências relatadas,apontando as mudanças ocorridas no setor, principalmente, em função daconvergência tecnológica.Esperamos que este trabalho possa contribuir para um melhorentendimento do que é sobreviver <strong>de</strong> cinema e, ainda, fornecer subsídiospara a formação e aperfeiçoamento profissional no setor cinematográfico,sobretudo para as funções técnicas que não exigem a formaçãouniversitária.5


truste organizado por Thomas Edison, faziam seus filmes com atores<strong>de</strong>sconhecidos e sem muitas regras. Mesmo Intolerância (1916), o segundofilme <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> Griffith, no qual foram investidos dois milhões <strong>de</strong>dólares, um valor astronômico para época, não tinha um script totalmente<strong>de</strong>finido. Griffith o ia construindo à medida que filmava. Essa ousadia teveum alto custo. Intolerância foi um fracasso <strong>de</strong> público, e nas palavras <strong>de</strong>Sadoul (1951): “Os homens da Wall-Street – que haviam abandonado otruste vencido, para financiar os In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes – <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> confiar nosrealizadores, preferindo os atores <strong>de</strong> cartaz”. (p.29-30).Segundo Ismail Xavier (1984):A <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Griffith no pôquer da indústria e do mercadosimboliza, mais talvez do que outra qualquer, a consolidaçãodo controle dos produtores e da Hollywood da divisão dotrabalho, do star-system , dos riscos calculados. (p.69)Sem entrar no mérito da questão cinema industrial versus cinemain<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, a importância da criação dos estúdios está na tentativa <strong>de</strong> seproduzir filmes em escala e, consequentemente, surge daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mão <strong>de</strong> obra qualificada para aten<strong>de</strong>r a tal <strong>de</strong>manda.Um dos graves problemas do cinema brasileiro, com relação aqualificação profissional é nunca ter conseguido produzir filmes <strong>de</strong> longametragem com a regularida<strong>de</strong> que o fazem alguns países, como Índia eEstados Unidos.O primeiro gran<strong>de</strong> estúdio cinematográfico brasileiro foi o estúdioda Cinédia, criado por A<strong>de</strong>mar Gonzaga no Rio <strong>de</strong> Janeiro em 1930.Segundo Anita Simis (1996), a proposta da Cinédia era copiar o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>estúdios <strong>de</strong> Hollywood.Recusando o gênero do documentário, propunham umcinema <strong>de</strong> estúdio com cenários bem <strong>de</strong>corados. Hollywood,que se <strong>de</strong>stacava pela superiorida<strong>de</strong> na confecção doroteiro, era o exemplo <strong>de</strong> competência e eficiência técnica.(p.89-90)8


Segundo Caldas e Montoro (2006) a Cinédia teria sido favorecidapela quebra da Bolsa <strong>de</strong> Nova York, em 1929, que levou as empresas <strong>de</strong>cinema dos Estados Unidos durante um período a voltar-se para o seumercado interno e para os países <strong>de</strong> língua inglesa.O fato é que a Cinédia resistiu por quase duas décadassuperando inclusive questões técnicas complicadas como o aparecimento docinema sonoro e bem ou mal, formando uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>profissionais.Em 1941, surge um outro estúdio, também no Rio <strong>de</strong> Janeiro, aAtlântida, criado por Moacir Fenelon, Alinor Azevedo e José Carlos Burle. AAtlântida passou a produzir um tipo <strong>de</strong> filme semelhante ao que vinha sendoproduzido pela Cinédia <strong>de</strong>nominado pejorativamente <strong>de</strong> “chanchada”. Essetipo <strong>de</strong> filme fazia gran<strong>de</strong> sucesso junto às classes populares e era bastantecriticado pela elite intelectual. É importante observar que naquela época ocinema brasileiro conseguiu ser rentável chegando a <strong>de</strong>spertar o interesse<strong>de</strong> alguns empresários conforme o comentário abaixo:No fim da década <strong>de</strong> 40, mais precisamente no ano <strong>de</strong>1947, o sucesso das chanchadas trouxe para a Atlântidauma série <strong>de</strong> novos investidores, interessadosprincipalmente em participar dos lucros da empresa, entãosob a administração dos irmãos Burle e Moacyr Fenelon.Entre eles estava Luís Severiano Ribeiro Jr., que entroujuntamente com vários outros empresários no ramo <strong>de</strong>investimento em produções. A Severiano Ribeiro Jr.interessava o domínio <strong>de</strong> pelo menos 40% das salas <strong>de</strong>exibição no Brasil. Assim ele po<strong>de</strong>ria participar dos lucros <strong>de</strong>um forma muito maior, e acabou por se tornar acionistamajoritário e, consequentemente, dono da companhia.(CALDAS e MONTORO, 2006, p.193).No final dos anos 1940 e início dos 1950 é a vez <strong>de</strong> São Paulocriar finalmente seus gran<strong>de</strong>s estúdios. O mais importante <strong>de</strong>les, o que <strong>de</strong>ugran<strong>de</strong> contribuição para a formação da mão <strong>de</strong> obra cinematográficapaulista, foi sem dúvida a Companhia Cinematográfica Vera Cruz. AMaristela e a Multifilmes vieram logo <strong>de</strong>pois. Infelizmente, todos eles tiveramvida curta.9


Antes do surgimento <strong>de</strong>sses estúdios em São Paulo, a maioriados filmes era produzida <strong>de</strong> forma precária, sem profissionalismo. Os cursos<strong>de</strong> formação que apareciam eram, na verda<strong>de</strong>, parte do que se passou achamar <strong>de</strong> “cavação”, ou seja, grupos aventureiros, geralmente filhos <strong>de</strong>imigrantes, que seduziam empresários endinheirados a investirem emcinema. É <strong>de</strong>ssa época, início dos anos 1920, a criação da Escola <strong>de</strong> <strong>Artes</strong>Cinematográficas Azzurri, em São Paulo.seguinte:Sobre o surgimento <strong>de</strong>ssa escola, Galvão (1975) nos conta oUm grupo <strong>de</strong> rapazes, filhos <strong>de</strong> imigrantes e na sua maioriaantigos amadores dos grupos teatrais espanhóis e italianos,começa a se agregar em torno <strong>de</strong>les; <strong>de</strong>ste agrupamentosurge a Escola <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> Cinematográficas Azzurri. Seusalunos – futuros atores, diretores, cinegrafistas,laboratoristas, cavadores - seriam os homens que, quasesempre anonimamente, iriam dar ao cinema paulista toda avitalida<strong>de</strong> que o sustentou durante mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos. (p.40)Com o tempo, segundo a professora Maria Rita Galvão (1975), “acavação se institucionaliza” (p.42). Os alunos da Escola Azzurri tornam-se“cavadores”, abrem novas escolas e disputam espaço nas produções <strong>de</strong>cine-jornais e documentários com os pioneiros Gilberto Rossi, Arturo Carrarie José Medina. Eventualmente produzem filmes <strong>de</strong> enredo.De acordo com o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>s do cinemapaulista, como Roberto Santos, Galileu Garcia 4 , não há dúvida <strong>de</strong> que aprofissionalização dos trabalhadores cinematográficos <strong>de</strong> São Paulocomeçou com a fundação <strong>de</strong>ssas companhias no início dos anos 1950,especialmente, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Tratando <strong>de</strong>sseassunto, Carlos Ortiz dá o seguinte <strong>de</strong>poimento:(...) é por isso que a Vera Cruz foi um experiência válida;Maristela, Multifilmes e outras experiências, eramexperiências válidas, importantes mesmo. A gente tinha quesair <strong>de</strong>sse campo experimental, <strong>de</strong>ssas tentativaspuramente experimentais para uma tentativa industrial. (...)4 Os <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> Roberto Santos e Galileu Garcia, são encontrados em “Burguesia e Cinema: ocaso Vera Cruz”, <strong>de</strong> Maria Rita Galvão, São Paulo: Civilização Brasileira, 1981.10


Então só po<strong>de</strong>ríamos ter oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sair <strong>de</strong>ssaopressão quando fossemos também uma indústria senãogran<strong>de</strong>, pelo menos uma indústria suficientemente sólidapara darmos o pão e darmos a subsistência a todos osnossos técnicos <strong>de</strong> cinema. Por que como é que po<strong>de</strong>ria osujeito viver e manter a família, fazendo um filme hoje e<strong>de</strong>pois... tirando férias por dois, três anos. Esperar dois, trêsanos, para fazer um segundo filme... (...)Nós todos tínhamos a viva consciência <strong>de</strong> que tínhamos quepartir para o cinema industrializado, sem o que não haveriapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fixar o pessoal do cinema no cinema.(ORTIZ apud BERRIEL, 1981, p.13-5)Mesmo os críticos mais severos da Vera Cruz, como Alex Viany,reconhecem que a qualida<strong>de</strong> técnica dos filmes brasileiros e oprofissionalismo melhoraram sensivelmente <strong>de</strong>pois da sua fundação. Já paraos entusiastas, como Galileu Garcia, a Vera Cruz foi uma verda<strong>de</strong>ira escolae formou uma geração <strong>de</strong> técnicos <strong>de</strong> primeira linha.Com o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong>sses estúdios, a questão da formaçãodo pessoal técnico do cinema brasileiro voltou a ser um dos nossosproblemas.Segundo estudo dos irmãos José Renato e José Geraldo SantosPereira (Pereira,1973) o I Congresso Nacional <strong>de</strong> Cinema Brasileiro,realizado em 1952, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, foi o responsável pela primeiramanifestação pública a favor da criação <strong>de</strong> um estabelecimento oficial <strong>de</strong>ensino cinematográfico no país. Nesse evento, após discussão, aprovou-seuma resolução recomendando às autorida<strong>de</strong>s brasileiras a criação <strong>de</strong> umaescola <strong>de</strong> cinema que foi reiterada no ano seguinte, durante a realização doII Congresso, em São Paulo.Em 1960, durante o governo Juscelino Kubitschek, finalmente écriada a Escola Nacional <strong>de</strong> Cinema. No ano seguinte, com a posse <strong>de</strong> umnovo presi<strong>de</strong>nte da República, Jânio Quadros, é criado o Grupo Executivoda Indústria Cinematográfica - GEICINE, dirigido por Flávio Tambellini, quenomeou um grupo para estudar a reestruturação da Escola recém-criada.Desse estudo surgiu um projeto do Centro <strong>de</strong> Ensino Cinematográfico, nos11


mol<strong>de</strong>s do que é hoje o CTAv (Centro Técnico Audiovisual) que pertence aoMinistério da Cultura, que além <strong>de</strong> um centro <strong>de</strong> formação teria tambémequipamentos <strong>de</strong> última geração e estúdios para serem utilizados porproduções <strong>de</strong> pequeno porte. Entretanto, lamentavelmente, o resultado <strong>de</strong>tal esforço foi o seguinte: a Escola Nacional <strong>de</strong> Cinema foi extinta por um<strong>de</strong>creto do governo Jânio Quadros e o projeto do Centro <strong>de</strong> EnsinoCinematográfico jamais saiu do papel. (Pereira ,1973) .Ainda <strong>de</strong> acordo com Santos Pereira, em 1958, a Universida<strong>de</strong>Católica <strong>de</strong> Minas Gerais fundou a Escola Superior <strong>de</strong> Cinema, um dos maisantigos cursos superiores <strong>de</strong> cinema <strong>de</strong> uma instituição privada e, em 1965,surge o primeiro curso ministrado por uma instituição oficial <strong>de</strong> ensino, aUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais. Nessa mesma época é criada, emSão Paulo, a Escola Superior <strong>de</strong> Cinema, na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia SãoLuiz e, posteriormente, surgem os cursos na Escola <strong>de</strong> Comunicação e<strong>Artes</strong>, da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Santos Pereira fala ainda sobre ocurso <strong>de</strong> cinema do <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Comunicação, da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília,mas não é muito preciso em relação as datas.Com relação à criação <strong>de</strong>sses cursos, o que sabemos, porinformação da Profª Drª. Marília Franco é que o primeiro curso <strong>de</strong> cinema emnível <strong>de</strong> graduação, foi o da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, oficializado em 16<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1966. Os <strong>de</strong>mais cursos citados pelos irmãos Santos Pereiraeram <strong>de</strong> extensão ou algo semelhante, mas não <strong>de</strong> graduação.Em levantamento recente, no site do CTAv/FUNARTE 5 (2006)encontramos 11 cursos superiores <strong>de</strong> cinema existentes no Brasil. Mas naverda<strong>de</strong> já existem 15 cursos superiores <strong>de</strong> cinema. Os cursos daUniversida<strong>de</strong> Anhembi Morumbi, da Metodista e do SENAC, recentementecriados, ainda não constam no site.A maioria das pessoas que procura um curso superior <strong>de</strong> cinemaestá interessada em seguir a carreira <strong>de</strong> diretor ou pelo menos pensam5 Disponível em www.<strong>de</strong>cine.gov.br12


exercer uma função importante como roteirista, diretor <strong>de</strong> fotografia,montador, enfim, alguma função na qual seja possível expressar-se comoartista.Uma equipe <strong>de</strong> cinema, apesar dos avanços tecnológicos nãodiminuiu com o tempo, pelo contrário, aumentou. São inúmeras funções quevão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o motorista especializado em transporte para filmagens até odiretor. Para as funções hierarquicamente menos <strong>de</strong>stacadas <strong>de</strong> uma equipecinematográfica, como eletricista, maquinista, contra-regra, etc., não existecurso <strong>de</strong> formação no Brasil. Mais adiante falaremos <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong>criação <strong>de</strong> cursos técnicos <strong>de</strong> nível médio que está sendo elaborada peloSINDCINE – Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica doEstado <strong>de</strong> São Paulo.1. 2. Evolução do quadro <strong>de</strong> funções cinematográficasAntes do surgimento dos gran<strong>de</strong>s estúdios em São Paulo (VeraCruz, Maristela e Multifilmes), não havia uma sistematização do quadro <strong>de</strong>funções <strong>de</strong> uma equipe <strong>de</strong> cinema. Muitos filmes eram feitos em esquemasamadores ou semi-amadores. Mesmo na época da implantação <strong>de</strong>ssesestúdios, um filme realizado no interior <strong>de</strong> São Paulo, Armas da Vingança(dir. Carlos Coimbra, 1955), ficou famoso por ter sido feito com uma equipe<strong>de</strong> apenas três pessoas além do diretor.Todos os que fizeram o filme estavam estreando. Eu, comodiretor; o Konstantin, como produtor. Nossa equipe eraformada por nós e mais duas pessoas – o Konstantin era odiretor <strong>de</strong> fotografia, havia um italiano, o Hélio Coccheo, queera assistente <strong>de</strong> câmera, e o quarto era o outro italiano queajudou o Konstantin a levantar a produção e virou umaespécie <strong>de</strong> faz-tudo, quebrando todos os galhos no set.(MERTEN, 2004, p.49)13


O tamanho das equipes foi aumentando à medida que se tentavaproduzir filmes em escala industrial. Nosso estudo parte <strong>de</strong>sse ponto zero,no início dos anos 1950, até os dias atuais.No início dos anos 1950, mesmo os filmes da Vera Cruz,colocavam nos créditos apenas as funções mais <strong>de</strong>stacadas. Analisando asfichas técnicas dos primeiros filmes produzidos pela Vera Cruz observamos,nas áreas abaixo, o seguinte:! ROTEIRO: como havia muitas adaptações literárias, era comum a figurado romancista como o autor do argumento original, um Argumentista quefazia o tratamento cinematográfico (alguém com conhecimento da linguagemcinematográfica) e os Dialoguistas que, geralmente, era algum literato <strong>de</strong>renome, como Guilherme <strong>de</strong> Almeida, por exemplo.! FOTOGRAFIA e CÂMERA: temos a figura do Fotógrafo, que não recebiaa <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> Diretor <strong>de</strong> Fotografia, o Operador, que passou a serchamado <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Operador <strong>de</strong> Câmera, o Foquista e o Assistente <strong>de</strong>Câmera.! Agregada à área <strong>de</strong> Fotografia e Câmera temos o CHEFE ELETRICISTAe o CHEFE MAQUINISTA. Estes possuíam inúmeros ajudantes, pois oequipamento, principalmente os refletores, eram muito pesados. Geralmenteeram pessoas com um bom preparo físico. Tais ajudantes, hoje, Assistentes<strong>de</strong> Eletricistas e Assistentes <strong>de</strong> Maquinistas não aparecem nas fichastécnicas.! DIREÇÃO DE ARTE: que não recebia esse nome, temos: DiretorArtístico, Assistente do Diretor Artístico, Responsável pelas Construções(Cenários), Colaborador, Maquilador, Cabeleireiro, Desenhista <strong>de</strong> Costumes,Cenógrafo, Arquiteto Decorador, Assistente do Arquiteto Decorador eFigurinista.! SOM: em alguns filmes temos a <strong>de</strong>signação genérica <strong>de</strong> “Som” ou “Chefe<strong>de</strong> Som” com o nome <strong>de</strong> um ou dois profissionais responsáveis e seus14


Assistentes. Em outros, como Tico-tico no fubá (Vera Cruz – 1952) eApassionata (Vera Cruz – 1952), recebem especificações mais <strong>de</strong>talhadascomo Engenheiro <strong>de</strong> Som, Técnico <strong>de</strong> Gravação e Operador <strong>de</strong> Microfone.! PRODUÇÃO: temos Gerente <strong>de</strong> Produção, Assistente <strong>de</strong> Produção,Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Produção, Produtor do Filme (pessoa que financiou),Administrador <strong>de</strong> Produção, Diretor <strong>de</strong> Produção.! Agregados a área <strong>de</strong> Produção temos: Chefe <strong>de</strong> Guarda Roupa,Encarregado <strong>de</strong> Guarda Roupa, Contra-Regra, Móveis e Antiguida<strong>de</strong>s,Objetos <strong>de</strong> Arte e Antiguida<strong>de</strong>s.! DIREÇÃO: Diretor, Co-Diretor, Diretor Assistente, Assistente <strong>de</strong> Direção,Continuista.! MONTAGEM: Chefe <strong>de</strong> Edição, Montador , Assistente <strong>de</strong> Montador.Em 1956, por ocasião da criação da ATACESP (Associação dosTécnicos e Artistas Cinematográficos do Estado <strong>de</strong> São Paulo), que reuniaatores e técnicos <strong>de</strong> cinema, foi feita uma sistematização <strong>de</strong> funçõescinematográficas por área 6 , ficando da seguinte forma:a) CENÁRIO (Cenarista, Roteirista , Dialoguista)b) DIREÇÃO ( Diretor , Assistente, Anotador )c) PRODUÇÃO ( Diretor ou Gerente , Assistente , Contra-regra ,Acessorista )d) FOTOGRAFIA E CÂMERA ( Diretor <strong>de</strong> Fotografia, Operador, Assistente<strong>de</strong> Câmera, Fotógrafo <strong>de</strong> Cena )e) MONTAGEM E CARPINTARIA DE CENA (Chefe Maquinista, Maquinista,Carpinteiro <strong>de</strong> Cena )f) ELETRICIDADE ( Chefe Eletricista, Eletricista )6 Tal sistematização encontra-se nos Estatutos da Associação dos Técnicos e Artistas Cinematográficos do Estado<strong>de</strong> São Paulo, registrado no 4º Registro Civil <strong>de</strong> Pessoa Jurídica, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.15


g) CENOGRAFIA E COSTUMES ( Cenógrafo, Assistente <strong>de</strong> Cenografia,Figurinista, Decorador, Pessoal <strong>de</strong> Construção <strong>de</strong> Cenários, Pessoal <strong>de</strong>Guarda Roupa )h) MAQUIAGEM ( Maquilador, Cabeleireiro )i) MONTAGEM ( Montador, Assistente, Cortador )j) SOM ( Técnico <strong>de</strong> Gravação, Técnico <strong>de</strong> Mixagem Sonora )k) LABORATÓRIO ( Técnicos <strong>de</strong> Revelação, Copiagem, Trucagem )l) REPORTAGEM ( Cinegrafista da Imprensa Filmada )m) INTERPRETAÇÃO ( Atrizes e Atores )n) PUBLICIDADE ( Publicistas da Produção )No início dos anos 1960 a ATACESP sistematizou o que seriaconsi<strong>de</strong>rado uma equipe mínima <strong>de</strong> cinema naquela época - Diretor;Assistente <strong>de</strong> Direção; Continuista; Diretor <strong>de</strong> Produção; Assistente <strong>de</strong>Produção; Diretor <strong>de</strong> Fotografia; Operador <strong>de</strong> Câmera; Assistente <strong>de</strong>Câmera; Maquiador; Chefe Eletricista; Três Eletricistas; Chefe Maquinista;Maquinista e Guarda Roupeira, totalizando 16 pessoas. Em 1963 aATACESP foi transformada em Sindicato dos Trabalhadores na IndústriaCinematográfica do Estado <strong>de</strong> São Paulo 7 .Pesquisando o livro <strong>de</strong> registro <strong>de</strong> associados <strong>de</strong>sse sindicatolevantamos as seguintes funções:! Arquivista <strong>de</strong> filmes; Assistente <strong>de</strong> Revelador (Laboratório); Assistente <strong>de</strong>Som; Assistente <strong>de</strong> Direção; Assistente <strong>de</strong> Câmera; Assistente <strong>de</strong> Eletricista;Assistente <strong>de</strong> Montagem; Assistente <strong>de</strong> Produção Auxiliar <strong>de</strong> Laboratório;Auxiliar <strong>de</strong> Montagem; Auxiliar <strong>de</strong> Revelação (Laboratório); Auxiliar <strong>de</strong> TableTop; Auxiliar Técnico; Câmera; Carpinteiro; Cenógrafo; Chefe Maquinista;Cinegrafista; Cinegrafista (Jornal); Cinematográfico (Técnico); Continuista;Contra-Regra; Copiador (Laboratório); Copista (Laboratório); Decorador;7 Em alguns documentos que pesquisamos o nome do sindicato aparece como Sindicato dos Trabalhadores “nasIndústrias Cinematográficas” do Estado <strong>de</strong> São Paulo. Porém no Diário Oficial da União o nome que consta éSindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica do Estado <strong>de</strong> São Paulo.16


Desenhista; Desenhista Animador; Diretor; Diretor Artístico; Diretor <strong>de</strong>Cinema; Diretor <strong>de</strong> Curta Metragem; Diretor <strong>de</strong> Dublagem; Diretor <strong>de</strong>Fotografia; Diretor <strong>de</strong> Gingles; Diretor <strong>de</strong> Produção; Documentarista; Editor;Eletricista; Engenheiro Eletricista; Fotógrafo (Cinegrafista); Fotógrafo <strong>de</strong>Cena; Geradorista; Gerente <strong>de</strong> Produção; Guarda Ropeira; Laboratorista;Letrista; Maquilador; Maquinista; Marcador <strong>de</strong> Luz P/B (Laboratório);Mecânico (Laboratório); Mecânico <strong>de</strong> Laboratório; Montador Montador <strong>de</strong>Negativo (Laboratório); Projecionista; Revelador (Laboratório); Revelador <strong>de</strong>Colorido (Laboratório); Revelador <strong>de</strong> Negativo Colorido (Laboratório);Revelador <strong>de</strong> Positivo Colorido (Laboratório); Revisor <strong>de</strong> Negativo(Laboratório); Roteirista; Secretária <strong>de</strong> Produção; Sonoplasta; Técnico <strong>de</strong>Cor (Laboratório); Técnico <strong>de</strong> Manutenção; Técnico <strong>de</strong> Som.A nomenclatura das funções cinematográficas no Brasil, semprefoi muito confusa. Adaptada <strong>de</strong> outros idiomas sofreu alterações ao longodos anos. A mesma função aparece, por vezes, com outro nome, como porexemplo, Editor/Montador, Fotógrafo/Cinegrafista, como se fossemsinônimas. No caso <strong>de</strong>sta última, atualmente chamamos o Fotógrafo <strong>de</strong>Diretor <strong>de</strong> Fotografia. O Cinegrafista não tinha o status <strong>de</strong> um Diretor <strong>de</strong>Fotografia. Era o profissional que trabalhava filmando reportagens. É comumtambém o uso da palavra “auxiliar” no lugar <strong>de</strong> “assistente”. É provável queauxiliar signifique um status inferior ao <strong>de</strong> assistente. Em algumas funçõescomo Assistente <strong>de</strong> Direção e Assistente <strong>de</strong> Câmera, essa questão foiresolvida usando-se as <strong>de</strong>signações: Primeiro Assistente, SegundoAssistente, Terceiro Assistente.Observamos que da lista acima, com 65 funções, gran<strong>de</strong> partesão funções <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> laboratório, que ainda não haviam aparecidonas listas anteriores.Na área <strong>de</strong> Direção há uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> Diretores:Diretor Artístico, Diretor <strong>de</strong> Cinema, Diretor <strong>de</strong> Curta Metragem e Diretor <strong>de</strong>Jingles. É curioso observar que Documentarista não reivindica status <strong>de</strong>diretor. No início da publicida<strong>de</strong>, o diretor <strong>de</strong> comercias era chamado <strong>de</strong>17


Diretor <strong>de</strong> curta metragem ou Diretor <strong>de</strong> Jingles, portanto, é provável que asduas <strong>de</strong>signações queiram dizer a mesma coisa.O levantamento mais criterioso feito no Brasil das funçõescinematográficas, foi o que resultou no Título Cinema do quadro anexo aoDecreto 82.385/78, que regulamentou a Lei dos Artistas e Técnicos emEspetáculos <strong>de</strong> Diversões. Lá estão listadas e <strong>de</strong>scritas 64 funções da área<strong>de</strong> cinema. Mais adiante voltaremos ao assunto.A regulamentação dos Artistas e Técnicos em Espetáculos <strong>de</strong>Diversões 8 , que abrange os profissionais <strong>de</strong> cinema, foi um projetoinicialmente pensado para os profissionais <strong>de</strong> artes cênicas. Uma provadisso é que no artigo 7 o referente à obtenção do registro profissional lemos oseguinte:Para registro do Artista ou do Técnico em Espetáculos <strong>de</strong>Diversões, é necessário a apresentação <strong>de</strong>:I - Diploma <strong>de</strong> curso superior <strong>de</strong> Diretor <strong>de</strong> Teatro,Coreógrafo, Professor <strong>de</strong> Arte Dramática, ou outros cursossemelhantes, reconhecidos na forma da Lei; ouII - Diploma ou certificado correspon<strong>de</strong>ntes às habilitaçõesprofissionais <strong>de</strong> 2º Grau <strong>de</strong> Ator, Contra-regra, Cenotécnico,Sonoplasta, ou outras semelhantes, reconhecidas na formada Lei; ouIII - Atestado <strong>de</strong> capacitação profissional fornecido peloSindicato representativo das categorias profissionais e,subsidiariamente, pela Fe<strong>de</strong>ração respectiva.Ou seja, não há nenhuma referência a funçõescaracteristicamente cinematográficas como continuista, montador, operador<strong>de</strong> câmera, etc.. É claro que po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que “outros cursossemelhantes reconhecidos na forma da lei” inclui as funçõescinematográficas.Quase toda a imprensa daquele período se referia ao projetocomo regulamentador da profissão <strong>de</strong> artista, ou projeto que regulamentavaa profissão dos atores. Os produtores <strong>de</strong> cinema se opuseram ao projeto e8 Lei 6533/78 que dispõe sobre a regulamentação das profissões <strong>de</strong> Artista e <strong>de</strong> técnico em espetáculos <strong>de</strong>diversões, e dá outras providências.18


um dos seus argumentos foi o <strong>de</strong> não terem sido consultados; já oscineastas filiados a APACI (Associação Paulista <strong>de</strong> Cineastas) e a ABD(Associação Brasileira <strong>de</strong> Documentaristas), apoiaram. Sobre essas duasassociações falaremos com mais <strong>de</strong>talhes no capitulo 4 ao abordarmos opapel dos sindicatos.Antes <strong>de</strong>sse episódio, com a tentativa <strong>de</strong> industrialização daativida<strong>de</strong> cinematográfica, no Rio <strong>de</strong> Janeiro entre 1930 e 1941, com acriação da Cinédia,e da Atlântida e em São Paulo, no inicio dos anos 1950, ecom a Vera Cruz, Maristela e Multifilmes, surgiram dois sindicatos <strong>de</strong>trabalhadores, um em cada Estado, que acabaram <strong>de</strong>saparecendo juntocom a falência dos referidos projetos <strong>de</strong> industrialização. Portanto, na épocaem que surgiu a proposta <strong>de</strong> regulamentação, os trabalhadorescinematográficos, estavam sem sindicato.Na verda<strong>de</strong> os profissionais <strong>de</strong> cinema foram pegos <strong>de</strong> surpresacom a inclusão da categoria na regulamentação dos artistas e técnicos, poisessa não era uma reivindicação <strong>de</strong>les.Os atores, diferentemente dos cineastas, há muitos anos vinhamreivindicando a regulamentação da profissão como <strong>de</strong>monstra o trecho doartigo abaixo, publicado no jornal Folha <strong>de</strong> São Paulo, em 25 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong>1978, sob o título "Cenas da espera: Godot chegou?":Há 40 anos que os atores pe<strong>de</strong>m, insistem, reclamam,reivindicam “a regulamentação urgente da profissão” e, noentanto, os processos nesse sentido tramitamvagarosamente, dormiram nas gavetas, passearam pelosmais variados órgão fe<strong>de</strong>rais como se estivessemprogramados em câmera lenta.A primeira reação da classe, no entanto, foi rejeitar o projeto vindodo governo. Houve muita polêmica. Surgiu então um substitutivo doDeputado Álvaro Valle que acabou apaziguando os ânimos e sendoaprovado. A principal reivindicação da classe artística era pela retirada noprojeto <strong>de</strong> lei do governo <strong>de</strong> um Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Artistas e Técnicosque ficaria responsável pelo controle da ativida<strong>de</strong> profissional. Além disso,19


os artistas reivindicaram que constasse no substitutivo a proibição da cessão<strong>de</strong> direitos autorais. As duas reivindicações foram atendidas.Os Sindicatos dos Artistas (SATs) que existiam apenas em SãoPaulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro, para aten<strong>de</strong>rem a nova <strong>de</strong>signação mudaram suasigla para SATED – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos <strong>de</strong>Diversões. Os SATEDs tomaram a iniciativa <strong>de</strong> convocar os profissionais <strong>de</strong>cinema para tentar incluí-los na regulamentação e no rol das funçõesabrangidas pela <strong>de</strong>signação “Artistas e Técnicos em Espetáculos <strong>de</strong>Diversões”. Foi então, que a “toque <strong>de</strong> caixa”, várias comissões <strong>de</strong>profissionais <strong>de</strong> cinema foram formadas no sindicato, com o intuito <strong>de</strong> fazerum estudo sobre cada função existente na ativida<strong>de</strong> e elaborar uma<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>talhada das mesmas. Esse levantamento, sobre o qual já nosreferimos, acabou resultando na inclusão dos profissionais <strong>de</strong> cinema naregulamentação dos artistas e técnicos em espetáculos <strong>de</strong> diversões, cujo<strong>de</strong>creto regulamentador incluiu no seu quadro anexo as funçõescorrespon<strong>de</strong>ntes ao cinema.Observando com atenção a regulamentação dos Artistas eTécnicos em Espetáculos <strong>de</strong> Diversões, iremos <strong>de</strong>scobrir vários indícios <strong>de</strong>que ela foi pensada tendo em vista o trabalho do Ator:! Além do artigo 7º, ao qual já nos referimos, o artigo 10º refere-se àscláusulas obrigatórias que o contrato <strong>de</strong>verá conter. No item IV temos oseguinte: “título do programa, espetáculo ou produção, ainda que provisório,com indicação do personagem nos casos dos contratos por tempo<strong>de</strong>terminado”. Ora, personagem se refere ao trabalho <strong>de</strong> ator, não temsentido colocar o nome <strong>de</strong> um personagem no contrato <strong>de</strong> um técnico!! O Artigo 21º trata da jornada <strong>de</strong> trabalho e prega que, “quando emestúdio: 6 (seis) horas diárias”. Sabemos que em nenhum lugar do mundo ajornada <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> um técnico <strong>de</strong> cinema é <strong>de</strong> 6 (seis) horas.20


! O Artigo 27º <strong>de</strong>termina que o fornecimento <strong>de</strong> guarda-roupa seja <strong>de</strong>responsabilida<strong>de</strong> do empregador.! O Artigo 31º: “Os textos <strong>de</strong>stinados à memorização”, juntamente com oroteiro <strong>de</strong> gravação ou plano <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>verão ser entregues aoprofissional com antecedência mínima <strong>de</strong> 72 (setenta e duas) horas, emrelação ao início dos trabalhos.Enfim, são várias preocupações legítimas, com relação aotrabalho do ator, que para os profissionais técnicos não fazem o menorsentido.1. 3. A televisão entra em campoEm 1978, alguns meses <strong>de</strong>pois da aprovação da lei dos Artistas eTécnicos em Espetáculos <strong>de</strong> Diversões, foi regulamentada a profissão <strong>de</strong>Radialista, que abrange profissionais <strong>de</strong> rádio e televisão.Inaugurada oficialmente em 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1950, época emque se iniciavam também as ativida<strong>de</strong>s da Companhia Cinematográfica VeraCruz, fundada um ano antes, a televisão brasileira teve seu gran<strong>de</strong> impulsodurante o regime militar, iniciado em 1964, cuja i<strong>de</strong>ologia moldada na EscolaSuperior <strong>de</strong> Guerra, através da Lei <strong>de</strong> Segurança Nacional dava gran<strong>de</strong>importância aos meios <strong>de</strong> comunicação. Segundo Sérgio Mattos (2002),autor do livro História da Televisão Brasileira:Os meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa se transformaram noveículo através do qual o regime po<strong>de</strong>ria persuadir, impor edifundir seus posicionamentos, além <strong>de</strong> ser a forma <strong>de</strong>manter o status quo após o golpe. A televisão, pelo seupotencial <strong>de</strong> mobilização, foi mais utilizada pelo regime,tendo também se beneficiado <strong>de</strong> toda a infra-estruturacriada para as telecomunicações. (p.35).21


Caberia uma reflexão sobre o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>loindustrial em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outro, ou porque se <strong>de</strong>senvolveramseparadamente, mas esse não é o objetivo do nosso trabalho. A verda<strong>de</strong> éque a falência dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> industrialização do cinema brasileiro, como aVera Cruz, e o progresso da televisão levou alguns profissionais formadosna ativida<strong>de</strong> cinematográfica a migrarem para televisão.No seu início, como ainda não havia ví<strong>de</strong>o teipe, a maior parte daprogramação da televisão era feita ao vivo e alguns programas filmados empelícula. Algumas empresas <strong>de</strong> televisão possuíam seus próprioslaboratórios <strong>de</strong> revelação e copiagem <strong>de</strong> filme, moviolas, câmera <strong>de</strong> cinema,etc.. Daí a regulamentação dos Radialistas além da semelhança geral com ados Artistas e Técnicos em Espetáculos <strong>de</strong> Diversões possuírem em seuquadro várias funções que constam no anexo ao Decreto 82.385/78, títulocinema, tais como: Continuista, Contra-regra, Diretor <strong>de</strong> Dublagem, Guardaropeiro,Figurinista, A<strong>de</strong>recista, Cenotécnico, Maquinista, Cenógrafo,Montador <strong>de</strong> filmes, etc.. Analisaremos mais adiante essa migração assimcomo a migração <strong>de</strong>sses profissionais para o cinema publicitário.Voltando à regulamentação dos Artistas e Técnicos emEspetáculos <strong>de</strong> Diversões, temos a seguir as 64 funções 9 que constam noDecreto 82.385/78:9 Para <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> cada uma das funções ver Anexo I.22


1. A<strong>de</strong>recista 2. Animador 3. Arquivista <strong>de</strong> Filmes 4. Assistente <strong>de</strong> Animação5. Assistente <strong>de</strong> Animador 6. Assistente <strong>de</strong>Câmeras <strong>de</strong> Cinema7. Assistente <strong>de</strong>Cenografia8. Assistente do DiretorCinematográfico9. Assistente <strong>de</strong> montadorCinematográfico10. Assistente <strong>de</strong>Montador <strong>de</strong> Negativo11. Assistente <strong>de</strong>Operador <strong>de</strong> Câmera12. Assistente <strong>de</strong> ProdutorCinematográfico<strong>de</strong> Animação13. Assistente <strong>de</strong> Revisor 14. Assistente <strong>de</strong> 15. Ator 16. Auxiliar <strong>de</strong> Tráfegoe LimpadorTrucador17. Cenarista <strong>de</strong>Animação18. Cenógrafo 19. Cenotécnico 20. Chefe <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong>Animação21. Colador-Marcador <strong>de</strong> 22. Colorista <strong>de</strong> 23. Conferente <strong>de</strong> 24. Continuista <strong>de</strong> CinemaSincronismoAnimaçãoAnimação25. Contra-Regra <strong>de</strong> 26. Cortador-Colador 27. Diretor <strong>de</strong>28. Diretor <strong>de</strong> ArteCena<strong>de</strong> AnéisAnimação29. Diretor <strong>de</strong> Animação 30. Diretor31. Diretor <strong>de</strong>32. Diretor <strong>de</strong> FotografiaCinematográfico Dublagem33. Diretor <strong>de</strong> Produção 34. Editor Áudio 35. Eletricista <strong>de</strong> 36. FiguranteCinematográficaCinema37. Figurinista 38. Fotógrafo <strong>de</strong> Cena 39. Guarda-Roupeiro 40. Letrista <strong>de</strong> Animação41. Maquiador <strong>de</strong> Cinema 42. Maquinista <strong>de</strong>Cinema45. Montador do Filme 46. Montador <strong>de</strong>CinematográficoNegativo49. Operador <strong>de</strong> Gerador 50. PesquisadorCinematográfico53. Roteirista <strong>de</strong>54. RoteiristaAnimaçãoCinematográfico57. Técnico <strong>de</strong>58. Técnico <strong>de</strong>FinalizaçãoManutenção EletrônicaCinematográfica61. Técnico <strong>de</strong> Som 62. Técnico emTomada <strong>de</strong> Som43. Marcador <strong>de</strong> Anéis 44. Microfonista47. Operador <strong>de</strong>Câmera51. Projecionista <strong>de</strong>Laboratório55. Técnico em EfeitosEspeciais Cênicos59. Técnico <strong>de</strong>Manutenção <strong>de</strong>EquipamentoCinematográfico63. Técnico emTranferência Sonora48. Operador <strong>de</strong> Câmera <strong>de</strong>Animação52. Revisor <strong>de</strong> filme56. Técnicos em EfeitosEspeciais Óticos60. Técnico-Perador <strong>de</strong>Mixagem64. TrucadorCinematográfico1. 4. Artistas, técnicos e suas escolasUma das lacunas do <strong>de</strong>creto que regulamentou a lei dos Artistas eTécnicos em Espetáculos <strong>de</strong> Diversões é não indicar claramente quais<strong>de</strong>ssas funções são artísticas e quais são técnicas. Além disso, também não<strong>de</strong>ixa claro a correspondência <strong>de</strong>ssas funções com o nível <strong>de</strong> ensino formal.Fala apenas em Diploma <strong>de</strong> curso superior <strong>de</strong> Diretor <strong>de</strong> Teatro, Coreógrafo,Professor <strong>de</strong> Arte Dramática, ou outros cursos semelhantes, reconhecidosna forma da Lei e Diploma ou certificados correspon<strong>de</strong>ntes às habilitaçõesprofissionais <strong>de</strong> 2º Grau <strong>de</strong> Ator, Contra-regra, Cenotécnico, Sonoplasta, ououtras semelhantes, reconhecidas na forma da Lei.23


No cargo <strong>de</strong> Diretor <strong>de</strong> Assuntos <strong>de</strong> Cinema no SATED-SP noinício dos anos 1980, efetuamos um estudo preliminar sobre a divisão dasfunções técnicas e artísticas na Área <strong>de</strong> Cinema, concluindo que havia pelosmenos nove funções artísticas: Diretor Cinematográfico, Diretor <strong>de</strong> Arte,Cenógrafo, Figurinista, Diretor <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> Animação, Diretor <strong>de</strong> Animação,Roteirista Cinematográfico, Roteirista <strong>de</strong> Animação e Ator. Ficamos nadúvida quanto às funções <strong>de</strong> Diretor <strong>de</strong> Fotografia e Montador.Posteriormente, já no SINDCINE, realizamos um novo estudoseparando as funções por áreas. O resultado é o que vemos abaixo:! Área <strong>de</strong> Direção Cinematográfica: Diretor Cinematográfico; RoteiristaCinematográfico; Pesquisador Cinematográfico; Assistente do DiretorCinematográfico; Ator / Figurante; Continuista <strong>de</strong> Cinema; Diretor <strong>de</strong>Dublagem.! Área <strong>de</strong> Direção <strong>de</strong> Fotografia: Diretor <strong>de</strong> Fotografia; Operador <strong>de</strong>Câmera; Assistente <strong>de</strong> Câmera <strong>de</strong> Cinema; Eletricista <strong>de</strong> Cinema;Maquinista <strong>de</strong> Cinema; Fotógrafo <strong>de</strong> Cena; Operador <strong>de</strong> Gerador.! Área <strong>de</strong> Direção <strong>de</strong> Arte: Diretor <strong>de</strong> Arte; Cenógrafo; Figurinista;Maquiador <strong>de</strong> Cinema / Cabeleireiro; Assistente <strong>de</strong> Cenografia; Cenotécnico;A<strong>de</strong>recista.! Área <strong>de</strong> Som: Técnico <strong>de</strong> Som; Técnico <strong>de</strong> Tomada <strong>de</strong> Som; Técnico emTransferência Sonora; Técnico Operador <strong>de</strong> Mixagem; Microfonista.! Área <strong>de</strong> Edição e Montagem: Montador <strong>de</strong> Filme Cinematográfico;Assistente <strong>de</strong> Montador Cinematográfico; Editor <strong>de</strong> Audio (Editor <strong>de</strong> Som);Técnico em Finalização Cinematográfica; Montador <strong>de</strong> Negativo; Assistente<strong>de</strong> Montador <strong>de</strong> Negativo; Arquivista <strong>de</strong> Filmes; Assistente <strong>de</strong> Revisor eLimpador; Auxiliar <strong>de</strong> Tráfego; Colador-Marcador <strong>de</strong> Sincronismo; Cortador-Colador <strong>de</strong> Anéis; Marcador <strong>de</strong> Anéis; Revisor <strong>de</strong> Filmes.24


! Área <strong>de</strong> Animação: Diretor <strong>de</strong> Animação; Diretor <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> Animação;Chefe <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> Animação; Roteirista <strong>de</strong> Animação; Assistente <strong>de</strong>Animação; Animador; Assistente <strong>de</strong> Animador; Operador <strong>de</strong> Câmera <strong>de</strong>Animação; Assistente <strong>de</strong> Operador <strong>de</strong> Câmera <strong>de</strong> Animação; Cenarista <strong>de</strong>Animação; Colorista <strong>de</strong> Animação; Conferente <strong>de</strong> Animação; Letrista <strong>de</strong>Animação.! Área <strong>de</strong> Produção: Produtor Executivo; Diretor <strong>de</strong> Produção; Assistente<strong>de</strong> Produtor Cinematográfico; Contra-regra <strong>de</strong> Cena; Guarda-roupeiro.! Área <strong>de</strong> Trucagem: Trucador Cinematográfico; Assistente <strong>de</strong> Trucador;Técnico em Efeitos Especiais Cênicos; Técnico em Efeitos Especiais Óticos.! Área <strong>de</strong> Manutenção <strong>de</strong> Equipamentos: Técnico <strong>de</strong> Manutenção <strong>de</strong>Equipamento Cinematográfico; Técnico <strong>de</strong> Manutenção Eletrônica.! Projecionista <strong>de</strong> Laboratório: (única função que não foi possívelencaixar em nenhuma das nove áreas).Essa divisão é passível <strong>de</strong> controvérsia e algumas funçõesmudaram <strong>de</strong> nome no <strong>de</strong>correr do tempo e outras novas surgiram.Mantivemos as funções originais existentes no Decreto regulamentador e,mais adiante, comentaremos sobre o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> algumas funçõese surgimentos <strong>de</strong> novas.Durante o Seminário <strong>de</strong> Avaliação do Ensino <strong>de</strong> ComunicaçãoSocial realizado pelo MEC, em 1986, sobre o ensino <strong>de</strong> cinema, levantamosa questão da falta <strong>de</strong> critério para avaliar qual nível <strong>de</strong> ensino formalcorrespon<strong>de</strong>ria cada uma das funções da área <strong>de</strong> cinema. Estimulados poraquele <strong>de</strong>bate nos propusemos a elaborar um quadro para ser submetidoaos órgãos <strong>de</strong> ensino, com sugestões sobre o que correspon<strong>de</strong>ria a cadafunção em termos <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> ensino formal. O resultado <strong>de</strong>sse trabalho é oseguinte:25


! FUNÇÕES DE NÍVEL SUPERIOR: Diretor Cinematográfico; Diretor <strong>de</strong>Animação; Diretor <strong>de</strong> Arte; Cenógrafo; Diretor <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> Animação; Chefe<strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> Animação; Diretor <strong>de</strong> Fotografia; Diretor <strong>de</strong> Produção; Diretor <strong>de</strong>Dublagem; Figurinista; Montador <strong>de</strong> Filme Cinematográfico; Montador <strong>de</strong>Negativo; Diretor <strong>de</strong> Produção; Roteirista Cinematográfico; Roteirista <strong>de</strong>Animação; Técnico <strong>de</strong> Som; Trucador Cinematográfico.! FUNÇÕES DE NÍVEL MÉDIO: Ator; Animador; Assistente <strong>de</strong> Câmera <strong>de</strong>Cinema; Assistente <strong>de</strong> Cenografia; Assistente <strong>de</strong> Montador Cinematográfico;Assistente <strong>de</strong> Montador <strong>de</strong> Negativo; Assistente <strong>de</strong> ProdutorCinematográfico; Assistente <strong>de</strong> Trucador; Assistente do DiretorCinematográfico; Assistente <strong>de</strong> Animação; Assistente <strong>de</strong> Animador;Cenarista <strong>de</strong> Animação; Letrista <strong>de</strong> Animação; Colorista <strong>de</strong> Animação;Conferente <strong>de</strong> Animação; Cortador-Colador <strong>de</strong> Anéis; Continuista <strong>de</strong>Cinema; Editor <strong>de</strong> Audio (Editor <strong>de</strong> Som); Fotógrafo <strong>de</strong> Cena; Maquiador <strong>de</strong>Cinema / Cabeleireiro; Microfonista; Montador <strong>de</strong> Negativo; Marcador <strong>de</strong>Anéis; Colocador-Marcador <strong>de</strong> Sincronismo; Operador <strong>de</strong> Câmera; Operador<strong>de</strong> Câmera <strong>de</strong> Animação; Revisor <strong>de</strong> Filmes; Técnico <strong>de</strong> Manutenção <strong>de</strong>Equipamento Cinematográfico; Técnico <strong>de</strong> Manutenção Eletrônica; Técnico<strong>de</strong> Tomada <strong>de</strong> Som; Técnico em Efeitos Especiais Cênicos; Técnico emEfeitos Especiais Óticos; Técnico em Finalização Cinematográfica; Técnicoem Transferência Sonora; Técnico Operador <strong>de</strong> Mixagem.! FUNÇÕES DE NÍVEL BÁSICO: Assistente <strong>de</strong> Montador <strong>de</strong> Negativo;Assistente <strong>de</strong> Operador <strong>de</strong> Câmera <strong>de</strong> Animação; Assistente <strong>de</strong> Revisor eLimpador; Auxiliar <strong>de</strong> Tráfego; A<strong>de</strong>recista; Cenotécnico; Contra-regra <strong>de</strong>Cena; Eletricista <strong>de</strong> Cinema; Guarda-roupeiro; Maquinista <strong>de</strong> Cinema;Operador <strong>de</strong> Gerador; Arquivista <strong>de</strong> Filmes.Com relação à questão do mercado <strong>de</strong> trabalho na ativida<strong>de</strong>,após a falência dos projetos <strong>de</strong> industrialização do cinema, nos anos 1950,os profissionais se dividiram entre aqueles que foram para a televisão e osque foram trabalhar em publicida<strong>de</strong>. Alguns continuaram vivendo do trabalhoem filmes <strong>de</strong> longa metragem in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, que eram raros no início dos26


anos 1960, aumentando sua quantida<strong>de</strong> com o advento do cinema erótico,da chamada pornochanchada, nos anos 1970. No final <strong>de</strong>ssa época haviauma clara divisão entre os profissionais que trabalhavam apenas empublicida<strong>de</strong> e os que trabalhavam em filmes <strong>de</strong> longa metragem. Nestesúltimos, havia uma subdivisão entre os filmes da “boca do lixo” 10 e os filmefeitos fora da “boca”.1. 5. Convergência tecnológicaEmbora a introdução das novas tecnologias no cinema,especialmente no cinema brasileiro, tenha se dado <strong>de</strong> maneira gradual, apublicida<strong>de</strong>, por uma série <strong>de</strong> razões, principalmente <strong>de</strong> naturezaeconômica, foi a primeira a a<strong>de</strong>rir aos novos equipamentos. Com isso, osprofissionais que trabalhavam em publicida<strong>de</strong> acabaram sendo os primeirosa se atualizarem tecnologicamente. De certa forma ocorreu o mesmo com atelevisão, principalmente, a re<strong>de</strong> Globo, que durante uma época pagavacursos <strong>de</strong> atualização tecnológica para os seus profissionais.Os anos 1990 foram marcados pela convergência tecnológica. Foio início do cinema eletrônico. Houve uma mudança radical na área <strong>de</strong> ediçãoe finalização. Ainda hoje, meados <strong>de</strong> 2006, a maioria dos filmes <strong>de</strong> longametragem continuam sendo feitos em película e exibidos em película. Algunscaptados em ví<strong>de</strong>o digital são <strong>de</strong>pois passados para película por umprocesso chamado no Brasil <strong>de</strong> “kinescopia”. Isso, no entanto, não querdizer que o processo digital não esteja avançando. Hoje já é possível captarum filme inteiramente em digital e exibi-lo em digital com altíssima qualida<strong>de</strong>.10 A <strong>de</strong>nominada “Boca do Lixo” em São Paulo, localiza-se na região do centro velho, nas proximida<strong>de</strong>s daEstação da Luz e da antiga Estação Rodoviária. Algumas <strong>de</strong> suas ruas são bastante conhecidas, como a Rua SantaEfigênia, Rua do Triunfo, na qual se concentrou as distribuidoras <strong>de</strong> filmes, em função da praticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ficarperto das estações ferroviária e rodoviária. Com o tempo diversas produtoras <strong>de</strong> filme brasileiro se concentraramtambém na região dando origem ao chamado “cinema da boca”. Porém, o termo “boca do lixo” não surgiu emfunção do cinema, mas sim pela região <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1960. Foi a imprensa que passou a chamara região <strong>de</strong> “Boca do Lixo”.27


Luiz Gonzaga Assis <strong>de</strong> Luca (2004), na sua tese “Cinema digital: um novocinema?” aborda bem esse assunto.Voltando à questão das funções cinematográficas, abordaremos ,as mudanças <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>las com o advento das novas tecnologias.Inicialmente temos o exemplo da área <strong>de</strong> montagem. Foi a que mais sofreumodificações. Primeiro, o próprio montador que trabalhava em um sistemamecânico se vê diante <strong>de</strong> um computador, obrigado a lidar com um mouse,algo que requer um novo tipo <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong> no manejo. Muitos não seadaptaram. A função <strong>de</strong> assistente <strong>de</strong> montagem também sofreu gran<strong>de</strong>modificação. Para ilustrar citaremos um pequeno trecho da entrevista doTécnico Operador <strong>de</strong> Mixagem José Luiz Sasso, a nós concedida:“... o cara começava como 3 o assistente <strong>de</strong> moviola que era aquele caraque enrolava o magnético, que botava no pregador os planinhos; o 2 oassistente era aquele que organizava nas caixas; o 1 o assistente era aqueleque organizava já com montador, para finalmente o montador botar a naca<strong>de</strong>ira da moviola e montar o filme. Isso não existe mais. Não existe um 1 oassistente, um 2 o assistente. Hoje na realida<strong>de</strong> como você tem umcomputador na sua frente praticamente tem alguém que organiza isso quenecessariamente não é nada ligado a própria montagem do filme, é umburocrata em computadores que organiza todo o material <strong>de</strong>ntro docomputador e vai o montador e monta, que também muitas vezes não émontador.”Ainda com relação à área <strong>de</strong> montagem temos a extinção <strong>de</strong> trêsfunções ligadas ao setor <strong>de</strong> dublagem: marcador <strong>de</strong> anéis, colador-marcador<strong>de</strong> anéis, colador-marcador <strong>de</strong> sincronismo. Esses profissionais trabalhavamcortando e <strong>de</strong>pois recompondo os filmes já prontos, geralmente filmesestrangeiros dublados. Todo esse trabalho está sendo feito diretamente emví<strong>de</strong>o e computador. A função <strong>de</strong> editor <strong>de</strong> áudio, que nos tempos damoviola entrava no circuito após o trabalho do montador e seus assistentes,passa a ter mais importância. Temos em São Paulo o trabalho pioneiro <strong>de</strong>Mirian Bi<strong>de</strong>rman que forma especialistas nessa área e que <strong>de</strong>senvolveu ummétodo no qual vários editores <strong>de</strong> som trabalham ao mesmo tempo em<strong>de</strong>terminado filme, cada um na sua área <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>: ambientes, ruído<strong>de</strong> sala, som direto, etc., sob a sua coor<strong>de</strong>nação, preparando o material para28


ser mixado. Temos ainda nessa área quatro funções em vias <strong>de</strong> extinção,caso os filmes <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong> ser feitos em película e se tornem digitais:assistente <strong>de</strong> montador <strong>de</strong> negativo, montador <strong>de</strong> negativo, assistente <strong>de</strong>revisor e revisor <strong>de</strong> filmes. Em compensação, surgem quatro novas funçõesque não estão elencadas no <strong>de</strong>creto regulamentador: operador <strong>de</strong> áudio,operador <strong>de</strong> edição, auxiliar <strong>de</strong> editor e sonoplasta.Além da área <strong>de</strong> montagem, outra que também sofreu váriasalterações foi a área <strong>de</strong> Animação. A função <strong>de</strong> assistente <strong>de</strong> animação<strong>de</strong>saparece e a <strong>de</strong> assistente <strong>de</strong> animador passa a chamar-se intervalador.As funções <strong>de</strong> assistente <strong>de</strong> operador <strong>de</strong> câmera <strong>de</strong> animação e operador<strong>de</strong> câmera <strong>de</strong> animação também <strong>de</strong>saparecem e são incorporadas pelofinalizador que opera os efeitos <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> câmera no computador.Chefe <strong>de</strong> arte <strong>de</strong> animação e colorista <strong>de</strong> animação também<strong>de</strong>sapareceram. A <strong>de</strong> colorista passa para o finalizador responsável peloescaneamento e pintura. As <strong>de</strong> conferente <strong>de</strong> animação e diretor <strong>de</strong> arte <strong>de</strong>animação só existem em gran<strong>de</strong>s produções e, na maioria das vezes, emproduções pequenas, são assumidas pelo próprio diretor do filme. Emcontrapartida surgiram novas funções:! clean-up: profissional que limpa e transforma em arte final os <strong>de</strong>senhos doanimador e do assistente que intervalou a animação.! responsável pelo escaneamento e pintura: antes atribuída ao assistente<strong>de</strong> animação.! finalizador: responsável por todas as etapas técnicas a partir do momentoque o <strong>de</strong>senho passa para a área digital. Essas etapas incluem composiçãodos frames na or<strong>de</strong>m da animação, efeitos, letras, movimentos <strong>de</strong> câmera,transferência para o ví<strong>de</strong>o ou película.Além <strong>de</strong>ssas funções, os filmes que utilizam a tecnologia 3D temainda: mo<strong>de</strong>lador 3D, animador 3D, supervisor <strong>de</strong> ren<strong>de</strong>ring.29


No setor <strong>de</strong> finalização também temos algumas mudanças. O queno <strong>de</strong>creto chamava-se técnico <strong>de</strong> finalização cinematográfica passa achamar-se finalizador. No <strong>de</strong>creto esse profissional é <strong>de</strong>scrito como aqueleque “acompanha as trucagens e faz o tráfego <strong>de</strong> laboratório,supervisionando a qualida<strong>de</strong> do material trabalhado, na área do filmepublicitário”.Hoje esse profissional atua não apenas no filme publicitário, mastambém em longa metragem e necessariamente <strong>de</strong>ve conhecer processoseletrônicos <strong>de</strong> finalização digital. Nessa área <strong>de</strong> finalização temos osurgimento <strong>de</strong> cinco funções novas: assistente <strong>de</strong> finalização, técnicooperador <strong>de</strong> caracteres, operador <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o graf, operador <strong>de</strong> composiçãográfica e colorista. Este último é her<strong>de</strong>iro da função <strong>de</strong> operador <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>ocolor, que também não consta na relação do <strong>de</strong>creto, que omite as funçõesdos profissionais que trabalham em laboratórios.Em razão da convergência tecnológica, várias funções da área <strong>de</strong>rádio e televisão passam a figurar nas equipes cinematográficas:! Diretor <strong>de</strong> imagens, operador <strong>de</strong> câmera <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, iluminador, auxiliar <strong>de</strong>iluminação, pintor, marceneiro/carpinteiro, operador <strong>de</strong> telecine, supervisortécnico/engenheiro <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, operador <strong>de</strong> VT, operador <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, supervisor<strong>de</strong> operações, técnico <strong>de</strong> externas.! Na área <strong>de</strong> produção, as funções <strong>de</strong> diretor <strong>de</strong> produção e assistente <strong>de</strong>produção se <strong>de</strong>sdobraram em várias novas funções: coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong>produção, produtor <strong>de</strong> casting, produtor <strong>de</strong> figurino, produtor <strong>de</strong> locação,produtor <strong>de</strong> objetos.! Algumas funções pe<strong>de</strong>m assistentes, tais como: figurinista (assistente <strong>de</strong>),cenotécnico (assistente <strong>de</strong>), maquiador (assistente <strong>de</strong>). Na área <strong>de</strong>maquiagem foi criada também a função <strong>de</strong> maquiador <strong>de</strong> efeitos especiais;na <strong>de</strong> figurino, a <strong>de</strong> costureira.30


As instituições responsáveis pela política <strong>de</strong> cinema no Brasiljamais levaram a sério, como <strong>de</strong>veriam, a questão da formação,aperfeiçoamento e atualização profissional. Infelizmente, os esforços nessesentido foram iniciativas isoladas, como a dos Sindicatos <strong>de</strong> Trabalhadores,<strong>de</strong> algumas escolas <strong>de</strong> cinema e, eventualmente, <strong>de</strong> instituições como oCTAv, que no seu início era um órgão voltado para a formação e atualizaçãoprofissional e transformou-se numa instituição a qual os curta-metragistas eos filmes <strong>de</strong> baixo orçamento acabam recorrendo para finalizar os seusprojetos.Especialmente no que se refere à formação técnica <strong>de</strong> nívelmédio, praticamente nada tem sido feito por parte do Estado para melhorar asituação. Evi<strong>de</strong>ntemente essa questão está ligada à falta <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong>cinema consistente que gere empregos, pois um dos agravamentos doproblema da qualida<strong>de</strong> da mão <strong>de</strong> obra do cinema em nosso país está ligadoà sazonalida<strong>de</strong> da produção dos filmes <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> ficção.Visando a superação <strong>de</strong>ssa questão o SINDCINE fez algumastentativas junto ao FAT – Fundo <strong>de</strong> Amparo ao Trabalhador, no sentido <strong>de</strong>elaborar um programa <strong>de</strong> reciclagem consistente, que realmente atualizasseos profissionais que ficaram muito tempo parados frente às novastecnologias, porém tais projetos não foram adiante.Com o intuito <strong>de</strong> dar consistência a um programa <strong>de</strong>aperfeiçoamento e atualização dos profissionais que já estão no mercado <strong>de</strong>trabalho em cinema, e formar novos profissionais em funções <strong>de</strong> nível médioe básico, o SINDCINE – Sindicato dos Trabalhadores na IndústriaCinematográfica do Estado <strong>de</strong> São Paulo - tomou a iniciativa <strong>de</strong> fundar um<strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Estudos, que tem o nome <strong>de</strong> um dos seus mais ilustresfundadores, um dos mais importante diretores do cinema brasileiro, ocineasta Roberto Santos.31


2. CINEMA: SONHO E REALIDADEEste relato não tem apenas sentido pessoal, mas <strong>de</strong>ve sertomado como um exemplo do que acontece com a maioria dostrabalhadores empíricos do cinema brasileiro, cuja paixão os leva a persistirnuma profissão sem mercado <strong>de</strong> trabalho.2.1. Meu Relato PessoalResumo da Ópera (Story Line)Meu pai era pa<strong>de</strong>iro. Tinha uma padaria em um pequeno vilarejodo Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. Ensinou-me a fazer pães. Queria que eu seguisseseu ofício. Minha mãe era professora primária. Ensinou-me a ler, escrever ea amar os livros. Os livros me revelaram o mundo. E no mundo havia ocinema. Foi assim que eu <strong>de</strong>scobri que queria fazer cinema.Como Comecei a Gostar <strong>de</strong> CinemaComecei a gostar <strong>de</strong> cinema vendo filmes <strong>de</strong> mocinho e bandidoem meados dos anos 60, no cine Pax, em Mossoró, no Rio Gran<strong>de</strong> doNorte. Eu e meu irmão Paulo, dois anos mais novo que eu, éramosaficionados em revista em quadrinhos. Ele gostava <strong>de</strong> Superman, Batman edos personagens <strong>de</strong> Walt Disney. Eu gostava do Fantasma, do CavaleiroFantasma e <strong>de</strong> Rocky Lane. Íamos quase todo fim <strong>de</strong> semana trocar revistascom outros aficionados na entrada dos cinemas. E víamos os anúncios dosfilmes que estavam em cartaz e dos que estavam para entrar. Naquelaépoca havia uma onda <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> heróis mitológicos como Hércules,32


Maciste, Sansão, Golias e filmes bíblicos como: Os Dez Mandamentos(1956), <strong>de</strong> Cecil B. DeMille, Sodoma e Gomorra (1960), <strong>de</strong> Sergio Leone, Osúltimos dias <strong>de</strong> Pompéia (1959), <strong>de</strong> Sergio Leone, etc. Na seqüência vieramos faroestes. Foi quando me apaixonei mesmo pelo cinema e troquei asrevistas em quadrinhos pelos filmes: Django (1966), <strong>de</strong> Sergio Corbucci,Disparo para matar (1967), <strong>de</strong> Monte Hellman, Cavalgada no vento (1965),<strong>de</strong> Monte Hellman, Um trem para Durango (1967), <strong>de</strong> William Howkins, Porum punhado <strong>de</strong> dólares (1964), <strong>de</strong> Sergio Leone, Por alguns dólares a mais(1965), <strong>de</strong> Sergio Leone, Três homens em conflito (1966), <strong>de</strong> Sergio Leoneetc. Tinha os meus atores preferidos: Franco Nero, Anthony Steffen, GiulianoGemma, e, <strong>de</strong>fintivamente, Clint Eastwood.O que é curioso é que esse meu primeiro contato com o cinemanão inclui o cinema brasileiro. Não me ocorria que pu<strong>de</strong>sse haver produção<strong>de</strong> filmes no Brasil. Falavam, em Mossoró, <strong>de</strong> um homem que haviatrabalhado em cinema em São Paulo, mas que abandonara o negócio paratrabalhar com armazém <strong>de</strong> sal. Nunca procurei saber direito essa história.Para mim era algo muito distante. Não me passava pela cabeça trabalharem cinema. Naquela época, final dos anos 1960, eu queria ser cantor.Estava apren<strong>de</strong>ndo a tocar violão e participava <strong>de</strong> concursos <strong>de</strong> calourosnas rádios locais. Cheguei a ser eleito “a melhor voz do meu bairro”.O Primeiro Curso <strong>de</strong> CinemaNo início dos anos 1970, enquanto prestava o serviço militar emNatal, no Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, vi em uma revista o anúncio <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong>cinema por correspondência. Para matar a curiosida<strong>de</strong> matriculei-me nocurso e comecei a receber material pelo correio. Era algo muito elementar,mas para mim, que só assistia a filmes e não tinha idéia <strong>de</strong> como eram feitosaquilo era o máximo. Estudava com atenção e respondia os questionáriosremetendo-os <strong>de</strong> volta para a se<strong>de</strong> do curso que ficava em São Paulo.Comecei a ter noção do que significava Cenografia, Montagem, Roteiro,33


Argumento, etc. Até bem pouco tempo guardava esse material comigo.Numa das mudanças que fiz acabei jogando fora. Esse curso foi muitoimportante para mim pelo fato <strong>de</strong> me revelar que existia ensino <strong>de</strong> cinema.Começou ai um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> me aprofundar no assunto.O Primeiro Contato com um Ator ProfissionalAinda durante o serviço militar tive contato com um atorprofissional que apareceu lá na base aérea e <strong>de</strong>ixou um documento <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificação na portaria no qual estava escrito: profissão: ator. Fiquei muitocurioso para saber como era viver trabalhando como ator. Ele me falou daexperiência <strong>de</strong>le com teatro. Disse-me que sobreviver como ator no Brasilera muito difícil, mas que ele gostava muito. Também escrevia para teatro etinha um grupo em São Paulo. Deixou-me o en<strong>de</strong>reço para que eu entrasseem contato. Quando cheguei a São Paulo, em 1974, pensei em procurá-lo,mas acabei <strong>de</strong>sistindo.Os Primeiro Filmes Brasileiros que AssistiO primeiro filme brasileiro que me interessei em assistir foi Quelédo Pajeú (1969), dirigido por Anselmo Duarte. Tinha um jeitão <strong>de</strong> faroeste.Achei o filme muito bem feito. Com um belo visual. Era bem movimentado,mas não me agradou a história. O segundo filme chamava-se “Coração <strong>de</strong>luto” (dir. Eduardo Llorente, 1967), com Teixerinha. A música “Coração <strong>de</strong>luto” me impressionara muito na infância. Eu queria chorar toda vez que aouvia. Fiquei curioso para ver o filme quando foi lançado. Gostei da historia,do dramalhão, mas achei-o muito mal feito. Lembro-me que o Teixerinhacriança não parecia nada com o Teixerinha adulto. Era tudo muito tosco.Esses dois filmes foram suficientes para que eu preconceituosamenteformasse uma imagem negativa do cinema brasileiro. Eu sentia falta daquelaestrutura maniqueísta do bem e do mal, do herói que vence todos os34


obstáculo e ganha sempre no final. Não só isso, sentia falta <strong>de</strong> um cenáriomais elaborado, daquelas cenas <strong>de</strong> luta bem trabalhadas. Tinha umasensação <strong>de</strong> que tudo nos filmes brasileiros era meio falso. Não meconvencia como os filmes estrangeiros.Começando pelo TeatroEm 1974, após o serviço militar em Natal, vim para São Paulonuma aventura que faz lembrar uma música do cantor cearense Belchior quediz: “Em cada rua que eu passava, um guarda me parava, pedia os meusdocumentos e <strong>de</strong>pois sorria, examinando o 3X4 da fotografia, estranhando onome do lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> eu vinha”. O nome da minha cida<strong>de</strong> natal éGovernador Dix-Sept Rosado. Quem pedia os meus documentos sempreestranhava e ainda estranha até hoje. Pensa que foi digitado errado. Arranjeium emprego <strong>de</strong> caixa executivo no extinto Banco Nacional. Lá conheci umaspessoas que faziam teatro amador nos fins <strong>de</strong> semana. Falei do meuinteresse em trabalhar como ator e um colega apresentou-me ao diretor dogrupo, Sergio Luiz Bambace. O grupo chamava-se Teatro do EstudanteUniversitário e funcionava no Colégio Fre<strong>de</strong>rico Ozanam na Rua Augusta.Foi a minha escola <strong>de</strong> teatro. Num período <strong>de</strong> dois anos (75 e 76) o grupomontou entre outras peças, O Inspetor Geral <strong>de</strong> Gogol, A Raposa e as Uvas,<strong>de</strong> Guilherme Figueredo; À Margem da Vida, <strong>de</strong> Tennessee Williams e umapeça escrita pelo próprio Sergio Bambace intitulada Um Estranho Chapéu <strong>de</strong>Plumas Ver<strong>de</strong>s. Fui ator na peça O Inspetor Geral no papel do chefe doscorreios e, na peça Um Estranho Chapéu <strong>de</strong> Plumas Ver<strong>de</strong>s, no papel doseu Antenor.35


Buscando o Aprendizado do CinemaNão lembro exatamente como fui parar no Museu Lasar Segall. Ofato é que esse local foi fundamental no meu aprendizado <strong>de</strong> cinema. Lá<strong>de</strong>scobri o Tratado <strong>de</strong> La Realizacion Cinematografica, <strong>de</strong> Leon Kulechov,que foi minha introdução aos estudos autodidatas <strong>de</strong> cinema. Como nãohavia concluído o segundo grau, não pu<strong>de</strong> prestar o vestibular para o cursosuperior <strong>de</strong> cinema, na ECA (USP). Eu queria muito conhecer a técnica. Ocurso por correspondência que havia feito era muito teórico e elementar e,praticamente, todos os livros técnicos que havia naquela época eram eminglês, francês ou espanhol. Lembro-me da curiosida<strong>de</strong> com que folhei pelaprimeira vez o livro Painting with light, <strong>de</strong> John Alton e The Technique of FilmEditing, <strong>de</strong> Karel Reisz e Gavin Millar, este <strong>de</strong>pois traduzido para oportuguês e editado pela Civilização Brasileira em convênio com aEmbrafilme. Como não sabia inglês naquela época me contentei com ostextos teóricos traduzidos para o português. Foi assim que tomei contatocom O Sentido do Filme, A Forma do Filme e Reflexões <strong>de</strong> um Cineasta, <strong>de</strong>Eisenstein, O Ator no Cinema, Métodos <strong>de</strong> Tratamento do Material, OsMétodos do Cinema, O Diretor e o Roteiro, <strong>de</strong> Pudovkin. Esses textos mefizeram perceber as imensas possibilida<strong>de</strong>s do cinema como forma <strong>de</strong>expressão. Foi uma verda<strong>de</strong>ira reviravolta na minha cabeça que aindaestava presa aos filmes <strong>de</strong> mocinho e bandido que havia visto naadolescência.Tentativa <strong>de</strong> Estudar Cinema nos Estados UnidosComecei a estudar inglês porque queria ler os livros sobre técnicacinematográfica e as revistas <strong>de</strong> cinema que havia na biblioteca do MuseuLasar Segall. Conheci um grupo <strong>de</strong> americanos e fiz amiza<strong>de</strong> com eles.Pertenciam a uma igreja evangélica e eu acabei me tornando um <strong>de</strong> seusmembros. Quando souberam que eu tinha intenção <strong>de</strong> estudar cinemabuscaram uma maneira <strong>de</strong> me ajudar. Naquela época a idéia que eu tinha36


do cinema brasileiro continuava sendo a pior possível. Mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> lerEisenstein e Pudovkin meu referencial eram os filmes estrangeiros. E quantomais lia American Cinhematographer e os livros sobre técnicacinematográfica mais ficava fascinado com as produções feitas nos EstadosUnidos. Eu falava para os meus amigos americanos que eu queria ir estudarcinema lá para <strong>de</strong>pois retornar ao Brasil e fazer filmes <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Elesfizeram uma pesquisa em várias universida<strong>de</strong>s americanas e <strong>de</strong>scobriramuma universida<strong>de</strong> no Alabama que tinha um curso <strong>de</strong> teatro, cujo diretor eraamigo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les e conseguiram todo um esquema que me permitiriaestudar lá. Diziam-me que, já dominando melhor o inglês, eu po<strong>de</strong>ria fazerum curso <strong>de</strong> cinema. Cheguei a matricular-me em tal curso e ser admitidopara o segundo semestre <strong>de</strong> 1977, mas quando começaram as exigênciasburocráticas para a concessão do visto <strong>de</strong> estudante no consuladoamericano, fiquei muito aborrecido e acabei <strong>de</strong>sistindo. Entre outras coisaseles me pediam a comprovação <strong>de</strong> renda do meu pai e um compromisso<strong>de</strong>le afirmando que iria me enviar dinheiro para sustentar a minha estadia lá.Nessa época meu pai estava falido e nem <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> imposto <strong>de</strong> rendafazia. O que eles me pediam era impossível.Meu Encontro com “A Hora e Vez <strong>de</strong> Augusto Matraga”Além das exigências do consulado americano para me conce<strong>de</strong>rum visto <strong>de</strong> estudante, as quais eu não tinha como cumprir, uma outra razãoque me fez <strong>de</strong>sistir <strong>de</strong> ir estudar nos Estados Unidos foi o meu encontro como filme “A hora e vez <strong>de</strong> Augusto Matraga” (1965), <strong>de</strong> Roberto Santos.Assisti ao filme em um cinema que hoje não existe mais. Não lembro o nomemais sei que ficava na Rua Augusta. Naquela época esse cinemafuncionava como um cineclube e passava reprises <strong>de</strong> filmes clássicos ouchamados filmes <strong>de</strong> arte. Sai fascinado. Pela primeira vez havia assistido aum filme brasileiro que me agradara. A interpretação dos atores eraexcelente, bem como o roteiro; as falas; a fotografia; a música e o estilonarrativo. Lembrava um pouco os faroestes, mas tinha algo <strong>de</strong> original. Com37


isso me dava conta <strong>de</strong> que no Brasil havia bons profissionais <strong>de</strong> cinema,com os quais eu po<strong>de</strong>ria apren<strong>de</strong>r, e que era bobagem querer estudarcinema no estrangeiro.<strong>Trabalho</strong> como Ator ProfissionalNo final <strong>de</strong> 1977, com a perspectiva <strong>de</strong> ir estudar nos EstadosUnidos, pedi <strong>de</strong>missão do meu emprego no banco. Enquanto lidava com asdificulda<strong>de</strong>s para conseguir o visto vi, certo dia, em um jornal o seguinteanúncio: “Um teste para atores. Com 40 vagas. João das Neves estáconvocando para um teste, dia 09, às 15h, no teatro da FAAP (Rua Alagoas,903), os interessados em participarem da montagem paulista <strong>de</strong> sua peça, OÚltimo Carro, encenada com sucesso no Rio. A estréia paulista estámarcada para outubro, na IV Bienal <strong>de</strong> São Paulo, com direção do autor.João preten<strong>de</strong> formar um grupo <strong>de</strong> 40 atores ‘ainda não viciados noesquema tradicional do teatro’”. Fiz o teste e fui aprovado. Esse fato, aliadoà impressão que tive ao assistir ao filme <strong>de</strong> Roberto Santos, foram <strong>de</strong>cisivospara que eu <strong>de</strong>sistisse <strong>de</strong> ir para os Estados Unidos. Fiquei quase um anona peça do João das Neves com quem aprendi muito. Ele e Sergio LuizBambace foram os meus mestres no teatro. Na primeira oportunida<strong>de</strong> quetive fui trabalhar no cinema.Os Primeiros Filmes em que TrabalheiMinha primeira experiência profissional no cinema foi como ator.O filme chamava-se O encalhe dos 300. Depois o título foi mudado paraSete dias <strong>de</strong> agonia (1978). Essas mudanças <strong>de</strong> título são comuns noprocesso <strong>de</strong> produção brasileiro. O diretor do filme, Denoy <strong>de</strong> Oliviera, foiligado ao Grupo Opinião, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, que teve como fundadoresfiguras como: Oduvaldo Viana Filho, Ferreira Gullar, Paulo Pontes e o Joãodas Neves. Esse Grupo, por sua vez, tinha ligação com os chamados CPCs38


(Centro Populares <strong>de</strong> Cultura) e com a União Nacional <strong>de</strong> Estudantes. Até ofinal da vida, Denoy foi fiel às idéias surgidas no CPC. Esse filme, Encalhedos 300, retratava um grupo <strong>de</strong> caminhoneiros que ficavam encalhados emuma estrada <strong>de</strong> terra, como a transamazônica. Meu papel não tinha qualquer<strong>de</strong>staque, eu era apenas um dos caminhoneiros; uma figuração, mas valeucomo experiência. Pela primeira vez eu podia ver uma equipe <strong>de</strong> filmagemem ativida<strong>de</strong>. Em seguida uma amiga me falou <strong>de</strong> um diretor que estavapreparando um filme chamado Mustang cor <strong>de</strong> sangue. Luiz Gonzaga. Fuiprocurá-lo para saber se tinha algum papel que eu po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>sempenharcomo ator. Falei da minha experiência com teatro e do filme que havia feitocom Denoy <strong>de</strong> Olivieira. Luiz ficou tão impressionado comigo e me convidoupara ser seu assistente. Iniciamos os preparativos para a filmagem. Pedi<strong>de</strong>missão da peça que ainda fazia e iniciei minha “via crucis” no cinema. Oprodutor do filme era um boliviano, que <strong>de</strong>pois da primeira semana <strong>de</strong>filmagem, abandonou o barco. Ficamos todos na rua da amargura. Quaseninguém da equipe conseguiu receber. Uma outra empresa se propôs acontinuar o filme, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que houvesse mudança <strong>de</strong> toda equipe. Semalternativa, o Luiz Gonzaga acabou aceitando. O título do filme foi mudadopara Patty, mulher proibida (1978). A atriz principal era Helena Ramos que,na época, ainda não era a rainha da pornochanchada. Uma parte da equipedispensada integrou-se a um outro filme que estava em produção e meapresentaram ao diretor. Pedi-lhe uma chance como assistente, mas elefalou que tinha um papel para mim. O filme era sobre a vida do cantorportuguês Roberto Leal e eu, na época, tinha alguma semelhança com ele.O papel era do irmão do cantor. Eu aceitei, mas impus como condiçãoacompanhar todas as filmagens, pois tinha interesse em conhecer a técnica.O diretor Hércules Breseghelo aceitou e cumpriu sua promessa. O filme, quese chama O Milagre (1978) foi uma verda<strong>de</strong>ira escola para mim.Acompanhei com atenção os movimentos do diretor <strong>de</strong> fotografia, EliseuFernan<strong>de</strong>s; do assistente <strong>de</strong> câmera, Luiz Rossi; do chefe eletricista, IsidoroD’oliveira. Este último foi super generoso comigo, explicando-me cada<strong>de</strong>talhe: como o diretor <strong>de</strong> fotografia preparava a luz; sobre os movimentos39


<strong>de</strong> câmera e os equipamentos em geral. Pu<strong>de</strong> observar o maquiador Pizaniem ativida<strong>de</strong>, a continuista Cleuza Bagnara e o gran<strong>de</strong> ator Jofre Soares emação.Continuando o AprendizadoNa tumultuada experiência que tive no filme <strong>de</strong> Luiz Gonzaga,acabei conhecendo o Edward Freund, um polonês radicado no Brasil, quefazia <strong>de</strong> tudo um pouco no cinema, além <strong>de</strong> ser um excelente ator e diretor<strong>de</strong> fotografia. Estava tentando dar início a uma carreira <strong>de</strong> diretor. Ficamosamigos e ele prometeu que assim que tivesse algo em vista me chamariapara trabalhar com ele. O primeiro trabalho com o Freund foi um filme queno início chamava-se No tempo dos trogloditas (1979) e acabou como Asmulheres sempre tiveram rabo. Era uma comédia ingênua aproveitando aonda da pornochanchada e imitando as comédias italianas com o ator LandoBuzzanca. Nesse filme topei trabalhar como ator, mas exigi o mesmoesquema que havia feito com Breseghuello. Queria acompanhar toda afilmagem. Freund não só aceitou, como me colocou na função <strong>de</strong> Assistente<strong>de</strong> Direção, embora nos créditos eu apareça apenas como ator. FilmamosNo tempo dos trogloditas, em Salto <strong>de</strong> Itú, interior <strong>de</strong> São Paulo. Naseqüência, esse mesmo diretor fez um outro filme e convidou-me para sernovamente o seu assistente. Não apenas isso, convidou-me para escrever oroteiro do filme junto com ele: Diário <strong>de</strong> uma prostituta (1980). O filmepermaneceu com esse título até fim. Foi escrito por mim e por ele, mas abrimão do meu nome nos créditos como roteirista. Fiquei apenas comoassistente <strong>de</strong> direção. Esse filme, com a já famosa atriz Helena Ramos,insere-se no gênero <strong>de</strong> filmes eróticos que se faziam na época. Para mim foimais um filme que substitui a escola <strong>de</strong> cinema que não cursei.40


Tentando Subir <strong>de</strong> Nível no AprendizadoDes<strong>de</strong> que <strong>de</strong>scobri a biblioteca no museu Lasar Segall, na VilaMariana, em meados dos anos 1970, passei a ser um assíduo freqüentadorda mesma. Com meu aprendizado <strong>de</strong> inglês ficou mais fácil ler os livrostécnicos. Devorei rapidamente o Painting with light, <strong>de</strong> John Alton e discutiafreqüentemente com Freund sobre iluminação e enquadramento. Tambémera assíduo leitor da revista American Cinematographer. Estava sempreatualizado sobre as produções que se fazia nos Estados Unidos. Por essarazão era muito crítico com a precarieda<strong>de</strong> das produções da “Boca do Lixo”.A maioria dos técnicos que conheci eram pessoas <strong>de</strong>dicadas,mas possuíam pouca instrução e não se preocupavam em se informar. Eu,ao contrário, sentia uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar sempre aperfeiçoando o queaprendi. Foi assim, que no final dos anos 1970, fiz um curso sobrelinguagem cinematográfica, com Renato Tapajós. Pouco <strong>de</strong>pois ele seriapreso por publicar o livro Em câmera lenta, que falava <strong>de</strong> luta armada,guerrilha urbana, assunto ainda tabu na época. Esse período coincidiu como início do meu interesse por política. O que me levou a achar as produçõesda “Boca do lixo” muito alienadas e inconseqüentes. Cheguei a ser sondadopara dirigir pornochanchadas, mas não me interessei. Comecei a buscaroutras alternativas.Conheci, então, Manuel Uchoa, que tinha uma câmera 8mm e estudavaeconomia na PUC. Ele me falou <strong>de</strong> uma lei que obrigava a passar um curtabrasileiro junto com a exibição dos filmes estrangeiros, a “lei do curta” 11 .Começamos a sonhar com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir um curta.Nessa época fiquei sabendo <strong>de</strong> um filme que Roberto Santos estava parainiciar, Os amantes da chuva (1980), e fui procurá-lo. Eu queria trabalharcomo assistente, mas ele me ofereceu um papel <strong>de</strong> repórter no filme. Acabei11 A lei 6.281, <strong>de</strong> 09/12/1975, que extinguiu o INC – <strong>Instituto</strong> Nacional <strong>de</strong> Cinema - e criou a Embrafilme, em seartigo 13 o diz o seguinte: “Nos programas <strong>de</strong> que constar filme estrangeiro <strong>de</strong> longa metragem, será estabelecidaa inclusão <strong>de</strong> filme nacional <strong>de</strong> curta-metragem, <strong>de</strong> natureza cultural, técnica, científica ou informativa, além <strong>de</strong>exibição <strong>de</strong> jornal cinematográfico, segundo normas a serem expedidas pelo órgão a ser criado na forma do artigo2º”.41


não fazendo o filme, mas ficamos amigos e sempre que o procurei ele me<strong>de</strong>u gran<strong>de</strong> atenção. Foram inúmeros os encontros que tivemos. Robertopercebeu o meu interesse pelas questões gerais do cinema e incentivou-mea me atirar na direção; dizia ele: “Não fique só admirando os diretores quevocê gosta, procure encontrar o seu jeito <strong>de</strong> fazer cinema. Cada um <strong>de</strong> nóstem um jeito. Isso não se ensina. Você <strong>de</strong>scobre fazendo”. E, assim, eu saiem busca <strong>de</strong> condições para realizar meu primeiro curta.Surgimento da Griffith ProduçõesEntusiasmado com as conversas que tive com Roberto Santoscomecei a informar-me melhor sobre a “lei do curta”. Era final dos anos 1970e eu já estava há dois anos envolvido com cinema. Havia lido certa vez queDavid Wark Griffith, pioneiro do cinema americano, realizara 450 curtas emais <strong>de</strong> 700 filmes em toda sua carreira. No período Biograph, em NovaYork chegou a realizar uma média <strong>de</strong> 100 curtas por ano. Ao saber que teriaque abrir uma pequena empresa para produzir os curtas não tive dúvida, <strong>de</strong>ilheo nome <strong>de</strong> Griffith Produções.Os Primeiros Filmes Produzidos pela GriffithO primeiro curta que produzimos chamava-se Magia das tintas(1980). Manuel ven<strong>de</strong>u a câmera 8mm <strong>de</strong>le e arrumamos um sócio que tinhauma câmera 16mm. O roteiro é meu e do Manuel. Fizemos uma pesquisa <strong>de</strong>temas e optamos por fazer um documentário sobre pintores primitivistas. Éum documentário bem tradicional que mostra como dois pintores <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>acabaram virando também pintores <strong>de</strong> quadros. Depois <strong>de</strong> rodado em 16mm saímos atrás <strong>de</strong> dinheiro para finalizar o som e fazer a ampliação para35mm. Manoel era ligado a um dos centros acadêmicos da PUC.Realizamos várias ativida<strong>de</strong>s para levantar os recursos financeiros. Uma<strong>de</strong>las foi uma mostra dos filmes <strong>de</strong> Ozualdo Can<strong>de</strong>ias com quem eu havia42


feito amiza<strong>de</strong>. Entretanto, o que acabou nos salvando foi um empréstimoque uma amiga do Manuel fez para pagarmos a ampliação. Conseguimos oCertificado do Concine (Conselho Nacional <strong>de</strong> Cinema) e um contrato <strong>de</strong>distribuição com a Embrafilme. Com a primeira verba que recebemos daEmbrafilme pagamos os empréstimo da ampliação. Aí, para nossa<strong>de</strong>cepção, o retorno que sonhávamos não aconteceu. O dinheiro vinhapingado e cada vez diminuía. O Manuel que era economista logo <strong>de</strong>scobriuque aquele esquema não funcionava. Jamais seríamos uma Biograph.Tiramos o curta da Embrafilme e ven<strong>de</strong>mos a preço fixo para o exibidor.Conseguimos recuperar apenas o que havíamos investido. Manuel <strong>de</strong>sistiudo cinema e foi para o teatro. Tinha muito talento para escrever e foi fazerdireção teatral na ECA e eu voltei para a “Boca do Lixo”. Envolvi-me com umlonga metragem <strong>de</strong> Ozualdo Can<strong>de</strong>ias chamado “Manelão”. Preparei todo oprojeto para um concurso da Embrafilme e ele acabou sendo selecionado.Concomitantemente, convenci alguns profissionais da “Boca’ a se tornaremmeus sócios na realização <strong>de</strong> um outro curta: Estações (1981). Nesseprojeto fui muito influenciado pelo universo <strong>de</strong> Ozualdo Can<strong>de</strong>ias e pelasleituras dos textos <strong>de</strong> Pudovkin. É um filme só <strong>de</strong> imagens, sem diálogos.Mostra a trajetória <strong>de</strong> um mendigo durante as quatro estações do ano. Apósconseguir a aprovação do Concine vendi o filme a preço fixo para umexibidor e distribui o dinheiro com meus sócios. Também só conseguimosrecuperar o que havíamos investido.O Início da Minha MilitânciaNo início dos anos 1980 eu já havia <strong>de</strong>spertado para a dificulda<strong>de</strong><strong>de</strong> sobreviver fazendo cinema no Brasil. Não apenas isso, havia <strong>de</strong>spertadotambém para a participação política. Minha convivência no ambienteuniversitário, mesmo não sendo aluno regular era bem intensa. Acompanheitoda a agitação cultural da época através da PUC. Era freqüentador assíduoda Biblioteca e dos centros acadêmicos. Tinha muitos amigos nos grupos <strong>de</strong>teatro do TUCA. Acabei entrando para o PCB (Partido Comunista Brasileiro),43


que era clan<strong>de</strong>stino na época, e lá fui orientado a procurar o sindicato daminha categoria. Conheci outros companheiros que trabalhavam em teatro ecinema e, em 1981, participei <strong>de</strong> uma chapa que concorreu à eleição doSindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos <strong>de</strong> Diversões, SATED. Achapa foi vencedora e cumpri meu primeiro mandato sindical, como Diretor<strong>de</strong> Assuntos <strong>de</strong> Cinema, que terminou em 1984.Lutando pela SobrevivênciaParalelo ao meu mandato sindical eu buscava meios <strong>de</strong> continuarfazendo cinema, sendo um pouco mais seleto, mas uma vez ou outraacabava fazendo concessões para sobreviver. Nessa época passei afreqüentar a ECA como ouvinte, nas disciplinas <strong>de</strong> alguns professores queeram simpáticos à aproximação dos profissionais da “Boca” com o meioacadêmico, especialmente, Eduardo Leone, Chico Botelho e Wilson Barros.Como gostava <strong>de</strong> fotografia e montagem assisti à várias aulas do Botelho,Leone, Dora Mourão e Peter Overbeck que <strong>de</strong>u aula <strong>de</strong> fotografia na ECAcomo colaborador.Em 1982, pela primeira vez, fui selecionado num concurso <strong>de</strong>financiamento <strong>de</strong> curtas metragens, o Prêmio Estímulo da Secretaria <strong>de</strong>Estado da Cultura <strong>de</strong> São Paulo, com um projeto intitulado A boca docinema paulista. Fiz o curta em parceria com Ozualdo Can<strong>de</strong>ias, numesquema bem econômico, e mesmo assim, quando entreguei a cópia finalna Secretaria só tinha contas para pagar. Voltei a trabalhar como assistenteem vários filmes da “Boca”. Trabalhei com Fauzi Mansur num filme chamadoSexo ás avessas (1982), com Jair Correia e Helio Porto, em Retrato falado<strong>de</strong> uma mulher sem pudor (1982), com Adauto Cardoso, em O motorista dofuscão preto (1982).44


Estreando na Direção <strong>de</strong> Longa MetragemEm meados dos anos 1980 <strong>de</strong>cidi que não trabalharia mais comoassistente na “Boca” e fora <strong>de</strong>sse local, diretores que teriam algo a meensinar, filmavam pouco e todos já tinham seus assistentes. Achei que erahora <strong>de</strong> tentar minha estreia como diretor <strong>de</strong> longa metragem. Naquelaépoca havia uma fila enorme <strong>de</strong> assistentes esperando a vez para setornarem diretores. Para quem tinha alguma ambição autoral e não tinha pairico, nem influência política, que era o meu caso, não havia muita alternativa.Mesmo assim tentei vários concursos da Embrafilme sem nunca conseguirnada. Tive que cavar a minha estreia na raça. Com um pouco <strong>de</strong> dinheirocomprei umas latas <strong>de</strong> negativo 16 mm e convenci uma legião <strong>de</strong> “malucos”a participarem <strong>de</strong> uma experiência comigo que resultou no filme Avesso doAvesso (1986). O filme ficou com menos <strong>de</strong> 60 minutos, mas recebeu umcertificado <strong>de</strong> filme <strong>de</strong> longa metragem e foi um dos meus projetos que tevemuita influência do Ozualdo Can<strong>de</strong>ias. Jean Clau<strong>de</strong> Bernar<strong>de</strong>t ao assisti-lodisse-me que o consi<strong>de</strong>rava uma reinvenção <strong>de</strong> Zézero (clássico do cinemamarginal dirigido por Can<strong>de</strong>ias em 1974, com 30 minutos <strong>de</strong> duração,realizado em 16 mm). Houve quem encontrasse alguma semelhança comLimite, <strong>de</strong> Mario Peixoto. Para mim o filme é uma mistura <strong>de</strong> muitos estilos.Tentei narrar uma história com imagens; busquei locações que consi<strong>de</strong>ravaexpressivas e que traduziam o clima que eu <strong>de</strong>sejava. Fiz osenquadramentos com o maior critério, tentando colocar em prática o queapren<strong>de</strong>ra das leituras no Lasar Segall.A conclusão do filme coincidiu com a crise na Embrafilme, quetempos <strong>de</strong>pois seria extinta. O filme ficou praticamente inédito tendoparticipado <strong>de</strong> algumas mostras e festivais que aceitavam filmes em 16 mm.Para mim foi um gran<strong>de</strong> aprendizado. Fiquei meses na moviola, com omontador Milton Bolinha, buscando as inúmeras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>articulação do material filmado.45


2.2. A Fundação do SINDCINE e Tentativa <strong>de</strong> Continuar na ProfissãoEm meados <strong>de</strong> 1985, mais <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong>pois que eu haviaterminado meu mandato no SATED (Sindicato dos Artistas e Técnicos emEspetáculos <strong>de</strong> Diversões do Estado <strong>de</strong> São Paulo) e tentava viabilizar meuprimeiro longa metragem, eclodiu uma crise no sindicato que levou a entãopresi<strong>de</strong>nte Marlene França a renunciar. Marlene havia assumido apresidência com o apoio do pessoal <strong>de</strong> cinema e do PCB (Partido ComunistaBrasileiro). A composição da sua diretoria era heterogenia, com pessoas <strong>de</strong>todas as tendências. Grupos trotskistas se digladiavam com a Presidência.Muitos companheiros <strong>de</strong> cinema se dividiram, entre o apoio à Marlene e aesses grupos. Foi convocada uma Assembléia Geral da categoria no TeatroMaria Della Costa e esses grupos que atuavam muito no movimentoestudantil (Convergência Socialista e Libelu), promoveram uma verda<strong>de</strong>irainquisição com a Marlene. Foi um espetáculo <strong>de</strong>primente, cheio <strong>de</strong>acusações infundadas. Roberto Santos, eu, e muitos outros companheiros<strong>de</strong> cinema, saímos <strong>de</strong>ssa assembléia revoltados e <strong>de</strong>primidos. As váriastendências políticas em que se dividia o PT (Partido dos Trabalhadores)conseguiram jogar por terra a composição política feita na época da eleição.Aconteceu um racha. Dentro do próprio PT havia companheiros apoiando aMarlene. Era o Caso do Miguel Ângelo, Técnico <strong>de</strong> Som, que assumiuinterinamente a presidência com a renuncia da Marlene. O pessoal <strong>de</strong>cinema se mobilizou e realizou uma gran<strong>de</strong> assembléia na qual RobertoSantos lançou a idéia da criação <strong>de</strong> um sindicato próprio dos profissionais <strong>de</strong>cinema. Esclareceu que no passado havia existido um sindicato que tinhasido cassado pela ditadura e que era o momento <strong>de</strong> recuperá-lo.Durante o período em que estive no Sated ouvi várias vezes doentão presi<strong>de</strong>nte do Sindicato patronal, Alfredo Palácios, a história <strong>de</strong> quenão podia negociar conosco, porque estávamos enquadrados erroneamenteem um setor que não era indústria. De fato, <strong>de</strong>ntro do enquadramentosindical, o SATED está ligado à Fe<strong>de</strong>ração da Cultura e não da Indústria,mas como eu não entendia muito bem essas coisas achava que era uma46


<strong>de</strong>sculpa para não negociar o acordo coletivo do pessoal <strong>de</strong> cinema.Quando Roberto Santos afirmou que havia existido um sindicato <strong>de</strong>trabalhadores cassado eu compreendi o que o Alfredo Palácios queria dizer.Tinha consciência <strong>de</strong> que a questão não era meramente burocrática,precisaria um gran<strong>de</strong> esforço <strong>de</strong> mobilização para fazer funcionar, do zero,um novo sindicato. Formamos uma comissão e fomos falar com o entãoMinistro do <strong>Trabalho</strong>, Almir Pazzianotto e ele nos prometeu restituir a cartasindical cassada. Sugeri o nome do Roberto para presi<strong>de</strong>nte do novosindicato e ele sabiamente me falou que aquilo era trabalho para gentejovem, que ele daria todo apoio necessário, mas na retaguarda e lançoumeu nome para conduzir o processo. Foi assim que, paralelamente aotrabalho do meu primeiro longa metragem, atuei na criação <strong>de</strong> um novosindicato dos profissionais <strong>de</strong> cinema, o SINDCINE.A história do SINDCINE, com os <strong>de</strong>talhes do primeiro sindicatocassado, e o caminho percorrido até a carta sindical do atual, é uma históriaa parte que ainda pretendo contá-la. Foram muitas idas e vindas; muitotrabalho voluntário; companheiros que se <strong>de</strong>dicaram arduamente e comentusiasmo.Após a conquista da carta sindical em 1987, o cinema <strong>de</strong> longametragem entrou em mais uma <strong>de</strong> suas crises cíclicas que culminou com ofechamento da Embrafilme. O SINDCINE sobreviveu graças à publicida<strong>de</strong>.Profissionalmente eu, também, entrei em crise. Tentei iniciar carreira napublicida<strong>de</strong>, trabalhando como assistente <strong>de</strong> direção numa produtora <strong>de</strong>comerciais, a Company. Meus patrões, Luci Livia e Sebastian Pineda, eramótimas pessoas, mas não me acostumei com o ambiente. Em 1988 dirigi osprogramas <strong>de</strong> televisão para o horário gratuito do Partido ComunistaBrasileiro em São Paulo. Dispúnhamos <strong>de</strong> 17 segundos diários no horáriogratuito. Para mim foi uma gran<strong>de</strong> experiência porque, naquela época,trabalhávamos com ví<strong>de</strong>o analógico e o tempo em televisão não é flexívelcomo no cinema. Tínhamos que editar, exatos, 17 segundos, incluindo aí a47


vinheta do partido e os números dos candidatos. O candidato preferencial dopartido, Luiz Carlos Moura, acabou se elegendo.Em 1989, <strong>de</strong>z anos após meu primeiro trabalho no cinema, <strong>de</strong>cidivoltar a estudar. O SINDCINE estava implantado e começando um processo<strong>de</strong> sedimentação. Em 1990 conclui o segundo grau, via supletivo, e em 1991entrei na graduação em letras.2.3. Invertendo as Priorida<strong>de</strong>sDurante <strong>de</strong>z anos, <strong>de</strong> 1979 a 1989 tentei viver somente <strong>de</strong>cinema. Meus amigos <strong>de</strong> infância e meus irmãos não se conformavam como fato <strong>de</strong> eu ter largado os estudos por uma ativida<strong>de</strong> tão incerta. A extinçãoda Embrafilme e a política <strong>de</strong> terra arrasada da era Collor me convenceramvoltar a estudar, porém achei que não tinha mais sentido fazer graduaçãoem cinema, já que era profissional com registro na Delegacia Regional do<strong>Trabalho</strong>, já havia dirigido alguns filmes e inclusive fundado um sindicato dacategoria. Fui fazer Letras, inglês/português. Iniciei um período da minhavida em que a priorida<strong>de</strong> era os estudos e o sindicato. Não abandoneitotalmente a profissão, mas diminui o ritmo. Continuei com minha militânciaem prol do cinema brasileiro em todas as instâncias possíveis. Em 1992consegui fazer mais um curta metragem, com verba do Prêmio Estímulo doGoverno do Estado, O fazedor <strong>de</strong> fitas inacabadas. O filme foi muito bemrecebido. Concorri em vários festivais. Fui selecionado para o Festival <strong>de</strong>Havana e ganhei o prêmio <strong>de</strong> melhor roteiro do Cineclube Banco do Brasil eda TV Ban<strong>de</strong>irantes. Levei 5 anos para conseguir ganhar outro prêmio erealizar mais um curta metragem, Mary Jane (1997). Nessa época eu jáhavia concluído a graduação e estava fazendo mestrado na PUC (SP) emComunicação e Semiótica. Em 1998 ganhei um concurso da SecretariaEstadual <strong>de</strong> Cultura para <strong>de</strong>senvolver um roteiro <strong>de</strong> Longa Metragem sobreum episódio da vida <strong>de</strong> Lampião. Lampião no Oeste.48


2.4. O Ensino como uma Ativida<strong>de</strong> ParalelaSempre gostei <strong>de</strong> estudar e pesquisar. Mesmo no período queestava afastado do mundo acadêmico jamais parei <strong>de</strong> estudar comoautodidata. A questão da formação dos profissionais <strong>de</strong> cinema sempre meinteressou. Des<strong>de</strong> o tempo que achava que nossos profissionais não sabiamfazer bons filmes até o momento em que me <strong>de</strong>parei com o problema doregistro profissional exigido pela Lei 6.533/78, no início dos anos 1980, noSATED. Em 1999, 20 anos após ter iniciado minha ativida<strong>de</strong> no cinema, eter participado <strong>de</strong> inúmeras comissões na Embrafilme, Concine, e outrosórgãos governamentais nos nivéis fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal, discutindoos problemas do cinema brasileiro, achei que estava apto para iniciar umacarreira docente na área <strong>de</strong> cinema. Tinha consciência <strong>de</strong> que conhecimentoe transmissão <strong>de</strong> conhecimento eram coisas distintas. Tive contato commuitos profissionais que, como eu, apren<strong>de</strong>ram cinema na prática e tinhammuita dificulda<strong>de</strong> em transmitir aos outros o que apren<strong>de</strong>ram.Iniciei minha ativida<strong>de</strong> docente na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> SãoCarlos, no curso <strong>de</strong> Imagem e Som, após uma seleção para professoressubstitutos. Ministrei as disciplinas Direção Cinematográfica, Semiótica daImagem e Teoria da Montagem. Foi um gran<strong>de</strong> aprendizado. Descobri quedar aulas significa estar permanentemente atualizado, pois os alunos, quehoje têm acesso fácil às informações, ao contrário do tempo que eu meiniciei no cinema, nos forçam a preparar bem as aulas e a estarconstantemente pesquisando. Para mim isso não significa nenhum sacrifício.Pelo contrário, tenho o maior prazer em preparar aulas. Após três anoscomo professor substituto em São Carlos recebi uma proposta para trabalharem uma universida<strong>de</strong> privada, a Anhembi Morumbi, no curso <strong>de</strong> Rádio eTelevisão, on<strong>de</strong> trabalho atualmente. Anualmente a universida<strong>de</strong> faz umaavaliação entre os alunos sobre a qualida<strong>de</strong> das aulas e dos professores e,para minha satisfação, tenho sido muito bem avaliado por eles.49


2.5. A Fundação do <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Estudos Audiovisuais Roberto SantosDes<strong>de</strong> os anos 1980, quando me <strong>de</strong>parei pela primeira vez com aquestão do registro profissional dos artistas e técnicos <strong>de</strong> cinema que venhome <strong>de</strong>dicando ao assunto. Participei da Comissão <strong>de</strong> Capacitação doSATED durante a minha gestão, no inicio dos anos 1980, e aju<strong>de</strong>i a elaboraros critérios <strong>de</strong> concessão <strong>de</strong> atestado dos profissionais <strong>de</strong> cinema. Em 1987,quando o SINDCINE recebeu a nova carta sindical a concessão dosatestados dos profissionais <strong>de</strong> cinema passou da alçada do Sated para oSINDCINE. Colaborei na elaboração dos novos critérios.No início dos anos 1990, com a introdução gradual das novastecnologias no cinema, me <strong>de</strong>i conta que precisaríamos ir além daconcessão <strong>de</strong> um atestado profissional. Precisaríamos intervir na atualizaçãoprofissional do pessoal <strong>de</strong> cinema. Por nossa própria conta (SINDCINE)fizemos um estudo que resultou no projeto do Centro <strong>de</strong> EstudosAudiovisuais do SINDCINE. Ministramos vários cursos <strong>de</strong> atualizaçãoprofissional em convênio com entida<strong>de</strong>s governamentais. Esse projeto doCentro <strong>de</strong> Estudos evoluiu para a criação <strong>de</strong> um instituto que tivesse comoatribuição cuidar permanentemente da questão da Atualização,Aperfeiçoamento e Formação Profissional do pessoal <strong>de</strong> cinema. Assim, foifundado o <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Estudos Audiovisuais Roberto Santos que estáiniciando as suas ativida<strong>de</strong>s.2.6. Fazendo um Filme <strong>de</strong> Três Milhões com Trezentos MilEm 2001 a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Culturalançou um edital para filmes <strong>de</strong> baixo orçamento e eu adaptei um antigoprojeto <strong>de</strong> filme <strong>de</strong> longa metragem para telefilme a ser realizado em digital.Fui um dos selecionados. Consegui produzi-lo com R$290.000,00 (duzentose noventa mil reais). Um verda<strong>de</strong>iro milagre!50


O longa metragem em questão, Expresso para Aanhangaba, tinhaum orçamento inicial <strong>de</strong> R$2.953.031,00 (dois milhões novecentos ecinqüenta e três mil e trinta e um reais), para ser exato. Esse orçamento foiaprovado pela Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual doMinistério da Cultura em agosto <strong>de</strong> 1997. Fiquei três anos tentando captarrecursos através da Lei do Audiovisual (Lei 8981 <strong>de</strong> 20/12/1995) 12 . Nãoconsegui um único tostão, daí a idéia <strong>de</strong> transformá-lo em telefilme.Uma Idéia que me Perseguiu por muitos AnosO meu primeiro filme <strong>de</strong> longa metragem, Avesso do Avesso, foi,na verda<strong>de</strong>, uma experiência influenciada pelo método <strong>de</strong> trabalho docineasta Ozualdo Can<strong>de</strong>ias, que não escrevia roteiro, apenas algumasanotações do que pretendia filmar. Apesar <strong>de</strong> o filme ter conseguido umcertificado <strong>de</strong> longa metragem, tem apenas 55 minutos. Não cheguei aelaborar um roteiro no formato clássico que se costuma fazer. Tinha apenasum esboço <strong>de</strong> roteiro, mas sentia cada vez mais a importância <strong>de</strong> um roteirobem elaborado. Sabia que para se conseguir um financiamento oficial ouprivado o roteiro era uma peça essencial. Comecei a me exercitar naescritura <strong>de</strong> um roteiro <strong>de</strong> longa metragem.Naquela época, meados dos anos 1980, o Novo Cinema Alemãoestava muito em voga por aqui. Apaixonei-me pelos filmes <strong>de</strong> WernerHerzog e Wim Wen<strong>de</strong>rs, principalmente os road movies <strong>de</strong>ste último.Influenciado por esses filmes comecei a escrever meu primeiro roteiro <strong>de</strong>longa metragem que se chamou, inicialmente, O anjo da morte. Era ahistória <strong>de</strong> um homem que acorda certo dia num hotel vagabundo, próximo àuma estação <strong>de</strong> trem, e não se lembra <strong>de</strong> como fora parar ali. Ele está bemvestido, estilo executivo, tem uma valise tipo 007, enfim, <strong>de</strong>stoa totalmente12 Trata-se <strong>de</strong> uma lei <strong>de</strong> incentivos fiscais, baseada em complexo mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>dução <strong>de</strong> imposto <strong>de</strong> rendadas empresas com imposto a pagar, que compram cotas dos filmes autorizados por um órgão competente dogoverno, para usufruir <strong>de</strong> tal benefício. As empresas produtoras <strong>de</strong> filmes precisam habilitar os projetos nesseórgão do governo e contratar um corretora <strong>de</strong> valores para proce<strong>de</strong>ram a operação <strong>de</strong> venda das cotas do filme naCVM – Comissão <strong>de</strong> Valores Mobiliários)51


daquele ambiente. À medida que vai se lembrando das coisas o filme vaisendo narrado. Ficamos sabendo que ele é um profissional liberal bemsucedido, casado, que na infância foi simpatizante do movimento hippie, fãdas bandas <strong>de</strong> rock que começavam a surgir, até tentou fazer parte <strong>de</strong> uma.Agora adulto é fã <strong>de</strong> Bob Dylan e sente nostalgia dos tempos <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>.Esse homem, que se chama Rafael, dá carona a uma jovem com umamochila que o faz lembrar os tempos <strong>de</strong> sua juventu<strong>de</strong>. Envolve-se com elae <strong>de</strong>scobre que ela está sendo perseguida por traficantes <strong>de</strong> drogas. Os doiscomeçam a fugir dos traficantes e a história termina meio dúbia: com umacena <strong>de</strong> um trem atravessando a fronteira do Brasil para um país vizinho,provavelmente a Bolívia. Não fica claro se eles conseguiram escapar dostraficantes ou se estão a caminho da morte. Pelo título é mais provável quecaminhem para morte.A idéia <strong>de</strong>sse argumento me ocorreu quando li pela primeira vezon the road, <strong>de</strong> Jack Kerouac e fiquei muito tocado com o seguinte trecho:“Acor<strong>de</strong>i com o sol rubro do fim da tar<strong>de</strong>; e foi um dos momentos maisimpressionantes da minha vida, o mais bizarro, quando simplesmente já nãosabia mais quem eu era. Estava a milhares <strong>de</strong> quilômetros <strong>de</strong> minha casa,num quarto <strong>de</strong> hotel barato, num lugar nunca dantes avistado, ouvindo oranger das velhas ma<strong>de</strong>iras do hotel, e passos anônimos ressoando noandar <strong>de</strong> cima, e todos esses sons melancólicos, e por quinze misteriosossegundos realmente já não sabia quem eu era. Não me apavorei;simplesmente era como se eu fosse uma outra pessoa, um estranho a mimmesmo, e toda a minha existência apenas uma vida mal-assombrada, a vidavazia <strong>de</strong> um fantasma”. Esse mesmo argumento foi <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>senvolvidodando ênfase à questão da banda <strong>de</strong> rock que chamava-se The Blue Birdse o título passou a ser O vôo do pássaro azul. Nessa versão, trabalhei umtempo, com a colaboração esporádica, do então crítico <strong>de</strong> cinema, JairoFerreira.Em 1987 registrei na Biblioteca Nacional um novo título para esseargumento intitulado Nenhum lugar. Des<strong>de</strong> o inicio havia me ocorrido colocar52


no roteiro citações <strong>de</strong> Utopia, <strong>de</strong> Thomas More. O personagem principal éalguém que está em busca <strong>de</strong> uma utopia. Não é à toa que ele se chamaRafael, nem é à toa que o chefe do tráfico <strong>de</strong> drogas se chama Cilas. Agarota a quem Rafael dá carona é Anidra, nome também tirado daquelamesma obra.Em seguida comecei a peregrinação em busca <strong>de</strong> pessoas quepu<strong>de</strong>ssem me ajudar a escrever o roteiro na base da colaboração já que eunão tinha dinheiro para pagar um roteirista. Muitos amigos colaboramgenerosamente nessa empreitada. O primeiro <strong>de</strong>les foi Francisco RamalhoJunior que usou seu prestígio pessoal para pedir ao Lauro Cesar Muniz quelesse o primeiro tratamento e fizesse comentários, os quais foram <strong>de</strong>extrema importância, tendo sido absorvidos na medida do possível nostratamentos seguintes. Lembro-me que uma <strong>de</strong> suas sugestões era que ofilme fosse narrado sem flash back. Mu<strong>de</strong>i <strong>de</strong>finitivamente o título paraExpresso para Aanhangaba e com esse título e a colaboração <strong>de</strong> amigos,como Ricardo Cox, Penna Filho, Luis Castelini, Amilcar Monteiro Claro,Francisco Ramalho Junior escrevi inúmeros tratamentos. Depois, numesquema já mais profissional, consegui trabalhar uma versão <strong>de</strong>finitiva coma parceria do amigo Jorge Durán. Foram ao todo mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z tratamentos.Numa <strong>de</strong>ssas versões contei com a colaboração do hoje bem sucedido autorteatral, Bosco Brasil. O que é curioso, no entanto, é que olhando o primeirotratamento que fiz em 1986, o básico do roteiro está lá. Ou seja, mesmotendo inúmeros colaboradores, consegui ser fiel à minha concepção original.Citações e ReferênciasAssim como meus primeiros filmes, principalmente Avesso doAvesso, foram influenciados pelo estilo <strong>de</strong> Ozualdo Can<strong>de</strong>ias, Expresso paraAanhangaba é um filme influenciado pelos filmes <strong>de</strong> Carlos Reichenbach.Sou um admirador incondicional dos filmes do “Carlão”, principalmente Filme<strong>de</strong>mência (1985), no qual faço uma pequena aparição. Acho que as53


influências ocorrem naturalmente. É uma questão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação. Noentanto, seguindo a lição do mestre Roberto Santos, tenho procuradoencontrar meu próprio jeito <strong>de</strong> fazer filmes. Embora Expresso paraAanhangaba tenha muita influência dos filmes do Carlos Reichembach, ofilme que mais me influenciou e me estimulou a escrever esse roteiro foi Opassageiro, profissão: repórter (dir. Michelangelo Antonioni, 1975), o qual viinúmeras vezes e, cada vez que o assisto, <strong>de</strong>scubro coisas que ainda nãotinha percebido. Expresso para Aanhangaba talvez seja uma tentativa <strong>de</strong>exorcizar O passageiro, profissão: repórter da minha vida, que me marcoumuito. Fico contente por ter conseguido fazer as citações que eu queria, <strong>de</strong>forma espontânea e sem atrapalhar a narrativa do filme, tanto que muitaspessoas nem se dão conta. Também fiz questão <strong>de</strong> fazer referência a outroscineastas que admiro como: Andrei Tarkovski, o próprio “Carlão”Reichenback, Roberto Santos, François Truffaut, Jean Luc Godard, aoescritor Ignácio <strong>de</strong> Loyola Brandão. De Utopia, <strong>de</strong> Thomas More tirei osnomes Rafael, Anidra, Cila, Lestrigão. Há ainda um escritório <strong>de</strong>contabilida<strong>de</strong> chamado Caríbi<strong>de</strong>s. Rafael Hitlo<strong>de</strong>u é o viajante do livro <strong>de</strong>Thomas More que <strong>de</strong>screve a ilha da utopia. Anidra vem do rio Anidro,principal rio da ilha da utopia. O mestre <strong>de</strong> Rafael a quem ele vai pedirconselhos chama-se Américo, em referência a Américo Vespúcio, quesegundo o autor <strong>de</strong> A Utopia teria permitido que Rafael o acompanhasse emtrês <strong>de</strong> suas viagens pelo Novo Mundo. Cila e Lestrigão são monstrosmitológicos da Odisséia, <strong>de</strong> Homero, ao qual More faz referência em seulivro. Caríbi<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acordo com a mitologia era uma voragem perigosa noMar <strong>de</strong> Messina on<strong>de</strong> morava o monstro Cila. O Sítio do bicheiro chama-seNova Castela. Nova Castela, segundo Thomas More, foi o lugar em queAmérico Vespúcio largou vinte e quatro homens da sua tripulação a pedido<strong>de</strong>les próprios. Entre estes homens estava Rafael Hitlo<strong>de</strong>u. O pai <strong>de</strong> Anidra,Roberto Brito é uma homenagem ao Roberto Freire, o bigo<strong>de</strong>, autor <strong>de</strong>inúmeros livros libertários. Quis que Anidra representasse uma linha utópicadiferente da do Rafael, uma linha mais próxima à utopia <strong>de</strong> Fourier. A utopiado prazer. Daí a referência as 12 paixões <strong>de</strong> Fourier nos quadros que Anidra54


está pintando e que aparecem no final do filme. O sítio do pai <strong>de</strong> Anidrachama-se Harmonia em referência ao projeto utópico <strong>de</strong> Fourier. Há ummomento em que ela está vestindo uma camiseta na qual está escrito emjaponês a palavra harmonia. No muro próximo à casa que Anidra mora,numa vilinha, está pichada a seguinte frase <strong>de</strong> Fourier:” Se não é geral aliberda<strong>de</strong> é ilusória”. Em outro lugar: “O <strong>de</strong>scaminho da razão”. Tarkovskiaparece em várias frases ditas por Rafael e o livro <strong>de</strong> cabeceira <strong>de</strong>le éEsculpir o Tempo. As referências mais explícitas, no entanto, são as do filmeDemência, do Carlão e do O Passageiro, Profissão Repórter, <strong>de</strong> Antonioni.O <strong>de</strong>legado Manfredo repete a mesma frase dita no final do filme Opassageiro quando a mulher vai i<strong>de</strong>ntificar o marido morto: “É esse o seumarido? Você reconhece?”. Tentei fazer um enquadramento semelhante eum cenário que fizesse lembrar o hotel <strong>de</strong>sse filme. Há ainda citação do meuprimeiro filme Avesso do Avesso nas cenas que estão na cabeça <strong>de</strong> Rafael:nuvens, fumaça, um trem que passa; uma moça espera um trem numaplataforma vazia. Gosto quando Antonioni diz que o homem da nossa épocaé um eterno solitário em busca <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Foi isso que pretendi queRafael, meu personagem principal, fosse. Consegui? Não sei!Operando um MilagreO orçamento <strong>de</strong> um filme é algo cheio <strong>de</strong> mistério. Um executivoda Universal me falou certa vez que nem ao governo americano ele revelavao verda<strong>de</strong>iro valor que pagava a um astro <strong>de</strong> Hollywood. Existe muitamistificação em torno do orçamento <strong>de</strong> um filme. Roberto Rodriguez que fezEl Mariachi (1992), disse que gastou apenas <strong>de</strong>z mil dólares no filme, o que,sabemos que é insuficiente até para pagar a revelação e copiagem <strong>de</strong> umlonga metragem. Depois a empresa que comercializou o filme afirmou tergasto um milhão <strong>de</strong> dólares para conseguir uma cópia em condições <strong>de</strong> serexibida nos cinemas. Alguns produtores falam em remunerar-se naprodução. Isso acontece aqui e em várias partes do mundo. Po<strong>de</strong> pareceralgo <strong>de</strong>sonesto, mas não é. Quem consegue ganhar dinheiro com o negócio55


<strong>de</strong> cinema é quem comercializa os filmes e não quem produz. É claro que háexceção, mas via <strong>de</strong> regra, principalmente no Brasil, o produtor que nãoconsegue remunerar-se na produção dificilmente recupera o que investiu.Por tudo isso é muito difícil saber qual é o real orçamento <strong>de</strong> um filme. NoBrasil, quase sempre temos um orçamento do que precisaríamos e outro doque conseguimos. O pior é que quase sempre tentamos fazer o filme com oque conseguimos. Como falei no início, o primeiro orçamento <strong>de</strong> Expressopara Aanhangaba, para ser feito em película, com atores “globais”, oitosemanas <strong>de</strong> filmagem, etc., ficou em quase três milhões <strong>de</strong> reais. Entretanto,para participar <strong>de</strong> um edital <strong>de</strong> telefilme, tal valor ficou reduzido em suasexta parte, ou seja, quinhentos mil reais. Conseguir essa mágica com osnúmeros foi uma verda<strong>de</strong>ira loucura. Havia uma falsa ilusão, na época, <strong>de</strong>que um longa metragem rodado em digital barateava consi<strong>de</strong>ravelmente aprodução. Na verda<strong>de</strong> a única coisa que barateia são as <strong>de</strong>spesas commaterial sensível e o fato <strong>de</strong> não termos que fazer revelação e copiagem. Osfilmes feitos em película consomem gran<strong>de</strong> parte do orçamento nessesitens. Quanto às <strong>de</strong>mais áreas nada muda. Alimentação, gasolina,hospedagem, equipe técnica é praticamente igual. Não existe mágica. O fato<strong>de</strong> estarmos gravando em digital não dispensa a continuista, assistente <strong>de</strong>direção, eletricista, maquinista, etc.. Através <strong>de</strong> uma programaçãoapertadíssima conseguimos diminuir, também, o número <strong>de</strong> semanas: <strong>de</strong>oito para cinco.No projeto inicial em película eu havia pensado em trabalhar comum fotógrafo com o renome <strong>de</strong> Rodolfo Sanchez, José Roberto Eliezer,Pedro Pablo Lazzarini, para um cuidado especial à imagem. Depois estiveconversando com Carlos Ebert, que além <strong>de</strong> fotógrafo com gran<strong>de</strong>experiência em película é um especialista em imagem digital. Infelizmente,por questão <strong>de</strong> orçamento, não foi possível trabalhar com ele. Cabeesclarecer que do orçamento <strong>de</strong> quinhentos mil reais eu consegui apenastrezentos mil. Tive que abandonar o cuidado com a imagem e partir parauma outra solução que foi privilegiar a utilização do steadicam, incorporandoo seu uso à linguagem do filme, não me preocupando muito com a qualida<strong>de</strong>56


da fotografia. Abro aqui um parênteses para <strong>de</strong>ixar claro que o trabalho <strong>de</strong>Adriano Barbuto e Gustavo Gasset, respectivamente, diretor <strong>de</strong> fotografia eoperador <strong>de</strong> steadicam foi <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro das circunstânciasoferecidas. Eles fizeram o melhor que pu<strong>de</strong>ram. Preparei uma <strong>de</strong>cupagem<strong>de</strong> ferro junto com o diretor <strong>de</strong> arte, um amigo artista plástico - <strong>de</strong>senhamostodas as cenas do filme. Ensaiei com os atores várias vezes e discutiexaustivamente com eles todas as cenas semanas antes da filmagem. Aquitambém cabe um esclarecimento quanto à seleção <strong>de</strong> atores: quando faloem “atores globais” não quero dar uma conotação negativa a isso; quero mereferir a atores que conquistaram seu espaço na mídia. Nos Estados Unidosum ator <strong>de</strong> nome leva uma parte significativa do orçamento <strong>de</strong> um filme.Aqui também, como em todo lugar, um ator <strong>de</strong> nome tem o seu preço. Noinício, quando ainda tinha esperança <strong>de</strong> conseguir o resto da captação,an<strong>de</strong>i sondando alguns <strong>de</strong>sses atores e eles se interessaram pelo roteiro.Falo <strong>de</strong> Paulo Betti e Lucélia Santos. Ambos foram muito generosos comigoe até fariam o filme por um valor mínimo, mas não conseguiramcompatibilizar a agenda <strong>de</strong>les com o prazo que eu tinha para realizar oprojeto. Hélio Cícero e Dalilea Ayala <strong>de</strong>sempenharam os papeis que seriam<strong>de</strong>sses dois atores com gran<strong>de</strong> competência e eu gosto do resultado. Conteicom ajuda fundamental <strong>de</strong> um experiente produtor e diretor, meu amigoPenna Filho, que entre outras coisas havia trabalhado com Ari Fernan<strong>de</strong>s nasérie para televisão Águias <strong>de</strong> fogo (1967/68). Penna armou toda umalogística juntando locações numa mesma região para que não tivéssemosque nos <strong>de</strong>slocar muito. Um dos gran<strong>de</strong>s problemas do meu filme é que eletinha muitas locações e consegui-las, numa produção sem dinheiro, não foitarefa fácil, porém contei, mais uma vez, com a generosida<strong>de</strong> dos amigos.Além das locações, tivemos, ainda, que construir um pequeno cenáriopróximo a uma estação <strong>de</strong> trem <strong>de</strong>sativada, o Hotel Glória, citação do filme<strong>de</strong> Antonioni O passageiro, profissão: repórter.Consegui concluir o telefilme, incluindo a finalização <strong>de</strong> som, comexatos R$290.000,00! Durante muito tempo após o término do trabalho tinhapesa<strong>de</strong>los nos quais eu me via em pleno período <strong>de</strong> filmagem, com muitos57


problemas para resolver. Foi realmente um milagre ter conseguido terminaro filme com tão pouco dinheiro. Sobre o resultado final, creio que sou apessoa menos autorizada a emitir opinião. Há quase dois anos estoutentando encontrar um lugar para exibi-lo. Na época em que concorri aoedital ainda havia o canal Cultura & Arte, do Ministério da Cultura, na TV acabo, e contratualmente ele seria exibido, <strong>de</strong> preferência, nesse canal.Como foi extinto, sobrou o Canal Brasil e a TV Cultura com quem estoutentando negociar a exibição. Também penso em lançá-lo em DVD.Infelizmente nenhum telefefilme do edital <strong>de</strong> que participei, <strong>de</strong>z no total, foiexibido até hoje.58


3. VIVER DE CINEMA“Viver <strong>de</strong> cinema no Brasilé você ter um pé na realida<strong>de</strong>... muito difícil...e muito sonho na cabeça -tem uma distância imensa entre uma coisa e outra.”(Penna Filho)Sobre o assunto da nossa pesquisa, “viver <strong>de</strong> cinema”,entrevistamos oito profissionais <strong>de</strong> diferentes áreas e que iniciaram ativida<strong>de</strong>em épocas diferentes 13 . Com o relato <strong>de</strong>ste autor, são ao todo nove<strong>de</strong>poimentos. Praticamente todos os profissionais entrevistados sempreviveram <strong>de</strong> cinema e estão até hoje em ativida<strong>de</strong>. O único que andouafastado por uns tempos foi Jacques Deheinzelin e hoje tem pouca atuação;em contrapartida é uma pessoa muito bem informada que acompanha todasas mudanças do setor. Três <strong>de</strong>les iniciaram-se na profissão na década <strong>de</strong>1950 (Jacques Deheinzelin, Galileu,Garcia, Máximo Barro), três na <strong>de</strong> 1960(Penna Filho, Francisco Ramalho, Miguel Ângelo), e três na <strong>de</strong> 1970 (ToniGorbi, Inês Mullin, Tony <strong>de</strong> Sousa). O perfil <strong>de</strong>sses profissionais e trechosdas entrevistas estão no Anexo II <strong>de</strong>ste trabalho.Além dos nomes citados, pesquisamos relatos <strong>de</strong> outrosprofissionais <strong>de</strong> cinema sobre o tema em questão e estaremos nos referindoa eles durante a nossa exposição. Dos relatos obtidos, extraímos trêscategorias, que enten<strong>de</strong>mos, ser possível, formar uma imagem do que éviver <strong>de</strong> cinema, são elas: A Escolha da Profissão, O Aprendizado do Ofícioe A Sobrevivência e as Ativida<strong>de</strong> Paralelas.13 Nos trechos selecionados das entrevistas, optamos por transcrevê-los literalmente para não incorrermos norisco <strong>de</strong> qualquer modificação/alteração das idéias dos profissionais que colaboraram conosco.59


3.1. A escolha da profissãoA maioria dos profissionais 14 que entrevistamos escolheu ocinema como profissão por terem se apaixonado, primeiramente, pela artecomo espectadores:“Eu sou envolvido com o cinema <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando eu fui pela primeira vez,quando eu era garoto, lá na minha cida<strong>de</strong> no interior <strong>de</strong> Minas e eu tinhacuriosida<strong>de</strong> em saber como era, como fazia aquilo. Eu queria estudar isso ai,eu comprava revistinha, eu procurava saber, naquela época não tinhainternet, não tinha nada disso, era muito difícil, eu fui pra a cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> esempre procurando livros sobre cinema” (Toni Gorbi – Chefe Eletricista)“Por amor, exclusivamente, por amor! Estudava engenharia, e <strong>de</strong> tanto ver eler sobre cinema, fiz a escolha!” (Francisco Ramalho Jr – Diretor, Produtor eRoteirista)“Como em várias profissões, acho que nem todas, mas várias é por vocêgostar <strong>de</strong> alguma coisa. No caso do cinema para mim, não foi nem o gostar,foi a paixão que eu tinha por cinema <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eu conseguiver o meu primeiro filme...”. (Miguel Ângelo dos Santos Costa – Técnico <strong>de</strong>Som Direto)“Eu no início militava em jornal. E jornal era o que eu gostava <strong>de</strong> fazer. Ealém das reportagens que era minha função mesmo, eu era repórter, eugostava muito <strong>de</strong> cinema e fui atraído para o cinema, o cinema prático, ocinema <strong>de</strong> estúdio, através <strong>de</strong> crítica <strong>de</strong> cinema, vendo filmes e militando efazendo críticas <strong>de</strong> filmes e foi através disso que eu entrei e comecei”.(Galileu Garcia – Produtor, Diretor e Roteirista)A paixão pelo cinema, o fascínio que o cinema exerce sobre aspessoas, ao nosso ver, faz uma gran<strong>de</strong> diferença quando comparamos comoutras profissões como metalúrgico, bancário, metroviário, etc. Uma dasdificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atuação do sindicato <strong>de</strong> cinema está relacionada a essaquestão. Via <strong>de</strong> regra, o profissional <strong>de</strong> cinema gosta do que faz. Tempaixão pelo set <strong>de</strong> filmagem. Daí não ter o mesmo empenho em reivindicarcoisas que em outras categorias há muito são inquestionáveis, como por14 A i<strong>de</strong>ntificação dos profissionais foi autorizada, por escrito, através do Termo <strong>de</strong> ConsentimentoLivre e Esclarecido, em conformida<strong>de</strong> com as Resoluções CFP 016/2000 e CNS 196/96.60


exemplo, o controle das horas trabalhadas. Já os profissionais <strong>de</strong>laboratório, por terem uma característica <strong>de</strong> trabalho mais próxima a dooperário <strong>de</strong> uma fábrica, são mais reivindicativos. Voltaremos a essaquestão no quarto capítulo quando abordarmos o papel dos sindicatos.Antes <strong>de</strong> prosseguirmos, achamos necessário esclarecer o quevem a ser viver <strong>de</strong> cinema. No início dos anos 50, quando ainda não haviatelevisão nem outras mídias, viver <strong>de</strong> cinema era fazer filmes <strong>de</strong> longametragem <strong>de</strong> ficção, documentários ou cine-jornais. Hoje, na época <strong>de</strong>indústria do audiovisual, viver <strong>de</strong> cinema po<strong>de</strong> significar muita coisa. Comoiremos ver mais adiante, para alguns dos nossos entrevistados, cinema éfilme <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> ficção; para outros, tudo que é audiovisual écinema. “Televisão é cinema” afirma um textualmente.Para termos uma idéia <strong>de</strong> como muda a questão quandoconsi<strong>de</strong>ramos que tudo que é audiovisual é cinema, a empresa holan<strong>de</strong>saEn<strong>de</strong>mol, consi<strong>de</strong>rada uma das maiores do mundo no ramo doentretenimento, patenteou 400 tipos <strong>de</strong> produtos audiovisuais em seu nome,entre eles o Big Brother e vários tipos <strong>de</strong> programas do gênero. A indústria<strong>de</strong> vi<strong>de</strong>ogame também tem se <strong>de</strong>senvolvido <strong>de</strong> forma acelerada e há quemafirme que já ultrapassou a indústria do filme <strong>de</strong> ficção. Portanto, quando aexpressão “viver <strong>de</strong> cinema” é usada, precisamos saber se quem estáfalando se refere a filme <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> ficção ou a qualquer produtoaudiovisual. Na maioria das vezes, o termo cinema se refere mesmo a filme<strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> ficção.Mas o que seria um filme <strong>de</strong> ficção? De acordo com Sadoul(1951), filmes <strong>de</strong> ficção são “filmes que inventam e contam uma história,como o teatro e o romance”. (p. 254)No início dos anos 1970 o semiólogo Christian Metz (1980) tentouestabelecer uma distinção entre o que se <strong>de</strong>nominava genericamentecinema e o produto filme. Para isso usou duas expressões criadas porGilbert Cohen-Séat, em 1946, “fato cinematográfico” e “fato fílmico” (p.11).61


“Fato cinematográfico” se referiria ao vasto universo da produçãocinematográfica, <strong>de</strong>nominado genericamente <strong>de</strong> cinema, e “fato fílmico” aofilme propriamente dito. A distinção é importante porque o cinema <strong>de</strong> longametragem <strong>de</strong> ficção é um negócio complexo que possui vários ramos <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong> como a distribuição e a exibição. Os profissionais a que nosreferimos em nossa tese são os que trabalham na realização <strong>de</strong> filmes,portanto, estão ligados ao “fato fílmico” e não ao “fato cinematográfico”.Conforme vimos no Capítulo 1 os profissionais cinematográficosestão divididos em muitas funções e, cada vez, a lista fica maior. O últimolevantamento que fizemos no site Tela Brasileira 15 ,que abrange profissionaisdo audiovisual em geral, encontramos 160 funções. Embora esse númeropossa ser questionado, pois existem algumas funções que se repetem comoutro nome, dá para se ter uma idéia <strong>de</strong> como esse ramo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>tornou-se complexo com as especificida<strong>de</strong>s criadas. Depen<strong>de</strong>ndo da funçãoque se exerce <strong>de</strong>ntro da ativida<strong>de</strong> o drama do profissional em termos <strong>de</strong>sobrevivência po<strong>de</strong> ser maior ou menor. A questão mais complexa estácolocada na figura do diretor, pois além <strong>de</strong> lutar pela sobrevivênciaprofissional existe a cobrança em termos <strong>de</strong> coerência i<strong>de</strong>ológica, estética,compromisso com a cultura nacional, etc. Sobre esse assunto falaremosmais adiante. O que é importante é termos em conta que o filme <strong>de</strong> longametragem <strong>de</strong> ficção é o gran<strong>de</strong> atrativo na escolha <strong>de</strong> alguém que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>fazer cinema.15 Disponível www.telabrasileira.com.br62


3.2. O aprendizado do ofícioComo se apren<strong>de</strong> a fazer cinema?Nosso relato pessoal e o relato <strong>de</strong> outros profissionais como ToniGorbi e Penna Filho <strong>de</strong>monstram o longo caminho que tivemos quepercorrer como autodidatas e o que apren<strong>de</strong>mos é apenas uma pequenaparte do que ainda precisamos apren<strong>de</strong>r. O aprendizado no cinema jamaisacaba.Em entrevista a Leon Cakoff (2005), em 2004, o cineastaportuguês Manoel <strong>de</strong> Oliveira, <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 90 anos, ao ser perguntado queensinamento <strong>de</strong> cinema teria para as novas gerações respon<strong>de</strong>u: “Mas eusou aprendiz, como hei <strong>de</strong> dar lições?” (p. 63).Ugo Giorgetti (apud Pavam, 2004) costuma dizer: “quandocomeço a achar que cinema é fácil, assisto ao filme [Rastros <strong>de</strong> Ódio, <strong>de</strong>John Ford]”. (p.240).Francisco Ramalho Júnior em seu <strong>de</strong>poimento diz: “Minhaformação foi totalmente autodidata, e até hoje, continuo a estudar o exercício<strong>de</strong> minha profissão, além <strong>de</strong> tentar exercê-la 24h/dia”.As escolas <strong>de</strong> cinema são um fenômeno relativamente recente.Até início dos anos 1950 no Brasil, os profissionais <strong>de</strong> cinema se formavamna prática. Na Europa e Estados Unidos levavam anos para subirem nahierarquia. Já no Brasil, mesmo <strong>de</strong>pois do aparecimento das escolas <strong>de</strong>cinema, a maioria dos profissionais continuou sendo formada na prática, atéporque, para muitas funções, as mais técnicas e hierarquicamente menosimportantes, não existiam, e até hoje não existem, cursos <strong>de</strong> formação. Daía importância que tiveram os gran<strong>de</strong>s estúdios para formação <strong>de</strong>ssesprofissionais. Sobre isso ressalta Galileu Garcia em seu <strong>de</strong>poimento a MariaRita Galvão (1981):63


A vantagem que teve a Vera Cruz pra todo mundo, e para ocinema brasileiro em geral, foi a <strong>de</strong> ter disciplinado o ensino, com gran<strong>de</strong>stécnicos como professores. Era um estudo metódico, basicamente orientadopelos ingleses. (...) Antes da Vera Cruz, aqui no Brasil o pessoal se formavapor geração espontânea, você tinha um cinema em que as pessoas faziam<strong>de</strong> tudo, sem especialização e sem conhecimentos específicos: o caramontava, iluminava, dirigia a perua, fazia produção, escrevia o roteiro,acabava não fazendo nada bem mesmo, fazia <strong>de</strong> tudo um pouco. (p.139).Galileu <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a idéia <strong>de</strong> que a Vera Cruz foi uma gran<strong>de</strong>escola. Segundo ele, <strong>de</strong> lá saíram formadas cerca <strong>de</strong> 300 pessoas. Ele foiuma <strong>de</strong>las. O Jacques Deheinzelin, formou-se na França e <strong>de</strong> lá veio para aVera Cruz. Estudou no IDHEC – <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Altos Estudos Cinematográficos;formou-se em Fotografia <strong>de</strong> Cinema, mas foi aqui que <strong>de</strong>senvolveu a suaprática profissional.Máximo Barro estudou cinema num curso livre do Centro <strong>de</strong>Estudos Cinematográficos pertencente ao Museu <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> São Paulo.Iniciou sua ativida<strong>de</strong> prática na área <strong>de</strong> produção e apren<strong>de</strong>u montagem porpura intuição, na prática.Miguel Ângelo, após fazer o Seminário <strong>de</strong> Cinema, segundo eleum curso teórico, iniciou sua ativida<strong>de</strong> como Assistente <strong>de</strong> Montagem naJota Filmes, produtora <strong>de</strong> Jacques Deheinzelin e, aos poucos, transferiu-separa área <strong>de</strong> som e apren<strong>de</strong>u a fazer som direto <strong>de</strong> maneira autodidata.Penna Filho teve uma trajetória curiosa: começou sua ativida<strong>de</strong>no rádio, <strong>de</strong>pois foi para dublagem e <strong>de</strong> lá para o cinema. Apren<strong>de</strong>u tudo naprática:“Eu não tenho essa formação (se refere à formação acadêmica). Mas euacho que teria sido muito bom, porque tem um companheiro nosso ai, JoãoBatista <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, que diz uma coisa muito engraçada que eu semprerepito: nós abrimos o nosso caminho à foiçada. Porque nós fomosapren<strong>de</strong>ndo. Ah é assim? É assim que se faz? O que é objetiva? Quais são64


as objetivas? Por que campo e contra-campo? A gente foi apren<strong>de</strong>ndo issoassim, no dia a dia”. (Penna Filho)Toni Gorbi, assim como este autor, chegou a fazer um curso <strong>de</strong>cinema por correspondência. Mecânico autodidata trabalhou também comotratorista em vários lugares. Apren<strong>de</strong>u eletricida<strong>de</strong> ajudando o pai a fazerinstalações elétricas <strong>de</strong> residências. No cinema apren<strong>de</strong>u seu ofício naprática chegando ao topo da carreira em sua área – Gaffer.A única entrevistada que tem formação acadêmica na Área <strong>de</strong>Cinema, além do Jacques Deheinzelin, é Inês Mullin, formada no curso <strong>de</strong>cinema da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado).Antes do surgimento dos gran<strong>de</strong>s estúdios em São Paulo existiaum certo consenso <strong>de</strong> que precisávamos formar mão <strong>de</strong> obra especializada.Maria Rita Galvão (1981) lembra as posições contraditórias <strong>de</strong> Alex Viany,um severo crítico da Vera Cruz que ao abordar essa questão, na revista ACena Muda, em 1949, diz::No que diz respeito à gente <strong>de</strong> cinema, apesar <strong>de</strong> repetirconstantemente que “o elemento humano” é a única coisaque não falta no cinema brasileiro, a cada vez que seaprofunda na questão A Cena Muda acaba chegando àconclusão contrária: ressalvadas as honrosas exceções,infelizmente nos falta “quase tudo”. Se temos algunsartistas, diretores e fotógrafos aceitáveis, não temosmontadores, cenógrafos, construtores, maquiladores,técnicos <strong>de</strong> som, especialistas <strong>de</strong> qualquer espécie. E nemescolas on<strong>de</strong> eles possam apren<strong>de</strong>r, e nem possibilida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> importar professores, ou exportar alunos para qualquerpaís estrangeiro on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>ssem adquirir conhecimentos. Noque diz respeito à edição, por exemplo, “até agora nãohouve um só filme que fosse bem cortado e montado”. Nissocomo <strong>de</strong> resto tudo o mais, “estamos urgentementenecessitando <strong>de</strong> auxílio estrangeiro” (VIANY apud GALVÃO,1981, p.50)Quando iniciamos no cinema, no final dos anos 1970, esseproblema apontado por Alex Viany felizmente já não existia. Tivemos aoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar com excelentes Diretores <strong>de</strong> Fotografia, Técnicos<strong>de</strong> Som Direto, Montadores, Continuistas, Maquiadores, Eletricistas,65


Maquinistas, Assistentes <strong>de</strong> Câmera, etc., o que comprova que os estúdiosrealmente formaram mão <strong>de</strong> obra especializada em São Paulo. O problemaque existia e ainda continua existindo é apontado com muita pertinência peloCarlos Ebert, no trecho do <strong>de</strong>poimento abaixo:“Eu acho que a característica talvez mais marcante da formação do técnicoaudiovisual do Brasil é que ela se dá <strong>de</strong> uma forma muito próxima ao queeram as corporações <strong>de</strong> ofício da Ida<strong>de</strong> Média, quer dizer, o profissionalapren<strong>de</strong> com outro profissional mais experiente, <strong>de</strong>sconhecendo inclusive, aprincipio, qual é a profundida<strong>de</strong> do conhecimento teórico que essa pessoacom a qual ele está adquirindo conhecimento tem. Ele não sabe, ele vaiesperar aquela pessoa e ver aquela pessoa atuar, e por um procedimentomimético, ele vai fazendo como o outro faz, sem questionar muito. O outronormalmente só proce<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do que <strong>de</strong>u certo empiricamente, quer dizer,ele já fez alguns erros. Já, por exemplo, um eletricista já queimou algumasinstalações, já incendiou alguns tapetes, apren<strong>de</strong>u algumas coisas, algumasregras, regras básicas, e não comete aquele erros, já vem então com oconhecimento, e o aprendiz <strong>de</strong>le, ele já apren<strong>de</strong> algo peneirado pelaexperiência, mas que não é a experiência <strong>de</strong>le. Ele não tem experiênciaprópria a partir do conhecimento teórico. Eu acho que a forma <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>rmelhor é você levar paralelamente a prática e a teoria. E ir testando naprática a teoria. (...) Ora, se o aprendiz já vem apren<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> um cidadãoque não tem conhecimento teórico, na maioria das vezes, está recebendosó como instrução a prática filtrada por esse indivíduo, há a tendência <strong>de</strong>que cada geração perca informação e não ganhe”.Conforme já mencionamos são inúmeras as funções quecompõem uma equipe <strong>de</strong> cinema. É mais comum que ocorra esse fenômenoapontado pelo Ebert nas funções hierarquicamente mais baixas, mas nadaimpe<strong>de</strong> que o mesmo ocorra em funções mais importantes como Montador,Diretor <strong>de</strong> Fotografia e até Diretor.Sobre a proposta <strong>de</strong> juntar teoria e prática falaremos no últimocapítulo quando nos referirmos ao projeto <strong>de</strong> educação continuada do<strong>Instituto</strong> Roberto Santos.Um outro aspecto preocupante do aprendizado do técnicoaudiovisual brasileiro é que muitos <strong>de</strong>les se formam trabalhando apenas emfilmes publicitários. A nosso ver, embora a produção <strong>de</strong> filmes publicitáriostenha a vantagem <strong>de</strong> utilizar equipamentos <strong>de</strong> ponta, ela cria uma série <strong>de</strong>66


<strong>de</strong>formações nos profissionais que trabalham apenas com publicida<strong>de</strong>. Porexemplo, um assistente <strong>de</strong> câmera que trabalha apenas em publicida<strong>de</strong>,cujos filmes duram, em média 30 segundos, jamais terá oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>exercitar plenamente o seu ofício, isto porque um filme com essa duraçãonão permite tomadas longas com muitos movimentos <strong>de</strong> câmera. Fora dapublicida<strong>de</strong>, entretanto, existem tomadas que duram <strong>de</strong>z minutos ou mais e,com os equipamentos digitais, é possível realizar um filme inteiro numaúnica tomada, como é o caso <strong>de</strong> Arca Russa (2002), do cineasta AleksandrSukúrov.No caso do Diretor <strong>de</strong> Fotografia: como exercitar a continuida<strong>de</strong><strong>de</strong> luz? Em um filme <strong>de</strong> longa metragem, quase sempre, as tomadas sãofeitas fora <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m. Uma cena que teve início em um dia po<strong>de</strong> serretomada muitos dias <strong>de</strong>pois e tanto a luz como os <strong>de</strong>mais elementos <strong>de</strong>continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>verão ser recompostos. Isso dificilmente ocorre em um filmepublicitário, cuja filmagem, quase sempre, é feita em um único dia. O mesmopo<strong>de</strong>mos dizer do eixo ótico. Na narrativa clássica, utilizada pela gran<strong>de</strong>maioria dos filmes <strong>de</strong> longa metragem, há certas regras a serem observadascom relação a entrada e saída do campo visual da lente da câmera, casocontrário haverá problemas na edição. No filme publicitário quase sempreessas regras são ignoradas. A jornada do técnico que trabalha empublicida<strong>de</strong>, embora a lei limite a 6(seis) horas em estúdio e 8 (oito) emexternas, incongruência já apontada por nós ao comentarmos a lei queregulamentou a profissão, normalmente ultrapassa as 12 (doze) horas.Como o profissional dificilmente trabalha todos os dias, naqueles que nãotrabalha consegue recuperar o <strong>de</strong>sgaste do excesso <strong>de</strong> horas trabalhadas.No caso do filme <strong>de</strong> longa metragem, cujas filmagens duram, em média, ummês, esse ritmo <strong>de</strong> trabalho se torna impraticável.A maioria dos profissionais que entrevistamos manifestaram a suaopinião sobre importância do aprendizado sistemático do ofício. Se nãofizeram cursos <strong>de</strong> formação foi porque na época em que iniciaram não havia67


ou por falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>. Alguns como Francisco Ramalho Jr. sãorigorosos quanto a essa importância:“(...)... se é para se formar alguém, a minha leitura é que se <strong>de</strong>ve formar numnível tal, que se aterrisar um grupo estrangeiro, aquele cara po<strong>de</strong> se integraras suas funções ali e executá-las. Ninguém vai ter que explicar para ele,olha você é cabo, você vai limpar o banheiro, você vai fazer isso e etc. Elesabe que aquilo é função <strong>de</strong>le”.Toni Gorbi, apesar <strong>de</strong> ser autodidata, segundo ele, não pára <strong>de</strong>atualizar-se profissionalmente:“... o que eu pegar para fazer, eu quero ser o melhor. Se eu fosse um piloto<strong>de</strong> fórmula 1 eu seria igual a Ayrton Senna. Eu teria morrido igual elemorreu. Eu não sei ficar atrás. Eu quero tá na frente. Então é assim, eugosto do que faço. Eu quero ser o melhor!”Essa mentalida<strong>de</strong> em nosso meio infelizmente não é regra. Pelaexperiência que temos em promover cursos <strong>de</strong> atualização profissional nosindicato, a maioria dos profissionais, principalmente da área <strong>de</strong> elétrica,acha que já sabe tudo e que não têm mais nada a apren<strong>de</strong>r. Sobre esseassunto voltaremos no capitulo final quando comentarmos sobre o papel dosindicato e do <strong>Instituto</strong> Roberto Santos.3.3. A sobrevivência e as ativida<strong>de</strong>s paralelasNossa tese aborda o profissional <strong>de</strong> cinema em geral, masprecisamos <strong>de</strong>stacar que, no caso do diretor cinematográfico, o drama dasobrevivência é mais complicado ainda, a começar pelo excessivo número<strong>de</strong> profissionais registrados nessa função - 1.500 (mil e quinhentos) noBrasil, conforme levantamento <strong>de</strong> Jacques Deheinzelein 16 . Em São Paulo,em levantamento feito por nós em abril <strong>de</strong> 2006, contabilizamos 94716 As informações referentes ao levantamento realizado por Jacques Deheinzelin encontram-se em “Ensaio Sobrea Produção Audiovisual Brasileira (A difícil relação econômica entre consumidores e produtores na era docomunismo tecnológico), ainda não publicado, <strong>de</strong> sua autoria, cuja versão parcial e provisória <strong>de</strong> taltrabalho nos foi ofertada por ocasião da entrevista realizada em 20/12/2004. Esclarecemos que nessemimeo não consta paginação.68


(novecentos e quarenta e sete) diretores registrados na Delegacia Regionaldo <strong>Trabalho</strong>. Jacques ainda acrescenta:Mas não se limita a estes profissionais com experiência <strong>de</strong>direção a ambição <strong>de</strong> dirigir filmes <strong>de</strong> longa metragem: nãosó as várias escolas <strong>de</strong> cinema existentes nas universida<strong>de</strong>sbrasileiras colocam anualmente no mercado novos formadosnesta especialida<strong>de</strong>, como muitos atores, produtores,diretores <strong>de</strong> fotografia, montadores, escritores, críticos eprofessores <strong>de</strong> cinema, autores e diretores teatrais,coreógrafos e artistas <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> experiênciasalimentam este mesmo sonho – e a história <strong>de</strong> qualquercinematografia nacional mostra que alguns <strong>de</strong>les orealizaram, dirigindo obras dignas <strong>de</strong> registro. (ibid.)Comenta também o seguinte:Os circuitos <strong>de</strong> cinema, no mundo inteiro, sãoconvenientemente alimentados por no máximo <strong>de</strong> 400(geralmente bem menos) filmes <strong>de</strong> longa metragem por ano,o que dá, nos gran<strong>de</strong>s centros, uma média <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> umaestreia por dia, e nos mercados complementares <strong>de</strong>locação, venda e exibição em TVs abertas e pagas (queacumulam a produção <strong>de</strong> 60 ou mais anos), uma oferta <strong>de</strong>24.000 títulos. Num mundo conforme o i<strong>de</strong>al globalizante, aparte importada <strong>de</strong>stes 400 filmes <strong>de</strong>veria ser, basicamentea mesma oferecida a qualquer público em qualquer país. Enum mundo conforme i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>mocrático ( que faz parte dopacote i<strong>de</strong>ológico da globalização), cada país <strong>de</strong>veria teruma participação equânime (isto é, proporcional à suapopulação) nesta manifestação da nacionalida<strong>de</strong> que são acriação e produção fílmicas. Usando as estatísticas doBanco Mundial para 1995, que davam uma populaçãoterrestre <strong>de</strong> 5.951 milhões, o contingente <strong>de</strong> habitantes porfilme seria <strong>de</strong> 5.951 : 400 = 14,8 milhões. De acordo com acombinação dos mandamentos globalizantes e<strong>de</strong>mocráticos, o i<strong>de</strong>al seria que cada país colocasse umnúmero <strong>de</strong> filmes no mercado mundial proporcional à suapopulação. Dos 400 filmes anuais, o Brasil teria 10,7, osEstados Unidos 17,6, a China 80,6, a Índia 62,4, o Japão8,4, a Rússia 10, e a Alemanha 5,5. Ao Reino Unido, àFrança e à Itália, caberiam 4 filmes anuais cada um. AEspanha 2,6, a Argentina 2,3, e Portugal e Cuba 0,7 cada”.(ibid.)Continuando seu raciocínio Jacques <strong>de</strong>monstra que para umaprodução anual <strong>de</strong> 400 filmes, 200 diretores seriam suficientes se69


consi<strong>de</strong>rarmos que cada um teria condições <strong>de</strong> dirigir 2 longas metragenspor ano. No entanto, o que acontece, <strong>de</strong> acordo com a sua interpretação éum excesso <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> longa metragem produzidos todos osanos. Pegando um dado <strong>de</strong> 1994, quando apenas 20 países produziram2.592 filmes <strong>de</strong> longa metragem, diz que é impossível que todos essesfilmes sejam absorvidos pelo mercado mundial.Mesmo tirando os 754 da Índia e os 251 do Japão, os 1.587restantes não podiam encontrar lugar nos circuitosexibidores <strong>de</strong> cada país. Na verda<strong>de</strong>, nem os 575 norteamericanoscabiam neles: parte <strong>de</strong>stes filmes se <strong>de</strong>stinavamexclusivamente ao mercado <strong>de</strong> televisão”. (ibid.)E conclui:O que diferencia a utopia da realida<strong>de</strong>, é que não hárepresentação internacional equânime, e sim uma produçãonorte-americana que domina cada um <strong>de</strong>stes mercados comos seus mesmos filmes. Para todos os outros paísesprodutores, a exportação é uma miragem só atingida poralguns filmes excepcionais. A globalização do audiovisualcinematográfico é um fenômeno norte-americano, que só aesta nação beneficia, e isto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 20, muito antesda mística globalizante ter tomado conta da i<strong>de</strong>ologiamundial. (ibid.)Voltando à realida<strong>de</strong> brasileira:Assumindo como plausível a hipótese <strong>de</strong> que sejam daor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 1.600 os candidatos a diretores <strong>de</strong> longametragem com algum título, seria apenas 1 em cada100.000 brasileiros. Mas quando se consi<strong>de</strong>ra umaprodução <strong>de</strong> 50 a 100 filmes anuais, 1.600 diretorespotenciais significam mais <strong>de</strong> 1.500 frustrados, capazes <strong>de</strong>se tornarem inimigos <strong>de</strong> um governo incapaz <strong>de</strong> satisfazeras expectativas <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> sua obra. (ibid.)Embora não concor<strong>de</strong>mos totalmente com o raciocínio doJacques, pois ele leva em conta apenas o mercado como está configurado,e não consi<strong>de</strong>ra a possibilida<strong>de</strong> do surgimento <strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los quevenham alterar a relação espectador/produto audiovisual, no qual adiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> filmes seja um dado positivo e não o contrário enten<strong>de</strong>mos70


que tem razão do ponto <strong>de</strong> vista do investimento capitalista. Mesmo que osfilmes extraiam o retorno <strong>de</strong> seus investimos cada vez menos da renda dasbilheterias (dados <strong>de</strong> 2003 <strong>de</strong>mostram que os filmes ren<strong>de</strong>ram 5 vezes maisnas vendas para o mercado doméstico), os produtores precisam do aval dosucesso <strong>de</strong> público nas salas <strong>de</strong> cinema. A partir <strong>de</strong>sse sucesso, o valor dofilme no mercado po<strong>de</strong> ser multiplicado ou diminuído. O número 400utilizado por Jacques, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse raciocínio, faz sentido.Não é exagero, portanto, o que dizem certos diretores <strong>de</strong> cinemabrasileiro sobre a sua condição:“Se você quiser fazer cinema <strong>de</strong> longa metragem, prepare-se para vivercomo um asceta no Brasil.” (Ugo Giorgetti apud PAVAM, 2004, p.70);“Já enfrentei todo tipo <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> para fazer cinema. Po<strong>de</strong> imaginar a piorcoisa que garanto que já aconteceu comigo”. (Carlos Reichenbach apudLYRA, 2004, p. 105);“Fazer cinema sempre foi uma guerra”. (Carlos Coimbra apud MERTEN,2004, p.120).Carlos Reichenbach costuma usar expressões parecidas com as<strong>de</strong> Ugo Giorgetti: “Sacerdócio”, “Voto <strong>de</strong> pobreza”. Para Glauber Rocha(1981), além da citação que já usamos, “o cineasta nacional é um homemsempre a caminho da inutilida<strong>de</strong>” (p.14), também fala em “disponibilida<strong>de</strong>para autoflagelação.” (p. 11).Perguntado sobre como é sobreviver fazendo cinema no Brasil,Francisco Ramalho Jr. respon<strong>de</strong>u:“É terrível, cada vez mais terrível, pois a profissão inexiste. Após tantos anos<strong>de</strong> trabalho, não acumulei nenhuma poupança, tenho dívidas pessoais, ecada vez é mais difícil tentar trabalhar”.O caso <strong>de</strong> Ramalho é bem ilustrativo, pois segundo ele mesmoafirma, sempre tentou fazer filmes para o mercado. Po<strong>de</strong>ríamos supor que a71


condição <strong>de</strong> quem escolheu fazer filmes para o mercado e <strong>de</strong> quem optoupor filmes autorais, seria diferente. Sobre essa questão filmes autorais efilmes para o mercado falaremos mais adiante.Se a condição <strong>de</strong> sobrevivência do Diretor é tudo que já falamos,a dos <strong>de</strong>mais profissionais que tentam ou tentaram viver apenas <strong>de</strong> longametragem, também, não é fácil.“Houve momentos que eu fiquei sete meses sem fazer absolutamente nada”.(Máximo Barro – Montador)A Assistente <strong>de</strong> Direção Inês Mullin, apesar <strong>de</strong> não ter tido muitoproblema com falta <strong>de</strong> trabalho, fala <strong>de</strong> um aspecto da profissão que écomum a praticamente todos que trabalham em cinema, inclusive cinemapublicitário:“A gente não tem certeza <strong>de</strong> que vai haver outro projeto em breve ou mesmoa longo prazo; ou seja, a sensação é <strong>de</strong> estar <strong>de</strong>sempregado e ter quecomeçar a procurar outro emprego. Obviamente isso gera ansieda<strong>de</strong> estress e por isso acho que <strong>de</strong>veríamos ter um cachê relativo àinsalubrida<strong>de</strong>”.Outro lado da profissão ressaltado por Máximo Barro e Inês Mulliné a privação <strong>de</strong> uma vida social como a maioria das pessoas costuma ter.“De 1953, quando eu entrei no cinema até mais ou menos 1970, a meta<strong>de</strong><strong>de</strong> 1970 quase chegando a 80, eu não tinha vida social. Eu sabia a hora queentrava, mas jamais a hora que saia. Eu não tinha namorada, eu não tinhaamigos mais chegados, aquele <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> amanhã vamos nos encontrar... eunão podia nem dizer, amanhã vamos nos encontrar. Quanto mais <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>amanhã”. (Máximo Barro)Mas ambos, tanto Inês Mullin como Máximo Barro acham quecompensa o sacrifício. Fazer cinema é sacrificar-se e, como lembra Inês,<strong>de</strong>pois que nos acostumamos com o sistema <strong>de</strong> trabalho no cinema,dificilmente nos adaptamos a outros sistemas:72


“Ao mesmo tempo que somos sugados durante uma produção (6 dias porsemana, 12 horas por dia durante 2, 3 ou mais meses!!!) e <strong>de</strong>pois jogados<strong>de</strong> volta à “vida normal”, o que nos <strong>de</strong>ixa um tanto quanto esquizofrênicos,se nos <strong>de</strong>ssem a opção <strong>de</strong> um trabalho que seguisse uma rotina <strong>de</strong> horário“normal”, dificilmente nos adaptaríamos. A gente se condiciona, se habitua epassa a amar e odiar esse sistema <strong>de</strong> trabalho”. (Inês Mullin)Um aspecto curioso no que diz respeito à sobrevivência comoprofissional <strong>de</strong> cinema é aquele relacionado às ativida<strong>de</strong>s paralelas quealguns exercem enquanto aguardam um projeto <strong>de</strong> longa metragem. Parauns, como Francisco Ramalho Jr., cinema é filme <strong>de</strong> longa metragem:“Creio que nos próximos anos será muito difícil existir ‘profissionais <strong>de</strong>cinema’ no Brasil. Obviamente, aqueles que po<strong>de</strong>m e sobrevivem fazendofilmes publicitários e dão suas ‘escapadinhas’ no cinema, continuarão aexistir”.Para outros, como Miguel Ângelo e Máximo Barro, a ativida<strong>de</strong>docente não é consi<strong>de</strong>rada uma ativida<strong>de</strong> paralela, mas uma condiçãonatural <strong>de</strong> quem vive <strong>de</strong> cinema. Já a publicida<strong>de</strong> é con<strong>de</strong>nada como um<strong>de</strong>svio ou até como um tipo <strong>de</strong> prostituição por alguns:“... eu fazia publicida<strong>de</strong> “in-extremis”, quando não tinha mais nada. Eu faziaalguma coisa. A publicida<strong>de</strong> para mim sempre foi o penúltimo grau daprostituição. O último é a dublagem <strong>de</strong> filmes estrangeiro....”. (Máximo Barro)Galileu Garcia reclama das cobranças feitas por Glauber Rochaao saber que <strong>de</strong>pois que ele estreou em longa metragem, passou a <strong>de</strong>dicarsea publicida<strong>de</strong>.Aproveitamos para fazer uma breve referencia a uma discussãoque, <strong>de</strong> tempos em tempos, ren<strong>de</strong> muita polêmica que é sobre os filmesfeitos para o mercado e filmes comprometidos com um projeto estéticonacional. Não preten<strong>de</strong>mos nos esten<strong>de</strong>r muito nessa discussão, pois elapossui muitos meandros e não é o foco <strong>de</strong> nossa tese. Se a abordamos aquié para <strong>de</strong>monstrar que a condição <strong>de</strong> diretor <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> longa metragem,além <strong>de</strong> todas as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sobrevivência já <strong>de</strong>monstradas, tambémestá sujeita à cobrança por parte da crítica e dos formadores <strong>de</strong> opinião, <strong>de</strong>73


que o filme, além <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> técnica e artística, tenha também umcompromisso com a realida<strong>de</strong> social e cultural do país. Não é comum secobrar um compromisso semelhante a um profissional <strong>de</strong> outra funçãocinematográfica, como Montador ou Diretor <strong>de</strong> Fotografia. Talvez aoRoteirista. A polêmica mais recente nesse sentido surgiu a partir <strong>de</strong> umartigo publicado no Jornal do Brasil, em 08 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2001, pelapesquisadora e professora da UFRJ (Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong>Janeiro), Ivana Bentes, intitulado “’Cosmética da fome’ marca cinema dopaís” 17 , no qual ela acusa gran<strong>de</strong> parte dos filmes dos anos 1990 <strong>de</strong><strong>de</strong>sprezarem o compromisso com a ética e a estética que era i<strong>de</strong>ário doCinema Novo, conforme transcrição abaixo:Glauber coloca uma questão que a meu ver não foisuperada ou resolvida nem pelo cinema brasileiro, nem pelatelevisão, nem pelo cinema internacional. Uma questãoética-estética que está diretamente relacionadas ao temados sertões e das favelas, ontem e hoje. A questão ética é:como mostrar o sofrimento, como representar os territóriosda pobreza, dos <strong>de</strong>serdados, dos excluídos, sem cair nofolclore, no paternalismo ou num humanismo conformista epiegas? A questão estética é: como criar um novo modo <strong>de</strong>expressão, compreensão e representação dos fenômenosligados aos territórios da pobreza, do sertão e da favela, dosseus personagens e dramas? Como levar esteticamente oespectador “compreen<strong>de</strong>r” e, experimentar a radicalida<strong>de</strong> dafome e dos efeitos da pobreza e da exclusão, <strong>de</strong>ntro ou forada América Latina?.No ano seguinte, 2002, Ivana volta à carga e acusa Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Deus, <strong>de</strong> Fernando Meireles, <strong>de</strong> ser um exemplar típico da “cosmética dafome”. Em entrevista à Carta Capital, em 12 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2005, afirma que:“Há um darwinismo mercadológico e só quem tem estrutura <strong>de</strong> produção, oufaz política, consegue filmar todo ano. É difícil e cruel ver talentos reaisabandonarem o cinema pela fotografia, artes plásticas, ví<strong>de</strong>o, jornalismo”.A maioria dos profissionais <strong>de</strong> cinema preferiria fazer apenaslongas metragens se houvesse essa possibilida<strong>de</strong>. O filme <strong>de</strong> longametragem <strong>de</strong> ficção é o produto <strong>de</strong> ponta da Indústria Audiovisual.17 Disponível em www.jbonline.terra.com.br/<strong>de</strong>staques/glauber/glaub_arquivo4.html [Acesso em 30/01/06].74


Comparando com comida seria o caviar ou filé mignon da ativida<strong>de</strong>.Acontece que no Brasil isso não é possível. O profissional que faz longametragem, via <strong>de</strong> regra, possui uma ativida<strong>de</strong> paralela, seja na publicida<strong>de</strong>,na televisão ou como docente. Mesmo nos Estados Unidos, os diretores hámuito estão diversificando sua ativida<strong>de</strong>. Em 1994 Steven Spielberg, DavidGeffen e Jeffrey Katzenberg criaram a Dreamsworks SKG, empresa <strong>de</strong>multimídia que além <strong>de</strong> filmes produz também programas <strong>de</strong> TV, jogosinterativos e música (Dizard, 2000).O Brasil jamais conseguiu fazer com que a produção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong>longa metragem fosse uma ativida<strong>de</strong> regular. Há uma oscilação muitogran<strong>de</strong> <strong>de</strong> década para década. No início dos anos 1950, a produção estavana média <strong>de</strong> 30 filmes por ano. Aumentou um pouco no final dos anos 1960e, nos anos 1970, chegou a mais <strong>de</strong> 100. Essa média se manteve atémeados dos anos 1980 quando voltou a cair. No início dos anos 1990, com ofim da Embrafilme, chegou a menos <strong>de</strong> 10. Com a retomada em meados dosanos 1990, a média voltou a subir para 30/40 filmes/ano.Já no início dos anos 1960, em artigo publicado no jornal o Estado<strong>de</strong> São Paulo, Paulo Emílio Salles Gomes (1982), <strong>de</strong>fendia que uma dasmaneiras se tentar diminuir a importação <strong>de</strong> filmes estrangeiros eraaumentar a produção do filmes nacionais:Fazer filmes é mais difícil que fabricar sabonete ou sapato,sendo por isso compreensível que a importação maciça dodivertimento manufaturado tenha permanecido como um dosmais tenazes resquícios do lamentável passado brasileiro.Por outro lado, porém, é incomparavelmente mais fácilimplantar uma indústria cinematográfica do que asi<strong>de</strong>rúrgica, a petrolífera ou a automobilística. (...) O ponto<strong>de</strong> partida para uma planificação cinematográfica brasileiraseria ter em vista para um futuro bastante próximo aprodução anual <strong>de</strong> cinqüenta filmes, cifra que <strong>de</strong>verá alçarsegradativamente a cem. (GOMES, 1981, p. 325-6)Há muito tempo temos <strong>de</strong>fendido a média <strong>de</strong> 100 filmes por anocomo condição para fixarmos os profissionais <strong>de</strong> cinema no longa75


metragem, mas a realida<strong>de</strong>, como <strong>de</strong>monstram os números, é outra bemdiferente.Para que exista uma produção regular <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> longametragem é preciso que haja uma indústria implantada. No caso do Brasilessa indústria se <strong>de</strong>senvolveu em torno da televisão e da produção do filmepublicitário. Nos Estados Unidos, a produção dos gran<strong>de</strong>s estúdios <strong>de</strong>Hollywood permitiu o surgimento <strong>de</strong> vários produtores e diretoresin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.Do ponto <strong>de</strong> vista técnico o cinema brasileiro já atingiu um nívelbastante razoável, embora ainda existam problemas na área <strong>de</strong> formação eaperfeiçoamento profissional, como já apontamos, temos hoje um bom time<strong>de</strong> profissionais que estão no mesmo patamar <strong>de</strong> qualquer técnicoestrangeiro. Defen<strong>de</strong>mos a idéia <strong>de</strong> que o cinema <strong>de</strong> longa metragem é oproduto <strong>de</strong> ponta da ativida<strong>de</strong> audiovisual e que, portanto, o profissionalformado no filme <strong>de</strong> longa metragem estará em condições <strong>de</strong> exercer suafunção em qualquer tipo <strong>de</strong> produção audiovisual. Já o contrário não éverda<strong>de</strong>iro.O trânsito <strong>de</strong> profissionais do audiovisual <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong>, comoprodução <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> longa metragem, para outra, como televisão epublicida<strong>de</strong>, no Brasil, nunca foi uma coisa fácil. Até os anos 1970 havia umgran<strong>de</strong> preconceito das partes com relação a esse trânsito. Quem trabalhavaem televisão ou publicida<strong>de</strong>, dificilmente, fazia longa metragem e vice-versa.No caso da publicida<strong>de</strong> para o longa metragem, até recentemente, um dosempecilhos a esse trânsito era a questão da remuneração. Ganhava-semuito mais na publicida<strong>de</strong>. Apesar disso ainda continuar acontecendo, via <strong>de</strong>regra, as produções <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> orçamento médio para cima jánão têm problema quanto a isso.Consi<strong>de</strong>rando os relatos dos nove profissionais aos quais nosreferimos no início <strong>de</strong>ste capítulo como três gerações distintas, o que não émuito correto, se levarmos em conta o sentido exato do termo, po<strong>de</strong>ríamos76


nos referir a uma quarta geração, aquela que surgiu a partir <strong>de</strong> meados dosanos 1980, que chamaremos <strong>de</strong> Geração Contemporânea. Enquanto oPenna Filho exerceu ativida<strong>de</strong>s paralelas ao filme <strong>de</strong> longa metragem atéaposentar-se e retomar sua carreira e eu levei 15 anos tentando viabilizarum projeto <strong>de</strong> longa metragem, voltando a estudar e <strong>de</strong>dicando-me àativida<strong>de</strong> docente, a Geração Contemporânea que está dando certo nomercado buscou seu espaço <strong>de</strong>ntro das indústrias <strong>de</strong> filmes publicitários etelevisão.3.4. Geração Contemporânea que está dando certo no MercadoUma das características do que chamarei <strong>de</strong> GeraçãoContemporânea que está dando certo no mercado é não se <strong>de</strong>bater com aconfiguração da indústria do audiovisual brasileira e procurar trabalhar<strong>de</strong>ntro das regras do jogo. Enquanto as gerações anteriores lutavam<strong>de</strong>sesperadamente pelo reconhecimento por parte do governo <strong>de</strong> um statuspara a indústria do cinema as novas gerações que estão dando certo nomercado passaram por cima disso e acabaram conseguindo finalmente otrânsito entre televisão e cinema, publicida<strong>de</strong> e cinema. Não que a geraçãoanterior não tenha se dado conta da importância <strong>de</strong>sse trânsito conformeveremos no trecho do <strong>de</strong>poimento transcrito abaixo:“Eu, como todo mundo, como você, achava a televisão o fim da picada. Aí<strong>de</strong> repente fui lá para o governo e me puseram lá na comissão, umacomissão interministerial para fazer os relatórios... aí eu comecei a ver comoera o negócio da televisão, e que o cinema é um negócio tão minúsculo,perto do fenômeno da televisão, e tão con<strong>de</strong>nado pelo futuro governo, queeu mais ou menos tinha razão, ele não tinha nada que eu tinha pensado, erabobagem”. (Jacques Deheinzelin)Jacques que veio da França para trabalhar na Vera Cruz trazidopor Alberto Cavalcanti, e que foi um pioneiro da luta por uma legislaçãoprotecionista para o cinema brasileiro, pioneiro da indústria do cinema77


publicitário, diz que ao <strong>de</strong>scobrir a importância da televisão <strong>de</strong>ntro da futuraindústria do audiovisual e a pouca importância do cinema, e que lutar poruma indústria cinematográfica era uma causa equivocada, abandonou aativida<strong>de</strong> nos anos 1970.Já Penna Filho sempre conseguiu transitar entre o cinema e atelevisão sem problemas.A televisão, nos anos 1950 e1960, era realmente muito precáriado ponto <strong>de</strong> vista técnico. A tecnologia <strong>de</strong> ponta e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> som eimagem estavam no cinema. Os profissionais <strong>de</strong> cinema que foram paratelevisão, como Carlos Manga, procuraram dar ao novo veículo umaqualida<strong>de</strong> mais próxima à do cinema. Daniel Filho (2001), no seu livro “Ocirco eletrônico”, mostra vários exemplos <strong>de</strong> recursos do cinema levadospara a televisão:A tevê era um espetáculo diário, que durava <strong>de</strong> 14 a 15horas ininterruptas. Trabalhávamos sete dias por semana.Havia muita improvisação e pouca responsabilida<strong>de</strong>, a genteresolvia os problemas inventando. (...) Cassiano GabusMen<strong>de</strong>s, por exemplo, conseguiu na televisão o plano e ocontraplano do cinema. Parecia que não dava para colocarduas câmeras atrás dos ombros <strong>de</strong> dois atores quecontracenavam sem que uma não enquadrasse a outra.Hoje todos fazem isso, mas, na época, era um problema.Pois foi o Cassiano que pôs esse ovo em pé. (p.19)(...) eu não gostava das novelas da televisão: as históriastinham pouca consistência, os diálogos eram absurdos,nada me convencia. Achei, então, que tinha <strong>de</strong> encontrar umcaminho e, para encontrá-lo, segui a sugestão do Boni: fazerum cineminha”. (ibid., p.25)Daniel Filho fala claramente que além <strong>de</strong> tentar imitar cenas <strong>de</strong>filmes nas novelas também procurou imitar o star system <strong>de</strong> Hollywood:Durante o trabalho <strong>de</strong> implantação das novelas na TVGlobo, usei <strong>de</strong>liberadamente o star system <strong>de</strong> Hollywood.Descobri, entre outras coisas, que os autores adoramescrever <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse esquema. “Pensei no Fagun<strong>de</strong>s (ouTony Ramos, ou qualquer outro astro...) para essepersonagem” – é uma frase comum dos autores quandoapresentam um trabalho. (ibid., p.268)78


Na verda<strong>de</strong>, foram poucos os profissionais <strong>de</strong> cinema dasgerações anteriores a levar a sério o trabalho na televisão como fez DanielFilho.O cinema americano também se <strong>de</strong>bateu muito com a televisão eainda se <strong>de</strong>bate até hoje. Em recente Audiência Pública, da qualparticipamos no dia 05 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2006, no Conselho <strong>de</strong> ComunicaçãoSocial em Brasília, o representante da Motion Picture Association (MPA), Sr.Steve Solot ameaçou parar o fornecimento <strong>de</strong> filmes americanos às TVsabertas brasileiras caso elas não provi<strong>de</strong>nciem mecanismos seguros queimpeçam a pirataria <strong>de</strong>sses filmes quando exibidos em seus canais.(Epstein, 2005).Nos anos 1970, a indústria <strong>de</strong> cinema <strong>de</strong> Hollywood, conseguiuuma gran<strong>de</strong> vitória sobre as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> televisão nos Estados Unidos quandoa FCC (Fe<strong>de</strong>ral Communication Comission) criou regras facilitando ofinanciamento <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> televisão feitos por empresas <strong>de</strong> cinema eproibindo as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> televisão <strong>de</strong> terem acesso a essas mesmas regras,permitindo assim que os estúdios produzissem seriados e programas <strong>de</strong>televisão e <strong>de</strong>pois os licenciassem para as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> TV. Só recentemente -1990/1995 - essa regra foi mudada para permitir a fusão dos estúdios comas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> televisão. A partir daí surgem os gran<strong>de</strong>s conglomerados <strong>de</strong>comunicação.As gerações anteriores têm a seu favor o fato <strong>de</strong>, durante muitotempo, não se ter clareza da configuração do mercado audiovisual comotemos hoje. Até 1980, 80% da receita da indústria cinematográfica vinha davenda <strong>de</strong> ingressos na bilheteria, hoje, essas cifras estão invertidas. Asbilheterias significam apenas 20%, o restante vem da venda do ví<strong>de</strong>odoméstico e da televisão. (Dizard, 2000).O cinema americano acabou tendo que aceitar fazer parte dosconglomerados <strong>de</strong> mídia e ser um produto entre tantos outros (noticiários,reality shows, programas esportivos, programas <strong>de</strong> auditório, programas79


musicais, etc.) que esse conglomerado oferece aos seus consumidores. Écerto que o filme <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> ficção continua tendo o seu glamoure sendo, no nosso enten<strong>de</strong>r, o produto <strong>de</strong> ponta do audiovisual. Tanto é quea maioria dos conglomerados <strong>de</strong> mídia (Sony, Time, NBC, News Corp.), aoadquirirem os gran<strong>de</strong>s estúdios <strong>de</strong> Hollywood (Warner, Universal, Fox)fizeram questão <strong>de</strong> manter o nome <strong>de</strong>sses estúdios anexados ao <strong>de</strong> suascorporações como a <strong>de</strong>monstrar que eles também estão ligados ao negócio<strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> ficção. Na verda<strong>de</strong>, esses estúdios vivemhoje do licenciamento dos seus produtos, dos filmes por eles produzidos nopassado e <strong>de</strong> emprestar a sua marca para novas produções. Não têmabsolutamente nada a ver com o que eram nos anos 1930/40, a chamadaépoca <strong>de</strong> ouro <strong>de</strong> Hollywood, quando possuíam profissionais fixos, incluindoescritores e estrelas e até circuito <strong>de</strong> salas. (Dizard, 2000).O que ren<strong>de</strong>u muita discussão, e ren<strong>de</strong> até hoje, é a questão dapasteurização dos produtos audiovisuais. Houve quem advogasse que atelevisão e o ví<strong>de</strong>o tinham a sua própria linguagem. Depois que os produtosten<strong>de</strong>riam a uma pasteurização tal que não se conseguiria mais distinguirum filme <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> ficção <strong>de</strong> uma novela, por exemplo. Ao quetudo indica esse é um raciocínio totalmente equivocado. Analogamente,po<strong>de</strong>mos dizer que o fato <strong>de</strong> existir uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comida nãosignifica que iremos per<strong>de</strong>r a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distinguir macarronada <strong>de</strong>feijoada. São sabores muito diferentes!Daniel Filho (2001) consegue estabelecer diferenças claras entrenovelas, seriados e filmes. O público <strong>de</strong> minissérie é mais atento que os dasnovelas e dos filmes, mais atento ainda:Suave veneno não foi a primeira novela em que incorri noerro <strong>de</strong> contar a história sem revelar todos os ingredientes.Já tinha ocorrido, por exemplo, em Brilhante.É a maneira <strong>de</strong> se narrar um thriller, não uma novela. Umthriller tem no cinema seu lugar mais a<strong>de</strong>quado, pois, tudo<strong>de</strong>verá ser revelado naquelas duas horas. Impossível fazerdo filme O sexto sentido uma novela? Não, não éimpossível. Mas lá estaríamos nós, no mesmo erro. (p.177)80


Acreditamos que essa seja uma questão superada. Seria umcompleto absurdo um veículo, como a televisão, com tantas possibilida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> apresentar uma programação diversificada, transformar todos os seusprodutos em coisas indistintas. Temos uma convicção pessoal <strong>de</strong> que umfilme <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> ficção será sempre um filme <strong>de</strong> longa metragem<strong>de</strong> ficção e não uma outra coisa.Para os profissionais que chamamos <strong>de</strong> Geração Contemporâneaessas questões não possuem o peso que possui ou possuía para asgerações anteriores. Jayme Monjardinj, Guel Arraes, Luis Fernando <strong>de</strong>Carvalho, transitam entre televisão e cinema sem alterar radicalmente seuestilo <strong>de</strong> trabalho. Aqui nos referimos ao trabalho técnico e não ao mo<strong>de</strong>lonarrativo. Já abordamos anteriormente a polêmica dos mo<strong>de</strong>los narrativos eético/estéticos. Da mesma forma Breno Silveira e Fernando Meirellestransitam entre a produção <strong>de</strong> filmes publicitários e filmes <strong>de</strong> longametragem sem gran<strong>de</strong>s problemas, tal como Jorge Furtado, que começouno cinema e transita também na televisão.Esse fato é <strong>de</strong> fundamental importância porque estamos nosreferindo aos dois ramos da indústria do audiovisual que <strong>de</strong>ram certo noBrasil. Como já mencionado, para existência da produção do filme <strong>de</strong> longametragem, que não atingiu uma escala industrial como se <strong>de</strong>sejava, é <strong>de</strong>suma importância a produção industrial da televisão e da publicida<strong>de</strong>. O quefaltava era a integração <strong>de</strong>ssas indústrias com o filme <strong>de</strong> longa metragem,porém isso começa a acontecer com a Geração Contemporânea.Nosso sonho era fazer cinema. Só que olhávamos ao redore lá estavam Ricardo Dias, Joel Yamaji, Augusto Sevá, JoséRoberto Sa<strong>de</strong>k, André Klotzel e outros amigos da ECAproduzindo seus curtas e primeiros longas, e víamos que95% da energia <strong>de</strong>les era gasta na tentativa <strong>de</strong> financiarsuas idéias e não nas próprias idéias. Mesmo quando tinharecursos para rodar, passavam anos para terminar um filme.Achamos que seria mais sensato ficar no ví<strong>de</strong>o mesmo etentar ir para TV. Os anos 80 não estavam para cinema.”(MEIRELLES apud CAETANO, 2005, p. 98)81


Fernando Meirelles é o típico exemplo do que chamamos <strong>de</strong>Geração Contemporânea” <strong>de</strong> diretores da indústria do audiovisual. Formadoem arquitetura, começou fazendo ví<strong>de</strong>os experimentais, <strong>de</strong>pois televisão,cinema publicitário e finalmente filme <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> ficção.Outros diretores das gerações anteriores, como Ugo Giorgettie Galileu Garcia também tentaram transitar entre o filme publicitário e o filme<strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> ficção, e no caso <strong>de</strong> Ugo Giorgetti com relativosucesso. No entanto, como já afirmamos, essa nunca foi uma tarefa fácil.(...) Os homens da publicida<strong>de</strong> sabiam que eu meinteressava por outras coisas além do seu negócio. Quandofiz o primeiro longa <strong>de</strong> ficção, não surpreendi ninguém.Surpresa mesmo os publicitários tiveram quando Festaganhou aquele status, foi vencedor no Festival <strong>de</strong> Gramadoe passou a filme cultuado. Isto sim me prejudicou para omeio. A publicida<strong>de</strong> é exclusivista, quer que você trabalhe24 horas para ela. Se você está pensando em outra coisa,você não é um publicitário a<strong>de</strong>quado, embora possa seraceito. (GIORGETTI apud PAVAM, 2004, p.67)Já Galileu Garcia, que inclusive participou <strong>de</strong> uma experiênciapioneira <strong>de</strong> co-produção com a televisão, a antiga TV Tupi, no final dos anos1950, a qual resultou em dois filmes <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> ficção, Osobrado (1956) e Paixão <strong>de</strong> Gaúcho (1957/58), produzidos pela empresa <strong>de</strong>Abílio Pereira <strong>de</strong> Almeida, a Brasil Filmes, assim como Ugo Giorgettilamenta essa absorção pelo filme publicitário que dificulta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>dicação ao longa metragem, e que no passado, também, gerava umagran<strong>de</strong> cobrança i<strong>de</strong>ológica.“(...) tem um lado, um pequeno lado negativo, o fato <strong>de</strong> eu ter ficado naquelaépoca, naqueles anos integrados no filme publicitário. Isso isolava, isolavavocê da fita <strong>de</strong> longa metragem. (...) Na verda<strong>de</strong>, quando tinha filmepublicitário, eu ia até o fundo, on<strong>de</strong> a gente entra na parte <strong>de</strong> produção,entra uma série <strong>de</strong> coisas, você fica muito ligado à coisa. Na verda<strong>de</strong> os queficavam ligados, acabavam naquela ocasião, ficando um pouco mal vistopelo longa metragem. Inclusive você tinha até posições i<strong>de</strong>ológicas, porexemplo, o Glauber, ele era um inimigo, um inimigo manifesto <strong>de</strong> cineastasque tinham a<strong>de</strong>rido ao filme <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Várias vezes ele dizia mesmo.82


Inclusive eu pus na tese uma coisa, um frase que ele dizia assim: imagina,até o Galileu Garcia está fazendo filme publicitário”. (Galileu Garcia)Concordando com Ugo Giorgetti e Galileu Garcia quanto aexigência do meio publicitário no que se refere ao trabalho do profissionalcinematográfico, Fernando Meirelles diz o seguinte:Na TV, toleram-se altos e baixos, na publicida<strong>de</strong> a tolerânciapara erros é muito pequena. Um diretor tem que estarsempre dando o máximo <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação. Ninguém dirigecomercias como uma ativida<strong>de</strong> paralela. É impossível fazerisso direito. (MEIRELLES .apud CAETANO, 2005, p. 153)Então o que diferencia as antigas gerações das geraçõescontemporâneas no que se refere ao trânsito entre as indústrias do filmepublicitário e o cinema <strong>de</strong> longa metragem? A nosso ver, o fato dasempresas se constituírem como um grupo, quase uma cooperativa.Combinamos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, que sempre assinaríamos ostrabalhos com o nome da produtora e não com o nome dosautores. Assim, todo mundo se beneficiaria <strong>de</strong> todos osbons resultados e não alimentaríamos nenhum ego quepu<strong>de</strong>sse vir a <strong>de</strong>sequilibrar a harmonia interna.((MEIRELLES .apud CAETANO, 2005, p.103)No início da publicida<strong>de</strong> em São Paulo, uma produtora seconstituiu um pouco com essas características, a Lynxfilm, <strong>de</strong> acordo com orelato <strong>de</strong> Galileu Garcia:“A primeira firma que nós fundamos, que eu entrei na fundação, foi aLynxfilm (...) Eu, O Cesar (Memôlo), o Agostinho (Martins Pereira), o Roberto(Santos), todos fazíamos parte, fora os fotógrafos e eletricistas”.Com o tempo foram surgindo as firmas individuais. Primeiro a JotaFilmes, <strong>de</strong> Jacques Deheinzelin, <strong>de</strong>pois a própria Lynx ficou com o CesarMemôlo, e os novos diretores que foram se projetando abriram empresas emtorno do seu nome e prestígio pessoal. Julio Xavier, João Daniel Tikhomiroff,Cláudio Meyer, Jeremias Moreira, Andreas Heininger, Ricardo Carvalho,Roberto Salatini etc.. O mesmo aconteceu com alguns produtores, como:Paulo Dantas, Enzo Baroni, <strong>de</strong>ntre outros.83


Na área <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> longas metragens também houvealgumas tentativas <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> grupos. A Tatú Filmes foi um <strong>de</strong>ssesexemplos. Constituída em gran<strong>de</strong> parte por ex-alunos da ECA, chegou aproduzir um ou dois filmes e o grupo se esfacelou. Claudio Kans, um dossócios, continuou sozinho com a produtora. O mesmo aconteceu com aCasa da Imagem, da qual faziam parte Carlão Reichenbach, Guilherme <strong>de</strong>Almeida Prado, André Luis <strong>de</strong> Oliveira, Julio Calasso, Andéa Tonacci eInácio Araujo.O grupo Olhar Eletrônico, que surgiu no início dos anos 1980,com Paulo Morelli, Marcelo Machado, Dario Vizeu, Beto Salatini, FernadoMeirelles, Marcelo Tas, Toniko Melo, Renato Barbiere, Maria HelenaMeirelles, Sandra Conti, Agilson Araujo, Flavio <strong>de</strong> Carvalho e Déo Teixeira,se <strong>de</strong>sfez no final dos anos 1980, mas o espírito <strong>de</strong> trabalho em grupo foilevado adiante por Fernando Meirelles e Paulo Morelli, ao fundarem a O2 em1990.Um outro fato que mudou radicalmente a relação dos profissionaisque trabalham em publicida<strong>de</strong> com a produção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> longa metragem<strong>de</strong> ficção, foi o surgimento das Leis <strong>de</strong> Incentivo. Em São Paulo temos duasLeis <strong>de</strong> incentivo. Uma no âmbito municipal e outra no âmbito estadual, asaber:! Lei n.º 10.923/90 - Lei Municipal <strong>de</strong> Incentivo à Cultura - conhecida comoLei Mendonça, prevê a associação <strong>de</strong> recursos privados com os doMunicípio <strong>de</strong> São Paulo, por meio <strong>de</strong> incentivos fiscais, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>patrocinar iniciativas culturais <strong>de</strong> todos os gêneros. Para se valer dosbenefícios fiscais, os projetos <strong>de</strong>vem ser encaminhados para aprovação <strong>de</strong>uma comissão, formada por membros indicados pela Secretaria Municipal daCultura e por Entida<strong>de</strong>s Culturais, que também será responsável peloacompanhamento do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sses projetos.! Lei Estadual n.º 8.819, <strong>de</strong> 10/06/199 - criou o Programa Estadual <strong>de</strong>Incentivo à Cultura, durante o governo Fleury, e está em vigor <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1996.84


Instituiu o Programa Estadual <strong>de</strong> Incentivo à Cultura e o Conselho <strong>de</strong>Desenvolvimento Cultural, responsável pela análise dos projetos. A Lei nãopo<strong>de</strong> <strong>de</strong>stinar recursos superiores a 80% do custo total dos mesmos e,portanto, o valor máximo estipulado é <strong>de</strong> R$200 mil. Observação: esta leiestá suspensa para reformulação.Enquanto a produção financiada pela Embrafilme dificilmentecontemplava diretores <strong>de</strong> filmes publicitários, com as leis <strong>de</strong> incentivo, essesdiretores que lidam quase que diariamente com agencias <strong>de</strong> propaganda,diferentemente dos profissionais <strong>de</strong> longa metragem, têm mais acesso aospotenciais clientes investidores em leis <strong>de</strong> incentivo.Dois pontos importantes que, a nosso ver, são os responsáveispelo sucesso da chamada Geração Contemporânea: a constituição emgrupo, criando uma base lucrativa para a sobrevivência <strong>de</strong> todos (Ex. O2São Paulo e Conspiração Filmes - RJ) e o fato <strong>de</strong> estarem em constantecontato com a tecnologia <strong>de</strong> ponta do setor.Essas empresas, assim como a Dreamsworks aqui jámencionada, também têm uma produção <strong>de</strong> conteúdo diversificado.Produzem filmes publicitários, programas <strong>de</strong> TV e filmes <strong>de</strong> longa metragem<strong>de</strong> ficção. Pioneiras em trabalharem essa diversificação com sucesso e emconseguirem na prática a aliança do cinema com a televisão, estão sendoseguidas por outras empresas. Ao que tudo indica há tendência no mercadopublicitário <strong>de</strong> seguir essa linha <strong>de</strong> diversificação <strong>de</strong> conteúdos.Falando sobre o perfil da O2, Fernando Meirelles faz a seguinteafirmação:Hoje, a O2 faz uma média <strong>de</strong> 400 filmes por ano, <strong>de</strong>ve ser amaior produtora do país. Sem querer, acabamos criando ummo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produtora que não pára <strong>de</strong> crescer e inclusivemodificou o que existia no mercado até então. Nos anos 80,o que havia eram produtoras-butiques, eram sempre casaschiques, com um ou dois diretores artesãos ro<strong>de</strong>ados <strong>de</strong>garçons e <strong>de</strong> um certo glamour, que a publicida<strong>de</strong>, aindabem, já per<strong>de</strong>u. Na O2 somos12 diretores e trabalhamosnum mo<strong>de</strong>lo mais industrial, nossa se<strong>de</strong> é num galpãoadaptado perto do Ceasa. (MEIRELLES apud CAETANO,2005, p. 149-150)85


O grupo O2 <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu início, quando ainda era OlharEletrônico, sempre valorizou o investimento em tecnologia.(...) por muitos anos, não distribuímos lucro da produtoracom os sócios, vivíamos com nossos cachês <strong>de</strong> direção <strong>de</strong>comerciais, como os outros diretores da casa. Todas assobras da produtora eram reinvistidas anualmente emequipamentos novos, reformas, estúdio, câmeras”.(MEIRELLES apud CAETANO, 2005, p. 151)Assim como a Conspiração, a O2, além dos 12 diretores, possuium gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> profissionais fixos, em torno <strong>de</strong> 100 e uns 300 freelancers/fixos.Meirelles ressalta o fato <strong>de</strong> ter os melhores profissionais domercado à sua disposição:Graças à publicida<strong>de</strong>, já filmei – e aprendi muito - comquase todos os fotógrafos <strong>de</strong> cinema do primeiro time noBrasil. É só nomear. A mesma coisa com cenógrafos,figurinistas, maquiladores, montadores. A publicida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>fato, uma escola, on<strong>de</strong> os melhores profissionais domercado funcionam como professores que dão aulaspráticas. (MEIRELLES apud CAETANO, 2005, p. 153-4)Do ponto <strong>de</strong> vista do sucesso <strong>de</strong>ntro da nova realida<strong>de</strong> domercado, achamos que esses dois mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> produtora são mo<strong>de</strong>los queestão mais a<strong>de</strong>quados à essa realida<strong>de</strong>. Com todo respeito por quemacredita ainda na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma indústria para o filme <strong>de</strong> longametragem <strong>de</strong> ficção no Brasil, e por quem <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> um esquemain<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da televisão e da publicida<strong>de</strong>, a nosso ver, o que há <strong>de</strong>concreto em nosso país é a indústria da televisão e a indústria do filmepublicitário. Viver apenas do trabalho em filmes <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong>ficção, no Brasil, hoje, é quase impossível. Um exemplo concreto é o próprioFernando Meirelles: <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> todo sucesso <strong>de</strong> bilheteria <strong>de</strong> Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Deus, venda para exterior, ter sido lançado em 42 países, incluindo Japão eAlemanha, até hoje não teve retorno financeiro. O mesmo aconteceu com ofilme Dois filhos <strong>de</strong> Francisco. Apesar no imenso sucesso, os produtores e odiretor não tiveram retorno financeiro.86


4. O PAPEL DOS SINDICATOS DE TRABALHADORESEste capítulo além <strong>de</strong> procurar resgatar a historia da organizaçãodos trabalhadores cinematográficos <strong>de</strong> São Paulo; a postura que o sindicatoassumiu ao longo dos anos na luta pela existência da produção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong>longa metragem brasileiros tem, também, a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar oquanto é difícil a posição <strong>de</strong> um sindicato <strong>de</strong> trabalhadores diante <strong>de</strong> umaativida<strong>de</strong> que não conseguiu se industrializar.Nas circunstâncias em que se <strong>de</strong>senvolveu a ativida<strong>de</strong>cinematográfica no Brasil, especialmente, no que se refere a produção <strong>de</strong>filmes <strong>de</strong> longa metragem, o sindicato acaba se transformando em ummediador <strong>de</strong> conflitos, um órgão mais burocrático que reivindicativo.4.1. MilitânciaSegundo Jacques Deheinzelin, a iniciativa <strong>de</strong> fundar váriasassociações ligadas ao setor cinematográfico em São Paulo teria partido<strong>de</strong>le.“... ai eu fui falar com o Abílio (Pereira <strong>de</strong> Almeida). Naquela época a VeraCruz já tinha pifado. O Abílio estava lá e assumiu a Brasil Filmes então eu fuiver o Abílio e lá fizemos uma espécie <strong>de</strong> associação da própria Vera Cruz.Tinha um prédio vizinho que tinha o Nick Bar. Então tinha o escritório. Oescritório era em cima do Nick Bar. E lá fundamos tudo. Porque eu resolvique ira fazer comissões. Eu, Tambelini e o grupo, assim. Então a gentereuniu todo mundo, o Seminário <strong>de</strong> Cinema que era o Plinio (Garcia)Sanches, que foi importante, esse negócio todo, então juntou todo mundo ea idéia era fazer uma porção <strong>de</strong> associações. Então fundamos a ATACESP,a APICESP, que se transformaram em sindicatos... fizemos associação <strong>de</strong>críticos <strong>de</strong> cinema, tudo que podíamos lembrar, assim que pu<strong>de</strong>sse fazeruma associação a gente fazia...”.87


Jacques está se referindo a meados dos anos 1950, período pósrealização dos dois primeiros Congressos <strong>de</strong> Cinema (1952/1953). Antes<strong>de</strong>sse período, porém, Máximo Barro lembra que foi fundada em São Paulo,por iniciativa <strong>de</strong> Alex Viany, a APC – Associação Paulista <strong>de</strong> Cinema -(1951). Embora faça severas críticas a essa associação, Máximo credita aela a realização dos dois primeiros congressos <strong>de</strong> cinema.A tentativa <strong>de</strong> Alex Viany, segundo Máximo, era tentar juntarindistintamente todos que tivessem alguma ligação com cinema, mesmoamadores e espectadores numa única associação:Não po<strong>de</strong>ria ter vida longa porque aceitava <strong>de</strong> Zampari aovarredor <strong>de</strong> estúdio, <strong>de</strong> ator a colecionador <strong>de</strong> fotografias <strong>de</strong>Osacarito. No fundo, a proposta dos fundadores, eracatequizar politicamente quem assinasse o termo <strong>de</strong>associado. (BARRO, 2005, p. 138)A crítica do Máximo tem fundamento, mas as associações que seformaram posteriormente, apesar <strong>de</strong> congregarem apenas profissionais,também tinham outros tipos <strong>de</strong> problemas. Partiram <strong>de</strong> iniciativas <strong>de</strong>produtores e durante muito tempo funcionavam juntas no mesmo espaçofísico. Mesmo que tenham eliminado o caráter político partidário, algunsmembros <strong>de</strong>ssas associações, com o tempo, iam sendo empurrados pelascircunstâncias a assumirem a condição <strong>de</strong> produtor, o que gerava, e aindagera até hoje, uma gran<strong>de</strong> contradição.Segundo o Boletim Informativo <strong>de</strong> Assuntos do CinemaNacional 18 , <strong>de</strong> 30/9/1958:A Associação Profissional da Indústria Cinematográfica doEstado <strong>de</strong> São Paulo, fundada em 1955, congregaprodutores <strong>de</strong> curta e longa metragem; tem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suafundação, trabalhado em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> leis protetoras àindústria Cinematográfica. Do movimento iniciado pelaApicesp, surgiram: 1 o – Comissão Municipal <strong>de</strong> Cinema, 2 o– Comissão Estadual <strong>de</strong> Cinema, 3 o – Associação dosTécnicos e Artistas Cinematográficos, 4 o – Lei Municipal No.18 Trata-se do Boletim nº 1 editado pelas seguintes entida<strong>de</strong>s: Associação dos Técnicos e ArtistasCinematográficos do Estado <strong>de</strong> São Paulo; Associação Profissional da Indústria Cinematográfica doEstado <strong>de</strong> São Paulo e Seminário <strong>de</strong> Cinema do Museu <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> São Paulo.88


4.854 (adicional), 5 o – Financiamento aos produtores, 6 o -Movimento em Defesa do Cinema em vários estados.Sobre este período Paulo Emílio Salles Gomes (1982) faz oseguinte comentário:Quando em 1955 João Acciolli Neto, Secretário daEducação na administração do prefeito Lino <strong>de</strong> Matos, crioucomissões <strong>de</strong> assessoria artística, a <strong>de</strong> cinema adquiriu<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo um estrutura e relevo singulares. Os estudos eesforços preliminares <strong>de</strong> Jacques Deheinzelin, FlavioTambellini e Cavalheiro Lima, combinados agora com aexperiência dos críticos Francisco Luiz <strong>de</strong> Almeida Salles eBenedito Junqueira Duarte, assumiram a forma <strong>de</strong> uma lei,cujo comentário será feito aqui oportunamente e queconstitui na legislação brasileira importante medida parcial<strong>de</strong> amparo à cinematografia nacional. O exemplo municipalestimulou a criação <strong>de</strong> comissões <strong>de</strong> cinema na esferaestadual e fe<strong>de</strong>ral, sendo a última substituída mais tar<strong>de</strong> porum Grupo <strong>de</strong> Estudo da Indústria Cinematográficasubordinado ao Ministério da Educação. O tom otimista comque faço essa enumeração não <strong>de</strong>ve criar ilusões. Aarticulação entre os diferentes po<strong>de</strong>res públicos e o quadromilitante da cinematografia brasileira é um acontecimentoimportante à luz, porém, <strong>de</strong> um processo em<strong>de</strong>senvolvimento. Por enquanto, nada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisivo foiconquistado. (GOMES, 1982, p.307-8)A expressão usada por Paulo Emílio - “militante da cinematografiabrasileira” - é muito apropriada, pois quando assumimos a condição <strong>de</strong>presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Cinematográfica doEstado <strong>de</strong> São Paulo (SINDCINE) que substituiu o primeiro sindicatocassado, em 1969, percebemos que uma das nossas tarefas, talvez aprioritária era assumir a condição <strong>de</strong> militante da causa do cinema brasileiro.Naquela época ainda não conhecíamos essa expressão. O fato é que <strong>de</strong>vidoa precarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> longa metragem noBrasil, até hoje é difícil o sindicato <strong>de</strong> trabalhadores do setor não a<strong>de</strong>rir àessa condição <strong>de</strong> militante e não tê-la como uma das suas principaispriorida<strong>de</strong>s. Afinal <strong>de</strong> contas, se não há produção <strong>de</strong> filmes, não há empregoe o sindicato per<strong>de</strong> a sua razão <strong>de</strong> existir. No entanto, é importante observar,que mesmo os produtores tendo fundado o seu sindicato, ao longo dos anos,89


quem tem <strong>de</strong>sempenhado o papel <strong>de</strong> vanguarda pela causa do cinemabrasileiro, tem sido o sindicato dos trabalhadores.Vejamos o que diz o professor Máximo Barro referindo-se aoSegundo Congresso Brasileiro Cinematográfico ocorrido em 1953:Espantou na época, e quem sabe ainda hoje espantaria amuitos, que a um Congresso <strong>de</strong> tamanha importância, quemmenos tenha comparecido e se empenhado na luta pelosseus direitos fosse o produtor. A maioria curvou-se ainteresses imediatos que sempre lhe foram nocivos. Direitosjá adquiridos eram negociados, cifras eram fraudadasquando o mais acertado seria ter aceitado lutar pelo jáconquistado. Eles preferiam a migalha rápida à consolidaçãogradativa (...) O que se viu então foi o técnico esquecer suasreivindicações específicas e lutar por leis e modificações <strong>de</strong>eram <strong>de</strong> competência exclusiva dos produtores. Basta versea autoria dos projetos nos vários Congressos para logopercebermos o altruísmo <strong>de</strong> um lado e a coerçãoincapacitadora do outro. Sempre que o assunto tivesserelação com taxação <strong>de</strong> filmes estrangeiros, proteção paraentrada <strong>de</strong> negativos e equipamento, aumento <strong>de</strong> diasobrigatórios para filmes nacionais, premiação, lei <strong>de</strong>contingente, fatalmente elas partiam <strong>de</strong> um técnico.(BARRO, 2005, p.139).As observações <strong>de</strong> Máximo Barro são importantes porque<strong>de</strong>nunciam uma prática que continua a vigorar até hoje entre algunsprodutores do cinema nacional, os chamados “caciques” da ativida<strong>de</strong>.Quando interessa, eles se unem aos pequenos realizadores e trabalhadorese, assim que conseguem algum espaço no governo, buscam resolverapenas problemas imediatistas <strong>de</strong> verba para produção e esquecem os<strong>de</strong>mais compromissos. Ao longo dos nossos anos <strong>de</strong> militância (25 anos)temos presenciado inúmeros episódios em que isso aconteceu. O último foio que resultou com o racha do CBC – Congresso Brasileiro do Cinema - e acriação do FAC – Fórum do Audiovisual e do Cinema.Em artigo publicado no Observatório <strong>de</strong> Imprensa 19 , em28/12/2004, o Prof. Jackson Saboya faz comentários semelhantes aos queMáximo Barro proferiu há mais <strong>de</strong> cinqüenta anos:19 Disponível em www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br [Acesso em 10/02/2006).90


O racha criado pelo Fórum do Audiovisual e do Cinema(FAC) po<strong>de</strong> fazer com que o projeto indústria para o cinemaperca outra vez o bon<strong>de</strong> da história – como aconteceu nopassado com a Atlântida, a Vera Cruz e a Cinédia. O pior éque quase todos aqueles que levaram a Embrafilme para ofim melancólico estão com voz ativa no FAC. Em vez <strong>de</strong>buscar caminhos para o <strong>de</strong>senvolvimento da indústriacinematográfica e sua autonomia (sustentabilida<strong>de</strong>), emedidas <strong>de</strong> proteção ao produto nacional e asconseqüentes reservas culturais e patrimoniais, estão, emnome da “liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão”, querendo tomar caronana máquina “azeitada” da TV, por meio da força hegemônicada TV Globo, que sobrevive hoje às custas do po<strong>de</strong>r daconcentração das verbas publicitárias do Estado.Em 1988, durante a Assembléia Nacional Constituinte, tivemosuma firme participação nas discussões dos itens referentes aos meios <strong>de</strong>comunicação social e criação do Conselho <strong>de</strong> Comunicação Social,juntamente com a APACI (Associação Paulista <strong>de</strong> Cineastas), os SATEDs(Sindicatos dos Artistas e Técnicos em Espetáculos <strong>de</strong> Diversões),Fe<strong>de</strong>ração dos Jornalistas e Sindicatos dos Radialistas. Posteriormente, poriniciativa da Fe<strong>de</strong>ração dos Jornalistas, foi criado o Fórum Nacional pelaDemocratização da Comunicação, cuja figura símbolo foi o Jornalista DanielHertz. Esse Fórum foi o responsável por acompanhar a elaboração doprojeto <strong>de</strong> lei do Conselho <strong>de</strong> Comunicação Social. Foram várias reuniõescom idas e vindas a Brasília que resultaram numa composição do Conselho,que não é a i<strong>de</strong>al, mas é a que foi possível na época. A lei <strong>de</strong> sua criação 20foi promulgada durante o governo Collor.Em nenhum momento, nem na Constituinte nem na elaboração doprojeto do Conselho, os produtores cinematográficos compareceram paradiscutir com o grupo que estava lutando para que houvesse umacomposição equilibrada daquele órgão. Resultado: na composição doConselho, existem representantes <strong>de</strong> empresários <strong>de</strong> rádio <strong>de</strong> televisão, <strong>de</strong>jornais, e não existem representantes <strong>de</strong> empresários cinematográficos.Conseguimos, com muito esforço que houvesse um representantes dosprofissionais <strong>de</strong> cinema e ví<strong>de</strong>o, pois na época da nomeação do Conselho,20 Lei 8389, <strong>de</strong> 20/12/1991.91


os empresários <strong>de</strong> cinema (o mesmo grupo citado pelo Prof. JacksonSaboya em seu artigo) estiveram várias vezes em Brasília fazendo lobbypara ocuparem a vaga dos profissionais <strong>de</strong> cinema e ví<strong>de</strong>o conseguida pelaatuação do sindicato dos trabalhadores, juntamente com as entida<strong>de</strong>s quecompunham o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.Graças a atuação firme do Daniel Hertz e do SINDCINE (Sindicato dosTrabalhadores na Indústria Cinematográfica do Estado <strong>de</strong> São Paulo), nãoconseguiram sucesso na sua empreitada.4.2. Cassação do Sindicato <strong>de</strong> Trabalhadores e surgimento dasAssociações <strong>de</strong> RealizadoresEm 1969 a carta sindical do Sindicato <strong>de</strong> TrabalhadoresCinematográficos <strong>de</strong> São Paulo foi cassada - estamos nos referindo aoprimeiro sindicato reconhecido em 1963. Esse sindicato teve inicio com afundação da ATACESP (Associação dos Técnicos e ArtistasCinematográficos do Estado <strong>de</strong> São Paulo), mencionada por JacquesDeheinzelin.A ATACESP foi fundada em 1956, e levou sete anos para sertransformada em sindicato. Entre seus sócios constam nomes comoJacques Deheinzelin, Primo Carbonari, Roberto Santos, Máximo Barro,Ozualdo Can<strong>de</strong>ias, Oswaldo Sampaio, Sergio Hingst, Plinio GarciaSanches,Cavalheiro Lima, Aurora Duarte, Alberto Ruschel, Chick Fowle, GalileuGarcia, Máximo Barro, Agostinho Martins Pereira, Rui Santos, Juan CarlosLandini, Ruth <strong>de</strong> Souza, Oswald Hafenrichter, Walter George Durst, LucioBraun e Marcos Marguliés. Roberto Santos exerceu a função <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nteda Associação por um período e, quando foi transformada em Sindicato, foio seu primeiro presi<strong>de</strong>nte.92


Por que o Sindicato <strong>de</strong> Trabalhadores foi cassado? A primeirarazão está ligada à perseguição política conforme observa Máximo Barro emseu <strong>de</strong>poimento:(..) nós recebemos a carta Sindical, felizmente antes da revolução, assinadapelo Jango. Felizmente nós não fomos presos, ninguém da diretoria foipreso. Mas <strong>de</strong>pois eu vim a saber através <strong>de</strong> uma pessoa que nós nãofomos presos porque não tinha lugar. Eu penso diferente. E acho que onosso Sindicato era tão insignificante. Duzentos e cinqüenta pessoas. Eratão insignificante que eles nem... apesar <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> cinema... uma coisa queera perigosa, foi sempre perigosa, não foi perigosa por causa dos militares.Por ser aluno <strong>de</strong> cinema, eu estava no DOPS (...)”Máximo Barro, que foi secretário do Sindicato por um período, nosinformou que a correspondência <strong>de</strong>sse órgão, durante muito tempo, chegavaaberta, pois a polícia a violava em busca <strong>de</strong> algum vestígio <strong>de</strong> “propagandasubversiva”, em conseqüência, muita gente se afastou da militância sindicalcom medo <strong>de</strong> ser preso.Outra razão foi o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego que havia na época. Todosos estúdios faliram (Maristela, Multifilmes e Vera Cruz) e a publicida<strong>de</strong>estava no seu início. Um pequeno trecho do relato <strong>de</strong> Penna Filho nós dáuma idéia <strong>de</strong>sse período:“(...) <strong>de</strong>u também para vislumbrar, eu procurando ampliar os meus contatos,que o quadro da produção cinematográfica brasileira naquele momento eraum quadro muito difícil. Nos vínhamos do termino da produção do que sechamava chanchada no início dos anos 60, e vínhamos com o CinemaNovo, surgindo, e criticando-se ou não, estabelecendo-se assim um certodistanciamento do público, do cinema brasileiro nesse período. Então aprodução era extremamente irregular. Fazia-se um filme hoje, outro daqui adois anos. A produção caiu muito. Então eu vi que eu tinha que continuarparalelamente com outras ativida<strong>de</strong>s. Então <strong>de</strong> cinema, eu trabalhava muitocom dublagem, trabalhava em alguns filmes quando eles apareciam comoassistente ou fazendo continuida<strong>de</strong>, e ainda aparecia em televisão oufazendo pequenas aparições como ator ou mesmo produzindo ou dirigindoprogramas”.O <strong>de</strong>spacho do Ministério do <strong>Trabalho</strong> comunicando a cassação,alegava que o motivo era o “completo <strong>de</strong>sinteresse da categoria93


profissional”. No processo nº 750/69, movido pelo Po<strong>de</strong>r Judiciário paradissolução da socieda<strong>de</strong>, consta, entre outras coisas, o seguinte: “osindicato está acéfalo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1968; as eleições convocadas para 26/6/68 nãose realizaram por falta <strong>de</strong> candidatos para compor a sua administração;comprovado <strong>de</strong>sinteresse da categoria profissional por sua entida<strong>de</strong>representativa.“Conforme já mencionamos, até hoje, uma parte dos profissionais<strong>de</strong> cinema, principalmente os diretores, acabam sendo forçados pelascircunstâncias a assumirem a condição <strong>de</strong> produtores. Isso gera umacontradição e esse profissional acaba se afastando do sindicato <strong>de</strong>trabalhadores, mas também não se sente um produtor no sentido pleno dapalavra. Daí a utilização do termo realizador e o surgimento das associações<strong>de</strong> realizadores.No início dos anos 1970 com o <strong>de</strong>saparecimento do Sindicato dosTrabalhadores Cinematográficos em São Paulo, as Associações <strong>de</strong>Realizadores, APACI (Associação Paulista <strong>de</strong> Cineastas) e ABD(Associação Brasileira <strong>de</strong> Documentaristas) assumem o papel <strong>de</strong> vanguardada “militância da cinematografia brasileira”.Sobre o surgimento <strong>de</strong>ssas associações, João Batista <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> faza seguinte retrospectiva:Nessa época, 1974, surgiu, no Rio, a proposta <strong>de</strong> se criaruma entida<strong>de</strong> nacional <strong>de</strong> cineastas. Mais uma vez ainiciativa estava no Rio. Eu fui convidado para uma reuniãoon<strong>de</strong> estavam o Cacá [Diegues], o Leon Hirszman, oJoaquim Pedro, não me lembro quem mais. A proposta jáestava estruturada, a entida<strong>de</strong> se chamaria Abraci –Associação Brasileira <strong>de</strong> Cineastas. Haveria umaassembléia <strong>de</strong> criação, no Rio. Alguns cineastas <strong>de</strong> SãoPaulo estavam convidados: o Roberto [Santos], o [Maurice]Capovilla, eu, o [Francisco] Ramalho, o [Luis Sergio] Persone o Denoy [<strong>de</strong> Oliveira]. Não me lembro <strong>de</strong> outros nomes.Eu sugeri que, em vez <strong>de</strong> convidar alguns nomes, a gentefizesse um assembléia também em São Paulo e criaríamosuma sessão paulista da Abraci (como aconteceu, <strong>de</strong>pois,com a ABD: secções regionais e uma coor<strong>de</strong>naçãonacional).A proposta foi recusada, o argumento era que umaassembléia assim, aberta, po<strong>de</strong>ria significar o94


arrombamento da entida<strong>de</strong> pelo cinema comercial da“Boca”.(...)Eu levei o problema <strong>de</strong> volta a São Paulo e a reação foiimediata. A <strong>de</strong>cisão foi fazer, <strong>de</strong> qualquer maneira, aassembléia paulista. É claro que a questão era maiscomplexa, envolvia uma disputa tradicional com o Rio e omedo <strong>de</strong> que a Abraci ainda aprofundasse mais oisolamento já crônico dos cineastas paulistas. Na verda<strong>de</strong> oque todo mundo queria era uma entida<strong>de</strong> própria paraobrigar a Embrafilme a olhar para São Paulo. E foi o queaconteceu.Nós formulamos a proposta <strong>de</strong> criação da Apaci –Associação Paulista <strong>de</strong> Cineastas. A entida<strong>de</strong> nasceu emassembléia-monstro que lotou o Teatro São Pedro.Contrariando a tendência carioca, resolvemos colocar napresidência da entida<strong>de</strong> um realizador da “Boca”, o EgídioEccio, mantendo um controle “autoral” na diretoria, na qualestávamos Denoy, Capovilla, eu e a estudante <strong>de</strong> cinema,minha aluna, Suzana Amaral. (ANDRADE apud CAETANO,2004, p.257-9).Até início dos anos 1960 época da criação do INC (<strong>Instituto</strong>Nacional <strong>de</strong> Cinema), o grupo paulista li<strong>de</strong>rado por Jacques Deheinzelin,tinha gran<strong>de</strong> influência na política <strong>de</strong> cinema junto ao governo. Aos poucosJacques foi se afastando. Primeiro fundou uma produtora <strong>de</strong> filmespublicitários e <strong>de</strong>pois, no início dos anos 1970 ao <strong>de</strong>scobrir que o futuro daindústria do audiovisual estava na televisão, abandonou a ativida<strong>de</strong> e<strong>de</strong>sistiu <strong>de</strong> uma vez por todas <strong>de</strong> buscar alternativas para o filme <strong>de</strong> longametragem. De modo que no início dos anos 1970 com a fundação daEmbrafilme, o po<strong>de</strong>r político da ativida<strong>de</strong> cinematográfica, como lembra JoãoBatista <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, concentrou-se no Rio <strong>de</strong> Janeiro.A ABD (Associação Brasileira <strong>de</strong> Documentaristas) que surgiu em1973, na Jornada da Bahia, logo se transferiu para o Rio <strong>de</strong> Janeiro edurante muito tempo os presi<strong>de</strong>ntes da entida<strong>de</strong> se revezavam. Uma gestãoera do Rio outra <strong>de</strong> São Paulo, até que <strong>de</strong>cidiram criar um ConselhoNacional e as sessões regionais, como lembra João Batista <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>.No site da ABD Nacional 21 consta que a entida<strong>de</strong> é “a mais antigainstituição cinematográfica brasileira – e também a mais abrangente” no21 Disponível em www.abdnacional.org.br {Acesso em 19/06/2006).95


entanto, conforme já relatamos aqui, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início dos anos 1950 SãoPaulo criou as suas associações. Algumas <strong>de</strong>las foram se transformando,como é o caso da APICESP, criada em 1955 e transformada,posteriormente, em sindicato - o atual SICESP (Sindicato da IndústriaCinematográfica do Estado <strong>de</strong> São Paulo) - cuja gestão é presidida por umex-Abedista (sócio da Associação Brasileira <strong>de</strong> Documentarista), AndréSturm. Outras <strong>de</strong>sapareceram como a APC (Associação Paulista <strong>de</strong>Cinema), fundada em 1951, por Alex Viany, Carlos Ortiz, Oduvaldo Viana eGalileu Garcia. Em 1962, como lembra Máximo Barro, foi criada a ABCM(Associação Brasileira dos Produtores <strong>de</strong> Filmes <strong>de</strong> Curta-Metragem), queincluía também nessa <strong>de</strong>nominação o filme publicitário.Com o tempo, à medida que o filme publicitário foi setransformando numa ativida<strong>de</strong> importante, essa associação mudou sua siglapara APRO (Associação Brasileira dos Filmes Publicitários) e, atualmente,para Associação Brasileira da Produção <strong>de</strong> Obras Audiovisuais. No nossoentendimento a entida<strong>de</strong> mais abrangente do nosso setor é o Sindicato <strong>de</strong>Trabalhadores, pois congrega todos os profissionais da ativida<strong>de</strong> semdistinção: do diretor, passando pelos profissionais <strong>de</strong> laboratório <strong>de</strong> som eimagem até o motorista que transporta equipamentos cinematográficos.Quando iniciamos no cinema, em final <strong>de</strong> 1970, o único sindicato<strong>de</strong> trabalhadores mais próximo ao nosso setor era o Sindicato dos Artistas eTécnicos em Espetáculos <strong>de</strong> Diversões. Só, anos <strong>de</strong>pois, ficamos sabendoda existência do sindicato dos trabalhadores cinematográficos cassado.Tanto é que nos filamos ao SATED e juntamente com João Batista <strong>de</strong>Andra<strong>de</strong> e vários outros companheiros concorremos a uma eleição e nossachapa foi vitoriosa no início dos anos 1980. Cumprimos um mandato <strong>de</strong> trêsanos (1981/1984) 22 .22 Compunham essa Chapa: Presi<strong>de</strong>nte: Ester Contin Góes; Secretária: Denise Falótico Frateschi; Tesoureiro:Luiz Carlos Moreira; Diretor <strong>de</strong> Assuntos Profissionais <strong>de</strong> Teatro: Assumpta Perez Jerônymo; Diretor <strong>de</strong>Assuntos Profissionais <strong>de</strong> Cinema: Antonio Ferreira <strong>de</strong> Souza Filho; Diretor <strong>de</strong> Assuntos Profissionais <strong>de</strong> Rádio eTelevisão: Jair Antonio Alves; Diretor <strong>de</strong> Assuntos Profissionais <strong>de</strong> Circo e Varieda<strong>de</strong>s: (?) Coelho <strong>de</strong> Souza;Conselho Fiscal Efetivo: Armando Gonzalez Azzari, João Batista Moraes <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e Sylvio Zilber. Dadosextraídos <strong>de</strong> cópia da ata <strong>de</strong> posse, datada <strong>de</strong> 15/05/1981, porém nem todos os nomes estavam legíveis <strong>de</strong>vido aotempo <strong>de</strong> tal documento.96


Como já informamos anteriormente, o SINDCINE surge em 1987e retoma o trabalho do antigo Sindicato dos Trabalhadores.Ao longo dos anos temos conseguido manter uma relação cordialcom os pequenos realizadores e suas associações, sendo que muitos <strong>de</strong>lesfazem parte do nosso quadro <strong>de</strong> associados, mas nem sempre, como éesperado, essa relação é tranqüila. Vez ou outra o realizador encarna opapel <strong>de</strong> empresário e a contradição se evi<strong>de</strong>ncia.A verda<strong>de</strong> é que o sindicato <strong>de</strong> trabalhadores é visto com muitasimpatia por todos, quando assume a condição <strong>de</strong> “militante dacinematografia brasileira”, lutando por verbas para produção <strong>de</strong> filmes e,como um transtorno, quando assume a <strong>de</strong>fesa do profissional na relaçãoempregado/empregador como qualquer outro sindicato <strong>de</strong> trabalhadores. Otrecho <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimento, do Técnico <strong>de</strong> Som Miguel Ângelo representa muitobem essa idéia:(...) há uma coisa que me surpreen<strong>de</strong>u no ambiente <strong>de</strong> cinema. Eu, comovocê sabe, sou uma pessoa que penso muito politicamente também, não é?Eu sou, eu tenho um pensamento <strong>de</strong> esquerda e o que me surpreen<strong>de</strong>ubastante, principalmente <strong>de</strong>pois que eu estive fora do Brasil e voltei, é que omeio do cinema que eu pensei que fosse um meio muito mais aberto, tudo,não é. Ele é extremamente reacionário, conservador, certo? Tanto que euvejo os filmes com tendências <strong>de</strong> esquerda com alguns problemas sociais etal, eu me pergunto sempre se as pessoas que fizeram aquele filme,pensaram realmente nisso ou o fizeram porque isso vai dar bilheteriaenten<strong>de</strong>u? Eu tenho até uma certa reserva com relação a alguns filmes queabordam problemas sociais mas que a gente sabe que o realizador tal, nãotem nada a ver com aquilo, nada, nada nem <strong>de</strong> pensamento muito menos <strong>de</strong>vivência não é? Então eu senti muita resistência mesmo, porque eu sempre<strong>de</strong>monstrei esse pensamento, sempre reagi ao que eu achava que erainjusto (...)”.Em outro trecho Miguel cita um episódio que justifica ainda maisas suas observações:“Eu tava ali já freqüentando o Sindicato, eu levei um convite a um estúdio <strong>de</strong>som que era o único que tinha. Um convite porque eu achei normal que seriaisso, porque eu estava há pouco tempo <strong>de</strong> volta ao Brasil. Eu pensava quetendo acabado a ditadura, que isso aqui teria outra cabeça, mais aberta.97


Mas quando eu fui entregar o convite na recepção, ao lado da recepcionistatava o dono do estúdio, ele perguntou o que quê é isso? Eu disse: é umconvite para posse da nova diretoria do Sindicato. Ele pegou, rasgou oconvite, jogou no lixo e disse: eu o<strong>de</strong>io Sindicatos! Porque eu era técnico <strong>de</strong>som, eu achei que seria normal divulgar esse evento nas produtoras ouestúdios <strong>de</strong> som <strong>de</strong> cinema que aceitariam um convite <strong>de</strong>sses e atéparticipariam <strong>de</strong> uma posse <strong>de</strong> diretoria. Então eu já comecei a perceberesta questão. E não é porque eu era <strong>de</strong> esquerda não. Eles não gostammesmo. De ninguém <strong>de</strong> esquerda mesmo. Eles não gostam, porque umprofissional <strong>de</strong> esquerda, ele pelo menos questiona certas coisas, então eunão sei, não quero taxar o meu perfil profissional assim, porque eu ganheialguns prêmios como técnico <strong>de</strong> som, ganhei um prêmio até nos EstadosUnidos. Como o melhor som não é? Então eu tenho meu valor profissional”.Na verda<strong>de</strong>, quanto maior a in<strong>de</strong>pendência do sindicato emrelação aos empresários e ao governo menos <strong>de</strong>sejável ele se torna a essessetores. Não é sem razão que tanto o SINDCINE como o STIC – Sindicatodos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica do Estado do Rio <strong>de</strong>Janeiro têm sido <strong>de</strong>ixados <strong>de</strong> fora, sistematicamente, <strong>de</strong> todos os órgão <strong>de</strong>cinema (comissões e conselhos) criados durante o governo FernandoHenrique e o governo Lula.Uma outra questão relacionada ao que estamos nos referindo dizrespeito ao excesso <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s que existem atualmente no cinemabrasileiro.Po<strong>de</strong>ríamos consi<strong>de</strong>rar esse dado como positivo, uma vez que,teoricamente, estaríamos aumentando o número <strong>de</strong> militantes da causa docinema brasileiro. No entanto, essas inúmeras entida<strong>de</strong>s, (55) filiadas aoCBC - Congresso Brasileiro do Cinema, são na sua maioria, “cavações” <strong>de</strong>espaço político junto ao governo para conseguirem verbas para produção <strong>de</strong>filmes. Quanto mais bem situado na hierarquia da entida<strong>de</strong> maior a chance<strong>de</strong> se conseguir verba para um filme. Alguns cineastas quando ganhamnotorieda<strong>de</strong> abandonam as entida<strong>de</strong>s e se tornam eles mesmos umaentida<strong>de</strong>. Falam em nome do cinema brasileiro como se fossem legítimosrepresentantes da classe. A criação do CBC – Congresso Brasileiro <strong>de</strong>Cinema em 2001, foi, entre outras coisas, uma tentativa <strong>de</strong> se colocar umpouco <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m nessa multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interlocutores do cinema brasileiro.98


No entanto, como vimos, essa tentativa acabou se frustrando com a criaçãodo FAC – Fórum do Audiovisual e do Cinema. A multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>interlocutores junto ao governo só nos enfraquece. Toda vez que ossindicatos <strong>de</strong> trabalhadores são excluídos <strong>de</strong> uma comissão ou conselhorepresentativo do setor po<strong>de</strong>mos afirmar que essa representação não é umarepresentação legitimamente <strong>de</strong>mocrática e que todo setor só tem a per<strong>de</strong>rcom isso.4.3. Qualificação ProfissionalConforme já esclarecemos no Capítulo 1, a regulamentação dosArtistas e Técnicos em Espetáculos <strong>de</strong> Diversões incluiu os profissionais <strong>de</strong>cinema na mesma lei que foi pensada inicialmente para regulamentar aprofissão <strong>de</strong> ator. Essa lei fala que todos os profissionais por ela abrangidosterão que provi<strong>de</strong>nciar um registro na Delegacia Regional do Ministério do<strong>Trabalho</strong> e, para isso, terão que apresentar diploma <strong>de</strong> algum curso,reconhecido na forma da lei, ou um atestado do sindicato comprovando suacondição profissional. Atualmente já existem inúmeros cursos reconhecidos,tanto na área <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> Cênicas, como na área <strong>de</strong> Cinema, mas, em 1978,época da promulgação da lei, não existia praticamente nada. Quase todosprofissionais tiveram que recorrer ao sindicato em busca do atestado e, atéhoje, a maioria absoluta dos que entram no mercado precisam do atestadodo sindicato, pois conforme já observado nesta pesquisa, para algumasfunções não existem cursos <strong>de</strong> formação.Mesmo antes da regulamentação, o Sindicato dos Trabalhadoresna Indústria Cinematográficos do Estado <strong>de</strong> São Paulo, sempre esteveligado à questão da formação. Um dos seus presi<strong>de</strong>ntes, Plínio GarciaSanches, era também o responsável pelo Seminário <strong>de</strong> Cinema que formouinúmeros profissionais em São Paulo, tanto é, que durante um período oSeminário e o Sindicato chegaram a funcionar no mesmo local. Estamos nos99


eferindo ao primeiro sindicato <strong>de</strong> trabalhadores cinematográficos que foireconhecido em 1963 e cassado em1969.Ainda durante o período da ATACESP o Ministério do <strong>Trabalho</strong>,Indústria e Comércio criou um grupo <strong>de</strong> trabalho para elaborar um projeto <strong>de</strong>lei que regulamentaria a profissão <strong>de</strong> trabalhador e artista <strong>de</strong> cinema. O atorSergio Hingst foi o representante da entida<strong>de</strong> nesse grupo. Ao que tudoindica esse trabalho acabou resultando em nada e, como já mencionamos,em 1978, os profissionais <strong>de</strong> cinema passaram a fazer parte daregulamentação dos Artistas e Técnicos em Espetáculos <strong>de</strong> Diversões.Durante a nossa gestão no Sindicato dos Artistas e Técnicos emEspetáculos <strong>de</strong> Diversões do Estado <strong>de</strong> São Paulo (1981-1984), nos<strong>de</strong>paramos pela primeira vez com a questão da Qualificação Profissional dosArtistas e Técnicos Cinematográficos. A lei que regulamentou a profissãohavia sido promulgada há apenas três anos e todos estavam ainda tateando,tentando enten<strong>de</strong>r a sua aplicabilida<strong>de</strong>.O Artigo 10, do Decreto 82.385/78, que regulamentou a lei diz oseguinte: “O sindicato representativo da categoria profissional constituiráComissões, integradas <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> reconhecidos méritos, às quaiscaberá emitir parecer sobre os pedidos <strong>de</strong> atestado <strong>de</strong> capacitaçãoprofissional.”Sempre tivemos muita dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar profissionais quese dispusesse a participar <strong>de</strong>ssas comissões. Muitos não queriam secomprometer em ter que julgar se alguém era ou não profissional. Outrosporque não achavam isso importante, <strong>de</strong> modo que o sindicato quasesempre teve que assumir sozinho a tarefa <strong>de</strong> emitir ou negar um atestado <strong>de</strong>Capacitação Profissional.100


Consta no Artigo 12 do referido Decreto:As entida<strong>de</strong>s sindicais encarregadas do fornecimento doatestado <strong>de</strong> capacitação profissional, <strong>de</strong>verão elaborarinstruções contendo requisitos, tais como documentos eprovas <strong>de</strong> aferição <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> profissional, necessáriospara obtenção, pelos interessados, do referido atestado.Além do trabalho <strong>de</strong> separação das funções técnicas e artísticas queconstam no quadro anexo ao Decreto em relação ao cinema, ajudamos acomissão <strong>de</strong> capacitação profissional do SATED a <strong>de</strong>finir as provas válidas<strong>de</strong> aferição <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> profissional na área <strong>de</strong> cinema: cartaz <strong>de</strong> filmesque constassem o nome do interessado, registro em carteira, carteira <strong>de</strong>censura, contrato <strong>de</strong> trabalho.Em 1987 ao assumirmos o SINDCINE tivemos que atualizar oscritérios <strong>de</strong> concessão <strong>de</strong> atestado <strong>de</strong> capacitação. Na época estava seiniciando as mudanças tecnológicas no setor e novas funções começavam asurgir, principalmente, na área <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o. Antes, ao conce<strong>de</strong>rmos o atestado,além <strong>de</strong> informar se o profissional pertencia à área artística ou técnica,<strong>de</strong>signávamos também a função. Esse procedimento com o tempo mostrousedifícil <strong>de</strong> operacionalizar, pois toda vez que o profissional mudava <strong>de</strong>função, ou comprovava habilitação para uma nova função, essa função eraacrescentada na sua carteira <strong>de</strong> trabalho junto à função anterior. ADelegacia Regional do <strong>Trabalho</strong> também passou a recusar os atestados quetinham funções que não constavam no Decreto. Por esse motivo <strong>de</strong>cidimosque não <strong>de</strong>signaríamos mais a função no atestado e que constaria apenasse o profissional era um Técnico Cinematográfico ou um ArtistaCinematográfico.Além das provas <strong>de</strong> aferição, que incluíam diploma <strong>de</strong> cursoreconhecido na forma da lei, registro em carteira na ativida<strong>de</strong>, carteira <strong>de</strong>censura, cartaz <strong>de</strong> filmes, notícias <strong>de</strong> jornal ou revista, passamos a exigirtrês <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> profissionais já regulamentados, com os quais ointeressado tivesse trabalhado atestando sua condição profissional. Com otempo esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comprovação (as três <strong>de</strong>clarações) foram se101


mostrando também ineficazes. Muitos profissionais emitiam essas<strong>de</strong>clarações mesmo sem conhecer direito o trabalho da pessoa a quem estáatestando.Nesse meio tempo, já tínhamos consciência <strong>de</strong> que a questão dacapacitação profissional não se restringia à concessão do atestado. Osindicato tinha, como uma <strong>de</strong> suas atribuições, cuidar da qualida<strong>de</strong> dosprofissionais que estavam no mercado.No início dos anos 1990, encomendamos um estudo sobre as<strong>de</strong>ficiências da mão <strong>de</strong> obra em nosso setor em São Paulo, e a partir daícriamos o Centro <strong>de</strong> Estudos Audiovisuais que foi transformadoposteriormente no <strong>Instituto</strong> Roberto Santos. Promovemos inúmeros cursos<strong>de</strong> aperfeiçoamento profissional e workshops em parceria com empresasfinalizadoras e locadoras <strong>de</strong> equipamentos.Percebemos a dificulda<strong>de</strong> para motivar o profissional que já estáno mercado para os cursos <strong>de</strong> aperfeiçoamento. Decidimos modificar maisuma vez os critérios <strong>de</strong> concessão <strong>de</strong> atestado <strong>de</strong> capacitação profissional,e no lugar das <strong>de</strong>clarações passamos a exigir que o interessado sesubmetesse a um teste escrito. Paralelamente iniciamos cursos <strong>de</strong> históriado cinema e legislação trabalhista do setor que pontuariam na hora <strong>de</strong>conce<strong>de</strong>r o atestado.Começamos a pensar em cursos <strong>de</strong> formação especifico para<strong>de</strong>terminadas funções, como Continuista, Assistente <strong>de</strong> Direção, Assistente<strong>de</strong> Câmera, Eletricista <strong>de</strong> Cinema, Maquinista, Maquiador, etc. A partir daíiniciamos uma pesquisa entre os profissionais <strong>de</strong> cinema, das mais diversasáreas, para extrair os conteúdos <strong>de</strong>sses cursos. O resultado <strong>de</strong>sse trabalhoé o projeto <strong>de</strong> uma Escola <strong>de</strong> Formação e Capacitação vinculada ao <strong>Instituto</strong>Roberto Santos. Esse projeto (ANEXO III) foi coor<strong>de</strong>nado por nós e teve aorientação pedagógica da Profa. Dra. Marília Franco.102


4. 4. Reivindicações TrabalhistasUm Acordo HistóricoDurante os três anos <strong>de</strong> nossa gestão no SATED tentamos, emvão, negociar um acordo coletivo para os profissionais <strong>de</strong> cinema com oSindicato da Indústria Cinematográfica do Estado <strong>de</strong> São Paulo, sindicatopatronal. Eles nem sequer analisavam a pauta <strong>de</strong> reivindicações e,simplesmente, alegavam que o SATED não era o sindicato competente paranegociar tal acordo. O processo ia parar nas várias instâncias do Ministériodo <strong>Trabalho</strong> e só muito tempo <strong>de</strong>pois esse Ministério acatava a alegação dosindicato patronal como pertinente.Certa vez fomos falar pessoalmente com o presi<strong>de</strong>nte dosindicato patronal, Alfredo Palácios e ele, que era advogado, nos explicou<strong>de</strong>talhadamente o que acontecia. Naquela época, início dos anos1980, ossindicatos eram totalmente atrelados ao Estado e funcionavam baseadosnum mo<strong>de</strong>lo criado no tempo <strong>de</strong> Getúlio Vargas, ou seja, sem nenhumaautonomia. Tudo era fiscalizado pelo Ministério do <strong>Trabalho</strong>: eleições,prestação <strong>de</strong> contas, utilização dos recursos, etc.. Esse mo<strong>de</strong>lo enquadrou amaioria dos sindicatos por grupos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica, nos quais havia o16 o Grupo – Grupo da Indústria Cinematográfica. Em cada grupo estavaprevisto um sindicato patronal e um sindicato <strong>de</strong> trabalhadores. AlfredoPalácios nos mostrou que eles <strong>de</strong>veriam negociar com aquele sindicatoprevisto ali na CLT (Consolidação das Leis do <strong>Trabalho</strong>) e não com oSATED que estava em outro Grupo, o Grupo das Empresas <strong>de</strong> DifusãoCultural e Artística.Pela primeira vez ouvimos falar na existência do sindicato dostrabalhadores cassado. Achávamos que o sindicato patronal usava essepretexto para não se comprometer com um acordo coletivo para ostrabalhadores cinematográficos, mas não tínhamos como negar que oargumento <strong>de</strong>les tinha lógica. Quando fomos reivindicar a carta sindical103


cassada que resultou na criação do SINDCINE, esse foi um dos argumentosque utilizamos.Em 1987, assim que obtivemos a carta sindical, procuramos osindicato patronal para uma negociação e eles não tinham mais como negarque o sindicato estava enquadrado em grupo errado. Alfredo Palácios aindaera presi<strong>de</strong>nte da entida<strong>de</strong>, foi coerente quanto a isso e pela primeira vez nahistória dos dois sindicatos foi firmado um acordo coletivo.O acordo coletivo em questão, que consta dos anexos <strong>de</strong>sta tese,não possui nada <strong>de</strong> excepcional a não ser o fato <strong>de</strong> ser o primeiro, emmuitos anos <strong>de</strong> existência da ativida<strong>de</strong> cinematográfica em São Paulo. Pelaprimeira vez uma tabela <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços profissionais teve seucaráter legal formalizado. As tabelas <strong>de</strong> serviços profissionais, tanto <strong>de</strong>trabalhadores <strong>de</strong> longa metragem, como publicida<strong>de</strong> que existiam antes,eram informais e os produtores não tinham obrigação <strong>de</strong> acatá-las. A partir<strong>de</strong>sse acordo elas se revestiram <strong>de</strong> legalida<strong>de</strong> e obrigatorieda<strong>de</strong>.Conseguimos incluir também os profissionais <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o no acordo e foielaborada uma tabela própria para eles.Outro Acordo ImportanteEnquanto a produção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> longa metragem amargavamais uma das suas crises cíclicas com a entrada do governo Collor, nosvoltamos para a ativida<strong>de</strong> que havia prosperado como indústria: a produção<strong>de</strong> filmes publicitários. Começamos a atuar mais intensamente no meio daprodução publicitária e em 1993 firmamos mais um acordo histórico, quepela primeira vez incluía a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong> seguro paratodos os profissionais que participam <strong>de</strong> uma equipe <strong>de</strong> filmagem.Esse item é importante porque, apesar do meio publicitário seruma ativida<strong>de</strong> com muitos recursos financeiros, a contratação dosprofissionais era feita <strong>de</strong> forma totalmente informal. Pagava-se bem, mas104


ignoravam-se questões básicas, como contratos <strong>de</strong> trabalho eresponsabilida<strong>de</strong> por aci<strong>de</strong>ntes durante as filmagens. Os aci<strong>de</strong>ntesaconteciam com bastante freqüência e ainda acontecem até hoje e oprofissional que se aci<strong>de</strong>ntava tinha que arcar sozinho com os prejuízos <strong>de</strong>hospitais e <strong>de</strong>spesas médicas, além do tempo que ficava sem po<strong>de</strong>rtrabalhar, isso quando não acontecia algo mais grave com conseqüênciasfatais.Além do seguro conseguimos estabelecer um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> contrato,<strong>de</strong>nominado “termo contratual”, para trabalhos <strong>de</strong> curta duração, caso típicoda publicida<strong>de</strong> (um dia, dois dias, etc.). Também nesse acordo foramestabelecidas as bases <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> horas, pois um dosproblemas da produção do filme publicitário é a excessiva carga <strong>de</strong> trabalho,problema meio insolúvel, uma vez que os próprios profissionais já seacostumaram com isso. O que era mais grave, no entanto, é que além <strong>de</strong>contribuir para provocar aci<strong>de</strong>ntes, não se recebia pelas horasextraordinárias. Com esse acordo, algumas categorias, primeiro osassistentes <strong>de</strong> câmera, <strong>de</strong>pois os eletricistas e maquinistas começaram, aospoucos, a controlarem o número <strong>de</strong> horas trabalhadas e a cobrarem pelashoras extras.A partir <strong>de</strong>sse acordo iniciamos uma luta pelo registro doscontratos das equipes no Sindicato conforme previa a lei. Sem essesregistros não tínhamos como saber se o acordo estava sendo cumprido, se oseguro estava sendo contratado corretamente. No início, pouquíssimasprodutoras registravam esses contratos conforme previsto no acordo. Foramvários anos <strong>de</strong> luta, com <strong>de</strong>núncias ao Ministério do <strong>Trabalho</strong>, ao MinistérioPúblico do <strong>Trabalho</strong> e até aos Anunciantes para conseguirmos fazer comque esses registros fossem incorporados, <strong>de</strong>finitivamente, pelas empresas<strong>de</strong> filmes publicitários.105


4.5. Limitações quanto à Atuação do SindicatoAlém da dificulda<strong>de</strong> que o sindicato <strong>de</strong> trabalhadorescinematográficos enfrenta com a relação ambígua da maioria dosrealizadores <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> longa metragem, conforme já mencionado, hádificulda<strong>de</strong> também na relação com os <strong>de</strong>mais profissionais que foram seadaptando aos vícios e irregularida<strong>de</strong>s fruto da falta <strong>de</strong> fiscalização eficientedas leis brasileiras. Para esclarecer o que estamos dizendo, reproduzimosabaixo trecho da entrevista que fizemos com o Técnico <strong>de</strong> Som MiguelÂngelo dos Santos Costa:(MA = Miguel Ângelo / TS = Tony <strong>de</strong> Souza)MA: (...) eu me consi<strong>de</strong>ro um profissional razoável, vamos dizer assim. Esempre tentei batalhar assim no sentido <strong>de</strong> ter umas regras mais claras,para a gente trabalhar uma convivência com as produtoras, muito maisprofissional e mais segura para nós, sabendo o que é o quê exatamente.Mas realmente há uma resistência imensa nesse sentido. No sentido doSindicato.TS: Era uma das coisas que eu ia perguntar. Como que você vê essaquestão do profissionalismo relacionada com o sindicato? Como você secoloca profissionalmente você está respon<strong>de</strong>ndo aí, já essa questão darelação com o sindicato acho que você teria condições <strong>de</strong> fazer umaavaliação melhor do que eu, por exemplo, por uma série <strong>de</strong> circunstânciasque não vem ao caso, me relacionei muito menos com esse mercado <strong>de</strong>trabalho do que você. Você, assim como eu, também já esteve na condição<strong>de</strong> dirigente sindical. Então com certeza, você tem uma avaliação muitomaior <strong>de</strong>sta relação do profissional com as produtoras. Eu tenho <strong>de</strong>vivenciar, <strong>de</strong> ver como Presi<strong>de</strong>nte do Sindicato, <strong>de</strong> perceber e concordarplenamente com o que você está falando que realmente eu sempre tenteimanter um nível <strong>de</strong> relacionamento com as produtoras assim que não fossedaquele nível <strong>de</strong> chegar metendo o pé na porta, mas também com certafirmeza e realmente nunca foi fácil. Eles são muito dissimulados e realmenteé uma relação muito difícil e isso que você falou é muito interessante porquevocê conseguiu traduzir muito bem a questão, quando falou da reação <strong>de</strong>ssedono <strong>de</strong> produtora rasgando o convite. Essa reação é uma coisa reacionáriamesmo. A minha sensação como diretor <strong>de</strong> Sindicato, sempre foi essamesmo, não é uma coisa nem <strong>de</strong> o que você espera nesse meio, que é ummeio on<strong>de</strong> existem pessoas inteligentes até criativas, não é? O que vocêespera, eu pelo menos, é que as pessoas tenham um nível <strong>de</strong> relação entreelas, muito mais <strong>de</strong>mocrático vamos dizer assim. Seria natural que um dono106


<strong>de</strong> produtora me dissesse algo como, eu não gosto que fique aqui falando <strong>de</strong>sindicato na minha produtora que me atrapalha, não sei o que, mas nãotenho nada contra Sindicato. Eu acho que as pessoas têm mais é que seorganizar mesmo. Mas eu não quero que me atrapalhe a filmagem aqui, umjogo aberto, mas não é. As pessoas têm medo disso não é? Medo <strong>de</strong>enfrentar a questão da relação empregador e empregado. Eu sempre tentei,como diretor do Sindicato fazer com que essa relação chegasse <strong>de</strong>ssa formapara as produtoras. Não queria chegar como..MA: Tipo um Lula lá, não sei o que...TS: Exato. Mas como uma pessoa que é do meio e que tem uma posiçãoclara da relação empregador e empregado e que quer discutirtransparentemente, sem subterfúgios, sem ficar escon<strong>de</strong>ndo nada, não é?Sem ficar aquelas coisas <strong>de</strong> ti- ti –ti <strong>de</strong> corredor. Eu lutei o tempo todo paraisso, mas realmente é o que você falou isso nunca aconteceu. A reação damaioria das produtoras é <strong>de</strong> não querer enfrentar a questão. Eles nãoquerem envolvimento com essa discussão.MA: É. Eles não querem discutir.TS: Eles só absorvem assim meio à força, algumas coisas como seguro,controle <strong>de</strong> horas em algumas funções, mas nunca naquela coisa <strong>de</strong>transparência, são pouquíssimos..MA: Que recebem isso com normalida<strong>de</strong>. Então tem esse aspecto assimque é difícil dizer, que cria até uma dificulda<strong>de</strong>. Na verda<strong>de</strong>, eu acho que omeio do cinema reflete um pouco o que é o pensamento brasileiro.TS: Da elite brasileira.MA: Você que vive em outro País, o coletivo é sempre importante, elessempre se unem e fazem o coletivo. No Brasil isso é muito difícil. Isso muitosconseguiram tal, mas a gente sabe as condições que eram dadas para isso.Os brasileiros não têm esse negócio <strong>de</strong> amigos do bairro, por exemplo,praticamente é só para tirar proveito <strong>de</strong> alguma coisa. Mas você não temessa questão <strong>de</strong> bairro para levar a sério, a situação dos bairros periféricos éterrível. Você assiste na televisão, não tem uma associação que leve afrente, que vai ao Prefeito que xingue o Prefeito, xingue o prefeito no sentidoque reclame né. Isso não existe. isso também é uma coisa que dificulta otrabalho do Sindicato. Além do mais foi se conduzindo <strong>de</strong> uma maneira essetrabalho entre produtora e profissional que hoje o profissional <strong>de</strong> cinema, eleé um profissional liberal. Ele é um profissional que nem é isso, hoje ele é umempresário, aí você po<strong>de</strong> dizer: mas empresário? Mas empresário vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong>do carrinho <strong>de</strong> pipoca até o Antônio Ermínio <strong>de</strong> Morais né, não é isso? Massão empresários. Então eu não sei como resolver isso mas existe umagran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>, porque quase que o Sindicato tem que ser uma espécie<strong>de</strong> FIESP. Guardando as <strong>de</strong>vidas proporções.107


TS:. Eu colocaria a coisa <strong>de</strong> uma outra forma. Qual é a realida<strong>de</strong> doprofissional <strong>de</strong> cinema no Brasil hoje? Todo mundo sabe, virou empresa.Mas essa é uma questão do Brasil, <strong>de</strong> como o Brasil funciona. Você pegasei lá, uma pequena falha no sistema que não funciona direito e essa coisavai repercutir lá na frente <strong>de</strong> uma forma que você nem imagina. Porexemplo, a questão da sonegação do Imposto <strong>de</strong> Renda que as pessoasfazem através <strong>de</strong> notas fiscais das empresas e tal. Sonegação existe emtodo o lugar do mundo. Só que aqui é sistemático. E ai todo mundo faz. E <strong>de</strong>repente isso vira meio que uma norma. E ai como você falou é contra lei. Écontra lei, mas todo mundo faz e não acontece nada. Pelo menos porenquanto. De repente, você brigar pela legalida<strong>de</strong>, que é o que o sindicatotenta fazer, parece ridículo. Parece coisa <strong>de</strong> Dom Quixote. Não é o caso <strong>de</strong>pessoas bem informadas como você, que eu tenho certeza que enten<strong>de</strong> <strong>de</strong>outra forma, mas já aconteceu aqui <strong>de</strong>ntro do Sindicato numa assembléia,um cara se levantou um eletricista, e falou assim: O que quê o Sindicato estáganhando com isso? O que quê vocês estão levando? Porque que vocêsquerem que a gente pague imposto? Eu estou muito bem assim, o meucontador me orientou que eu tenho que fazer assim, e agora vocês queremque eu faça <strong>de</strong> outro jeito, para pagar imposto. Qual que é a <strong>de</strong> vocês?Então, quer dizer, uma regra que é <strong>de</strong>turpada e passa a virar norma. O carafez um discurso. Vocês <strong>de</strong>veriam era <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que todos nós virássemosmicro-empresários para pagar menos imposto. Só que ele não sabe quecomo micro-empresário ele <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter os benefícios das leis trabalhistas.Então quer dizer, se não fosse possível existir isso, se houvesse realmenteum rigor nesse negócio, não po<strong>de</strong> e acabou, e ninguém conseguisse fazer,não haveria esse problema.MA: Engraçado, eu vou dizer uma coisa engraçada que é esta questão dahora extra aí, por exemplo. As produtoras até aceitam esse negócio. Elaspodiam não aceitar, mas elas já estabelecem e aceitam isso aí tal. Da horaextra, né. Você chega a trabalhar <strong>de</strong>z, doze horas e começa a cobrar portanto. Algumas coisas eles já ce<strong>de</strong>ram, mas é muito pouco.Já Inês Mullin, outra profissional que entrevistamos, resume oassunto da seguinte forma:“Atualmente acho que a nossa organização sindical se sustenta<strong>de</strong>sempenhando mais um papel político do que trabalhista. Me sinto umaper<strong>de</strong>dora na luta contra o sistema <strong>de</strong> sonegação <strong>de</strong> impostos tanto dasprodutoras quanto dos profissionais free lancers. É inconcebível para mimque um recém formado na faculda<strong>de</strong> seja obrigado a abrir uma empresapara receber o seu cachê! Há uma promiscuida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> entre patrãoe empregado na nossa área, o que impe<strong>de</strong> um engajamento mais efetivodos profissionais na organização sindical. O nosso mercado <strong>de</strong> trabalho noaspecto das leis é completamente selvagem. Reina a lei do mais forte (asprodutoras), a lei da oferta e da procura. Salve-se quem pu<strong>de</strong>r. Acho que asorganizações sindicais estão bastante enfraquecidas, não só no Brasil, mas108


em todo o mundo e acho também que o papel dos sindicatos está mudandoou <strong>de</strong>va mudar para sobreviver.”Um dos problemas mencionados por Inês que dificulta a atuaçãosindical em nosso setor, é que além das pessoas que trabalham nesse meiogostarem do que fazem é um meio muito pequeno. Não é como uma gran<strong>de</strong>indústria, na qual dificilmente nos <strong>de</strong>paramos com o patrão. O dono <strong>de</strong> umaprodutora muitas vezes é um profissional do meio que já trabalhou comotécnico ou alguém com quem nos relacionamos quase que diariamente. Osindicato atua nesse fio tênue <strong>de</strong> interesses, digamos, familiares, <strong>de</strong>relações <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e cumplicida<strong>de</strong> entre donos <strong>de</strong> produtoras eprestadores <strong>de</strong> serviço.4. 6. Trabalhadores na Indústria Cinematográfica ou Audiovisual?Se o problema fosse apenas a sigla seria fácil. Mudar uma sigla,inventar uma nova é tarefa comum no meio cinematográfico brasileiro. Aquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> associações que já foram criadas ao longo dos anos<strong>de</strong>monstra isso. Só no CBC – Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Cinema - existem 55.Há uma distância enorme entre dizer que se representa um setor erepresentá-lo <strong>de</strong> fato.Após concluirmos o processo <strong>de</strong> fundação do SINDCINE –Sindicato dos Trabalhadores Cinematográficos do Estado <strong>de</strong> São Paulo - em1987, fomos procurados pelo chefe maquinista e operador <strong>de</strong> câmera,Roque Araújo, para orientá-lo sobre o processo <strong>de</strong> fundação <strong>de</strong> um sindicatosemelhante no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Lá, também o incansável Alex Viany,juntamente com Nelson Pereira dos Santos, havia fundado uma associaçãonos anos 1960, a APTCG – Associação Profissional dos Técnicos <strong>de</strong>Cinema do Estado da Guanabara - que não vingou e nos anos 1970, poriniciativa do Diretor <strong>de</strong> Fotografia Edson Batista, foi fundada uma nova, aATEC – Associação Profissional dos Trabalhadores na Indústria109


Cinematográfica do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Essa associação tinha aintenção inicial <strong>de</strong> ser transformada em sindicato, mas o SATED – RJacabou convencendo os seus lí<strong>de</strong>res e associados a <strong>de</strong>sistirem <strong>de</strong> talintento e durante muito tempo ela funcionou <strong>de</strong>ntro do próprio SATED – RJ.Depois romperam relações e quando iniciamos o processo <strong>de</strong> fundação doSINDCINE a ATEC mobilizou os profissionais do Rio <strong>de</strong> Janeiro com omesmo intuito.Um ano <strong>de</strong>pois da fundação do SINDCINE, nascia no Rio <strong>de</strong>Janeiro o STIC – Sindicato dos Trabalhadores Cinematográficos do Estadodo Rio <strong>de</strong> Janeiro. Roque Araújo foi o primeiro presi<strong>de</strong>nte da entida<strong>de</strong>.Tempos <strong>de</strong>pois ficamos sabendo que o STIC pretendia fazer extensão <strong>de</strong>base para os <strong>de</strong>mais estados da fe<strong>de</strong>ração e transformar-se em umsindicato nacional. Fomos conversar com as li<strong>de</strong>ranças daquele sindicato eo máximo que conseguimos foi que eles <strong>de</strong>sistissem da idéia <strong>de</strong> sindicatonacional e optassem por esten<strong>de</strong>r as suas bases apenas para os estadoson<strong>de</strong> houvesse produção <strong>de</strong> filmes. Não <strong>de</strong>morou muito e fomossurpreendidos com material impresso por aquele sindicato, no qual constavaque o mesmo representava os estados do norte, nor<strong>de</strong>ste e su<strong>de</strong>ste. Maisuma vez argumentamos que achávamos fora <strong>de</strong> propósito querermosrepresentar estados que nem tinham produção <strong>de</strong> cinema.A resposta <strong>de</strong> Roque Araújo foi clara: ou nós estendíamos nossasbases para os estados que sobraram (Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, Santa Catarina,Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás) ou eles ofariam. O SINDCINE teve então <strong>de</strong> enfrentar um processo burocráticocomplicadíssimo <strong>de</strong> fazer sua extensão <strong>de</strong> base para todos esses estados e<strong>de</strong>pois que o fizemos ficamos sabendo que o STIC havia feito isso apenasmudando a sua sigla no papel, não havia seguido os trâmites que a lei<strong>de</strong>termina. Só recentemente, em 2003, é que conseguiram fazê-lo.Além da extensão <strong>de</strong> base, o STIC acrescentou à sua sigla otermo “audiovisual”. Conforme já abordamos, o i<strong>de</strong>al hoje para quempreten<strong>de</strong> trabalhar em cinema é ter em consi<strong>de</strong>ração o amplo espectro da110


ativida<strong>de</strong> que inclui a produção dos mais variados tipos <strong>de</strong> produtos comovi<strong>de</strong>oclipes, vi<strong>de</strong>ogames, filmes publicitários, telefilmes, documentários, osinúmeros tipos <strong>de</strong> reality-show e também filmes <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong>ficção. Como diz Galileu Garcia comparando o mercado <strong>de</strong> trabalho atualcom o mercado <strong>de</strong> trabalho dos profissionais <strong>de</strong> cinema nos anos 1950/60:“hoje todos os caminhos estão abertos”.Não temos dúvida quanto a isso. No entanto, do ponto <strong>de</strong> vista daorganização sindical e da lei, muita coisa ainda precisa ser mudada.Primeiro, em relação aos sindicatos, o i<strong>de</strong>al é que se fundissem ascategorias trabalhadores cinematográficos e trabalhadores em produção <strong>de</strong>programas para televisão. Ai já entra duas categorias profissionais queatuam hoje em sindicatos diferentes: radialistas e jornalistas. Essa proposta<strong>de</strong> fusão já foi aventada e sempre se esbarra naquilo que po<strong>de</strong>ríamoschamar <strong>de</strong> divisão <strong>de</strong> território. Como ficará a nova divisão <strong>de</strong> território? Nosindicato “x” fulano é presi<strong>de</strong>nte, e no sindicato “y” sicrano. Quando houver afusão como ficará a sua situação?Uma possibilida<strong>de</strong>, também aventada, e que talvez seja maisrealista e exeqüível é da criação <strong>de</strong> uma instituição tipo fe<strong>de</strong>ração quecongregue todos os sindicatos do setor. A Argentina conseguiu algo assimcom bastante sucesso.Superada essa questão resta aquela relativa às regulamentaçõesespecíficas. Por exemplo, consi<strong>de</strong>ramos um <strong>de</strong>spropósito alguém formadoem audiovisual ser obrigado a ter dois registros profissionais, um <strong>de</strong> Artista eTécnico e outro <strong>de</strong> Radialista. Isso tudo passa por mudança <strong>de</strong> lei eesperamos que num futuro próximo essa questão seja encarada <strong>de</strong> frente,não adianta a mudança <strong>de</strong> sigla sem o <strong>de</strong>vido trabalho nas bases, semsabermos o que os profissionais que trabalham no meio pensam sobre aquestão.111


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS“Hoje todos os caminhos estão abertos.”(Galileu Garcia)O fascínio que o cinema exerce sobre as pessoas já foi objeto <strong>de</strong>muitas reflexões. O sociólogo francês Edgar Morin (1989; 1997) <strong>de</strong>dicoudois, dos inúmeros livros que escreveu, ao estudo <strong>de</strong>sse fenômeno. O queacontece com alguém que além <strong>de</strong> apaixonar-se pelo cinema <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> viver<strong>de</strong> cinema? Ser um profissional <strong>de</strong> cinema? Primeiro tem que apren<strong>de</strong>r oofício.No início a ativida<strong>de</strong> cinematográfica estava restrita à produção<strong>de</strong> filmes para salas <strong>de</strong> cinema. O cinema praticamente possuía ahegemonia do que chamamos hoje ativida<strong>de</strong> audiovisual. Com o surgimentoda televisão, do vi<strong>de</strong>oteipe, dos computadores e da internet, a articulaçãoimagem e som se espalhou para as diversas mídias.Hoje, o que se chamava cinema - filme <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong>ficção - representa apenas uma parcela do enorme arsenal audiovisual queexiste à disposição dos espectadores.Em tese, qualquer um hoje po<strong>de</strong> fazer um filme. Mas será umfilme profissional? Sobre esse assunto já houve, no meio cinematográfico,muita discussão. Na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se trabalhar com equipesprofissionais, muitos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o que o cineasta Walter Lima Jr., um dosremanescentes do cinema novo, chama <strong>de</strong> “estética do precário”, ou seja, aexaltação do malfeito.Muita gente levou ao pé da letra o slogan “uma câmera na mão euma idéia na cabeça”. Nas palavras daquele cineasta: “estabeleceu-se umacerta facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitar o malfeito como estilo”.112


O fato das novas tecnologias terem <strong>de</strong>smistificado o fazercinematográfico não significa o <strong>de</strong>saparecimento do cinema profissional;pelo contrário, a nosso ver, esse tipo <strong>de</strong> cinema continua sendo o dominantedo mercado.Já no início dos anos 1980, o cineasta italiano MichelangeloAntonioni 23 apud Aristarco e Aristarco (1990) fazia a seguinte afirmaçãosobre esse assunto:Penso que o advento da eletrónica no cinema po<strong>de</strong>ráconfrontar-se com uma situação análoga àquela que se veioa criar, no mundo da pintura, com o advento da arteabstracta, quando milhares, <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhar <strong>de</strong> pessoas,sempre em virtu<strong>de</strong> da habitual necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seexprimirem, começaram a garatujar com as cores, convictas<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem ser artistas, muito embora <strong>de</strong>senhando apenascírculos e linhas.E só agora, à distância <strong>de</strong> anos, sabemos que aqueles quesignificaram verda<strong>de</strong>iramente algo para esta arte são sóaqueles cinco, ou <strong>de</strong>z, que todos nós conhecemos: apenasse salvaram aqueles que daquele meio conseguiram fazerverda<strong>de</strong>iramente o seu meio <strong>de</strong> expressão. Suce<strong>de</strong>rá omesmo com a eletrónica: veremos filmes feitos pelo homemda rua; o varredor pegará nos sacos <strong>de</strong> lixo e fará com eleso seu filme. Mas, tal com a arte abstracta, também para aeletrónica, que só aparentemente simplificará a profissão <strong>de</strong>autor <strong>de</strong> cinema e abrirá praticamente a todos, suce<strong>de</strong>ráque aqueles que farão autêntico cinema, mesmo – porquenão? – sobre os sacos <strong>de</strong> lixo, feitas as contas, serãopoucos, pouquíssimos. (p. 172)Na mesma linha <strong>de</strong> raciocínio temos uma afirmação bastantesignificativa <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Oliveira 24 : “A facilida<strong>de</strong> do fazer po<strong>de</strong> contribuirpara a inutilida<strong>de</strong> do que se faz”. (p.107).Não preten<strong>de</strong>mos questionar o direito, <strong>de</strong> quem quer que seja, <strong>de</strong>fazer o seu filme, mas sim a posição ingênua <strong>de</strong> quem pensa que com essetipo <strong>de</strong> filme se consegue competir com o cinema industrial americano.A ativida<strong>de</strong> cinematográfica mudou muito e, radicalmente, emalguns setores, como distribuição e exibição. No entanto, no que se refere23 Entrevista a Anna Maria Mori <strong>de</strong> Michelangelo Antonioni, in La Republica, 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 198324 Araújo, Inácio, in Machado, A. (org.). Manoel <strong>de</strong> Oliveira. São Paulo: Cosac Naify, 2005, p. 100-109.113


ao aspecto técnico <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> um filme, tais mudanças não foramsignificativas.Segundo o presi<strong>de</strong>nte do SINDCINE, Pedro Pablo Lazzarini, asmudanças maiores aconteceram na áreas <strong>de</strong> edição, trucagem emaquiagem; nas <strong>de</strong>mais áreas continua praticamente igual. Mesmo naedição, o que mudou foram os equipamentos:“Porque na parte <strong>de</strong> contar uma história não mudou nada, é igual montar emmoviola. Quem sai pela direita <strong>de</strong>ve entrar pela esquerda, senão vai dar asensação que está voltando”. (Lazzarini)Como já afirmamos anteriormente, a ativida<strong>de</strong> audiovisual noBrasil industrializou-se na publicida<strong>de</strong> e na televisão. O filme <strong>de</strong> longametragem <strong>de</strong> ficção continua com os mesmos problemas dos anos 1950. Aintegração entre esses setores só teve início muito recentemente. Portanto,sobreviver como profissional <strong>de</strong> cinema <strong>de</strong> longa metragem, no Brasil, aindaé uma aventura. Por não ter conseguido industrializar-se, esse setor gerauma constante rotativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra, dificultando a existência <strong>de</strong>profissionais especializados em suas funções. São raros aqueles queenvelhecem exercendo sempre a mesma função, aperfeiçoando-se,reciclando-se, atualizando-se.Sobre essa questão da integração do cinema com os <strong>de</strong>maissetores audiovisuais, por ocasião da criação do FAC (Fórum do Audiovisuale do Cinema), o professor Jacson Saboya, no artigo publicado noObservatório da Imprensa 25 , em 28/12/2004, faz a seguinte crítica:(...) o cinema acostumado ao paternalismo e,paradoxalmente, com voz ativa reacionária, só veio aapresentar os meios para <strong>de</strong>senvolvimento da indústria –por intermédio do Congresso Brasileiro do Cinema (CBC) –mais <strong>de</strong> meio século <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> a indústria da televisãobrasileira ter conquistado mercados locais, regionais,nacionais e internacionais. Após esse gap é que chega ocinema, pretensiosamente, capitalizando para si todos osdireitos <strong>de</strong> obter subsídios da Indústria da TV que,pejorativamente, nomearam uma ativida<strong>de</strong> audiovisual (para25 Disponível em www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br [Acesso em 10/02/2006).114


exaltar o cinema) com qualificações para além da ativida<strong>de</strong>audiovisual (?). Por “estratégia” política, o cinema está paraalém do termo genérico “audiovisual”, com po<strong>de</strong>res voláteisabstratos que só os cineastas po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>finir, qualificar e seposicionar contra a indústria da TV. A mesma indústria coma qual se aliaram para buscar subsídios na tentativa <strong>de</strong>recuperar o tempo perdido, o vácuo da história.Essa questão foi abordada nos capítulos 3 e 4 quando lembramoso exemplo <strong>de</strong> Jacques Deheinzelin, que abandonou o cinema <strong>de</strong> longametragem <strong>de</strong> ficção nos anos 1970, por não acreditar na viabilização domesmo como indústria e sim na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa concretização pelatelevisão.Com o avanço tecnológico no setor audiovisual e a mudança <strong>de</strong>perfil do mercado cinematográfico, o profissional <strong>de</strong> cinema no Brasilenfrenta o seguinte dilema: ou aperfeiçoa-se e expan<strong>de</strong> seu mercado <strong>de</strong>trabalho para outros setores, ou terá cada vez menos chance <strong>de</strong> sobreviverfazendo cinema. Sobre esse assunto, na entrevista que nos conce<strong>de</strong>u,Carlos Ebert diz o seguinte:“Hoje a gente está tendo uma mudança tecnológica muito rápida, entãoexistem ótimos profissionais com uma prática muito gran<strong>de</strong> no set, mas quenão tiveram a oportunida<strong>de</strong> nem as condições <strong>de</strong> se atualizar e <strong>de</strong> adquiriras novas tecnologias e conhecimento <strong>de</strong>ssas novas técnicas e ficam<strong>de</strong>fasados e acabam sendo marginalizados, colocados a margem domercado”.Por outro lado, os novos profissionais que entram no mercado,principalmente na área <strong>de</strong> finalização, não possuem a culturacinematográfica dos antigos que absorveram inúmeras experiências aolongo <strong>de</strong> suas carreiras como assinala José Luiz Sasso, em sua entrevista,cujo trecho reproduzimos abaixo:“Olha, antigamente, eu até sempre brinco nas várias vezes que eu converseisobre o assunto, é que a coisa era até folclórica. Ou seja, o aprendizado eratotalmente por tradição moral. Todo mundo ia explicando para todo mundo(...)Hoje na realida<strong>de</strong> como você tem um computador na sua frentepraticamente tem alguém que organiza isso que necessariamente não énada ligado a própria montagem do filme, é um burocrata em computadoresque organiza todo o material <strong>de</strong>ntro do computador e vai o montador emonta, que também muitas vezes não é montador. Porque a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>gente que está montando filmes e que não é no sentido literal da palavra os115


montadores que vieram daquela época, não estou <strong>de</strong>sprezando eles, aocontrário, só estou traçando esse paralelo, não existe mais essa carreira,que o cara começava como 3º assistente, passava para 2º até chegar a serum montador e daí para frente ele ia ser diretor. Quer dizer, o próximo passodo montador no mínimo era ser diretor ou até roteirista <strong>de</strong>vido a bagagemque ele carregava com ele. Isso sumiu.”Um dos focos da pesquisa que fizemos sobre o conteúdopedagógico dos cursos <strong>de</strong> formação do <strong>Instituto</strong> Roberto Santos, é oreferente à questão da teoria e da prática - da importância <strong>de</strong> juntar as duascoisas. Sobre o assunto, Carlos Ebert afirma o seguinte:“Eu sempre vejo a questão da formação ao mesmo tempo que vejo a dareciclagem. Inclusive a gente teria que pensar direitinho na integração<strong>de</strong>ssas duas turmas, que é fantástico, quer dizer, no final fazer algunsexercícios práticos que juntassem os dois cursos. Pegar o cara que é bomprofissional, que está se reciclando ali naquele curso <strong>de</strong> reciclagem, juntocom o cara que está se formando, enten<strong>de</strong>u. Fazer equipes com um e outro,eu acho muito bom. Eu acho que aí po<strong>de</strong> ser uma coisa muito, é eu acreditomuito nisso. Assim o lado positivo <strong>de</strong>sse sistema aí que eu chamo <strong>de</strong>corporações <strong>de</strong> ofício, o lado positivo é esse, enten<strong>de</strong>u, é você criar umaintegração humana, pessoal, <strong>de</strong> interesse entre um profissional mais velho eum jovem aprendiz. Isso é muito positivo. E eu sei porque eu <strong>de</strong>vo muito doque eu aprendi a simples observações <strong>de</strong> dois profissionais. Eu aprendimuito vendo o Wal<strong>de</strong>mar Lima, o seu Chick [Fowle], até o [Rudolf] Icsey queeu cheguei a ver, eu peguei algumas filmagens <strong>de</strong>le e tal, eu aprendi muito,praticamente sem perguntar, certo. O Wal<strong>de</strong>mar Lima eu perguntava muitoporque eu já era parte da equipe, mas os outros que eu era assim, estava lámosquiando e tal, você apren<strong>de</strong> muito. Essa interação, se você aprofundaressa interação, enten<strong>de</strong>u, criar as possibilida<strong>de</strong>s do cara perguntar, abrir umcanal <strong>de</strong> diálogo. É muito bom juntar os dois cursos nos exercícios, juntar osreciclados com os aprendizes é muito bom. Isso é uma coisa que teria quese criar uma sistemática para fazer isso mesmo”.O <strong>Instituto</strong> Roberto Santos, vinculado ao Sindicato dosTrabalhadores Cinematográficos (SINDCINE), preten<strong>de</strong> encarar esse<strong>de</strong>safio <strong>de</strong> juntar a teoria e a prática, o antigo e o novo, na formação eatualização dos profissionais que atuam no mercado e dos novosprofissionais. Enten<strong>de</strong>mos que o cinema <strong>de</strong> longa metragem <strong>de</strong> ficção aindacontinua sendo a base do aprendizado do profissional da Indústria doAudiovisual e que cada produto tem o seu valor, que temos que aproveitar116


as circunstâncias para potencializar o nosso mercado <strong>de</strong> trabalho e não nosfecharmos num gueto. Continuaremos militando pela existência do filme <strong>de</strong>longa metragem <strong>de</strong> ficção, pois temos consciência da sua importância emtodos os sentidos, mas não po<strong>de</strong>mos fugir da realida<strong>de</strong>. Para nósprofissionais cinematográficos é conveniente que tudo que tenha som eimagem seja consi<strong>de</strong>rado cinema.117


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ANEXO I1. A<strong>de</strong>recistaMonta, transforma ou duplica, utilizando-se <strong>de</strong> técnicas artesanais, objetos cenográficos e <strong>de</strong>indumentária, segundo orientação do Cenógrafo e/ou Figurinista.2. AnimadorExecuta a visualização do roteiro, mo<strong>de</strong>los dos personagens e os lay-outs <strong>de</strong> cena, conformeorientação do Diretor <strong>de</strong> Animação.3. Arquivista <strong>de</strong> FilmesOrganiza, controla e mantém sob sua guarda filmes e material publicitário em arquivosapropriados; avalia e relata o estado do material, coor<strong>de</strong>nando os trabalhos <strong>de</strong> revisão ereparos das cópias, quando possível ou necessário, com o auxílio do Revisor.4. Assistente <strong>de</strong> AnimaçãoTransfere para o acetato, os lay-outs do Animador e do Assistente <strong>de</strong> Animador.5. Assistente <strong>de</strong> AnimadorCompleta o planejamento do Animador Intercalando os <strong>de</strong>senhos; faz pequenas animações.6. Assistente <strong>de</strong> Câmeras <strong>de</strong> CinemaAssiste o Operador <strong>de</strong> Câmera e o Diretor <strong>de</strong> Fotografia; monta e <strong>de</strong>smonta a câmera <strong>de</strong>cinema e seus acessórios; zela pelo bom estado <strong>de</strong>ste equipamento. carrega e <strong>de</strong>scarregachassis, opera o foco, a zoom e o diafragma, redige os boletins <strong>de</strong> câmera, prepara o materiala ser encaminhado ao laboratório, realiza os testes <strong>de</strong> verificação <strong>de</strong> equipamento.7. Assistente <strong>de</strong> CenografiaAssiste o Cenógrafo em suas atribuições; coleta dados e realiza pesquisas relacionadas com oprojeto cenográfico.8. Assistente do Diretor CinematográficoAssiste o Diretor Cinematográfico em suas ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a preparação da produção até otérmino das filmagens; coor<strong>de</strong>na as comunicações entre o Diretor <strong>de</strong> ProduçãoCinematográfico e o conjunto da equipe e do elenco; colabora na análise técnica do roteiro,do plano e da programação diária <strong>de</strong> filmagens ou or<strong>de</strong>m do dia: supervisiona o recebimentoe distribuição dos elementos requisitados na or<strong>de</strong>m do dia; coor<strong>de</strong>na e dinamiza asativida<strong>de</strong>s, visando o cumprimento da programação estabelecida.9. Assistente <strong>de</strong> montador CinematográficoEncarrega-se da or<strong>de</strong>nação, classificação e sincronização do som e imagem do copião;Executa os cortes indicados pelo Montador Cinematográfico; classifica e or<strong>de</strong>na as sobras <strong>de</strong>som e imagem; sincroniza as diversas pistas componentes da trilha sonora do filme.10. Assistente <strong>de</strong> Montador <strong>de</strong> NegativoAssiste o Montador <strong>de</strong> Negativo em suas atribuições; prepara o material e equipamento a serutilizado; acondiciona as sobras <strong>de</strong> material.11. Assistente <strong>de</strong> Operador <strong>de</strong> Câmera <strong>de</strong> AnimaçãoAssiste o Operador <strong>de</strong> Câmera no processo <strong>de</strong> filmagem <strong>de</strong> animação.


12. Assistente <strong>de</strong> Produtor CinematográficoAssiste o Diretor <strong>de</strong> Produção Cinematográfica no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas funções.13. Assistente <strong>de</strong> Revisor e LimpadorEncarrega-se da revisão e limpeza <strong>de</strong> películas e fitas magnéticas.14. Assistente <strong>de</strong> TrucadorAssiste o Trucador Cinematográfico em suas atribuições.15. AtorCria, interpreta e representa uma ação dramática baseando-se em textos, estímulos visuais,sonoros ou outros, previamente concebidos por um autor ou criados através <strong>de</strong>improvisações individuais ou coletivas; utiliza-se <strong>de</strong> recursos vocais, corporais e emocionais,aprendidos ou intuídos, com o objetivo <strong>de</strong> transmitir ao espectador o conjunto <strong>de</strong> idéias eações dramáticas propostas; po<strong>de</strong> utilizar-se <strong>de</strong> recursos técnicos para manipular bonecos 1títeres e congêneres; po<strong>de</strong> interpretar sobre a imagem ou voz <strong>de</strong> outrem; ensaia buscandoaliar a sua criativida<strong>de</strong> à do Diretor; atua em locais on<strong>de</strong> se apresentam espetáculos <strong>de</strong>diversões públicas e/ou nos <strong>de</strong>mais veículos <strong>de</strong> comunicação.16. Auxiliar <strong>de</strong> TráfegoEncarrega-se do encaminhamento dos filmes aos seus <strong>de</strong>vidos setores.17. Cenarista <strong>de</strong> AnimaçãoExecuta os cenários necessários para cada plano, cena e seqüência da animação conforme oslay-outs <strong>de</strong> cena e orientação do Chefe <strong>de</strong> Arte e do Diretor <strong>de</strong> Animação.18. CenógrafoCria, projeta e supervisiona, <strong>de</strong> acordo com o espírito da obra, a realização e montagem <strong>de</strong>todas as ambientações e espaços necessários à cena; <strong>de</strong>termina os materiais necessários;dirige a preparação, montagem e remontagem das diversas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho. Nos filmes<strong>de</strong> longa metragem exerce, ainda, as funções <strong>de</strong> Diretor <strong>de</strong> Arte.19. CenotécnicoPlaneja, coor<strong>de</strong>na, constrói, adapta e executa todos os <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> material, serviços emontagem dos cenários, segundo maquetes croquis e plantas fornecidas pelo Cenógrafo.20. Chefe <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> AnimaçãoCoor<strong>de</strong>na o trabalho dos Coloristas e da copiadora eletrostática.21. Colador-Marcador <strong>de</strong> SincronismoTira as pontas <strong>de</strong> sincronismo, ao mesmo tempo que faz a marca do ponto sincrônico do anelanterior, colocando, por meio <strong>de</strong> emendas, o rolo <strong>de</strong> filme e <strong>de</strong> magnético em seu estadooriginal.22. Colorista <strong>de</strong> AnimaçãoCobre <strong>de</strong>senhos impressos no acetato sob a supervisão do Chefe <strong>de</strong> Arte.23. Conferente <strong>de</strong> AnimaçãoConfere o trabalho dos Coloristas; auxilia na filmagem; cuida do mapa <strong>de</strong> animação e daor<strong>de</strong>m dos <strong>de</strong>senhos e cenários, separando-os por planos e cenas.


24. Continuísta <strong>de</strong> CinemaAssiste o Diretor Cinematográfico no que se refere ao enca<strong>de</strong>amento e continuida<strong>de</strong> danarrativa, cenários, figurinos, a<strong>de</strong>reços, maquiagem, penteados, luz ambiente, profundida<strong>de</strong><strong>de</strong> campo, altura e distância da câmera; elabora boletins <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> e controla os <strong>de</strong>som e <strong>de</strong> câmera; anota diálogos, ações, minutagens, dados <strong>de</strong> câmera e horário das tomadas:prepara a claquete; informa à produção dos gastos diários <strong>de</strong> negativo e fita magnética.25. Contra-Regra <strong>de</strong> CenaEncarrega-se da guarda, conservação e colocação dos objetos <strong>de</strong> cena, sob orientação doCenógrafo.26. Cortador-Colador <strong>de</strong> AnéisCorta os trechos marcados do copião ou cópia do trabalho seguindo a numeração feita peloMarcador <strong>de</strong> Anéis.27. Diretor <strong>de</strong> AnimaçãoCria o planejamento <strong>de</strong> animação do filme, os lay-outs <strong>de</strong> cena, guias <strong>de</strong> animação,movimentos <strong>de</strong> câmera; supervisiona o processo <strong>de</strong> produção, Inclusive trilha sonora; é oresponsável pela qualida<strong>de</strong> do filme.28. Diretor <strong>de</strong> ArteCria, conceitua, planeja e supervisiona a produção <strong>de</strong> todos os componentes visuais <strong>de</strong> umfilme ou espetáculo; traduz em formas concretas as relações dramáticas imaginadas peloDiretor cinematográfico e sugeridas pelo roteiro; <strong>de</strong>fine a construção plástico-emocional <strong>de</strong>cada cena e <strong>de</strong> cada personagem <strong>de</strong>ntro do contexto geral do espetáculo; verifica e elege aslocações, as texturas, a cor e efeitos visuais <strong>de</strong>sejados, junto ao Diretor Cinematográfico e aoDiretor <strong>de</strong> Fotografia; <strong>de</strong>fine e conceitua o espetáculo estabelecendo as bases sob as quaistrabalharão o Cenógrafo, o Figurinista, o Maquiador, o Técnico <strong>de</strong> Efeitos EspeciaisCênicos, os gráficos e os <strong>de</strong>mais profissionais necessários, supervisionando-os durante asdiversas bases <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do projeto.29. Diretor <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> AnimaçãoResponsável pelo visual gráfico dos filmes <strong>de</strong> animação; cria os personagens e os cenáriosdo filme.30. Diretor CinematográficoCria a obra cinematográfica, supervisionando e dirigindo sua execução, utilizando recursoshumanos, técnico e artísticos; dirige artisticamente e tecnicamente a equipe e o elenco;analisa e interpreta o roteiro do filme. a<strong>de</strong>quando-o à realização cinematográfica sob o ponto<strong>de</strong> vista técnico e artístico; escolhe locações, cenários, figurinos, cenografias eequipamentos; dirige e/ou supervisiona a montagem, dublagem, confecção da trina musical esonora, e todo o processamento do filme até a cópia final: acompanha a confecção do"trailer", do "avant-trailer".31. Diretor <strong>de</strong> DublagemAssiste ao filme e sugere a escalação do elenco para a dublagem do filme, esquematiza aprodução, programa os horários <strong>de</strong> trabalho, orienta a interpretação e o sincronismo do Atorsobre sua imagem ou <strong>de</strong> outrem.32. Diretor <strong>de</strong> FotografiaInterpreta com Imagens o roteiro cinematográfico sob a orientação do DiretorCinematográfico; mantém o padrão técnico e artístico da Imagem; durante a preparação dofilme, seleciona e aprova o equipamento a<strong>de</strong>quado ao trabalho, indicando e/ou aprovando os


técnicos sob sua orientação, o tipo <strong>de</strong> negativo a ser adotado, os testes <strong>de</strong> equipamento;examina e aprova locações interiores e exteriores, cenários e vestuários; nas filmagensorienta o Operador <strong>de</strong> Câmera, Assistente <strong>de</strong> Câmera, Eletricistas, Maquinistas esupervisiona o trabalho do Continuísta e o do Maquiador, sob o ponto <strong>de</strong> vista fotográfico;no acabamento do filme, quando conveniente ou necessário, acompanha a cópia final, emlaboratório, durante a marcação <strong>de</strong> luz.33. Diretor <strong>de</strong> Produção CinematográficaMobiliza e administra recursos humanos, técnicos, artísticos e materiais para a realização dofilme: racionaliza e viabiliza a execução do projeto. mediante análise técnica do roteiro, emconjunto com o Diretor Cinematográfico ou seu Assistente: administra financeiramente aprodução.34. Editor ÁudioEncarrega-se da revisão e sincronização dos diálogos dublados; sincroniza as "bandasInternacionais" e marca as correções a serem feitas na mixagem.35. Eletricista <strong>de</strong> CinemaEncarrega-se da guarda, manutenção e a<strong>de</strong>quada instalação do equipamento elétrico e <strong>de</strong>iluminação do filme. distribuindo <strong>de</strong> acordo com as indicações do Diretor <strong>de</strong> Fotografia;<strong>de</strong>termina as especificações dos geradores a serem utilizados.36. FiguranteParticipa, individual ou coletivamente, como complementação <strong>de</strong> cena.37. FigurinistaCria e projeta os trajes e complementos usados pelo elenco e figuração, executando o projetográfico dos mesmos; indica os materiais a serem utilizados: acompanha, supervisiona e<strong>de</strong>talha a execução do projeto.38. Fotógrafo <strong>de</strong> CenaFotografa, durante as filmagens, cenas do filme para efeito <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> materialpublicitário; indica o material a<strong>de</strong>quado ao seu trabalho; trabalha em conjunto com o DiretorCinematográfico e o Diretor <strong>de</strong> Fotografia.39. Guarda-RoupeiroEncarrega-se da conservação das peças <strong>de</strong> vestuário utilizadas no espetáculo ou produção,auxilia o elenco e a figuração a vestir as indumentárias, organiza a guarda e embalagem dosfigurinos, em caso <strong>de</strong> viagem.40. Letrista <strong>de</strong> AnimaçãoExecuta os letreiros ou créditos para produções cinematográficas.41. Maquiador <strong>de</strong> CinemaEncarrega-se da maquiagem ou caracterização do elenco e figuração <strong>de</strong> um filme, soborientação do Diretor Cinematográfico, em comum acordo com o Diretor <strong>de</strong> Fotografia:indica os produtos a serem utilizados em seu trabalho.42. Maquinista <strong>de</strong> CinemaEncarrega-se do apoio direto ao Operador <strong>de</strong> Câmera, Assistente <strong>de</strong> Câmera e Eletricista noque se refere ao material <strong>de</strong> maquinaria; instala e opera equipamentos <strong>de</strong>stinados à fixaçãoe/ou movimentação da câmera.


43. Marcador <strong>de</strong> AnéisExecuta a marcação dos anéis <strong>de</strong> dublagem, no copião ou cópia <strong>de</strong> trabalho.44. MicrofonistaAssiste o Técnico <strong>de</strong> Som; monta e <strong>de</strong>smonta o equipamento, zelando pelo seu bom estado;posiciona os microfones; confecciona os boletins <strong>de</strong> som.45. Montador do Filme CinematográficoMonta e estrutura o filme, em sua forma <strong>de</strong>finitiva, sob a orientação do DiretorCinematográfico, a partir do material <strong>de</strong> imagem e som usando seus recursos artísticos,técnicos e equipamentos específicos: zela pelo bom estado e conservação das pistas sonoras,faz o plano <strong>de</strong> mixagem, participando da mesma; orienta o Assistente <strong>de</strong> Montagem.46. Montador <strong>de</strong> NegativoMonta negativos <strong>de</strong> filmes cinematográficos a partir do copião montado, respeitando oscortes e marcação do Montador <strong>de</strong> Filme Cinematográfico.47. Operador <strong>de</strong> CâmeraOpera a câmera cinematográfica a partir das instruções do Diretor Cinematográfico e doDiretor <strong>de</strong> fotografia: enquadra as cenas do filme: indica os focos e os movimentos <strong>de</strong> zoome câmera.48. Operador <strong>de</strong> Câmera <strong>de</strong> AnimaçãoFilma os <strong>de</strong>senhos em equipamento especial, responsabilizando-se pela qualida<strong>de</strong> fotográficado filme.49. Operador <strong>de</strong> GeradorEncarrega-se da manipulação e operação do gerador e corrente elétrica durante as filmagens.50. Pesquisador CinematográficoColeta e organiza dados e materiais, <strong>de</strong>senvolve pesquisas no sentido <strong>de</strong> preservação damemória .cinematográfica, sob qualquer forma, quer fílmica, bibliográfica, fotográfica eoutras.51. Projecionista <strong>de</strong> LaboratórioOpera projetor cinematográfico especialmente preparado para os trabalhos <strong>de</strong> estúdio <strong>de</strong>som.52. Revisor <strong>de</strong> filmeExecuta a revisão e reparo das cópias <strong>de</strong> filmes, verificando as condições materiais dasmesmas, sob coor<strong>de</strong>nação do Arquivista <strong>de</strong> Filmes.53. Roteirista <strong>de</strong> AnimaçãoCria, a partir <strong>de</strong> uma idéia, texto ou obra literária, sob a forma <strong>de</strong> argumento ou roteiro <strong>de</strong>animação, narrativa com seqüências <strong>de</strong> ação, com ou sem diálogos, a partir do qual se realizao filme <strong>de</strong> animação.54. Roteirista CinematográficoCria, a partir <strong>de</strong> uma idéia, texto ou obra literária, sob a forma <strong>de</strong> argumento ou roteiro <strong>de</strong>animação, narrativa com seqüências <strong>de</strong> ação, com ou sem diálogos, a partir do qual se realizao filme <strong>de</strong> animação.


55. Técnico em Efeitos Especiais CênicosRealiza e/ou opera, durante as filmagens, mecanismos que permitem a realização <strong>de</strong> cenasexigidas pelo roteiro cinematográfico, cujo efeito dá ao expectador convencimento da açãopretendida pelo Diretor Cinematográfico.56. Técnicos em Efeitos Especiais ÓticosRealiza e elabora trucagens, durante as filmagens, com acessórios complementares à câmera,e sem a utilização <strong>de</strong> laboratório e <strong>de</strong> imagens ou truca.57. Técnico <strong>de</strong> Finalização CinematográficaAcompanha as trucagens e faz o tráfego <strong>de</strong> laboratório, supervisionando a qualida<strong>de</strong> domaterial trabalhado, na área do filme publicitário.58. Técnico <strong>de</strong> Manutenção EletrônicaEncarrega-se da conservação, manutenção e reparo do equipamento eletrônico <strong>de</strong> um estúdio<strong>de</strong> som.59. Técnico <strong>de</strong> Manutenção <strong>de</strong> Equipamento CinematográficoResponsável pelo bom andamento das máquinas, com profundo conhecimento <strong>de</strong> mecânicae/ou eletrônica cinematográfica.60. Técnico-Operador <strong>de</strong> MixagemEncarrega-se <strong>de</strong> reunir em uma única pista, todas as pistas sonoras <strong>de</strong> um filme, apóssubmetê-las a vários processos <strong>de</strong> equalização sonora.61. Técnico <strong>de</strong> SomRealiza a interpretação e registro durante as filmagens, dos sons requeridos pelo DiretorCinematográfico, indica o material a<strong>de</strong>quado ao seu trabalho e a equipe que o assiste;examina e aprova do ponto <strong>de</strong> vista sonoro, as locações internas e externas, cenários efigurinos, orienta o Microfonista, acompanha o acabamento do filme, a transcrição domaterial gravado para magnético perfurado, a mixagem e a transcrição ótica.62. Técnico em Tomada <strong>de</strong> SomRealiza a gravação <strong>de</strong> vozes ruídos e músicas, em estúdio <strong>de</strong> som; opera a mesa <strong>de</strong> gravação;executa equalizações sonoras.63. Técnico em Transferência SonoraRealizam a transferência <strong>de</strong> sons gravados em discos, fitas magnéticas ou óticas para fitasmagnéticas ou negativo ótico; realiza testes <strong>de</strong> ajuste do equipamento e da qualida<strong>de</strong> donegativo ótico revelado.64. Trucador CinematográficoExecuta trucagens óticas, realizando efeitos <strong>de</strong> imagem <strong>de</strong>sejados pelo DiretorCinematográfico; opera o equipamento <strong>de</strong>nominado "truca".


ANEXO IIPERFIS DOS ENTREVISTADOSETRECHOS DAS ENTREVISTAS


PERFIL (1)Francisco Ramalho JúniorDiretor, Produtor e Roteirista <strong>de</strong> longa metragemFormação na Área:AutodidataAtivida<strong>de</strong>s Profissionais:• Em 1983, fundou a Francisco Ramalho Jr Filmes Ltda, para dar suportea seus projetos pessoais.• Associou-se a Hector Babenco na HB Filmes Ltda. nos anos oitenta, sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ter suaempresa, a Francisco Ramalho Junior Filmes Ltda..• É professor palestrante na Fundação Getúlio Vargas no curso <strong>de</strong> extensão universitária Film &Television International Business.Principais Realizações:Diretor e Roteirista:CANTA MARIA (2006)"BESAME MUCHO" (87)"FILHOS E AMANTES" (81)"PAULA, HISTORIA DE UMA TERRORISTA" (78)"CARAMURU" (77)"O CORTIÇO" (77). "À FLOR DA PELE" (76)"SABENDO USAR NÃO VAI FALTAR"(75)"ANUSKA, MANEQUIM E MULHER" (68)Produtor & Produtor Executivo:“O CASAMENTO DE ROMEU E JULIETA” (2005)“JOGO SUBTERRÂNEO” (2003/5)"CRISTINA QUER CASAR" (2002/2003)"CORAÇÃO ILUMINADO" (97/98)"BRINCANDO NOS CAMPOS DO SENHOR" (90/91)"O BEIJO DA MULHER ARANHA" (83/84)"DAS TRIPAS CORAÇÃO"(81)"OS AMANTES DA CHUVA" (79)Consultor <strong>de</strong> Produção:"MOON OVER PARADOR" (86)direção <strong>de</strong> Paul Mazursky para a Universal-USA/ MCI Brasil, com Richard Dreyfuss, Sonia Bragae Raul Julia."SAMBA" (86)direção <strong>de</strong> Bob Raphaelson para uma produção <strong>de</strong> Lou Adler-USAnão filmado, mas com cenas <strong>de</strong> segunda unida<strong>de</strong> realizadas no Rio."HEAVEN SENT" (85)direção <strong>de</strong> Richard Lester para a Embassy-GB.


não filmado apesar <strong>de</strong> ter as locações escolhidas e <strong>de</strong>finidas no Brasil.“THE MISSION" (84)direção <strong>de</strong> Roland Joffé para a Goldcrest-England, filmado na Colombia, com Robert <strong>de</strong> Niro.“THE EMERALD FOREST" (83)direção <strong>de</strong> John Boorman para a Goldcrest-England, filmado no Pará e Rio <strong>de</strong> Janeiro.Produtor Teatral:1995 - 'EU ME LEMBRO" - peça teatral dirigida por Ulysses Cruz, com Irene Ravache. Escritapor Geraldo Mayrink & Fernando Moreira Salles.1994 - "REPETITION" - peça teatral dirigida por Flávio <strong>de</strong> Souza, com Xuxa Lopes, Flávio <strong>de</strong>Souza e Elias Andreato. Escrita por Flávio <strong>de</strong> Souza.1992 - "A MORTE E A DONZELA" - peça teatral dirigida por José Wilker, com Tony Ramos,Xuxa Lopes e Otávio Augusto. Escrita por Ariel Dorfman. Prêmio Shel Melhor Atriz do Ano (XuxaLopes).Prêmios Nacionais e Internacionais em Filmes <strong>de</strong> Sua Direção"BESAME MUCHO":- Prêmio "Colombo <strong>de</strong> Ouro", Melhor Filme no Festival Iberoamericano <strong>de</strong> Huelva, Espanha, 87- Menção Honrosa da Radio España no Festival Iberoamericano <strong>de</strong> Huelva, Espanha, 87- Prêmio <strong>de</strong> Melhor Roteiro (escrito em parceria com Mario Prata) em Festival <strong>de</strong> Cinema <strong>de</strong>Cartagena, Colômbia, 87- Prêmio <strong>de</strong> Melhor Roteiro (escrito em parceria com Mario Prata) no Festival <strong>de</strong> Havana, Cuba, 87.- Prêmio <strong>de</strong> Melhor Roteiro (escrito em parceria com Mario Prata) em no Festival <strong>de</strong> Gramado,Brasil, 87."À FLOR DA PELE" (76):Festival <strong>de</strong> Cinema Brasileiro <strong>de</strong> Gramado, 77- Melhor Filme- Melhor Atriz (Denise Ban<strong>de</strong>ira)- Melhor Roteiro (Francisco Ramalho Jr).- Prêmio Moliére (Melhor Atriz Denise Ban<strong>de</strong>ira)“ANUSKA, MANEQUIM E MULHER” (68):- Prêmio APCA melhor trilha musical.TRECHOS DAS ENTREVISTAS REALIZADAS EM 07/09/2005 E 18/01/2006:COMO INICIOU NO CINEMA:Por amor, exclusivamente, por amor! Estudava engenharia, e <strong>de</strong> tanto ver e ler sobre cinema, fiz aescolha! Filmei alguns curtas em 8mm, fui trabalhar na Cinemateca Brasileira, convivendo comPaulo Emílio Salles Gomes e Rudá Andra<strong>de</strong>, entre outros, li mais sobre cinema, vi mais filmes, e ,logo fiz meu primeiro trabalho como profissional, i.é., recebendo salário. Assim, minha formaçãofoi totalmente autodidata, e até hoje, continuo a estudar o exercício <strong>de</strong> minha profissão além <strong>de</strong>tentar exercê-la 24h dia.


VIVER DE CINEMA NO BRASIL:É terrível, cada vez mais terrível, pois a profissão inexiste. Após tantos anos <strong>de</strong> trabalho, nãoacumulei nenhuma poupança, tenho dívidas pessoais, e cada vez é mais difícil tentar trabalhar.Mais, com o crescimento da <strong>de</strong>fesa da não profissionalização, complica-se mais a tentativa <strong>de</strong>exercer-se como profissional. Explico-me, ao dizer "crescimento da <strong>de</strong>fesa da nãoprofissionalização" significo: continuamente a 'media' cobra que os filmes por serem incentivados,<strong>de</strong>vam ser amortizados no mercado, fato que é impossível a uma cinematografia que se exprime emportuguês (o que indica, ser praticamente sem qualida<strong>de</strong> no mercado internacional) e se <strong>de</strong>stina ummercado interno com menos <strong>de</strong> 2.000 salas <strong>de</strong> exibição! E acrescento que surgem continuamente esão tantos e tantos os filmes <strong>de</strong> baixo orçamento ou obrigados a serem feitos com recursosinferiores aos orçados por não conseguirem captar incentivos, que, numa análise fria, é um<strong>de</strong>srespeito aos que tentam neles trabalhar pois neles sempre existe a mendicância e a esmola comofazer <strong>de</strong> graça, trabalhar <strong>de</strong> favor ou associado cooperativamente, ainda que o custo do negativo ,das cópias, <strong>de</strong> equipamentos, etc., sejam sempre os mesmos e dolarizados - e, esses filmes quaseque sempre e no geral, serão produtos <strong>de</strong> baixas qualida<strong>de</strong>s comerciais, não atingindo mínimopúblico (quando atingem 50.000 espectadores são consi<strong>de</strong>rados sucessos mas não passam <strong>de</strong> fogofátuo ) - e isso menos estabelece a profissão mas sim contribui para <strong>de</strong>saparecer a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>nascer um mercado <strong>de</strong> trabalho, e com ele a profissão. Penso que no Brasil, um país <strong>de</strong> periferiamundial, o cinema é um meio <strong>de</strong> expressão que só po<strong>de</strong> ser produzido com incentivo estatal, e<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> exclusivamente <strong>de</strong> nossos governos, quererem ou não a (sua) existência do cinemabrasileiro. Sem incentivo, é sua morte!. Com incentivo, é o registro civilizatório da socieda<strong>de</strong>brasileira - uma chanchada ou um filme <strong>de</strong> Mazzaropi, tem um registro <strong>de</strong> nosso país que não hásimilar em outros meios.SOBRE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NO CINEMA BRASILEIRO:Difícil, difícil. Conheço tantos jovens ingressando em cinema, e que, logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> trabalharem em2, 3 filmes sem remuneração ou com tão pouca remuneração, saem do cinema, e vão buscar outrasalternativas, como a publicida<strong>de</strong>, a TV, ou se afastam <strong>de</strong> vez. E os poucos que ficam, como po<strong>de</strong>rãose qualificar, recebendo pouco e trabalhando pouco. Enfim, viram adultos e têm que sobreviver <strong>de</strong>seu trabalho! E a questão não é estabelecer pisos salariais ou horas trabalhadas, ou seguros, ououtras proteções - pois são falsas essas premissas não havendo uma base <strong>de</strong> exercício profissional -em cinema, chega a ser vergonhosa a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguém querer ganhar dinheiro trabalhando como énormal e sadio se <strong>de</strong>sejar em qualquer outra profissão, i.é., querer ganhar dinheiro exercendo suaprofissão. (...) Creio que nos próximos anos será muito difícil existir "profissionais <strong>de</strong> cinema" noBrasil. Obviamente, aqueles que po<strong>de</strong>m e sobrevivem fazendo filmes publicitários e dão suas'escapadinhas' no cinema, continuarão a existir.SOBRE A FORMAÇÃO DE ASSISTENTE DE DIREÇÃO E CONTINUISTA:São Paulo também está isolado <strong>de</strong> porto que recebe produção <strong>de</strong> fora e o aprendizado forte comassistente <strong>de</strong> direção é fazer produção estrangeira que aí ele vê direitinho as funções etc., comoqualquer um vai ver. A continuísta também vai apren<strong>de</strong>r como é que se faz aquilo, tempouquíssimas continuístas no Brasil que po<strong>de</strong>m ser chamadas no script supervise, enten<strong>de</strong>r issoclaramente, enten<strong>de</strong>. Eu acho que aqui em São Paulo há uma pessoa que faz isso e no Rio tem duasque eu conheço. Todas que eu conheço pára por aí. Po<strong>de</strong> ser que esteja nascendo alguém que eu nãosaiba, você enten<strong>de</strong>u. Então há elementos que eu chamaria assim se é para se formar alguém aminha leitura é formar num nível tal se aterrissar um grupo estrangeiro aquele cara po<strong>de</strong> se integrare querer saber as suas funções ali e executá-las a risco. Ninguém vai ter que explicar para ele, olhavocê é cabo, você vai limpar o banheiro, você vai fazer isso e etc. Ele sabe que aquilo é função <strong>de</strong>le,tem que ir daqui até lá. Se não passar essa informação para aquele grupo o filme não é feito. Porqueno cinema todo mundo é vital. Caiu um cai, cai todos enten<strong>de</strong>. O boy do set caiu, cai todo mundo,você enten<strong>de</strong>. Então não há a diferença social. Fica todo mundo num pé <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mesma


importância. Obviamente falando do maior tá na tela, o ator, a atriz, etc., esses insubstituíveis.Quando há a intervenção <strong>de</strong> um filme estrangeiro, sai a equipe técnica inteira mas quem está nafrente da câmera fica, sabe, o ator A, a atriz B, etc., ficam. Então vários elementos assim que euacho que teriam que ser pautados e pensados muito sabiamente como fazer isso. As vezes você pegaum aluno da ECA por exemplo, o aluno tem uma formação teórica profunda, as vezes até torta,porque foi <strong>de</strong>formado o mo<strong>de</strong>lo que o professor falou lá, mas ele sabe, mas quando você chega paraele vamos fazer isso ele não tem qualificação <strong>de</strong> fazer aquilo, <strong>de</strong> fazer , enten<strong>de</strong>. Quando você falaassim, conhece esse tal programa, programa <strong>de</strong> computador, software, o cara acha que é umaagressão contra ele, mas o programa está alí para ele ser melhor.SOBRE O ASSISTENTE DE DIREÇÃO:Eu acho impossível um assistente <strong>de</strong> direção hoje ser assistente <strong>de</strong> direção se ele não conhecer omovie magic. Se você não sabe isso, bye, bye, bye e mais lamentavelmente ele <strong>de</strong>ve ter um po<strong>de</strong>raquisitivo para ter um lap top com o seu movie magic. Que é como o médico que chegou semestetoscópio, Ah, você não tem estetoscópio? Não. Então eu vou contratar o outro que ele tem.Porque eu não vou po<strong>de</strong>r comprar um computador e dar para ele para ele fazer. E isso é comum,você encontrar pessoas que não conhecem e que não precisam daquilo. Então que raio <strong>de</strong> assistenteé esse. Como é que ele vai fazer um mapa, como é que vai fazer um x, sabe. (...)Não há assistente<strong>de</strong> direção em São Paulo é uma mentira. Há assistente <strong>de</strong> direção genericamente falando, ok.A FUNÇÃO DO DIRETOR DE PRODUÇÃO:A primeira coisa <strong>de</strong> diretor é uma leitura correta do roteiro. Tem que saber ler bem o roteiro. O queé ler bem o roteiro? Ele vai ver que duas, três cenas ou seqüências, vão ter graves problemas paraachar locação para isso, para aquilo. Ele vai ler o roteiro e já me trazer questões que ele viu naqueleroteiro. A primeira coisa ele tem que conhecer, todo mundo tem que conhecer bem o roteiro. O queé o básico, nós estamos trabalhando. Tem que conhecer muitíssimo bem o que é uma análise técnicae agregar elementos a análise técnica que um assistente <strong>de</strong> direção vai formando, que todos os<strong>de</strong>partamentos vão pondo lá as suas peças que a análise vai ficando cada vez maior para ele passarisso para <strong>de</strong>pois ele po<strong>de</strong>r cobrar.


PERFIL (2)Pedro Pablo LazzariniDiretor <strong>de</strong> FotografiaFormação na área:AutodidataExperiência Profissional:- Início <strong>de</strong> carreira com Juan José Stagnaro, diretor e diretor <strong>de</strong> fotografia, <strong>de</strong> cinema publicitário;assistente <strong>de</strong> fotografia no longa “Juan Lamaglia e Sra”, <strong>de</strong> Juan Stagnaro, dirigido por Raul <strong>de</strong>La Torre, ganhando prêmio Ópera Prima do festival <strong>de</strong> Mar <strong>de</strong>l Plata.- Primeiro longa em 1970, como Diretor <strong>de</strong> Fotografia, “Las dos Culpas <strong>de</strong> Bettina”,dirigido porIgnacio Tankel.- Em 1972, contratado, como Diretor <strong>de</strong> Fotografia, pela Zodíaco Filmes produtora <strong>de</strong> comerciaisdo Rio <strong>de</strong> Janeiro. Dessa época, até hoje, realizou mais <strong>de</strong> 1500 comerciais sendo premiadovárias vezes como a melhor fotografia pelo prêmio “Colunistas”.- Em Abril <strong>de</strong> 2001 assumo a Presidência do SINDCINE - Sindicato dos Trabalhadores <strong>de</strong>Cinema <strong>de</strong> SP.Principais realizações como Diretor <strong>de</strong> Fotografia:Longas metragem, como Diretor <strong>de</strong> Fotografia:- “Las dos culpas <strong>de</strong> Betina” - 1970 – Ignacio Tankel - Buenos Aires Argenmtina- “Fuscão Preto” dirigido por Jeremias Moreira.- “Jogo Duro” - 1983 primeiro Longa <strong>de</strong> ficção <strong>de</strong> Ugo Georgetti- “O Príncipe” - 2001 <strong>de</strong> Ugo Georgetti.- “Boleiros 2” - 2005 <strong>de</strong> Ugo GeorgettiTRECHOS DA ENTREVISTA REALIZADA ABRIL/2006COMO INICIOU NO CINEMA:Eu me envolvi, porque casei com uma diretora <strong>de</strong> produção. Eu estudava teatro, arte dramática, eentrando em um estúdio, fiquei fascinado pela forma <strong>de</strong> trabalho. Equipe afiada, e era magico vercomo se transformava o estúdio numa sala, como ficava aquele espaço parecendo uma outra coisa,cheia <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> luz, parecia que entrava o sol pelas janelas, e era sol <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> quando você via apelícula revelada e projetada, ai percebi que queria ser Diretor <strong>de</strong> Fotografia. Estou fazendo 40 anos<strong>de</strong> profissão, e ainda não consegui encontrar algo que me interessasse mais.MUDANÇAS TECNOLÓGICAS OBSERVADA NOS ANOS DE EXPERIÊNCIA:Eu não acho gran<strong>de</strong>s mudanças na técnica, só encontrei gran<strong>de</strong>s mudanças na maquiagem, natrucagem, e na edição. Na edição, na parte operacional, porque na parte <strong>de</strong> contar uma historia nãomudou nada, é muito igual a montar com moviola, quem sai pela direita <strong>de</strong>ve entrar pela esquerda,senão vai dar sensação que está voltando. O ritmo da montagem <strong>de</strong>ve ser respeitado, como quandose montava com moviola, senão a historia é incompreensível, vira todo um gran<strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o clip.Gran<strong>de</strong>s diretores que enten<strong>de</strong>m muito <strong>de</strong> montagem, tipo Carlos Manga po<strong>de</strong> muito bem montarcom um montador eletrônico, porque ele sabe on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve cortar.


MERCADO DE TRABALHO:Em países como Brasil, on<strong>de</strong> o cinema não é uma industria, a publicida<strong>de</strong> é a que mais te <strong>de</strong>ixaexperimentar e trabalhar com a tecnologia <strong>de</strong> ultima geração, as melhores câmeras, as melhoreslentes, as melhores pós-produção, isto é o que diferencia principalmente do longa, que cada vez éfeito com menos recursos. A TV oferece uma forma mais contínua <strong>de</strong> trabalho, ela esta produzindosempre, por isso o técnico acaba tendo mais treino, a Globo esta sempre produzindo novelas, oDiretor <strong>de</strong> Fotografia esta sempre trabalhando, e se você prestar atenção as novelas da Globo temcada vez melhor qualida<strong>de</strong> técnica.VIVER DE CINEMA:Viver <strong>de</strong> cinema é incerto, muito incerto, apesar dos gran<strong>de</strong>s caches que se pagam na publicida<strong>de</strong>,porque estes caches são para uns poucos, a gran<strong>de</strong> maioria sobrevive, como sobrevive qualquer cara<strong>de</strong> classe media no Brasil, sem ferias, sem décimo terceiro, sem aposentadoria, sem plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,este <strong>de</strong>ve ser custeado pelo próprio técnico, saindo do cache.PARTICIPAÇÃO DA CATEGORIA NA ORGANIZAÇÃO SINDICAL:Num pais como Brasil, o sindicato é consi<strong>de</strong>rado pelos trabalhadores como uma simples associação,que é esperado tudo <strong>de</strong>le. Ninguém participa, nem política ou socialmente, o sindicato é umaassociação que o técnico espera sempre que consiga um bom acordo salarial. Ninguém vê comouma entida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>( e <strong>de</strong>ve) prestar outros serviços, como, ensino, preparo, informações, etc.Ninguém vê o sindicato como um ente que pertence ao técnico a maioria pensa que é um ente que<strong>de</strong>ve resolver os problemas, mais a participação é mínima.O FUTURO DA PROFISSÃO:O futuro é muito incerto, porque nos países sub<strong>de</strong>senvolvidos é muito difícil produzir arte em geral.Pintor, ator, bailarino, cantor, são profissões que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m muito da sorte, e o cinema não é muitodiferente. Para se fazer um longa você precisa ter vários predicados, tem que ser um poucoempresário, um pouco aventureiro, arrojado, não só ser bom diretor, o bom fotografo, você <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><strong>de</strong> vários fatores.


PERFIL (3)Miguel Ângelo dos Santos CostaTécnico <strong>de</strong> Som DiretoFormação na área:AutodidataAtivida<strong>de</strong> Profissional:• 1960/1961 – Assistente <strong>de</strong> montagem J. Filmes (Produtora <strong>de</strong> filmes publicitários edocumentários).• 1962/1968 – Responsável Depto. <strong>de</strong> Som <strong>de</strong> J. Filmes (São Paulo).• 1963 – Roteiro e direção do curta metragem “ A 5ª Feira do Sr. X” (cópia existente nacinemateca <strong>de</strong> São Paulo).• 1967/1968 – Trilha e edição sonora do curta-metragem “Fragmentos” direção <strong>de</strong> Sérgio Tofani(Filme premiado pelo antigo INCE – <strong>Instituto</strong> Nacional <strong>de</strong> Cinema).• 1968/1969 – Som e montagem do documentário “Estudantes” Direção Peter Overbeck – Filmeselecionado no Festival Dei Populi – Florença – Itália.• 1970 – Responsável por transcrições óticas STÚDIO 2 – São Paulo.• 1971/1973 – Som direto para documentários e reportagens <strong>de</strong> Chile Filmes – Empresa Estatal(Santiago – Chile).• Som direto para o longa-metragem “Manoel Rodrigues” – Direção Patrício Gusmán (Chile).• Som direto para documentário “Ilha <strong>de</strong> Páscoa” – Direção Jorge Fajardo, para Chile Filmes.• Sonorização e edição <strong>de</strong> “Noticieros” Filmes/Reportagens Semanais para cinemas – DireçãoEduardo Labarca – para Chile Filmes.• Som direto para o documentário “El Páro” (distribuído internacionalmente com outro nome) –Direção Patrício Gusmán – Chile Filmes.• Som direto para o documentário “O outro lado” (nome provisório) – Direção Raul Ruiz• 1973 – Som direto para o documentário “Avenidas <strong>de</strong> América” – Direção do peruano JorgeReyes – Chile.• 1974/1979 – Som direto <strong>de</strong> documentários e reportagens para Rádio Televisão Francesa –ORTF – TF3 em Paris, Bry-Sur-Marne, Caen, Rouen, Bor<strong>de</strong>aux. Para as produtoras Images <strong>de</strong>France – Paris, Techniques Cinema Television-Levallois, RCF – Boulogne.• 1980/2000 - Som direto para filmes e VTs <strong>de</strong> comerciais (filmes publicitários) para asprincipais produtoras <strong>de</strong> filmes publicitários <strong>de</strong> São Paulo.• 1982/1999 – CURTAS METRAGENS E DOCUMENTÁRIOS:• Som direto para o documentário “Ro<strong>de</strong>io em Vacaria” – Direção Valdi Ercolani – São Paulo• Som direto para “A classe que sobra” – Direção Peter Overbeck – Filme premiado com aPomba <strong>de</strong> Prata – Festival Leipzg – Alemanha• Som direto para “Televisão no Mundo” para RAI – Televisão Italiana (parte realizada noBrasil).• Som direto para “Profissão Travesti” – Direção Olívio Tavares – Curta-metragem premiado emGramado.• Som direto para “Mary Jane” – Direção Toni <strong>de</strong> Souza.• Som direto para “Terra Devastada” – Direção Peter Overbeck – Filme premiado no Festival <strong>de</strong>Leipzg – Alemanha.• 12ª Jornada <strong>de</strong> Cinema e Ví<strong>de</strong>o do Maranhão – Dezembro 1989 – Prêmio <strong>de</strong> Som.• Som direto para “São Luis <strong>de</strong> Paraitinga” – Direção <strong>de</strong> Ugo Giorgetti


• Documentário “Zoológico” – Direção Silvio Vieira Coelho (exibido em congressosespecíficos).• “São Paulo, uma outra cida<strong>de</strong>” – Direção Ugo Giorgetti (para TV Cultura – SP).Programas <strong>de</strong> TV• Março a Junho <strong>de</strong> 89 – som direto para programas <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o para re<strong>de</strong> Manchete <strong>de</strong> Televisão,Mauricio <strong>de</strong> Souza (cartoonista) – Ministério da Educação – São Paulo.• Programas Sertanejos durante 6 meses – “Produção Sérgio Reis” para a TV Manchete – DireçãoPaulo Trevisan – São Paulo.Longas Metragens - 1980/1999• “PS – Post Scriptum” – Som direto – Direção Romain Lesage – SP• “Jogo Duro” – Som direto – Direção Ugo Giorgetti (Prêmio Melhor Som Direto – Festival <strong>de</strong>Brasília 1985) – SP.• “Festa” – Som direto - Direção Ugo Giorgetti (Filme premiado em Festival <strong>de</strong> Gramado-RS) –SP.• “Sábado” – Som direto - Direção Ugo Giorgetti• “Boleiros. Era uma vez o futebol” – Som direto - Direção Ugo Giorgetti.• “16060” – Som direto - Direção Vinicius Mainardi – SP• “A gran<strong>de</strong> noitada” – Som direto - Direção Denoy <strong>de</strong> Oliveira – SP• “Os matadores” – Som direto - Direção Beto Brant – SP/MS• “Alô” – Som direto – Direção Mara Mourão – SP• “Cin<strong>de</strong>rela Baiana” – Som direto – Direção Conrado Sanchez – BA/SP• “Domésticas” – Som direto (segunda unida<strong>de</strong>) – Direção Fernando Meirelles – SP.• 2000/2003 – “Latitu<strong>de</strong> Zero” – Som direto - Direção Tony Venturi – MT/SP – (Prêmio MelhorSom Direto – 5º Brazilian Film Festival of Miami – USA – 2001).• “O Príncipe” – Som direto - Direção Ugo Giorgetti – SP• “Expresso para Aainhangaba" – Som direto – Direção Toni <strong>de</strong> Souza – SP• “A Ilha do Terrível Rapa-Terra” – Som direto – Direção Ariane Porto (exibição provável em2006).Outras Ativida<strong>de</strong>s• 1971/1973 – Professor <strong>de</strong> sonorização <strong>de</strong> filmes – Universida<strong>de</strong> do Chile – Santiago/Valparaiso– Chile.


• 1998 – Professor <strong>de</strong> Som para filmes e ví<strong>de</strong>os – ESPM – Escola Superior <strong>de</strong> Propaganda eMarketing – SP• Des<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1988 – Professor <strong>de</strong> Direção <strong>de</strong> Som – FAAP – Curso <strong>de</strong> Cinema (Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Comunicação Armando Álvares Penteado).TRECHOS DA ENTREVISTA REALIZADA EM 29/08/2005COMO COMEÇOU NO CINEMA:Como várias profissões, acho que nem todas, mas várias é por você gostar <strong>de</strong> alguma coisa. No caso<strong>de</strong> cinema para mim, não foi nem o gostar, foi a paixão que eu tinha por cinema <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eu consegui ver o meu primeiro filme.VIVER DE CINEMA:(...) eu posso dizer que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1960 vivo <strong>de</strong> cinema. O tempo que estive fora do Brasil, trabalhei noChile e na França, eu vivi <strong>de</strong> cinema. A minha profissão no caso, Técnico <strong>de</strong> som direto, que é oprofissional que faz as gravações dos diálogos durante a filmagem, essa é a minha profissão. Entãoalém <strong>de</strong> gostar <strong>de</strong> cinema, ver filmes, enfim isso eu vi <strong>de</strong>mais, foi a minha maneira <strong>de</strong> viver, ouseja, meu sustento e da minha família foi o cinema (...) hoje eu dou aula em duas faculda<strong>de</strong>s naFAAP e na FMU e dou aula justamente na minha matéria, na função que eu conheço que é som emcinema, ou seja, eu continuo trabalhando em cinema, vivendo <strong>de</strong> cinema e gostando <strong>de</strong> cinema.RELAÇÃO EMPREGADO/EMPREGADOR NO CINEMA BRASILEIRO:... além do mais há uma coisa que me surpreen<strong>de</strong>u no ambiente <strong>de</strong> cinema. Eu, como você sabe, souuma pessoa que penso muito politicamente também, não é? Eu sou, eu tenho um pensamento <strong>de</strong>esquerda e o que me surpreen<strong>de</strong>u bastante, principalmente <strong>de</strong>pois que eu estive fora do Brasil evoltei, é que o meio do cinema que eu pensei que fosse um meio muito mais aberto, tudo, não é. Eleé extremamente reacionário, conservador, certo? Tanto que eu vejo os filmes com tendências <strong>de</strong>esquerda com alguns problemas sociais e tal, eu me pergunto sempre se as pessoas que fizeramaquele filme, pensaram realmente nisso ou o fizeram porque isso vai dar bilheteria enten<strong>de</strong>u? Eutenho até uma certa reserva com relação a alguns filmes que abordam problemas sociais mas que agente sabe que o realizador tal, não tem nada a ver com aquilo, nada, nada nem <strong>de</strong> pensamentomuito menos <strong>de</strong> vivência não é? Então eu senti muita resistência mesmo, porque eu sempre<strong>de</strong>monstrei esse pensamento, sempre reagi ao que eu achava que era injusto. Eu acho, vamos dizer,que o profissional <strong>de</strong> cinema aqui ele não é muito protegido assim pelas Leis. Ele não é muitoprotegido. Além disso, tem a questão <strong>de</strong> que você trabalha com produtoras, produtoras <strong>de</strong>comerciais, por exemplo, que elas as vezes instituem algumas regras que nem são cumpridas porelas mesmas. Quer dizer, você tem dois caminhos: ou você aceita isso assim, calmamente tal, semrevolta nada, ou você começa a falar, a condicionar essas coisas, e isso torna o caminho que já não éfácil, mais difícil ainda. E eles ou o concorrente fazem qualquer coisa para te <strong>de</strong>smoralizar. Po<strong>de</strong>dizer que você não é um bom profissional, então eu não sei bem que imagem eu tenho. Segundo osmeus colegas alguns mais antigos dizem que eu tenho uma imagem <strong>de</strong> respeito entre eles, mas nãosei se é isso, se é essa imagem que eu tenho junto a produtores tudo mais. Para você ter uma idéia,quando a diretoria do SATED ia tomar posse, no início dos anos 80, com a Ester Góes comopresi<strong>de</strong>nte, eu acho que você fazia parte <strong>de</strong>ssa diretoria não é? Da Ester Góes?(...)Eu tava alí já frequentando o Sindicato, eu levei um convite a um estudio <strong>de</strong> som que era o únicoque tinha. Um convite porque eu achei normal que seria isso, porque eu estava a pouco tempo <strong>de</strong>volta ao Brasil. Eu pensava que tendo acabado a ditadura, que isso aqui teria outra cabaça, mais


aberta. Mas quando eu fui entregar o convite na recepção, ao lado da recepcionista tava o dono doestúdio, ele perguntou o que quê é isso? Eu disse: é um convite para posse da nova diretoria doSindicato. Ele pegou, rasgou o convite, jogou no lixo e disse: eu o<strong>de</strong>io Sindicatos! Porque eu eratécnico <strong>de</strong> som, eu achei que seria normal divulgar esse evento nas produtoras(...) Ou estúdios <strong>de</strong> som <strong>de</strong> cinema que aceitariam um convite <strong>de</strong>sses e até participariam <strong>de</strong> umaposse <strong>de</strong> diretoria. Então eu já comecei a perceber esta questão. E não é porque eu era <strong>de</strong> esquerdanão. Eles não gostam mesmo. De ninguém <strong>de</strong> esquerda mesmo. Eles não gostam, porque umprofissional <strong>de</strong> esquerda, ele pelo menos questiona certas coisas, então eu não sei, não quero taxar omeu perfil profissional assim, porque eu ganhei alguns prêmios como técnico <strong>de</strong> som, ganhei umprêmio até nos Estados Unidos. Como o melhor som não é? Então eu tenho meu valor profissional.(MA = Miguel ÂngeloTS = Tony <strong>de</strong> Sousa)MA: (...) eu me consi<strong>de</strong>ro um profissional razoável, vamos dizer assim. E sempre tentei batalharassim no sentido <strong>de</strong> ter umas regras mais claras, para a gente trabalhar uma convivência com asprodutoras, muito mais profissional e mais segura para nós, sabendo o que é o quê exatamente. Masrealmente há uma resistência imensa nesse sentido. No sentido do Sindicato.TS: Era uma das coisas que eu ia perguntar. Como que você vê a questão do profissionalismorelacionada com o sindicato? Como você se coloca profissionalmente você respon<strong>de</strong>u, já essaquestão da relação com o sindicato acho que você teria condições <strong>de</strong> fazer uma avaliação melhor doque eu, que por uma série <strong>de</strong> circunstâncias que não vem ao caso, me relacionei muito menos comesse mercado <strong>de</strong> trabalho do que você. Você, assim como eu, também já teve na condição <strong>de</strong>dirigente sindical. Então com certeza, você tem uma avaliação muito maior <strong>de</strong>sta relação doprofissional com as produtoras. Eu tenho <strong>de</strong> vivenciar, como Presi<strong>de</strong>nte do Sindicato, <strong>de</strong> perceber econcordar plenamente com o que você está falando. Eu sempre tentei manter um nível <strong>de</strong>relacionamento com as produtoras assim que não fosse naquele nível <strong>de</strong> chegar metendo o pé naporta, mas também com certa firmeza, e realmente nunca foi fácil. Eles são muito dissimulados erealmente é uma relação muito difícil e isso que você falou é muito interessante porque vocêconseguiu traduzir muito bem a questão, quando falou da reação <strong>de</strong>sse dono <strong>de</strong> produtora querasgou o convite. Essa reação é uma coisa reacionária mesmo. A minha sensação como diretor <strong>de</strong>Sindicato, sempre foi essa mesmo. Não é uma coisa que a gente espera <strong>de</strong>sse meio, que é um meiono qual existem pessoas inteligentes, criativas até, não é? O que você espera, eu pelo menos, é queessas pessoas tenham um nível <strong>de</strong> relação entre elas, muito mais <strong>de</strong>mocrático vamos dizer assim.Seria natural que um dono <strong>de</strong> produtora me dissesse algo como, eu não gosto que fiquem aquifalando coisas <strong>de</strong> sindicato na minha produtora que me atrapalha, não sei o que, mas não tenho nadacontra Sindicato. Eu acho que as pessoas têm mais é que se organizar mesmo, sei lá. Mas eu nãoquero que me atrapalhe a filmagem aqui, um jogo aberto sei lá. Mas as pessoas têm medo disso nãoé, medo <strong>de</strong> enfrentar a questão da relação empregador e empregado. Eu sempre tentei, como diretordo Sindicato fazer com que essa relação chegasse <strong>de</strong>ssa forma para as produtoras. Não queriachegar como..MA: Tipo um Lula lá, não sei o que.TS: Exato. Mas como uma pessoa que é do meio e que tenha uma posição clara da relaçãoempregador e empregado e que queria discutir transparentemente, sem subterfúgios, sem ficarescon<strong>de</strong>ndo nada, não é? Sem ficar aquelas coisas <strong>de</strong> ti- ti –ti <strong>de</strong> corredor. Eu lutei o tempo todopara isso, mas realmente é o que você falou, isso nunca aconteceu, a reação da maioria dasprodutoras é <strong>de</strong> não querer enfrentar a questão. Eles não querem envolvimento com essa discussão.MA: É. Eles não querem discutir.TS: Eles só absorvem assim meio à força né, algumas coisas como seguro, controle <strong>de</strong> horas emalgumas funções, mas nunca naquela coisa <strong>de</strong> transparência, são pouquíssimos..


MA: Que recebem isso com normalida<strong>de</strong>. Então tem esse aspecto assim que é difícil dizer, que criaaté uma dificulda<strong>de</strong> na verda<strong>de</strong>, eu acho que o meio do cinema reflete um pouco o que é opensamento brasileiro.TS: Da elite brasileira.MA: Você que vive em outro País, o coletivo é sempre importante, eles sempre se unem e fazem ocoletivo. No Brasil isso é muito difícil. Isso muitos conseguiram tal, mas a gente sabe as condiçõesque eram dadas para isso. Os brasileiros não têm esse negócio <strong>de</strong> amigos do bairro por exemplo,praticamente é só para tirar proveito <strong>de</strong> alguma coisa. Mas você não tem essa questão <strong>de</strong> bairro paralevar a sério, a situação dos bairros periféricos é terrível. Você assiste na televisão, não tem umaassociação que leve a frente, que vai ao Prefeito que xingue o Prefeito, xingue o prefeito no sentidoque reclame né. Isso não existe. isso também é uma coisa que dificulta o trabalho do Sindicato.Além do mais foi se conduzindo <strong>de</strong> uma maneira esse trabalho entre produtora e profissional quehoje o profissional <strong>de</strong> cinema, ele é um profissional liberal. Ele é um profissional que nem é isso,hoje ele é um empresário, aí você po<strong>de</strong> dizer: mas empresário? Mas empresário vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> docarrinho <strong>de</strong> pipoca até o Antônio Ermínio <strong>de</strong> Morais né, não é isso? Mas são empresários. Então eunão sei como resolver isso mas existe uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>, porque quase que o Sindicato temque ser uma espécie <strong>de</strong> FIESP. Guardando as <strong>de</strong>vidas proporções.TS: Eu colocaria a coisa <strong>de</strong> um outra forma. Qual é a realida<strong>de</strong> do profissional <strong>de</strong> cinema no Brasilhoje? Todo mundo sabe, virou empresa. Mas essa é uma questão do Brasil, <strong>de</strong> como o Brasilfunciona. Você pega sei lá, uma pequena falha no sistema que não funciona direito e essa coisa vairepercutir lá na frente <strong>de</strong> um forma que você nem imagina. Por exemplo a questão da sonegaçãodo Imposto <strong>de</strong> Renda que as pessoas fazem através <strong>de</strong> notas fiscais das empresas e tal. Sonegaçãoexiste em todo o lugar do mundo. Só que aqui é sistemático. E ai todo mundo faz. E <strong>de</strong> repente issovira meio que uma norma. E ai como você falou é contra lei. É contra lei mas todo mundo faz e nãoacontece nada. Pelo menos por enquanto. De repente, você brigar pela legalida<strong>de</strong>, que é o que osindicato tenta fazer, parece ridículo. Parece coisa <strong>de</strong> Dom Quixote. Não é o caso <strong>de</strong> pessoas beminformadas como você, que eu tenho certeza que enten<strong>de</strong> <strong>de</strong> outra forma, mas já aconteceu aqui<strong>de</strong>ntro do Sindicato numa assembléia, um cara se levantou, um eletricista, e falou assim: O que quêo Sindicato está ganhando com isso? O que quê vocês estão levando? Porque que vocês queremque a gente pague imposto? Eu estou muito bem assim, o meu contador me orientou que eu tenhoque fazer assim, e agora vocês querem que eu faça <strong>de</strong> outro jeito, para pagar imposto. Qual que é a<strong>de</strong> vocês? Então quer dizer uma regra que é <strong>de</strong>turpada e passa virar norma. O cara fez um discurso.Vocês <strong>de</strong>veriam era <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que todos nós virássemos micro-empresários para pagar menosimposto. Só que ele não sabe que como micro-empresário ele <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter os benefícios das leistrabalhistas. Então quer dizer, se não fosse possível existir isso, se houvesse realmente um rigornesse negócio, não po<strong>de</strong> e acabou, e ninguém conseguisse fazer, não haveria esse problema.MA: Engraçado, eu vou dizer uma coisa engraçada que é esta questão da hora extra aí porexemplo. As produtoras até aceitam esse negócio. Elas podiam não aceitar mas elas já estabeleceme aceitam isso aí tal. Da hora extra né. Você chega a trabalhar <strong>de</strong>z, doze horas e começa a cobrar portanto. Algumas coisas eles já ce<strong>de</strong>ram, mas é muito pouco.


PERFIL (4)Máximo BarroMontadorFormação Educacional:• 1948 – Seminário <strong>de</strong> Cinema do Museu <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> São Paulo ministrado por AlbertoCavalcanti, Carlos Ortiz, Rodolfo Nanni, Osvaldo Sampaio.• 1973 – O ministério <strong>de</strong> Educação e Cultura conferiu-lhe o título <strong>de</strong> Reconhecido Saber Público.Principal Ocupação:Iniciou-se como assistente <strong>de</strong> produção na Mulfilmes.Em 1953 tornou-se editor na Musa Filmes.Paralelamente começou a lecionar no Museu <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> São Paulo (MASP) e em seguida nos cursoslivres da FAAP, (Fundação Armando Álvares Penteado) que, em 1973, transformou-se emFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Comunicação. Hoje <strong>de</strong>dica-se à pesquisa histórica do cinema brasileiro.Ativida<strong>de</strong>s Profissionais:Experiência Profissional no Magistério• De 1955 a 1959 lecionou edição e montagem no Museu <strong>de</strong> Arte juntamente com Pietro MariaBardi, Walter Hugo Khouri, Carlos Ortiz, entre outros.• Em 1957 começou a lecionar História do Cinema e posteriormente, Argumento, História doCinema Brasileiro nos Cursos Livres daFundação Armando Álvares Penteado. ( FAAP).• A partir <strong>de</strong> 1972 passou a lecionar as mesmas matérias quando o Curso Livre incorporou-se naFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Comunicação da FAAP.• De 1984 a 1994 foi Chefe <strong>de</strong> Departamento da área <strong>de</strong> cinema da FAAP.• Hoje é titular da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> História do Cinema Brasileiro na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Comunicação daFAAP.• Des<strong>de</strong> 1996 faz parte da banca para escolha <strong>de</strong> titulares para a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Edição daUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> São Carlos, em São Paulo.• Ministrou cursos em Faculda<strong>de</strong>s e Universida<strong>de</strong>s do interior paulista e capitais brasileiras.• Em 1994 e 1995, em Portugal, participou da CINANIMA , no Porto, quando levou animaçõesda Historia do Cinema Brasileiro, ministrando palestras.• Em cida<strong>de</strong>s do Estado <strong>de</strong> São Paulo e diversas capitais brasileiras participou em cursos <strong>de</strong>aperfeiçoamento com ciclos sobre: A Linguagem do Cinema; Aspectos Sociais da ComédiaAmericana; Cidadão Kane - País e Filhos; O Expressionismo Alemão; O Cinema Peronista;História e Estética da Animação; Cinema Brasileiro.Carreira Profissional no Cinema: Montou 46 longas metragens e dirigiu diversos documentários.Prêmios• Troféu SOL DE PRATA pelo filme <strong>de</strong> pesquisa Vittorio Capellaro no Festival Internacionaldo Rio <strong>de</strong> Janeiro• GOVERNADOR DO ESTADO – pela adaptação <strong>de</strong> Delícias da Vida.• TROFÉU SACI- pela edição da A Ilha• GOVERNADOR DO ESTADO – pela edição <strong>de</strong> O CabeleiraGOVERNADOR DO ESTADO pela edição <strong>de</strong> Macumba na Alta


Publicações• Nossa Senhora do Ó - Secretaria <strong>de</strong> Cultura da Prefeitura do Município <strong>de</strong> São Paulo – 1977• Ipiranga - Secretaria <strong>de</strong> Cultura da Prefeitura do Município <strong>de</strong> São Paulo - 1978• A Primeira Sessão <strong>de</strong> Cinema em São Paulo - Editora Tanzcine do Brasil – 1996• Caminhos e Descaminhos do Cinema Paulista – Edição do Autor - 1997• O Cinema Começa a Falar - Centro Cultural São Paulo - 1998• Participação Portuguesa no Cinema Brasileiro -Centro Cultural São Paulo - 2.000• Moacyr Fenelon e a Fundação da Atlântida - Serviço Social do omércio - 2.001• Na Trilha dos Ambulantes - Edição do Centro <strong>de</strong> Pesquisadores do Cinema Brasileiro - 2.002• O Caçador <strong>de</strong> Diamantes- Análise do argumento - 2004 Edição Aplauso da Imprensa Oficial• Sérgio Hingst- Travessia Polimórfica - 2005 Edição Aplauso da Imprensa OficialTRECHOS DA ENTREVISTA REALIZADA EM 06/10/2005VIVENDO DE CINEMA:Des<strong>de</strong> <strong>de</strong> 53, nos bons e maus momentos, eu só vivi <strong>de</strong> cinema. Eu nunca pratiquei um outroemprego, uma outra profissão, um outro emprego que não fosse cinema. Houve momentos que eufiquei sete meses sem fazer absolutamente nada.(...) Eu fui ao médico e ele disse você tem queescolher: ou fazer cinema ou sobreviver. Fazendo cinema você esta <strong>de</strong>struído. O seu coração, commenos <strong>de</strong> vinte e três anos, já é uma coisa que precisa cuidar. Então eu saí é fui trabalhar naempresa do Batini (Tito) que tinha sido o meu professor <strong>de</strong> argumento, no Museu. O cinema é umacoisa ao mesmo tempo que é encantadora é extremamente possessiva. De 1953, quando eu entrei nocinema até mais ou menos 1970 a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1970 quase chegando a 80, eu não tinha vida social. Eusabia a hora que entrava mas jamais sabia a hora que saia. Eu não tinha namorada, eu não tinhaamigos mais chegados, aquele <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> amanhã vamos nos encontrar? Eu não podia nem dizer,amanhã vamos nos encontrar. Quanto mais, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> amanhã. E eu passei por cima disso, porquecinema era mais encantador do que ter uma namorada fixa, ou um amigo para ir a um barzinhopassar duas horas bebendo, ou ir com ele no cinema, ou ir com ele no teatro, ou alguma coisa dogênero assim. Eu passei perfeitamente por cima <strong>de</strong>ssas coisas todas. Faria <strong>de</strong> novo. Faria <strong>de</strong> novoporque o cinema é algo que te envolve <strong>de</strong> tal maneira, ou eu encontrei uma profissão boa, <strong>de</strong>ntro docinema. Possivelmente se eu ainda fosse obrigado a trabalhar na produção, eu estaria <strong>de</strong>sencantado.Mas como eu encontrei aquilo que me atraiu, que foi a área <strong>de</strong> som e montagem, eu não mearrependo <strong>de</strong> nada. Tanto na área <strong>de</strong> fazer a obra cinematográfica, como você dar aula e propiciarque outros, sejam uma espécie <strong>de</strong> apêndice <strong>de</strong> você, alguém recebeu o bastão e saiu, os próximoscem metros para entregar para outro, e o outro, para o <strong>de</strong>pois, para o outro. Ver alguém, que foi umdia teu aluno, fazendo cinema, não precisa ser diretor, nem nada.Você olha para ele, você vê umfilho, lá na verda<strong>de</strong>. Espiritualmente você esta vendo uma continuação, <strong>de</strong> você é muito comovente.Vale a pena a gente viver esse momento.PUBLICIDADE COMO FORMA DE PROSTITUIÇÃO:Eu fazia publicida<strong>de</strong> “in-extremis”, quando não tinha mais nada. Eu fazia alguma coisa. Apublicida<strong>de</strong> para mim sempre foi o penúltimo <strong>de</strong>grau da prostituição. A última é a dublagem <strong>de</strong>filme estrangeiro.


SURGIMENTO DO PRIMEIRO SINDICATO DE TRABALHADORES DE CINEMANo fim <strong>de</strong> 1953 eu e o Landini (Juan Carlos) fomos convocado pelo Agostinho Martins Pereira queestava... eu ainda não trabalhava em cinema e já era sócio <strong>de</strong> uma coisa chamada APC. AssociaçãoPaulista <strong>de</strong> Cinema. A Associação Paulista <strong>de</strong> Cinema, que era do Alex Viany com todo o negócio<strong>de</strong> esquerda aquelas coisas todas. Era chato isso. Porque não era um Sindicato era uma maneira <strong>de</strong>ser <strong>de</strong> esquerda. Eu já estava <strong>de</strong>ntro, eu tinha <strong>de</strong>ssas preocupações. E quando o Agostinho MartinsPereira fundou, tentou fundar, com um outro grupo, o atual sindicato, as coisas foramencaminhadas <strong>de</strong>ssa outra maneira, como nós estávamos diante <strong>de</strong> pessoas, que estavam tentandocongregar, para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r aquilo lá, e não para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o partido, <strong>de</strong>sse ou contra partido do outro,então eu participei os <strong>de</strong>z anos, que foram necessários. As associações, pelo menos naquela época,você tinha que fazer uma série <strong>de</strong> passagens <strong>de</strong> associações. Até chegar a Sindicato. E o Jango, vocêsabe muito bem, que nós recebemos a carta Sindical, felizmente antes da revolução, assinada peloJango. Felizmente nós não fomos presos, ninguém da diretoria foi preso. Mas <strong>de</strong>pois eu vim a saberatravés <strong>de</strong> uma pessoa que nós não fomos presos porque não tinha lugar. Eu penso diferente. E achoque o nosso Sindicato era tão insignificante. Duzentos e cinqüenta pessoas. Era tão insignificanteque eles nem... apesar <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> cinema. Uma coisa que era perigosa, foi sempre perigosa, não foiperigosa por causa dos militares. Por ser aluno <strong>de</strong> cinema, eu estava no DOPS.


PERFIL (5)Inês Mullin Firmino da SilvaAssistente <strong>de</strong> DireçãoEscolarida<strong>de</strong>Formada em Comunicação Social pela FAAP em 1979Experiência Profissional:Assistente <strong>de</strong> Montagem <strong>de</strong> Máximo Barro (1980 A 1981):“Veneta”, filme <strong>de</strong> animação, dir. Flávio Del Carlo“Viúvas Precisam <strong>de</strong> Consolo”, longa metragem, dir: Ewerton <strong>de</strong> CastroMontagem (1980):“O Grotão” dir. Flávio Del CarloContinuísta (1981 A 1989):“Filhos e Amantes”, dir. Francisco Ramalho Jr.“Doce Delírio”, dir. Manuel Paiva“Fronteira das Almas”, dir. Hermano Penna“Vera”, dir. Sergio Toledo“Feliz Ano Velho”, dir. Roberto Gervitz“Lua Cheia”, dir. Alain Fresnot“Festa”, dir. Ugo Giorgetti“Kuarup”, dir. Ruy Guerra“Amazon”, dir. Mika KaurismakiPrimeira Assistente <strong>de</strong> Direção (1990 a 2005):“O Corpo”, dir. José Antonio Garcia“O Gran<strong>de</strong> Mentecapto”, dir. Oswaldo Cal<strong>de</strong>ira“Sábado”, dir. Ugo Giorgetti“Kenoma”, dir. Eliane Caffé“Castelo Rá Tim Bum”, dir. Cao Hamburger“Através da Janela”, dir.: Tata Amaral“Bicho <strong>de</strong> Sete Cabeças”, dir. Laís Bodansky“Durval Discos”, dir. Ana Muylaert“Cabra Cega”, dir. Toni Venturi (2002)“Nina”, dir. Heitor Dhalia (2003)“Jogo Subterrâneo”, dir. Roberto Gervitz (2003)“Carandiru – Outras Estórias” 4 espisódios para a TV - dir. Roberto Gervitz (jan/mar 2005)“Os Doze <strong>Trabalho</strong>s”, dir. Ricardo Elias (mai/jul 2005)“A Via Láctea”, dir. Lina Chamie (nov/<strong>de</strong>z 2005)Publicida<strong>de</strong> (1990 a 1996)Assistente <strong>de</strong> Direção <strong>de</strong> Flávia Moraes na Film Cinematográfica


TRECHOS DA ENTREVISTA REALIZADA EM 11/10/2005TAMANHO DAS EQUIPES E MUDANÇAS DE FUNÇÕES:(...) Do que eu aprendi na faculda<strong>de</strong> sobre os filmes <strong>de</strong> estúdio, principalmente, é que com osequipamentos se tornando mais leves houve um enxugamento nas funções, mas não mudançassignificativas; as equipes <strong>de</strong> elétrica, maquinaria e câmera diminuíram, embora as equipes <strong>de</strong>câmera tenham voltado a crescer nos anos 90, em algumas produções, com o acréscimo <strong>de</strong> novasfunções, como o ví<strong>de</strong>o-assiste, o “lau<strong>de</strong>r” (assistente que carrega negativo), por exemplo. Agora,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da produção, se você pegar a ficha técnica <strong>de</strong> um filme da Vera Cruz ou <strong>de</strong> outroestúdio qualquer e comparar com alguma gran<strong>de</strong> produção atual, você vai ver nos créditos asmesmas funções. Mudanças mais significativas nas funções, ou adaptações nas funções, ocorrerammais na área <strong>de</strong> finalização, que com a chegada do ví<strong>de</strong>o trouxe mudanças efetivas no processo <strong>de</strong>edição dos filmes. Resumindo, as mudanças que houveram foram <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> novas tecnologiasque foram incorporadas à produção cinematográfica e que basicamente se refere ao ví<strong>de</strong>o e suastécnicas; as outras áreas continuam com os mesmos profissionais.VIVER DE CINEMA:Depois <strong>de</strong> 26 anos trabalhando só no cinema é estranho falar <strong>de</strong> uma maneira geral. Pra mim viver<strong>de</strong> cinema é ao mesmo tempo como viver <strong>de</strong> uma outra profissão qualquer e como viver uma gran<strong>de</strong>aventura. Quando estou envolvida numa produção <strong>de</strong> um filme é a profissão sendo colocada emprática e quando o projeto termina é que começa a aventura. Explico: a gente não tem certeza <strong>de</strong>que vai haver outro projeto em breve ou mesmo a longo prazo; ou seja, a sensação é <strong>de</strong> estar<strong>de</strong>sempregado e ter que começar a procurar outro emprego. Obviamente isto gera ansieda<strong>de</strong> e stresse por isso acho que <strong>de</strong>veríamos ter um cachê relativo à insalubrida<strong>de</strong>. Ok, não dá pra pensar nisto. Oque falo, é claro que se refere aos free-lancers, já que os profissionais fixos não passam por isso, oupelo menos nesta proporção. No meu caso especificamente, dois momentos foram bastante críticose quase me puseram prá fora da área: na crise Sarney e na crise Collor. Depois <strong>de</strong> alguns meses<strong>de</strong>sempregada consegui entrar no mercado publicitário e fui fazer comerciais. Isso duroupraticamente 6 anos. Aí houve “outra” retomada do cinema e voltei para os longas. O que a crise me<strong>de</strong>u <strong>de</strong> bom foi po<strong>de</strong>r a partir do trabalho em comerciais transitar <strong>de</strong> uma área para outra, ainda quelimitadamente. Viver <strong>de</strong> cinema pra mim é uma extensão literal do que eu faço num set <strong>de</strong>filmagem: planejamento. É como ter uma empresa acredito eu. Você tem que administrar o seudinheiro contanto com dias, semanas ou meses sem trabalho. Você tem que garantir a suaaposentadoria, você tem que garantir o seu seguro <strong>de</strong> vida. Você não po<strong>de</strong> contar com nenhumbenefício do Seguro Social do Governo. Você só po<strong>de</strong> contar com você mesmo. Não é fácil. Outrolado <strong>de</strong>ssa vida tem um aspecto interessante: ao mesmo tempo em que somos sugados durante umaprodução (6 dias por semana, 12 horas por dia durante 2, 3 ou mais meses!!!!!) e <strong>de</strong>pois jogados <strong>de</strong>volta à “vida normal”, o que nos <strong>de</strong>ixa um tanto quanto esquizofrênicos, se nos <strong>de</strong>ssem a opção <strong>de</strong>um trabalho que seguisse uma rotina <strong>de</strong> horário “normal”, dificilmente nós nos adaptaríamos. Agente se condiciona, se habitua e passa a amar e odiar esse sistema <strong>de</strong> trabalho. A gente ama “aliberda<strong>de</strong>” que este trabalho nos dá e o<strong>de</strong>ia o custo social que nos é cobrado como a falta <strong>de</strong> tempopara os amigos, para a família, etc.. É difícil planejar uma viagem; Férias então!!!!!!. Por outro ladoo ganho financeiro é <strong>de</strong> bom a excelente na maioria das funções. Do meu ponto <strong>de</strong> vista, se você éum bom profissional e aceita as condições <strong>de</strong> trabalho impostas pelas características das produçõestanto publicitárias quanto as <strong>de</strong> longa metragem, dá pra viver bem <strong>de</strong> cinema.SOBRE A ORGANIZAÇÃO SINDICAL DOS TRABALHADORES:Atualmente acho que a nossa organização sindical se sustenta <strong>de</strong>sempenhando mais um papelpolítico do que trabalhista. Me sinto uma per<strong>de</strong>dora na luta contra o sistema <strong>de</strong> sonegação <strong>de</strong>impostos tanto das produtoras quanto dos profissionais free lancers. É inconcebível para mim que


um recém formado na faculda<strong>de</strong> seja obrigado a abrir uma empresa para receber o seu cachê! Háuma promiscuida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> entre patrão e empregado na nossa área, o que impe<strong>de</strong> umengajamento mais efetivo dos profissionais na organização sindical. O nosso mercado <strong>de</strong> trabalhono aspecto das leis é completamente selvagem. Reina a lei do mais forte (as produtoras), a lei daoferta e da procura. Salve-se quem pu<strong>de</strong>r. Acho que as organizações sindicais estão bastanteenfraquecidas, não só no Brasil, mas em todo o mundo e acho também que o papel dos sindicatosestá mudando ou <strong>de</strong>va mudar para sobreviver.SOBRE O FUTURO DA PROFISSÃO:Acho que ainda tem muito cinema pela frente, mas tem também televisão e outras mídias: Internet,celular, etc. Entretenimento, imagens, são negócios que geram dinheiro e acho que a indústria doaudiovisual está crescendo. Acho que os profissionais <strong>de</strong> cinema vão se encaixando nos diversosmodos <strong>de</strong> produção: eletricistas, maquinistas, operadores <strong>de</strong> câmera, em qualquer produção serápreciso algum <strong>de</strong>les. Direção <strong>de</strong> arte, cenógrafo, etc... Diretores, fotógrafos... O que vai mudar é oorçamento. Pelo que sei o mercado publicitário, que <strong>de</strong>tém mais dinheiro, está mudando. Oscomerciais em película diminuíram e o ví<strong>de</strong>o prevalece, o que barateia a produção, mas é precisouma equipe para realizar um ví<strong>de</strong>o! Trabalhamos num mercado instável, uma espécie <strong>de</strong> bolsa <strong>de</strong>valores. Se tem crise, cai a produção em todos os meios. Se a economia está bem, tudo volta aonormal. Me parece que vai ser sempre assim, não sei. Acho também que se o governo não garante,através das leis <strong>de</strong> incentivo, a viabilização <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> audiovisual, aí sim, os profissionais vãosentir e o futuro.


PERFIL (6)Antonio <strong>de</strong> Souza Neto (Toni Gorbi)Gaffer (Chefe <strong>de</strong> Ilumiação)Escolarida<strong>de</strong>:1° grau completoFormação Técnica:Iluminação e Eletricida<strong>de</strong> Cinematográfica (autodidata)Experiência Profissional:Dezenas <strong>de</strong> longa metragem e milhares <strong>de</strong> filmes publicitáriosPrincipais Realizações:1974 – iniciou sua carreira em cinema, fazendo cursos para ser ator; fez figuração em programas doSilvio Santos- “Sinos <strong>de</strong> Belém”- e, como eletricista, iniciou fazendo iluminação em teatro amador.Ao longo <strong>de</strong> sua carreira fez iluminação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 60 filmes nacionais e estrangeiro, entre eles:“Orquí<strong>de</strong>as Selvagem”, <strong>de</strong> Zalman King; “O Beijo da Mulher Aranha”, <strong>de</strong> Hector Babenco;“Amazon” (filme holandês gravado no Amazonas e Roraima com co-produção americana) dirigidopor Mika Kaurismaki; “Brincando nos Campos do Senhor”, <strong>de</strong> Hector Babenco; “Kick Boxing III”uma co-produção brasileira, dirigida por Ring King e fotografia <strong>de</strong> Carlos Riechenbach e muitosoutros como “Palácio <strong>de</strong> Vênus” <strong>de</strong> Odir Fraga, fotografia <strong>de</strong> Claudio Portioli; “Fêmea do Mar”“Karina” <strong>de</strong> Claudio Cunha;” “Tchau Amor” Jean Garret; “Força dos Sentidos”; “Doméstica” <strong>de</strong>Fernando Meirelles.É pioneiro em <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> equipamentos e acessórios no Brasil. Ultimamente está maisdirecionado para publicida<strong>de</strong> e também para sua marca <strong>de</strong> equipamentos “Gorbitec” e sua criaçãoGaffecar, um carro direcionado a facilitar o trabalho do Gaffer com acessórios em geral. Esse carrofoi lançado no 5º FCUDC em Curitiba.TRECHOS DA ENTREVISTA REALIZADA EM 27/07/05COMO COMEÇOU NO CINEMA:“...eu sou envolvido com o cinema <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando eu fui pela primeira vez , quando eu era garoto ,lána minha cida<strong>de</strong>, no interior <strong>de</strong> Minas, e eu tinha curiosida<strong>de</strong> em saber como era , como faziaaquilo. Eu queria estudar isso aí, eu comprava revistinha, eu procurava saber, naquela época nãotinha internet , não tinha nada disso, era muito difícil, eu fui para a cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> e sempreprocurando livros sobre cinema..”SOBRE A EXCELÊNCIA PROFISSIONAL:“Eu era mecânico. Um bom mecânico, enten<strong>de</strong>u? Mais do que cinema. Porque eu sou um cara comoeu te falei, o que eu pegar para fazer, eu quero ser o melhor. Se eu fosse um piloto <strong>de</strong> Fórmula 1, euseria igual ao Ayrton Senna. Eu teria morrido igual ele morreu. Eu não sei ficar atrás. Eu quero tána frente. Então é assim, eu gosto do que eu faço, eu quero ser o melhor”.


COMO FAZ PARA MANTER-SE ATUALIZADO:“Eu sempre investi em mim. Eu sempre fui um cara, que o eu ganho, uma boa parte vai para o meuaprendizado. Eu sou um autodidata, eu nunca fui a uma faculda<strong>de</strong>. Eu tenho o quarto ano primário.É difícil você apren<strong>de</strong>r sozinho, se você não tirar uma parte <strong>de</strong>ssa grana que você ganha paracomprar livro, fazer algum curso, fazer alguma coisa. Você fica para trás. Eu sempre fui a favor <strong>de</strong>pegar uma parte do dinheiro e apren<strong>de</strong>r. (...) vendo todo tipo <strong>de</strong> equipamento novo que chega, comose estivesse começando hoje, eu estou sempre recomeçando”SOBRE A RELAÇÃO PATRÃO EMPREGADO:“Os caras falam que eu sou um mafioso, que eu trabalho numa associação para controlar a hora etal. Eles acham que isso é mafioso, que isso vai inflacionar o mercado, tal”CADA PROFISSIONAL TEM O SEU VALOR DENTRO DE UMA EQUIPE:“Eu sou tão bom quanto qualquer diretor, como qualquer fotógrafo, nós somos iguais, eles na <strong>de</strong>lese eu na minha enten<strong>de</strong>u”.


PERFIL (7)Adalberto Penna (Penna Filho)Produtor, Diretor, RoteiristaFormação Técnica:Prática Cinematográfica (Continuida<strong>de</strong>, Assistência <strong>de</strong> Direção, Interpretação e Direção <strong>de</strong>Dublagem)Ativida<strong>de</strong> Profissional:Pena Filho Produções CinematográficasPrincipais Realizações:- Um Craque Chamado Divino / longa, 35 mm: Diretor/Roteirista/Produtor - 2006. Apresentadoem sessão especial no MIS-São Paulo, em 06 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2006. Aguarda distribuição.- Expresso para Aanhangaba/longa digital: Produtor-Executivo - 2002/Griffith Produções, SP(Edital <strong>de</strong> Telefilmes BO, MinC)- Alma Açoriana / média 16 mm: Diretor/Roteirista/Produtor - 2001/Penna Filho Produções (LeiRouanet) Selecionado para festivais Vitória Cine Ví<strong>de</strong>o e CineEco - Festival <strong>de</strong> Cinema eVí<strong>de</strong>o <strong>de</strong> Ambiente, <strong>de</strong> Serra da Estrela/Portugal.- Fendô - Tributo a Uma Guerreira/ média digital - Diretor/Roteirista/Produtor - 2000/ PennaFilho Produções (apoio Unisul e Unoesc).Melhor Ví<strong>de</strong>o Educativo no festival temático I Terraem Foco(Contag/Brasília) e Menção Honrosa (CineEco, Portugal), ambos em 2000.- Victor Meirelles - Quadros da História/ curta 35 mm - Diretor/Roteirista/Produtor - 1996/ PennaFilho Produções (Lei Rouanet). Selecionado para vários festivais e ao Prêmio Funarte (peladivulgação do patrimônio histórico).- Naturezas Mortas / curta 35 mm - Diretor/Roteirista/Produtor - 1995/Penna Filho Produções(Prêmio Resgate MinC/94). Participação em vários festivais e premiações importantes (Kikitodo Júri Popular, Margarida <strong>de</strong> Prata, Melhor Documentário no 25 º FICA(Algarve, Portugal).- Memória Social Urbana / média 35 mm (*) - Diretor/Roteirista/Prod.Executivo- Patrimônio Ambiental Urbano / média 35 mm (*) - Diretor/Roteirista/Prod.Executivo- Patrimônio Natural Urbano / média 35 mm (*) - 1978/TV Cultura, SP. Série documental <strong>de</strong>médias em 35 mm, para veiculação na re<strong>de</strong> educativa e mostras temáticas sobre patrimônioambiental.- Herança / curta 16 mm - Diretor/Roteirista - 1976/ do projeto "Cinema <strong>de</strong> Rua" (Raiz/SP),Prêmio Coletivo na Jornada <strong>de</strong> Curta-Metragem, <strong>de</strong> Salvador, BA.- Até o Último Mercenário / longa 35 mm - Diretor/Roteirista - 1971/ Produção Procitel, SP (AryFernan<strong>de</strong>s/Paulo Chei<strong>de</strong>/Carlos Miranda).- O Diabo Tem Mil Chifres / longa 35 mm - Diretor/Roteirista/Co-Produtor - 1970/ Reflivo,Curitiba. Liberado com cortes <strong>de</strong> som em 1978.- Amores <strong>de</strong> Um Cafona/ longa 35 mm - Co-Diretor e Co-Roteirista - 1969-70 /Horus, RJ(OsírisFigueroa).Apesar dos créditos, respon<strong>de</strong> pelas seqüências <strong>de</strong> SP e MG, que compunham umepisódio (<strong>de</strong> três) <strong>de</strong>senvolvido pelo produtor carioca.


- Águias <strong>de</strong> Fogo /média 35 mm - Roteirista e Diretor Assistente - 1968/Procitel, SP, 26episódios p/TV Tupi e emissoras associadas.- Mensagem / curta 35 mm - Diretor/co-Roteirista - 1967/ Produção Documental, SP (DurvalGarcia), para o Ministério da Educação e Cultura.- Flor, Telefone, Morte - Diretor/Roteirista - 1987/ TV Cultura, SP. Especial inspirado no conto"Flor,Telefone, Moça" ("Contos <strong>de</strong> Aprendiz"), <strong>de</strong> Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, com CarlaCamurati e Enio Gonçalves.- Câmera Aberta - Editor/Diretor/Roteirista - 1982-84/ TV Cultura, SP. Série documental, em 16mm e também em ví<strong>de</strong>o, Prêmio APCA em 82 e 83 como Melhor Programa <strong>de</strong> Pesquisa.- Tele-Curso Rural - Diretor/Roteirista - 1980-81/ TV Cultura, SP. Série <strong>de</strong> programas em 16mm, edição final em ví<strong>de</strong>o.- Jornal Hoje, Fantástico, Globo Repórter, Esporte Espetacular - Repórter/Produtor - 1971/76/ TVGlobo, SP. Reportagens especiais e curtos documentários.Outras Ativida<strong>de</strong>s:Rádio (broadcast e jornalismo) em emissoras <strong>de</strong> Vitória, ES (1953 a 58) ; SP (Ban<strong>de</strong>irantes,1959/64); Televisão (atuação como ator e produtor, 1959/64, TVs Paulista e Excelsior); Publicida<strong>de</strong>(direção <strong>de</strong> comerciais e institucionais, em SP, PR, SC).TRECHOS DA ENTREVISTA REALIZADA EM 17/06/2005VIVENDO DE CINEMA:Viver <strong>de</strong> cinema no Brasil, é você ter um pé na realida<strong>de</strong>, muito difícil, e muito sonho na cabeça.Tem uma distância imensa entre uma coisa e outra. Agora <strong>de</strong>u também para vislumbrar, euprocurando ampliar os meus contatos, que o quadro da produção cinematográfica brasileira naquelemomento era um quadro muito difícil. Nos vínhamos do termino da produção do que se chamavachanchada no início dos anos 60, e vínhamos com o cinema novo, surgindo, e criticando-se ou não,estabelecendo-se assim um certo distanciamento do público, do cinema brasileiro nesse período.Então a produção era extremamente irregular, fazia-se um filme hoje, outro daqui a dois anos, aprodução caiu muito. Então eu vi que eu tinha que continuar paralelamente com outras ativida<strong>de</strong>s.Então <strong>de</strong> cinema, eu trabalhava muito com dublagem, trabalhava em alguns filmes quando elesapareciam como assistente ou fazendo continuida<strong>de</strong>, e ainda aparecia em televisão ou fazendopequenas aparições como ator ou mesmo produzindo ou dirigindo programas. E eu passei atrabalhar exclusivamente com cinema durante um período <strong>de</strong> seis a sete anos. Foi a partir do golpe<strong>de</strong> 64, em que eu perdi o emprego em rádio, em televisão, perdi essa base, por problema <strong>de</strong> censura.E o único lugar que eu po<strong>de</strong>ria trabalhar era o cinema. Então trabalhei razoavelmente nesse período,que foi assim <strong>de</strong> meados <strong>de</strong> 64 até meados <strong>de</strong> 71 e me <strong>de</strong>diquei exclusivamente ao cinema. Eu digoque foi muito difícil, porque era uma produção inconstante, ganhava-se muito pouco. A maioria dosprodutores não fazia nenhum tipo <strong>de</strong> registro e então era assim uma ativida<strong>de</strong> muito, muito difícilpara a nossa sobrevivência.


SOBRE FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO CINEMA:Então eu não tenho essa formação. Mas eu acho que teria sido muito bom, porque tem umcompanheiro nosso aí, João Batista <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> que diz uma coisa muito engraçada que eu semprerepito: “nós abrimos o nosso caminho a foiçada”. Porque nós fomos apren<strong>de</strong>ndo. Ah, é assim? Éassim que se faz? O que quê é objetiva? Quais as objetivas? Por que campo e contra campo? Agente foi apren<strong>de</strong>ndo isso, assim no dia a dia sabe. Apren<strong>de</strong>ndo e apanhando, apren<strong>de</strong>ndo. Mas euacho, que é fundamental a formação. E acho que por exemplo, como as escolas formambasicamente pessoal que tem um nível mais intelectual, há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cursos específicos paratécnicos. Eletricista, assistente <strong>de</strong> câmera, etc. e tal.TELEVISÃO É CINEMAEu te digo, com toda essa experiência que eu tive na televisão, que televisão é cinema, não comofala Jayme Monjardin, não é? Mas televisão é cinema, porque televisão e cinema são específicos,que tem a especialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> montagem, dos teóricos lá dos anos 20, porque você tem aquilo ali nomomento. Então você tem toda uma <strong>de</strong>cupagem, você tem o plano geral da sala, do cenário, com osapresentadores do telejornal, você tem um plano <strong>de</strong> conjunto, você tem um primeiro plano, não éisso? Isso daí é cinema, talvez eles não saibam, mas isso daí é cinema. Essa é a linguagem básica docinema, e eu acho que tudo, a linguagem mãe mesmo é a linguagem do cinema. Quando algunsartistas plásticos passaram a <strong>de</strong>senvolver trabalhos com ví<strong>de</strong>os, acharam que se tratava <strong>de</strong> uma novaarte, <strong>de</strong> uma nova linguagem, e eu sempre dizia: gente isso daí é cinema, feito <strong>de</strong> uma outra forma,não é cinema com película. Mas isso é cinema. Gran<strong>de</strong> plano, <strong>de</strong>talhe, primeiro plano, travelling,panorâmica, você faz <strong>de</strong> qualquer jeito. É cinema. Você não po<strong>de</strong> negar isso daí, sabe? Isso daí é sóo formato que é diferente. E quando se vê ultimamente as pessoas achando que <strong>de</strong>scobriu algumacoisa dizendo assim “ah o ví<strong>de</strong>oclipe.” A linguagem do ví<strong>de</strong>oclipe é a coisa mais antiga que existeno cinema. É um plano rapidíssimo. Um plano rapidíssimo e foi inventado pelo cinema. E não porum ví<strong>de</strong>omaker.


PERFIL (8)Carlos Alberto <strong>de</strong> Azambuja EbertDiretor <strong>de</strong> FotografiaPrincipal Ocupação: Iniciou carreira em 1966 como fotógrafo Still, cameraman; atua como Diretor<strong>de</strong> Fotografia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1968 e Diretor <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1970Ativida<strong>de</strong>s Profissionais:Atua como Diretor <strong>de</strong> Fotografia e Direção em diversos filmes <strong>de</strong> longa e curta metragemRealiza <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1970 Séries e Especiais para TV como Diretor <strong>de</strong> Fotografia;Como Diretor e Diretor <strong>de</strong> Fotografia realizou inúmeros Filmes Publicitários para TV, VáriosVi<strong>de</strong>oclips, Vi<strong>de</strong>oarte e DVD’s.Principais Créditos:Longa Metragem - Diretor <strong>de</strong> Fotografia• 1968 O Bandido da Luz Vermelha – Diretor Rogério Sganzerla• 1969 Viagem ao Fim do Mundo – Diretor Fernando Campos• 1970 Elas – Diretor José Roberto Noronha• 1970 Sou Louca por você – Diretor Rui Gomes• 1971 Prata Palomares- Diretor André Faria• 1971 Nenê Bandalho – Diretor Emilio Fontana• 1983 O Rei da Vela - Diretor J. Celso Martinez Corrêa• 1984 Nem tudo é Verda<strong>de</strong> – Diretor Rogério Sganzerla• 1985 Deus é um fogo – Diretor Geraldo Sarno• 1997 Fé – Diretor Ricardo Dias• 1999 Quem Faz, Quem vê TV – Diretor Roberto Moreira• 2001 Carrego Comigo – Diretor Chico Teixeira• 2002 Rua Seis, Sem Número – Diretor João Batista Andra<strong>de</strong>• 2003 A Ilha do Terrível Rapaterra – Diretor Ariane Porto• 2003 À Margem da Imagem – Diretor Evaldo Mocarzel• 2003 Dia <strong>de</strong> Graça ( em montagem) Thiago Mendonça e Maira Buller• 2004 Do luto à luta – Diretor Evaldo MocarzelDireção• 1970 República da TraiçãoCurta metragem – Diretor <strong>de</strong> Fotografia• 1966 O lobisomem• 1968 Lavrador• 1969 Indústria• 1969 Monteiro Lobato• 1969 Carnaval São Paulo• 1971 JúliaPastrana• 1971 a1972 – Documentários para o Teatro Oficina• 1972 Documentários para O Ballet Folklorico Nacional do Chile• 1984 Uma Obra <strong>de</strong> Amor• 1992 São Paulo 3 pontos• 2000 O Surfista Invisível• 2002 À Margem da Imagem


• 2002 A Mulher e o Mar• 2002 Teatro em Movimento• 2003 Seu Pai já disse que isso não é brinquedo• 2003 Narciso Rap• 2003 Carolina• 2004 Primeiros PassosEnsino1970 – Professor <strong>de</strong> Cinema no Colégio Estadual Vocacional Oswaldo Aranha , São Paulo – SP1973 a 1975 – Professor <strong>de</strong> Técnica <strong>de</strong> Estúdio e Criativida<strong>de</strong> na Escola Enfoco, São Paulo – SP1983 – Membro do Grupo <strong>de</strong> <strong>Trabalho</strong> Permanente para implementar as Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Radiofusãoda Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação e Cultura do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro.1993 a 2004 – Ministrou diversos Workshop’s em Cinematografia Eletrônica2004 a 2005 – Ministrou diversos orkshop’s em Cinematografia DigitalParticipação em Entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ClasseSócio <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1982 do SATED/RJ, Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos <strong>de</strong> Diversõesdo Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro;Membro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1972 da SBAT, Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Televisão;Membro da SET, Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Televisão;Membro Fundador e Mo<strong>de</strong>rador da Lista da Associação Brasileira <strong>de</strong> Cinematografia, ABC;Presi<strong>de</strong>nte da Associação Brasileira <strong>de</strong> Cinematografia – 2000/2002.Vice Presi<strong>de</strong>nte da Associação Brasileira <strong>de</strong> Cinematografia – 2002/2004Conselheiro da Associação Brasileira <strong>de</strong> Cinematografia – 2005/2006.TRECHOS DA ENTREVISTA REALIZADA EM 19/12/2005CARACTERÍSTICA DA FORMAÇÃO DO TÉCNICO DE CINEMA NO BRASIL:Eu acho que a característica talvez mais marcante da formação do técnico audiovisual do Brasil éque ela se dá <strong>de</strong> uma forma muito próxima ao que eram as corporações <strong>de</strong> ofício na Ida<strong>de</strong> Média,quer dizer, o profissional apren<strong>de</strong> com outro profissional mais experiente, <strong>de</strong>sconhecendoinclusive, a princípio, qual é a profundida<strong>de</strong> do conhecimento teórico que essa pessoa com a qualele está adquirindo conhecimento tem. Ele não sabe, ele vai esperar aquela pessoa e ver aquelapessoa atuar, e, por um procedimento mimético ele vai fazendo como o outro faz, sem questionarmuito. O outro normalmente só proce<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do que <strong>de</strong>u certo empiricamente, quer dizer, ele jáfez alguns erros. Já, por exemplo, um eletricista já queimou algumas instalações, já incendioualguns tapetes, apren<strong>de</strong>u algumas coisas, algumas regras, regras básicas e não comete aqueles erros,e o aprendiz <strong>de</strong>le, ele já vem então com conhecimento, ele já apren<strong>de</strong> algo peneirado pelaexperiência, mas que não é a experiência <strong>de</strong>le. Ele não tem uma experiência própria a partir doconhecimento teórico. Eu acho que a forma <strong>de</strong> você apren<strong>de</strong>r melhor é você levar paralelamente aprática e a teoria e ir testando na prática a teoria. Eu acho que a cinematografia ela é totalmenteempírica. Você não faz cinematografia sem praticar, sem fazer na prática. Porque? Porque é umaativida<strong>de</strong> que envolve muitas variáveis. Alguém já disse inclusive que em termos <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong><strong>de</strong> fatores e variáveis o cinema só per<strong>de</strong> para uma operação militar. A tomada <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> e talganha por uma pequena diferença em número <strong>de</strong> fatores e variáveis a serem consi<strong>de</strong>rados para queaquilo seja um sucesso. Então para você apren<strong>de</strong>r direito uma cinematografia você tem que andarparalelamente com as duas coisas. Ora, se o aprendiz já vem apren<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> um cidadão que nãotem conhecimento teórico, na maioria das vezes e está recebendo só como instrução a prática


filtrada por esse indivíduo, há a tendência que cada geração perca informação, não ganhe. Vaitendo uma perda , quer dizer, os primeiros... vou continuar falando da área <strong>de</strong> elétrica que lidadiretamente comigo que sou diretor <strong>de</strong> fotografia, ...os primeiros eletricistas com quem eu trabalheino início da minha carreira eram pessoas formadas na Vera Cruz. E eles foram formados pelostécnicos que vieram do exterior, os ingleses, os italianos e tal. Então eles apren<strong>de</strong>ram com gente quetinha conhecimento teórico. Eles foram formados, bem formados. Eu não sei se eles faziam curso <strong>de</strong>eletrotécnica para serem admitidos, mas eles apren<strong>de</strong>ram lá <strong>de</strong>ntro. Em termos <strong>de</strong> teoria era bom. A2ª geração, que você vai acompanhando as gerações, eu trabalho muito com filhos <strong>de</strong> profissionaiscom quem eu trabalhei, a 2ª geração ela já não teve o contato com a fonte inicial, ela já pegoufiltrado por essa geração Vera Cruz, enten<strong>de</strong>u. Então eles já tem um pouco menos <strong>de</strong> conhecimento.E o que que ela faz: ela simplesmente está adaptando aos equipamentos do presente aquilo que elaapren<strong>de</strong>u com aquele profissional mais velho que usava. Então tem muitas coisas estranhas hojeporque existem equipamentos que não são mais usados, mas existem procedimentos que são feitospelo profissional em função <strong>de</strong> coisas que não são mais usadas É muito louco isso. Não que eu<strong>de</strong>fenda. Eu acho que muita coisa da técnica cinematográfica que se per<strong>de</strong>u era interessante,enten<strong>de</strong>u. Tem equipamentos que não são mais usados, bobagens, por exemplo, aquela escadinha <strong>de</strong>dois, três, quatro que servia para subir móvel, que eram umas escadinhas que você botava paraacertar altura, não existe mais isso. É uma burrice. É só você mandar fazer uma coisa pequenininhamuito menor que uma banqueta, que ocupa um espaço maior e tal, não existe mais. Mas você vê quecomo o aprendizado foi feito <strong>de</strong> um para o outro, numa base só da prática filtrada sem teorianenhuma, a pessoa repete as vezes procedimentos sem sentido. Fica uma espécie <strong>de</strong> teatro doabsurdo em que a pessoa age <strong>de</strong> uma forma ina<strong>de</strong>quada em função <strong>de</strong> um objetivo que não existemais, que não está mais no horizonte para ser atingido. Então o que eu acho que tem que ser feito: aformação do técnico em qualquer nível, quer dizer, eu estou falando <strong>de</strong> um eletricista, não possofalar <strong>de</strong> um editor, que é uma área da tecnologia que está mudando muito rapidamente, está sechegando numa tecnologia alta, sofisticada, ele precisa ter um conhecimento teórico na área <strong>de</strong>le omais abrangente possível, mas consi<strong>de</strong>rando que nem tudo <strong>de</strong>va ser aprofundado <strong>de</strong>mais, quer dizer,você não <strong>de</strong>ve exigir <strong>de</strong> um editor por exemplo que ele tenha um conhecimento <strong>de</strong> matemática queestá ligada às técnicas <strong>de</strong> compressão. Ela não precisa saber série <strong>de</strong> Fourier, transformação <strong>de</strong>esquerda <strong>de</strong> co-seno, nada disso. Isso é alta matemática. Isso interessa aos engenheiros. Agora, eletem que enten<strong>de</strong>r compressão, ele tem que po<strong>de</strong>r escolher entre um sistema e outro que comprimemais, que comprime menos, o tipo <strong>de</strong> compressão que é usado. Ele precisa saber disso. Então eleprecisa ter um conhecimento teórico bom, sem aprofundamentos exagerados, porque é perda <strong>de</strong>tempo. Enquanto ele está apren<strong>de</strong>ndo a série <strong>de</strong> Fourier ele podia estar apren<strong>de</strong>ndo uma coisa ligadaa edição mesmo, <strong>de</strong> forma clara. E a prática andando junto. Assim é que se apren<strong>de</strong>. Do jeito que foifeito até hoje, essa espécie <strong>de</strong> corporação <strong>de</strong> ofício, A que apren<strong>de</strong>u com B, que apren<strong>de</strong>u com C,que apren<strong>de</strong>u com D que vai <strong>de</strong>gradando o conhecimento, isso não funciona mais. Então eu achoque algumas funções po<strong>de</strong>riam ser exigidos para o chão, para começar o aprendizado, um cursobásico anterior. Por exemplo, os eletricistas po<strong>de</strong>riam ter um curso <strong>de</strong> eletrotécnica do SENAI,enten<strong>de</strong>u, para você não precisar colocar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> cinematografia um curso <strong>de</strong>eletrotécnica, enten<strong>de</strong>u. O cara já vem com a base, já sabe o que é tensão elétrica, carga elétrica,resistência, já sabe essas coisas e vai simplesmente lá <strong>de</strong>ntro da escola como eletricista <strong>de</strong> cinemaapren<strong>de</strong>r um específico, o que é uma lâmpada <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarga, o que é um ballast, o específico. Entãoisso é uma das coisas que po<strong>de</strong>ria ser feita. Exigir um nível <strong>de</strong> aprendizado anterior básico.Funcionaria assim. E em funções que isso não é possível, por exemplo, <strong>de</strong> um operador <strong>de</strong> câmera,você não vai pedir um curso básico <strong>de</strong> óptica. Não faz sentido. Então o que ele precisa apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong>óptica ele tem que apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntro da escola <strong>de</strong> cinema mesmo. Ele não vai fazer um curso <strong>de</strong> físicavoltado para óptica porque ele vai pegar um monte <strong>de</strong> coisa que não tem importância, que são amais. Mas, se ele tiver interesse <strong>de</strong>pois, hoje na era da internet ele vai atrás e acha, você acha tudo oque você quiser na internet e nos livros que você po<strong>de</strong> comprar pela internet. Então funciona assim.Então acho que se for feito isso, exigência <strong>de</strong> um nível mínimo, esse nível mínimo as vezes não


precisaria nem ser um certificado, um diploma <strong>de</strong> um curso básico, po<strong>de</strong>ria ser uma avaliação,certo. Você faz uma prova básica para ver, no caso eu necessito ter conhecimentos básicos <strong>de</strong>eletrotécnica e uma vez comprovado que ele tem esse conhecimento básico então ele é admitidopara ir ter um conhecimento, para ser ensinado técnica <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> ligada a cinematografia.NOVAS FUNÇÕES:na minha área surgiu um personagem novo muito importante que é o engenheiro <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o. É o caraque está no set, que é um técnico, um engenheiro eletrônico especializado em imagem, que é o caraque faz o set-up da câmera, regula a câmera e controla o processo todo <strong>de</strong> gravação do sinal e tal.Esse cara ainda não está entendido não só aqui não. Nos EUA há discussões <strong>de</strong> quais são ascompetências <strong>de</strong>sse cara, enten<strong>de</strong>u? Ou até que ponto ele conflita com o diretor <strong>de</strong> fotografia? Atéque ponto que ele conflita com a elétrica? Isso ainda não está bem <strong>de</strong>finido. E esse nosso daí nãotem ainda esse personagem. Essa regulamentação aí, essa <strong>de</strong>scrição não tem ainda, mas precisa ter.É uma figura importante que está entrando. Então esse novo personagem ele é a intermediação entrea área <strong>de</strong> criação da imagem e a área técnica do registro da imagem, enten<strong>de</strong>u. Ele faz essa ponte.Quer dizer, o diretor <strong>de</strong> fotografia sabe o que quer em termos <strong>de</strong> look, a aparência final da imagem,mas não tem os elementos necessários para regular a câmera, as telas são cada vez maiscomplexas, um mundo <strong>de</strong> variáveis que você po<strong>de</strong> alterar numa câmera eletrônica profissional hojeé absurdamente gran<strong>de</strong>. Você tem <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> páginas com <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> itens que têm que serregulados. Você passa tudo para o cassete da fábrica e ser feliz, e passar o problema para ofinalizador. Tem até uma escola muito, eu até faço parte um pouco <strong>de</strong>ssa escola, que diz que você<strong>de</strong>ve na captação com câmeras digitais simplesmente aproveitar o máximo a capacida<strong>de</strong> que aquelacâmera tem para produzir <strong>de</strong>talhe, nuance <strong>de</strong> luz, graduações <strong>de</strong> cor. Usa o máximo, bota aregulagem mais padrão, mais flat, como a gente diz, possível e <strong>de</strong>pois no ar condicionado dafinalização você vai então dar o toque, aumentar o contraste, tirar cor, colocar cor, trocar a cor doolho do ator. Isso na calma. Não vai tentar fazer isso no set. Mas, mesmo para fazer a imagem emflat numa câmera <strong>de</strong>ssas complexas você precisa <strong>de</strong> um engenheiro <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o. Então esse cara veiopara ficar. Ainda é um estranho no ninho porque é uma pessoa que não tem uma formação artística,ele tem uma formação técnica. Então existe até uma certa impaciência . Ele não enten<strong>de</strong> o timing noset. “Porque que está esperando? O que houve? Porque que não filma? Porque que não grava?” Nãograva porque o ator não chegou ainda lá, o diretor sabe que o ator vai ren<strong>de</strong>r mais, mas o cara nãochegou ainda, enten<strong>de</strong>u. Está lá, elucubrando e tal. O diretor está fingindo que está fazendo outracoisa para dar tempo do ator chegar no ponto e tal e ele não enten<strong>de</strong> isso. Ele é técnico. “Pô, queraio, está tudo iluminado, porque que não filma essa porcaria?” Enten<strong>de</strong>u? Então ele está tendotambém um aprendizado da parte <strong>de</strong>le, quer dizer, esse novo profissional vai ter que também teruma adaptação.AS MUDANÇAS NA ECONOMIA DO CINEMA:Tem dois processos concorrendo. Tem o processo da Sony, lá o blue ray disk e tem o HD DVD, odvd <strong>de</strong> alta <strong>de</strong>finição que é a Toshiba que é outro grupo. Então até agora por que eles estavambrigando? Eles estavam brigando para ganhar os gran<strong>de</strong>s estúdios, porque os gran<strong>de</strong>s estúdios iamlançar os seus filmes em seu sistema, certo. Parece que agora nos últimos 3 meses que eu tenhoacompanhado <strong>de</strong> longe que a Sony, a Buena Vista, a Disney optaram pelo blue ray disk que é o daSony. Então <strong>de</strong>ve, agora que abriu a porteira, então vai ser o blue ray disk, então em 2006 a gentevai ver aparecer não só aparelhos que tocam por DVD <strong>de</strong> alta <strong>de</strong>finição, como todos os estúdios vãolançar os seus filmes em alta <strong>de</strong>finição. Isso vai ser uma alteração no mercado exibidor brutal,porque as pessoas que ainda vão ao cinema, porque no cinema tem uma imagem <strong>de</strong> mais qualida<strong>de</strong>do que tem em casa do DVD, não vão ter mais esse argumento. Você vai ter alta <strong>de</strong>finição na suacasa. Você vai botar um televisor <strong>de</strong> plasma <strong>de</strong> 60 polegadas em casa e ver em alta <strong>de</strong>finição muitomelhor do que qualquer cinema <strong>de</strong> São Paulo pelo menos. Talvez em Los Angeles você tenha um


cinema que a qualida<strong>de</strong> seja melhor. Mas aqui não vai ter nenhum cinema em São Paulo que sejamelhor que a sua casa.O FUTURO DO CINEMA:Vai alterar. Quando você mexe no final da linha, na exibição, você altera todos os outros estágios.Então a experiência do cinema sala <strong>de</strong> exibição fotoquímica vai virar uma coisa <strong>de</strong> cinemateca. Vaiser uma coisa muito... O próprio conceito sala <strong>de</strong> exibição vai ter uma importância muito diminuída.Parece que a gente fica vendo abrir sala em shopping e tem a impressão que está em crescimento.Não está em crescimento não. A exibição coletiva do audiovisual está diminuindo, enten<strong>de</strong>u. Osegmento que está crescendo é o segmento doméstico. É o home ví<strong>de</strong>o através do DVD e agora comesse DVD <strong>de</strong> alta <strong>de</strong>finição a coisa vai muito para esse lado. Fora que a indústria do vi<strong>de</strong>ogame jásuperou a indústria, o faturamento <strong>de</strong> Hollywood <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano retrasado, 2003. 2003 a indústria <strong>de</strong>vi<strong>de</strong>ogame já faturou mais do que a indústria <strong>de</strong> produção em Hollywood <strong>de</strong> cinema, enten<strong>de</strong>u.Então isso são indicadores para on<strong>de</strong> a coisa está indo, qual é o rumo da coisa.COMO INTEGRAR O PROFISSIONAL QUE APRENDEU NA PRÁTICA:Eu sempre vejo a questão da formação ao mesmo tempo que vejo a da reciclagem. Inclusive a genteteria que pensar direitinho na integração <strong>de</strong>ssas duas turmas, que é fantástico, quer dizer, no finalfazer alguns exercícios práticos que juntassem os dois cursos. Pegar o cara que é bom profissional,que está se reciclando ali naquele curso <strong>de</strong> reciclagem, junto com o cara que está se formando,enten<strong>de</strong>u. Fazer equipes com um e outro, eu acho muito bom. Eu acho que aí po<strong>de</strong> ser uma coisamuito, é eu acredito muito nisso. Assim o lado positivo <strong>de</strong>sse sistema aí que eu chamo <strong>de</strong>corporações <strong>de</strong> ofício, o lado positivo é esse, enten<strong>de</strong>u, é você criar uma integração humana,pessoal, <strong>de</strong> interesse entre um profissional mais velho e um jovem aprendiz. Isso é muito positivo. Eeu sei porque eu <strong>de</strong>vo muito do que eu aprendi a simples observações <strong>de</strong> dois profissionais. Euaprendi muito vendo o Wal<strong>de</strong>mar Lima, o seu Chick (Fowle) até o Icsey (Rudolf) que eu cheguei aver, eu peguei algumas filmagens <strong>de</strong>le e tal, eu aprendi muito, praticamente sem perguntar, certo. OWal<strong>de</strong>mar Lima eu perguntava muito porque eu já era parte da equipe, mas os outros que eu eraassim, estava lá mosquiando e tal, você apren<strong>de</strong> muito. Essa interação, se você aprofundar essainteração, enten<strong>de</strong>u, criar as possibilida<strong>de</strong>s do cara perguntar, abrir um canal <strong>de</strong> diálogo. É muitobom juntar os dois cursos nos exercícios, juntar os reciclados com os aprendizes é muito bom. Isso éuma coisa que teria que se criar uma sistemática para fazer isso mesmo.OS PROFISSIONAIS DE CINEMA E AS NOVAS MÍDIAS:O mercado está ficando cada vez mais eclético. Por exemplo, hoje tem muita gente que trabalhacom imagem eletrônica, o ví<strong>de</strong>o, que está produzindo para a internet, que é um veículo muitolimitado em termos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> da imagem e tal, mas que tem e se você estuda você tem formas <strong>de</strong>melhorar as suas imagens para que elas sejam comprimidas para aquele MPEG lá que eles usam,não ficar mexendo a câmera <strong>de</strong>mais, <strong>de</strong>sfocar o fundo das folhinhas para não aumentar acompressão muito e tal, você mesmo fazendo para uma mídia que não tenha muita qualida<strong>de</strong> e tal,você tem que melhorar. O <strong>de</strong>safio é esse, enten<strong>de</strong>u. Está fazendo ví<strong>de</strong>o para internet, o que eu possomelhorar nesses ví<strong>de</strong>os? Como é que eu posso fazer ? Você conhecer o problema, o problema é oque, compressão <strong>de</strong>mais, então como é que eu vou tirar a complexida<strong>de</strong> espacial da minha imagempara formar ela mais comprimível. Então é um <strong>de</strong>safio também. Então eu acho que as novas mídiasestão levantando questões que são um <strong>de</strong>safio para o profissional. Eu acho que toda vez , outro diaeu fiz um troço aí que nunca tinha feito sabe. Um arquiteto, um cara famoso aí me chamou parafazer umas imagens em alta <strong>de</strong>finição para uma exposição que ia ter 12 projetores, 360 graus, paraPetrobrás, 50 anos da Petrobrás. A construção é um inflável, <strong>de</strong>ve estar viajando até hoje pelo Brasil<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano passado.


PERFIL (9)Gallileu GarciaDiretor Cinematográfico e RoteiristaPrincipais Realizações:Participou <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> longas-metragens, documentários, curtas, filmes e ví<strong>de</strong>os educativos;Atuou na produção e direção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> propaganda para TV e Cinema, recebendo inúmerosprêmios nacionais e internacionais.No campo do ensino <strong>de</strong>u aulas nas disciplinas produção, direção e roteiro <strong>de</strong> cinema e ganhou porduas vezes o prêmio Vladimir Herzog <strong>de</strong> Anistia e Direitos Humanos, pelos textos teatrais Barzac(1963) e Réquiem para um rio morto (1999)Ativida<strong>de</strong>s Profissionais• 1948/1949 – Repórter e crítico <strong>de</strong> cinema do jornal Notícias <strong>de</strong> Hoje.• 1950 – Redator (release) do Depto. <strong>de</strong> Propaganda da cia Vera Cruz, no lançamento dos filmesCaiçara, Terra é sempre terra e Ângela.• 1951/1952 – Assistente <strong>de</strong> direção do filme “Sai da Frente, da Vera Cruz, direção <strong>de</strong> AbílioPereira <strong>de</strong> Almeida; Assistente <strong>de</strong> direção do filme Cangaceiro, da Vera Cruz, direção <strong>de</strong> LimaBarreto.• 1953/1954 – Assistente <strong>de</strong> direção do filme “Na Senda do Crime”, da Vera Cruz, direção <strong>de</strong>Flamínio Bolini Cerri; Assistente <strong>de</strong> direção do filme Floradas na Serra, da Vera Cruz, direção<strong>de</strong> Luciano Salce; Coor<strong>de</strong>nador, assistente <strong>de</strong> direção e co-roteirista do filme A Carrocinha,direção <strong>de</strong> Agostinho Martins Pereira; Coor<strong>de</strong>nador, assistente <strong>de</strong> direção do documentário <strong>de</strong>longa-metragem São Paulo em Festa, da Cia. Vera Cruz, direção <strong>de</strong> Lima Barreto.• 1955/1957 – Pesquisa/argumento sobre introdução do gado indiano no Brasil; Assistente <strong>de</strong>direção do filme O Sobrado, da Cia Brasil Filmes, direção Walter George Durst e CassianoGabus Men<strong>de</strong>s; Diretor <strong>de</strong> TV da CIN, Cia <strong>de</strong> Incremento <strong>de</strong> Negócios (propaganda); ProdutorExecutivo do filme O Gato <strong>de</strong> Madame, da Cia Brasil Filmes, Agostinho Martins Pereira;Produtor Executivo do filme Osso, Amor e Papagaios, da Cia . Brasil Filmes, direção <strong>de</strong> CesarMêmolo e Carlos Alberto <strong>de</strong> Souza Barros; Produtor executivo do filme Paixão <strong>de</strong> Gaúcho, daCia. Brasil Filmes, direção <strong>de</strong> Walter George Durst.• 1958 – Roteiro e direção do longa-metragem Cara <strong>de</strong> Fogo - Prêmios: melhor Direção/RoteiroGoverno <strong>de</strong> São Paulo, Prefeitura <strong>de</strong> São Paulo; Festival <strong>de</strong> Cinema <strong>de</strong> Maringá e o Saci, <strong>de</strong> “OEstado <strong>de</strong> São Paulo”. Roteiro <strong>de</strong> direção <strong>de</strong> aproximadamente 30 comerciais para TV. Roteiroe direção dos documentários O Brasil Pedala e Aju<strong>de</strong> Salvar uma Vida.• 1959/1961 – Como sócio, diretor e roteirista, integra a equipe da Lynxfilm ( Lince Filmes,RGE, Lince Filmes). Roteiro e direção dos documentários: Curso Preparatório; Leite é Saú<strong>de</strong>;Vale do Paraíba; Ofidismo; 20 mil toneladas <strong>de</strong> Alumínio; Da Fonte ao Consumo; Base doProgresso; Terra Própria; A Gravata; Celulose Brasileira.• Prêmios por documentários: Saci (Estadão), Governador do Estado, Municipalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> SãoPaulo, como roteirista e diretor.• Argumento e roteiro do longa-metragem As Aventuras <strong>de</strong> Pedro Malasartes, produção AmácioMazzaropi.• Coor<strong>de</strong>nador e assistente <strong>de</strong> direção do filme A Primeira Missa, direção <strong>de</strong> Lima Barreto.• Sócio fundador da APTCESP• Direção/produção <strong>de</strong> cerca 120 comerciais para TV• 1962 – Funda a Documental Produções Cinematográficas: Direção, roteiro dos documentários:Figuração, A boa Semente, Cooperação, Revisão Agrária e Arquitetura Brasileira; Direção eprodução <strong>de</strong> aproximadamente 60 comerciais para TV.


• 1963/1969 - Direção/Administração da Produtora Magisom S/A- Produção <strong>de</strong>aproximadamente 500 comerciais para TV; Direção <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 60 comerciais para TV;Produção <strong>de</strong> 800 spots, trilhas e jingles para Rádio. Primeiro Prêmio no Festival <strong>de</strong> Rosário(Argentina) com o comercial para TV e Cinema Alô, Alô Astronautas.• 1970/1971 - Integra a equipe da Persin, Perrin Produções (Rio) dirigindo cerca <strong>de</strong> 140comercias para TV e Cinema. Direção dos documentários Palfitas, Bumba-meu-boi e Leite B.• 1972/1979 - Obtém 2 prêmios CLIO, por comerciais para Serpro e Pepsi Cola. Como diretorfreelancer dirige cerca <strong>de</strong> 250 comerciais para TV e Cinema. Argumento e roteiro dos longametragensO Rei da Boca do Lixo e Casos do Romualdo.TRECHOS DA ENTREVISTA REALIZADA EM 16/11/2005COMO COMEÇOU NO CINEMA:Eu no meu início militava em jornal, e jornal era o que eu gostava <strong>de</strong> fazer. E além das reportagensque era minha função mesmo, eu era repórter, eu gostava muito <strong>de</strong> cinema e fui atraído para ocinema, o cinema prático, o cinema <strong>de</strong> estúdio, através da crítica <strong>de</strong> cinema, vendo filmes emilitando e fazendo críticas <strong>de</strong> filmes e foi através disso que eu entrei e comecei.A VERA CRUZ COMO UMA GRANDE ESCOLA DE CINEMA:Quem iria trabalhar lá, na verda<strong>de</strong> fazia uma espécie <strong>de</strong> curso superior <strong>de</strong> cinema. A gente pegavatipo o Chick Fowle, por exemplo para te ensinar, mas ele te dizia tudo que você perguntasse, eletinha resposta; aquela resposta honesta, então você tinha a parte <strong>de</strong> cenografia, a parte <strong>de</strong> som etodas as partes. Era um estúdio bem completo. Então era uma nata. Muita gente se formou, muitagente se formou lá, e tem gente que até hoje tá trabalhando. Inclusive tá produzindo. Um é ator, umé diretor, um é outra coisa, mas esta trabalhando, foi uma experiência magnífica. (...) tinha lá umaprodução <strong>de</strong> cenários, uma carpintaria que produziam cenários; então a gente via os projetos <strong>de</strong>cenários dos filmes, que eram mandados por esse <strong>de</strong>partamento e os cenários eram feitos, então agente via, via o filme ser feito, a coisa, ser realizada. A gente não é, a gente não tinha apenasdigamos o aprendizado teórico, o aprendizado realmente prático. Assim <strong>de</strong> alto nível. A gente viaentão o filme, você via o cenário <strong>de</strong> repente, como aquele cenário era montado, então você vê amontagem do cenário, então você vê a chegada dos objetos <strong>de</strong> cena, você vê tudo aí, você começaver tudo. Como é, porque o bom cinema que na verda<strong>de</strong>, há duas formas <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r cinema, além<strong>de</strong> ter o estudo é você po<strong>de</strong>r trabalhar num lugar <strong>de</strong>sse, on<strong>de</strong> tem um carpinteiro que é altamenteespecializado que tem um pintor muito bom que vai pintar, dar uma cor <strong>de</strong> tempo passado <strong>de</strong> tempousado <strong>de</strong> uso. Então você começa ver o cinema porque você apren<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maneira muito boa ecom esses diretores, com esses técnicos altamente especializados que a Vera Cruz tinha trazido agente via, a gente aprendia, montagem, por exemplo, o montador chefe da Vera Cruz era o OswaldHafenrichter . Oswald Hafenrichter na época que entrou na Vera Cruz recebeu convite para ir naFesta do Oscar, porque um filme que ele montou com David Niven <strong>de</strong> um diretor inglês, estavaconcorrendo ao Oscar. Ele estava concorrendo como montador, então muito amigo que o cara tinha.Ele tinha feito um filme assim, muito importante e a montagem da Vera Cruz era uma montagemperfeita tal, dava para montar quatro filmes ao mesmo tempo, tinha seis moviolas, e tinha todo oequipamento, som também era um, a parte <strong>de</strong> som era muito bem, muito bem montada, muito bem,tinha vários engenheiros que cada engenheiro em um lugar. Cada um, um cara que era especialistaem dublagem, ele era um engenheiro 1, engenheiro Hack (Ernest Hack) é um engenheiro, umengenheiro que faz que era o chefe. Que montava as coisas, e ele dava as coor<strong>de</strong>nadas. Não se po<strong>de</strong>fazer assim, essa voz não serve por causa disso, disso e a gente tinha assim, um apoio muitíssimogran<strong>de</strong>.


PRIMEIRAS TENTATIVAS DE PARCERIA COM A TELEVISÃO:Porque naquele tempo, o Abílio, na Brasil Filmes, ele tentou abrir a Vera Cruz, abrir, criar novaspossibilida<strong>de</strong>s para o cinema. E uma das possibilida<strong>de</strong>s, que ele criou foi fazer uma co-produçãocom a Tupi. A televisão Tupi. Nós fizemos dois filmes com a Tupi. Esse, inclusive, foi um primeirose chamava Paixão <strong>de</strong> Gaúcho, e o outro chamava-se O Sobrado. O Sobrado foi feito, e eu fuiassistente <strong>de</strong> direção do Walter Durst que veio da Tupi. Nós fizemos o filme muito bem feito, emquarenta e cinco dias, nós fizemos esse filme O Sobrado, que é um gran<strong>de</strong> filme, que é um belofilme. E <strong>de</strong>pois teve um seguinte. O seguinte foi Paixão <strong>de</strong> Gaúcho que o Walter, insistiu natemática gauchesca, que esse filme era uma história, baseada no romance O Gaucho, <strong>de</strong> José <strong>de</strong>Alencar, e daí esse filme a gente fez esse filme já eu fiz como diretor <strong>de</strong> produção, produtorexecutivo.INICIO DA INDUSTRIA DO FILME PUBLICITÁRIO:Em 58, foi o ano que começou a gran<strong>de</strong> crise no cinema brasileiro, foi o ano que justamente nesse58, no ano 8 a gente fazia em São Paulo, <strong>de</strong>z, doze filmes por ano. Na verda<strong>de</strong> em 58, nós fizemostrês filmes. Até 58, a televisão precisava absolutamente <strong>de</strong> muita coisa e os filmes publicitários, eraa força econômica <strong>de</strong>les. E até aí nesses oito anos eles trabalhavam meio na base do improviso.Então a gente passou a fazer o comercial filmado, mas foi a gente que vinha do cinema, vinha <strong>de</strong>longa metragem, a gente fazia todos, nós fazíamos coisas elaboradas, medidas e começamos a criar,então essa indústria, que hoje é uma indústria vitoriosa. A primeira firma que nós fundamos que euentrei na fundação foi a Lynxfilm com o César (Memolo). Tinha o Agostinho, tinha o Roberto etodo o pessoal, fora os fotógrafos, maquinistas, eletricista. Simultaneamente, no mesmo mês, oJacques (Deheinzelin) fundou a Jota Filmes.FAZER PUBLICIDADE ERA CONDENADO IDEOLÓGICAMENTE:Eu faço um balanço, tem um lado, um pequeno lado negativo, o fato <strong>de</strong> eu ter ficado naquela época,naqueles anos integrado no filme publicitário, eu na verda<strong>de</strong>.. isso isolava, isolava você da fitalonga metragem. (...)Na verda<strong>de</strong>, quando tinha filme publicitário, eu ia até o fundo, on<strong>de</strong> a genteentra na parte <strong>de</strong> produção, entra uma série <strong>de</strong> coisas, você fica muito ligado a coisa. Na verda<strong>de</strong>, osque ficavam ligados, acabavam naquela ocasião, ficando um pouco mal visto pelo longa metragem.Inclusive você tinha até posições i<strong>de</strong>ológicas, por exemplo, O Glauber, ele era um inimigo, uminimigo manifesto <strong>de</strong> cineastas que tinham a<strong>de</strong>rido ao filme <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Várias vezes ele diziamesmo. Inclusive eu pus na tese uma coisa, uma frase que ele dizia assim: Imagina, até o Galileuesta fazendo filme publicitário. (...)quem participava <strong>de</strong> longa metragem, olhava a Globo, olhava atelevisão como inimigo, inimigos que apareceram, mas tudo isso <strong>de</strong>sapareceu. E hoje acontece nomundo todo, você pega assim os atuais realizadores <strong>de</strong> longa metragem do Estado inteiro, a maiorparte faz televisão e publicida<strong>de</strong>. Inclusive foi se criando essa influência. Hoje a linguagem dofilme, a atual linguagem do filme <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> ela tem um gran<strong>de</strong> conteúdo, e o longa metragemrecebe uma gran<strong>de</strong> influência dos filmes <strong>de</strong> propaganda. Então os filmes são rápidos, tem tomadasmuito curtas, os filmes passam tem um conteúdo, tem um roteiro muito maior do que tinhaantigamente. É bom porque isso aí é influência que recebe, são pessoas que influenciam os outros.Hoje é engraçado isso, mas os filmes nacionais, os filmes, os diretores ingleses, como diretores <strong>de</strong>filmes <strong>de</strong> propaganda foram para os Estados Unidos, e continuaram, eles conseguiram entrar emfilmes <strong>de</strong> longa metragem e levaram a influência da publicida<strong>de</strong>. (...) hoje todos os caminhos estãoabertos.


PERFIL (10)Jacques DeheinzelinFotógrafo Cinematográfico, Diretor e RoteiristaFormação Técnica:Fotografia e Cinema – Escola Técnica <strong>de</strong> Fotografia e Cinema eIDHEC – <strong>Instituto</strong> dos Altos Estudos Cinematográficos – FrançaPrincipais Realizações:<strong>Trabalho</strong>u em vários projetos da indústria do cinema nos anos 1950 e em várias produçõesin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> longa e curta metragem. Atuou em diversas entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe e comissõesgovernamentais , com objetivo do <strong>de</strong>senvolvimento e regulamentação dos profissionais <strong>de</strong> cinema eTV.Ativida<strong>de</strong>s Profissionais:- Contratado pela Vera Cruz – on<strong>de</strong> também foi Diretor da Companhia; pela MaristelaMultifilmes S.A – <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Roteiros.- Fundador da Jota Filmes Ltda – produtora <strong>de</strong> filmes publicitários e documentários- Participou da fundação da ATACESP (Associação dos Técnicos e Artistas Cinematográficos doE.S.P) e da criação da APICESP ( Associação dos Produtores da Industria Cinematográfica)junto à Presidência da República em 1957.- Foi membro da Comissão Municipal <strong>de</strong> Cinema (SP) em 1955, da Comissão Estadual <strong>de</strong>Cinema (1956), membro do GEIC (Grupo <strong>de</strong> Estudos da Indústria Cinematográfica), junto aPresidência da República em 1957.- Primeiro Presi<strong>de</strong>nte da Associação Brasileira <strong>de</strong> Produtores <strong>de</strong> Filmes <strong>de</strong> Curta Metragem em1960.- Presi<strong>de</strong>nte do Sindicato da Industria Cinematográfica do ESP em 1962.- Nomeado Secretário <strong>de</strong> Planejamento do <strong>Instituto</strong> Nacional <strong>de</strong> Cinema em 1970.- Participou como relator da Comissão Interministerial para Regulamentação da Profissão <strong>de</strong>Artista e Técnicos em espetáculos, e para regulamentação da Programação <strong>de</strong> Televisão em1971.- 1972 a 1982 – Dedicou-se a projetos <strong>de</strong> residências e à pesquisa econômicas.- Secretário Executivo da APRO – 1982- Secretário Executivo e Presi<strong>de</strong>nte da APRASOM (associação Brasileira das Produtoras <strong>de</strong>Fonogramas Publicitários) – 1990.- Fundador e Presi<strong>de</strong>nte da ABDC (Associação Brasileira dos Diretores <strong>de</strong> Comerciais)TRECHOS DA ENTREVISTA REALIZADA EM 20/12/2004A TELEVISÃO REALIZOU O PROJETO DE INDUSTRIALIZAÇÃO QUE O CINEMA NÃOCONSEGUIU:Sem dúvida. Eu saí disso (se refere a ativida<strong>de</strong> cinematográfica) quando eu percebi isso nos anos1970, vi que estava fora. Eu, como todo mundo, como você, achava a televisão o fim da picada. Derepente fui lá para o governo e me puseram lá na comissão, uma comissão interministerial parafazer os relatórios. Comecei a ver como era o negócio da televisão, e que o cinema é um negócio


minúsculo, perto do fenômeno da televisão, e tão con<strong>de</strong>nado pelo futuro governo e que eu mais oumenos tinha razão, o cinema não era nada do que eu tinha pensado, enquanto negócio era bobagem.(...)A profissão <strong>de</strong> cinema, do audiovisual, a meu ver se realiza na TV. Pelo menos na TV brasileira.A IMPORTÂNCIA DO EXERCÍCIO DIÁRIO DA PROFISSÃO:Eu tinha muita inveja dos músicos, porque quando eu fazia a música <strong>de</strong> um comercial, o sujeitovinha, fazia a sua pauta, chegava no estúdio, distribuía a pauta. Naquele tempo se trabalhava comum bando <strong>de</strong> músicos. Eu lembro <strong>de</strong> músicas que eu fiz, com uns vinte músicos tocando.Normalmente era o próprio compositor que dirigia, distribuía e todo mundo ficava olhando, e eledizia : um, dois, pá. Os vinte caras tocavam. Já saia na primeira vez, eles tocavam lendo a música.Quando eu fazia um plano <strong>de</strong> um comercial, para fazer todos enten<strong>de</strong>rem o que eu queria, eu levavameia hora. Ponha uma luz aqui, uma outra lá, e ninguém entendia patavina do que eu queria fazer.Então você não tinha profissionalismo, e isso não por culpa das pessoas, mas por culpa do sistema.COMO SURGIRAM AS ASSOCIAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS EM SÃO PAULO:Aí eu fui falar com o Abílio (Pereira <strong>de</strong> Almeida). Naquela época, a Vera Cruz já tinha pifado. OAbílio estava lá e assumiu a Brasil Filmes, então eu fui ver o Abílio e lá fizemos uma espécie <strong>de</strong>associação da própria Vera Cruz. Tinha um prédio vizinho que tinha o Nick Bar. Então, tinha oescritório. O escritório era em cima do Nick Bar. E lá fundamos tudo, porque aí eu resolvi que iafazer comissões, eu, (Flavio) Tambelini e o grupo, assim. Então aí a gente reuniu todo mundo, oseminário do cinema que era o Plínio (Garcia) Sanches, que foi importante. Esse negócio todo.Então juntou todo mundo e a idéia era fazer uma porção <strong>de</strong> associações. Então fundamos aATACESP, a APICESP, que se transformaram em Sindicatos. Fizemos associação <strong>de</strong> críticos <strong>de</strong>cinema, tudo que podíamos lembrar, assim, que pu<strong>de</strong>sse fazer, fazer uma associação, a gente fazia.,para juntar nomes e fazer as comissões. Então começou a Comissão Municipal <strong>de</strong> Cinema, que foia primeira, <strong>de</strong>pois a Estadual <strong>de</strong> Cinema. Aí nesse ínterim aí, a Vera Cruz foi piorando, o problemada Vera Cruz é que ela não foi um mecenato privado. Foi feita com dinheiro do Banco do Estado e<strong>de</strong>pois com dinheiro do Banco do Brasil. E aquilo virou ameaça <strong>de</strong> escândalo. O dinheiro tinhasaído lá, em parte, porque o (Franco) Zampari teve a idéia genial <strong>de</strong> fazer Sinhá Moça que era oromance cuja autora era por acaso a mulher do presi<strong>de</strong>nte do Banespa. Então a partir daí que eleconseguiu fazer todo negócio, porque o dinheiro vinha do Banespa.


PERFIL (11)José Luiz SassoEditor <strong>de</strong> Som, Técnico Operador <strong>de</strong> MixagensEscolarida<strong>de</strong>:Segundo Grau <strong>Completo</strong> - Colégio Marista e Colégio Módulo.Formação Técnica:Curso <strong>de</strong> Eletrônica - <strong>Instituto</strong> Edson.Curso <strong>de</strong> Aperfeiçoamento Técnico ministrado pela Dolby Labotatories. - Warner Bros. LosAngeles,CA, USA, 1984.Curso <strong>de</strong> Aperfeiçoamento em Som Dolby - ministrado pela Dolby, São Paulo, 1986.Principal Ocupação:Empresário, Editor <strong>de</strong> Som, Técnico Operador <strong>de</strong> Mixagens, Consultor Técnico.Ativida<strong>de</strong>s Secundárias:Consultor In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para Sonorização <strong>de</strong> Filmes e Ví<strong>de</strong>os.Consultor In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para Implantação <strong>de</strong> Sistemas e Equipamentos <strong>de</strong> ÁudioProfissional específico para cinema.Consultor In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para Projetos <strong>de</strong> Acústica.Ativida<strong>de</strong>s ProfissionaisEm 1968 a 1972 na extinta Arte Industrial Cinematográfica (ACI) iniciou como Técnico Auxiliarno Setor <strong>de</strong> Manutenção Eletrônica.Em 1972 a 1976 atuou na Fundação Padre Anchieta (TV Cultura) como Montador e Mixador <strong>de</strong>Filmes.Em 1976 a 1993 atuou na Álamo Laboratório <strong>de</strong> Cinematografia e Som S/C como TécnicoOperador <strong>de</strong> Mixagens e Editor Geral <strong>de</strong> Filmes . Um ano e meio após minha admissão fuipromovido ao cargo <strong>de</strong> Gerente Técnico.Em 1993 até a presente data, empresa sócio próprietário , JLS Facilida<strong>de</strong>s Sonoras Ltda, paraPrestação <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Gravações, Sonorizações, Consultoria e Projetos.Em 1993 a 1997, admitido através <strong>de</strong> concurso público, como ProfessorColaborador (por notório saber) na Escola <strong>de</strong> Comunicações e <strong>Artes</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulopara a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Som em Cinema e Ví<strong>de</strong>o.TRECHOS DE ENTREVISTA REALIZADA EM 14/03/2006-07-12MUDANÇAS NO APRENDIZADO:São muitas. Olha, antigamente, eu até sempre brinco nas várias vezes que eu conversei sobre oassunto, é que a coisa era até folclórica. Ou seja, o aprendizado era totalmente por tradição moral.Todo mundo ía explicando para todo mundo. O cara fazia, havia um caminho a seguir, então o caracomeçava como 3º assistente <strong>de</strong> moviola que era aquele cara que enrolava magnético, que botava no


pregador os planinhos, o 2º assistente era aquele que organizava nas caixas, o 1º assistente eraaquele que organizava já com o montador, para finalmente o montador botar a bunda na ca<strong>de</strong>ira damoviola e montar o filme. Isso não existe mais. Não existe um 1º assistente, um 2º assistente. Hojena realida<strong>de</strong> como você tem um computador na sua frente praticamente tem alguém que organizaisso que necessariamente não é nada ligado a própria montagem do filme, é um burocrata emcomputadores que organiza todo o material <strong>de</strong>ntro do computador e vai o montador e monta, quetambém muitas vezes não é montador. Porque a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gente que está montando filmes eque não é no sentido literal da palavra os montadores que vieram daquela época, não estou<strong>de</strong>sprezando eles, ao contrário, só estou traçando esse paralelo, não existe mais essa carreira, que ocara começava como 3º assistente, passava para 2º até chegar a ser um montador e daí para frenteele ia ser diretor. Quer dizer, o próximo passo do montador no mínimo era ser diretor ou atéroteirista <strong>de</strong>vido a bagagem que ele carregava com ele. Isso sumiu.SOBRE A FUNÇÃO DE SOUND DESIGNER:(...) a função nova que tem aí que o pessoal gosta <strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> sound <strong>de</strong>signer. Eu questiono muitoesse termo aqui no Brasil não pelo americanismo, anglicismo da palavra, mas pela própria função,porque na realida<strong>de</strong> aqui no Brasil o gran<strong>de</strong> sound <strong>de</strong>signer é o próprio diretor do filme. Se ele falarnão quero, não quero, acabou. É diferente do cinema norte americano aon<strong>de</strong> o diretor <strong>de</strong> som<strong>de</strong>posita no seu editor <strong>de</strong> som, no seu sound <strong>de</strong>signer, no sound supervisor, tudo aquilo que ele quer,porque? Porque esse cara faz parte <strong>de</strong> uma equipe que trabalha com esse diretor. Você pega oscréditos <strong>de</strong> filmes você sempre vai ver os mesmos nomes, praticamente você vai ver sempre osmesmos nomes com os mesmos profissionais com os mesmos diretores, porque? Porque não existeum laço <strong>de</strong> se saber quais são as vonta<strong>de</strong>s. O que que é você trabalhar com um diretor <strong>de</strong> filme. É narealida<strong>de</strong> você saber o que ele quer, quais são as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>le para você completar isso e levarpara a tela aquilo que está na cabeça <strong>de</strong>le.OS ESTÚDIOS DE SOM ATUAIS:(...)hoje qualquer um <strong>de</strong> nós, a partir <strong>de</strong> 16 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, até menos, até 50, se tiver vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>apren<strong>de</strong>r alguma coisa, você compra um computador e monta um estúdio na sua casa. Então acaboutambém aquela coisa que você tinha. A Odil, a Álamo, o Zanca, o Zankoviski, a Nel Som, nãoexiste mais esse conceito. Como assim. Ah! vamos mixar na Álamo, Ah, vamos mixar na Nel Som,não existe mais isso. Hoje praticamente esse processo <strong>de</strong> edição <strong>de</strong> som ele ficou junto com amixagem, meio que se misturaram. Não é raro você estar editando o som durante a mixagem.SOBRE VELHOS E NOVOS SISTEMAS:Nos EUA até hoje você tem <strong>de</strong>ntro dos estúdios <strong>de</strong> mixagem, <strong>de</strong> edição <strong>de</strong> som, máquinas U-Maticque aqui no Brasil se você for falar olha eu tenho uma fita U-Matic vão dizer que você é uma besta.Que você é um quadrado. E não é verda<strong>de</strong>. Nos EUA você ainda vai encontrar máquina <strong>de</strong>perfurado 35 como tinha na Álamo porque ainda usa isso. Tanto que os masteres <strong>de</strong> mixagerm,mesmo que seja um filme Dolby digital, DTS, SDDS, seja o alfabeto inteiro, ele fazem ainda osmasteres <strong>de</strong> mixagem em perfurado. Porque? Porque não tem vírus, não dá pau, não sai <strong>de</strong> sincromas nem que você queira e você guarda em um lugar sequinho e você tem uma mídia por 50, 60anos. Tem back-up em mídia digital? Também tem, mas tem a porra do magnético lá. Neste país,esquece. É índio que come morta<strong>de</strong>la e arrota caviar. Porra, perfurado, nem fu<strong>de</strong>ndo!. Está errado!Então na realida<strong>de</strong> você tem a Álamo, como você tem a Rob no Rio <strong>de</strong> Janeiro, como você tem oCTAV, e tem lá um monte <strong>de</strong> equipamento sucateado que na realida<strong>de</strong> não é sucateado porque aquiparou <strong>de</strong> fazer. Pô você é louco! Vou gastar dinheiro com magnético. É verda<strong>de</strong>, para nós operfurado é coisa cara. Nos EUA tudo bem, 50 dólares para um cara que precisa comprar 30 rolos.Custa 50 ou 100 dólares 30 rolos aqui para um filme que já o BO é <strong>de</strong> 300, 400 mil, você gastar 10por cento só no magnético, tudo bem, tem incentivo até um certo ponto mas não dizer que é umamerda. Como na mesma linha <strong>de</strong> raciocínio é agora essa coisa que te falei. Eu tenho uma mesa aí


em cima <strong>de</strong> 200 mil dólares. Feita para cinema, 5.1. É uma mesa parcialmente analógicaparcialmente digital. Hoje você ter uma mesa por 30 mil dólares totalmente informatizada como é a<strong>de</strong> um ProTools que você faz tudo nela. Ou seja, a mesma máquina que está reproduzindo as pistas<strong>de</strong> som que foram editadas por alguém é a mesma que mixa também. Então não tem mais assistente,operador, nada. Tudo é feito naquele mesmo equipamento. Eu uso particularmente uma linhadiferente. Eu tenho sempre duas máquinas no estúdio. Eu mantenho a minha filosofia que é muitoparecida com a norte americana e a inglesa. Eu tenho uma máquina, no caso um ProTools quereproduz as pistas que manda o som para uma mesa que tem um mixador que mixa isso em umaoutra máquina. Para mim tem que ser assim. Não adianta ninguém vir me convencer do opostoporque eu não me convenço. Por <strong>de</strong>finição eu prefiro ser burro usando uma tecnologia conhecida doque um imbecil usando uma tecnologia mo<strong>de</strong>rna que vira e mexe dá pau.Tony <strong>de</strong> Sousa – Nessa pesquisa que a gente está fazendo, já conversamos com várias pessoas, e oque a gente está percebendo é que a tecnologia melhora em algum aspecto mas não anula o quetinha antes. Então no <strong>de</strong>senho animado por exemplo, os caras estão usando técnicas artesanais. Ocara vai para o computador faz uma coisa eletrônica e <strong>de</strong>pois volta para o artesanal.José Luiz Sasso – Você viu agora os prêmios do Oscar <strong>de</strong>sse ano? Massinha. Vou te falar mais,você pega revista <strong>de</strong> equipamento <strong>de</strong> som você só ouve falar em valvulado. Quer dizer, nemtransistor. Voltou dois passos para trás, quer dizer, válvulas, transistor, chip. Voltou para a válvula.Por exemplo hoje você compra um microfone valvulado a um preço absurdo. Eu tenho umdissibilador <strong>de</strong> som da Orban <strong>de</strong> quase 30 anos atrás. Eu comprei da Álamo. Deve ter custado 500,600 dólares aquilo lá há 25 anos atrás. Já me ofereceram 4 mil dólares. Porque? Porque oequipamento valvulado e transistor, quer dizer uma parte <strong>de</strong>le é válvula outra é transistor. Porque?Porque não distorce.SOBRE MÃO DE OBRA ESPECIALIZADA NO SETOR:Nós não temos mão-<strong>de</strong>-obra técnica especializada. Não tem. É a estória do eletricista. Você viveuma realida<strong>de</strong> do cinema diferente da minha porque vocês têm na sua frente maquinistas,eletricistas, a<strong>de</strong>recistas, carpinteiro, pedreiro, enfim , tem tudo lá que são profissões do dia-a-dia,mas com objetivo específico. Não basta o cara ser um carpinteiro. Ele tem que ser um carpinteiroque manja um pouquinho do que é cinema. Porra eu não posso encher essas merdas aqui <strong>de</strong> vigaporque como é que o cara do som vai entrar. A sombra do refletor, dos holofotes, sei lá. O cara temque ter um mínimo <strong>de</strong> conhecimento que é o que vocês estão querendo fazer. Ah, vamos formarcarpinteiro. Ótimo. Você só po<strong>de</strong> fazer viga não sei o que lá a cada 4 metros. Você tem que lembrarque os caras vão pendurar um negócio aqui para o cara enten<strong>de</strong>r isso. Na nossa área o processo emtese é quase praticamente igual. Você tem que ter uma estrutura para ensinar como começar a serum assistente <strong>de</strong> edição <strong>de</strong> som. Vamos começar pelo básico que é aquele cara que começa a editarruidinho <strong>de</strong> sala, chamado folley, não sei se vocês sabem do que eu estou falando. Sabem? Então tá.Você tem o dublador <strong>de</strong> boca e tem o dublador <strong>de</strong> corpo. Então o folleyst, o artista <strong>de</strong> folley, éaquele cara que vai lá, ele bate, <strong>de</strong> repente fica um pouquinho fora, esse assistente vai e coloca juntocom o som direto para não ficar pla, pla, pla..., para não ficar fora <strong>de</strong> sincro, que tem isso também.A pessoa que vai fazer uma edição <strong>de</strong> som tem que saber o que que ele vai usar com um ruído <strong>de</strong>sala, o que que é um ruído montado e saber o que já existe também na pista no que foi tomado comosom direto. O cara que está fazendo isso tem que pensar em gerar o que nós chamamos <strong>de</strong> bandainternacional, uma MR que é esse filme sem os diálogos que vai ser dublado em outro idioma. Issohoje em dia é obrigado. Tem técnico que nem faz noção. Técnico <strong>de</strong> som, técnico <strong>de</strong> som que estáfazendo som direto que não pensa, não imagina que se ele ficar mais três minutos captando umruído ambiente isso vai ser <strong>de</strong> uma puta valia para a edição <strong>de</strong> som e mixagem. O cara só pensanaquilo. Eu tenho uma história recente e não vou citar nomes porque não é o caso, que é um filme<strong>de</strong> época on<strong>de</strong> o cara que fez som direto não gravou nada <strong>de</strong> carros antigos, sabe. Você ter umaprodução <strong>de</strong> transporte, Ford D, Ford 24, não gravou largada <strong>de</strong> carro, partida <strong>de</strong> carro, cobertura. Ô


turma vamos lá, vou entrar no carro, vamos fazer. Isso não tem mais. Isso está perdido. Hoje, otécnico <strong>de</strong> som na gran<strong>de</strong> maioria dos casos, excetuando-se esses técnicos experientes, não pensamsequer dois <strong>de</strong>dos além do nariz.FOCO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL:Ninguém está pegando o binóculo e pondo do lado certo. O binóculo tem dois lados. Tem um ladoque você aproxima e tem lado que você afasta. Está todo mundo olhando o binóculo pelo ladoerrado. Em vez <strong>de</strong> você trazer a realida<strong>de</strong>, você está colocando ela mais longe e fazendo um revival.Não interessa em termos práticos. Interessa em termos acadêmicos. É aquela velha história, isso fazparte do aprendizado nos bancos da escola. Para você se formar um profissional você tem queconhecer a base. A universida<strong>de</strong> tinha que dar a moviola, a truca, a copia<strong>de</strong>ira, o nagra. Isso fazparte da universida<strong>de</strong>. Você passar. Mas não existe isso.


ANEXO IIISINDCINEESCOLA DE FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃOPROJETO PEDAGÓGICOEsta proposta visa respon<strong>de</strong>r à necessida<strong>de</strong> da agenda sindical, e <strong>de</strong>senvolverum projeto inovador e diferenciado no campo da formação profissionalextensivo a todos os trabalhadores do audiovisual.São Paulo, 05 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2006


INTRODUÇÃOOs fenômenos da globalização da economia, das transformações técnicoorganizacionaisno trabalho e o avanço vertiginoso das novas tecnologias<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam <strong>de</strong>safios e problemas a serem enfrentados no âmbito da educação emgeral e da formação profissional em particular.Especificamente na área do audiovisual observamos que a questão principal aser enfocada pela formação profissional tem a ver com as novas <strong>de</strong>mandas que lhefaz o mercado <strong>de</strong> trabalho. Esta necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar respostas rápidas e flexíveis asituações <strong>de</strong> mudança também rápida, gera paralelamente uma leitura apressada dastransformações que vêm acontecendo, com uma visão <strong>de</strong> ruptura, <strong>de</strong> inauguração <strong>de</strong>um novo momento e sepultamento do passado.No âmbito da formação acadêmica, já existe uma preocupação nos cursos <strong>de</strong>cinema existentes referente à a<strong>de</strong>quação dos programas <strong>de</strong> estudo tradicionais parauma formação audiovisual abrangente e atualizada tecnicamente. Essa necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> equiparar os cursos tradicionais às novas tecnologias também gerou polemicasteóricas relacionadas com o específico cinematográfico e o específico audiovisual, eainda acrescentou um outro problema relacionado diretamente com o treinamento, osrecursos financeiros das instituições acadêmicas não permitem uma renovaçãocontinua do equipamento técnico para a manipulação dos alunos, tornando-se esseconhecimento adquirido, na generalida<strong>de</strong>, muito diversificado e distante da pratica.Por outro lado, temos no mercado <strong>de</strong> trabalho profissionais que só adquiriramseus conhecimentos através da prática e sem nenhum estudo sistemático. Eles são oresultado <strong>de</strong> um processo muito longo, que inicialmente po<strong>de</strong> resultar fácil e imediato,mas à brevida<strong>de</strong> se manifestará como um trabalhador <strong>de</strong> conhecimentos limitados nasua área <strong>de</strong> atuação. Conhece o básico, mas não consegue ir além e resolverproblemas novos, esta <strong>de</strong>satualizado e sem nenhuma formação estética e/ou artística.Cabe aqui abrir um parêntese e lembrar que a produção audiovisual manejauma escala <strong>de</strong> ação que vai do espontâneo ao minuciosamente planejado, e que emambos os casos o resultado <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito dos níveis artísticos, da qualida<strong>de</strong> técnica<strong>de</strong>sejada e, sobre tudo da experiência, capacitação e interação da equipe operativa.Partindo <strong>de</strong>sta problemática e fazendo uma avaliação baseada nasnecessida<strong>de</strong>s que seus próprios associados apresentam, o Sindcine criou o <strong>Instituto</strong>Roberto Santos como ponto <strong>de</strong> partida para analisar a qualificação dos trabalhadoresdo audiovisual, a relação <strong>de</strong>stes com o mercado <strong>de</strong> trabalho e pensar estratégiaspedagógicas para por em marcha um projeto sólido <strong>de</strong> formação, capacitação eatualização profissional.QUESTÕES E DESAFIOSA quem <strong>de</strong>ve dirigir-se prioritariamente a formação profissional?Como <strong>de</strong>ve se estruturar a formação profissional para enfrentar estas necessida<strong>de</strong>s?Como ser flexível e ágil sem per<strong>de</strong>r em profundida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong>?


Como a formação profissional se comportará, diante dos <strong>de</strong>mandantes cuja formaçãoem geral é precária?Como articular teoria e prática na formação do trabalhador, diante da profundida<strong>de</strong> daformação requerida e da agilida<strong>de</strong> com que ela <strong>de</strong>ve ser produzida?METODOLOGIA DE PESQUISAPara respon<strong>de</strong>r estas questões optamos pela pesquisa <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> base qualitativa,<strong>de</strong>finindo os critérios para a seleção dos sujeitos a serem entrevistados, elaborando osroteiros das entrevistas, sua realização, organização e posterior analise dos dadosadquiridos.CONCLUSÕESA pesquisa direcionada para o Mercado <strong>de</strong> <strong>Trabalho</strong> apresentou as seguintesdificulda<strong>de</strong>s e necessida<strong>de</strong>s.! Inexistência <strong>de</strong> Assistentes formados e habilitados para exercer suasfunções nas diversas áreas da produção e pós-produção.! Eliminação <strong>de</strong> algumas funções e integração <strong>de</strong> outras diretamentesurgidas a partir da utilização das novas tecnologias, sem préviarevisão e analise <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong>! Falta <strong>de</strong> profissionais na área <strong>de</strong> Direção <strong>de</strong> arteNecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>atualização dos produtores! Falta <strong>de</strong> continuístasAs entrevistas com profissionais das diferentesáreas <strong>de</strong> Direção, Imagem e Som, que acompanharam a práxis do cinema brasileironos últimos 30 anos <strong>de</strong>ram-nos as seguintes conclusões sobre a situação atual:! Nas áreas <strong>de</strong> Elétrica e Maquinaria, os trabalhadores têm pouca ounenhuma educação formal e curricular, conhecem o básico específico epelas suas limitações <strong>de</strong> formação não conseguem se atualizar.! Em todas as áreas e incluindo aqueles que possuem bonsconhecimentos técnicos, a formação estética e artística é <strong>de</strong>ficiente ouinexistente.! Em todas as áreas se <strong>de</strong>sconhece: a História da Arte, a História doCinema e a Linguagem cinematográfica.


! Desconhecimento do idioma Inglês elementar e técnico, que se tornabásico para a leitura dos manuais dos equipamentos e atualizaçãotécnica em geral.! Pouco ou nenhum contato com as noções básicas da informática.! Precisam saber ler um roteiro e extrair os conteúdos e necessida<strong>de</strong>sespecíficas <strong>de</strong> cada área e função.! Se <strong>de</strong>sconhece o processo cinematográfico na sua totalida<strong>de</strong> ecomplexida<strong>de</strong>, a pré-produção, a produção e a pós-produção.! Se <strong>de</strong>sconhece a especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada função e a sua interação noset.! As novas tecnologias proporcionaram um acesso rápido à manipulaçãodos equipamentos, mas falta uma formação teórica específicacinematográfica.Importa salientar que todos os entrevistados que lidam com as novas tecnologias,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Diretores <strong>de</strong> Fotografia, Técnicos <strong>de</strong> Som, Montagem e profissionais doLaboratório, concluíram que a falta <strong>de</strong> conhecimentos dos processos fotoquímicosantes <strong>de</strong> entrar no processo eletrônico fazem com que não se aproveitem todas aspossibilida<strong>de</strong>s técnicas e artísticas possíveis. Não se <strong>de</strong>vem saltar etapas nem se<strong>de</strong>scartar equipamentos anteriores só por um fascínio- evolucionista- tecnológico.OBJETIVOSApós a analise dos dados adquiridos <strong>de</strong>terminamos os seguintes objetivos.OBJETIVO GERALElaboração e execução <strong>de</strong> um projeto inovador no campo da educação profissionalcapaz <strong>de</strong> incluir a problemática atual.OBJETIVOS ESPECÍFICOS METODOLÓGICOS1. Exigência <strong>de</strong> níveis mais altos <strong>de</strong> formação geral, prévia à formaçãoprofissional.


2. Direcionar numa primeira etapa, a Formação e Capacitação só para osAssistentes das diversas áreas e funções do fazer cinematográfico.3. Oferecer uma orientação na escolha da profissão a partir <strong>de</strong> um prévioconhecimento sobre a totalida<strong>de</strong> e complexida<strong>de</strong> do processocinematográfico. Os elos existentes entre as diversas ativida<strong>de</strong>s, asnecessida<strong>de</strong>s e possibilida<strong>de</strong>s criativas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a pré-produção até afinalização.4. Estabelecer disciplinas básicas e obrigatórias <strong>de</strong>:INTEGRAÇÃO CULTURALLeis trabalhistas e Regulamentação da profissão.Ética, Comunicação, Disciplina e Hierarquias no trabalho <strong>de</strong> equipe.Normas <strong>de</strong> SegurançaInglês InstrumentalBásico <strong>de</strong> informáticaFORMAÇÃO ESTÉTICAPercepção VisualPercepção AuditivaHistória da ArteHistória da MúsicaHistória do CinemaLinguagem Cinematográfica5. Desenvolver juntas a Teoria e a Prática. Mantendo relação direta com o tipo<strong>de</strong> equipamento que se esta usando, fotoquímico, magnético ou eletrônicodigital.6. Complementarida<strong>de</strong> entre formação inicial e formação continuada.Estas propostas implicam não apenas uma <strong>de</strong>terminada forma <strong>de</strong> rearticular asrelações entre formação geral e formação específica, mas, também, referem-se àsligações entre tecnologia e qualificação profissional. Porém, não temos a concepção


<strong>de</strong> que são as Novas Tecnologias as que <strong>de</strong>terminam as novas <strong>de</strong>mandas porqualificação, ainda que estas exijam outros requisitos dos trabalhadores, enten<strong>de</strong>mosque a base da qualificação está no conhecimento profundo da teoria e praticacinematográfica.OBJETIVOS ÉTICOSQue o ensino seja profundo e direto, transmitindo os conhecimentos e assinalando oserros técnicos ou estilísticos <strong>de</strong> forma argumentada.Que o nível <strong>de</strong> exigência seja alto, equivalente ao nível <strong>de</strong> exigência profissional.Rentabilizar o tempo máximo <strong>de</strong> cada hora <strong>de</strong> curso, ministrando o máximo <strong>de</strong> temaspossíveis na menor brevida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempoQue toda a teoría ensinada seja aplicada ao longo do curso.PERFIL DOS DOCENTESQue todo o corpo docente esteja ativo na profissão, para assim oferecer uma visãorealista e prática do meio e não somente teórica.Que mantenha reuniões periódicas <strong>de</strong> controle pedagógico com pessoal idôneo, on<strong>de</strong>possa expressar suas dúvidas e discutir questões especificamente didáticas.! Estabelecer cursos para Formador <strong>de</strong> Formadores.REGULAMENTAÇÕESDA ESCOLA! Ciclo básico comum e obrigatório! Disciplinas Correlativas! Possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reposição! Cursos Extracurriculares para interessados em geralDO SINDICATO! Custo dos cursos para os sócios! Custo dos cursos livres extracurriculares! Tipo <strong>de</strong> certificados ou DRT! Horários e períodos das aulas! Contratação do corpo Docente


Proposta seqüencial <strong>de</strong> etapas <strong>de</strong> implementação <strong>de</strong> acordo com a avaliação dos cursos.Primeira etapa Segunda etapa Terceira etapa Quarta etapa Quinta etapa1. ASSISTENTE DEDIREÇÃO2. CONTINUÍSTA3. CASTING4. ATORES/ FIGURANTES5. ASSISTENTE DE CÂMERA6. ASSIST. DE ELETRICISTA7. ASSIST. DE MAQUINISTA8. FOTOGRAFO DE CENA9. OPERADOR DEGERADOR1. ARQUIVISTA2. PESQUISADOR3. OPERADOR DE CÂMERA4. ELETRICISTA5. MAQUINISTA6. ASSIST. DE TRUCAGEM7. MICROFONISTA8. TÉCNICO DE TOMADA DESOM9. ASSIST. DE MONTAGEM10. TÉCNICO DE SOM1. RESTAURADOR DEFILME2. ENGENHEIRO DE VÍDEO3. ASSISTENTE DECENOGRAFIA4. ADERCISTA5. CONTRA-REGRA6. ASSISTENTE DEFIGURINO7. TÉCNICO DE EFEITOSESPECIAIS CÊNICOS.LABORATÓRIO1. ASSISTENTE DEMONTADOR DE NEGATIVO2. ASSISTENTE DEDIRETOR DE ARTE3. CENOTÉCNICO4. PINTOR ARTÍSTICOMONTAGEMLABORATÓRIO1. MONTADOR DENEGATIVO2. OPERADOR DE TELECINEANIMAÇÃO3. CENARISTA4. COLORISTA10. OPERADOR DE VÍDEO 11. EDITOR DE AUDIO 8. TÉCNICO DE4. TECNICO DE5. CLEAN UPFINALIZAÇÃOASSIST12. PRODUTORTRANSFERÊNCIA SONORA6. COORDENADOR ARTE11. GUARDA – ROUPEIRO12. MAQUIADOR13. CABELEIREIRO14. ASSIST. DE PRODUÇÃO15. SECRETARIA DEPRODUÇÃO13. TÉCNICO DEMANUTENÇÃO DEEQUIPAMENTOS TÉCNICOSE ELETRÔNICOS.9. TÉCNICO OPERADOR DEMIXAGEM10. RESTAURADOR DE SOM11. TRUCADOR12. TÉCNICO DE EFEITOSÓTICOS.13. MONTADORFINAL7. DESIGN8. EDITOR DE ANIMAÇÃO9. INTERVALADOR10. SCANNER


CICLO BÁSICO COMUMEste ciclo está composto por um grupo <strong>de</strong> disciplinas básicas e obrigatórias para todasas áreas.DISCIPLINAS CONTEÚDOS/ OBS. C.H.O Processo cinematográfico.I MóduloPré-produção, produção, edição efinalização. Funções dos Profissionais <strong>de</strong>Cinema. Hierarquia, Li<strong>de</strong>rança eCoor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Equipes.16h.Percepção VisualII MódulosHistória da ArteIII Módulos *História do CinemaIII Módulos *Linguagem CinematográficaIII Módulos *Ética, Comunicação e <strong>Trabalho</strong> emEquipe.I MóduloLeis Trabalhistas e Regulamentação daProfissãoI MóduloNormas <strong>de</strong> SegurançaI MóduloInglês InstrumentalI MóduloInformáticaI MóduloRoteiroII Módulos** Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> módulos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo daárea e função.Módulo I. Espaço. Equilíbrio. Composição.Perspectiva. Cor. FormasModulo II. Configuração. Luz. MovimentoMódulo I. História geral da arte/ Módulo II.Arte brasileira/ Módulo III. Vanguardas doséculo XIX e seus antece<strong>de</strong>ntesMódulo I História Geral / Módulo II CinemaBrasileiro/ Módulo III Cinema latinoamericano.Africano. AsiáticoModulo I. Elementos da linguagemCinematográfica. Módulo II. Gêneros.Escolas estéticas. Módulo III. DocumentárioReflexão sobre a Ética na sua dimensãofilosófica e existencial aplicada ao exercícioda profissãoConhecimento pormenorizado, direitos e<strong>de</strong>veres.Normas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e segurança no set <strong>de</strong>cinema e televisãoInglês para Fins Específicos. Capacita oaluno num período relativamente curto aler, compreen<strong>de</strong>r e falar o essencial para o<strong>de</strong>sempenho da sua ativida<strong>de</strong>.Conhecimento básico do Windows e uso <strong>de</strong>softwares (Office).Módulo I. Leitura e Decupagem do roteiroliterário. Módulo II. Roteiro Técnico16h.48h48h48h8h8h8h40h16h24h


PRIMEIRA ETAPAINGRESSO COM NÍVEL MÉDIOASSISTÊNCIA DE DIREÇÃOPRÉ-REQUISITOSEntrevistaDISCIPLINAS CH OBS.1. O processo Cinematográfico 16h.2. Historia da Arte I/II/III 48h3. Linguagem cinematográfica I/II/III 48h4. Percepção visual I/II 165. Direção <strong>de</strong> Atores 20h6. Escolas e Estilos <strong>de</strong> Direção 12h7. Estética Cinematográfica 12h8. Ótica e iluminação I 12h9 Montagem I 16h10. Som I 12h11. Roteiro I/ II 24h12. Casting 12h13. Planejamento. 12h14. Informática 16h15. Inglês instrumental 40hCONTINUÍSTAEntrevistaDISCIPLINAS CH OBS.1. O Processo Cinematográfico 16h1. Historia da Arte I/II/III 48h2. Linguagem cinematográfica I/II/III 48h3. Percepção visual I/II 32h4. Montagem I/II 32h5. Ótica I 12h6. Iluminação I 12h7. Som I 12h8. Roteiro I/ II 24h9. Planejamento 12h10. Informática 16h11. Inglês instrumental 32hCASTINGBásico <strong>de</strong> teatro, fotografia ouconhecimentos equivalentes.DISCIPLINAS CH OBS.1.O processo Cinematográfico 16h.2. Historia da Arte I/II/III 48h3. Linguagem cinematográfica I/II/III 48h4. Percepção visual I/II 32h5. Roteiro I/ II6. Direção <strong>de</strong> Atores 20h7.Casting II24h8. Fotografia I 12h9. Informática 16h10. Inglês instrumental 32hATORES/FIGURANTESBásico <strong>de</strong> teatro ou conhecimentospratica equivalenteDISCIPLINAS CH OBS.1. O processo Cinematográfico 16h.


2.Historia da Arte I/II/III48h3. Linguagem cinematográfica I/II 32h4. História do cinema I/II/III 48h5. Roteiro I 12h6. Atuação I/ II/ III 48h7. Aula Pratica 48hASSISTENTE DE CÂMERAEntrevistaDISCIPLINAS CH OBS.1. O processo Cinematográfico 16h.2. Historia da Arte I 16h3. Linguagem cinematográfica I 16h4. Ótica, lentes e objetivas I 24h5. Câmeras I - Montagem e32h<strong>de</strong>smontagem6. Iluminação I 16h7. Laboratório – Negativo I 20h8. Normas <strong>de</strong> Segurança 8h9. Informática 16h10. Inglês Instrumental 32hASSISTENTE DE ELETRICISTABásico <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>DISCIPLINAS CH OBS.1. O processo Cinematográfico 16h.2. Historia da Arte I 16h3. Linguagem cinematográfica I 16h4. História do cinema I 16h5. Instalações I 24h6. Normas <strong>de</strong> Segurança 16h7. Prática <strong>de</strong> Estúdio I 12h8. Prática Externa I 12h9. Reparo e Manutenção <strong>de</strong>16hEquipamentos - Cinema10. Informática 16h11. Inglês instrumental 32hASSISTENTE DE MAQUINISTABásico <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>DISCIPLINAS CH OBS.1. O processo Cinematográfico 16h.2. Historia da Arte I 16h3. Linguagem cinematográfica I 16h4. Equipamentos específicos I 16h5. Normas <strong>de</strong> Segurança Próprias 12h6. Reparo e Manutenção <strong>de</strong>16hEquipamentos I7. Pratica I 12h8. Informática 16h9. Inglês Instrumental 32hFOTÓGRAFO DE CENABásico <strong>de</strong> fotografia, manejo <strong>de</strong>equipamentos analógicos edigitais, laboratório.DISCIPLINAS CH OBS.1. O processo Cinematográfico 16h.


2. Historia da Arte I/II 32h3. Linguagem cinematográfica I/II 32h4. Laboratório e Negativos 22h5. Iluminação I 24h6. Noções <strong>de</strong> MKT e Publicida<strong>de</strong> 16h7. Normas <strong>de</strong> Segurança 12h8. Técnicas da Fotografia <strong>de</strong> Cena 24h9. Tipos e Funções <strong>de</strong> Câmeras16hfotográficas10. Informática 16h11. Inglês Instrumental 32hOPERADOR DE GERADORBásico <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>DISCIPLINA CH OBS.1. O processo Cinematográfico 16h.2. Historia da Arte I 16h3. Linguagem cinematográfica I 16h4. Eletricida<strong>de</strong> I 20h5. Funcionamento e12hOperacionalização do Gerador6. Manutenção do Gerador 8h7. Normas <strong>de</strong> Segurança 12h8. Iluminação I 24h9. Informática 16h10. Inglês Instrumental 32hOPERADOR DE VÍDEO ASSISTBásico <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>oDISCIPLINA CH OBS.1. O processo Cinematográfico 16h.2. Historia da Arte I 16h3. Linguagem cinematográfica I 16h4. Roteiro I 12h5. Som I 12h6. Equipamentos 12h7. Métodos <strong>de</strong> controle técnico16h(imagem e som)8.Informática16h9. Inglês instrumental 32hGUARDA-ROUPEIROCurso <strong>de</strong> costuraDISCIPLINAS CH OBS.1. O processo Cinematográfico 16h.2. Historia da Arte I/II 32h3. Roteiro I 12h4. Figurino I 16h5. Recursos e materiais 16h6. Técnicas <strong>de</strong> Manutenção <strong>de</strong>16hFigurino (Lavar/Passar)7. Informática 16hMAQUIADORCurso Básico <strong>de</strong> maquiagemDISCIPLINAS CH OBS.1. O processo Cinematográfico 16h.


2. Historia da Arte I/II 32h3. História do cinema I/II 32h4. Percepção Visual I 16h5. Roteiro I 16h6. Iluminação I 16h7. Continuida<strong>de</strong> I 16h8. Filtros I 12h9. Caracterização 32h10. Inglês instrumental 32h11. Informática 16hCABELEIREIROCurso básico <strong>de</strong> cabeleireiroDISCIPLINAS CH OBS..1. O processo Cinematográfico 16h.2. Historia da Arte I/II 32h3 . História do cinema I/II 32h4. Percepção Visual I 16h5. Roteiro I 16h6. Iluminação I 16h7. Continuida<strong>de</strong> I 16h8.Inglês instrumental32h9. Informática 16hASSISTENTE DE PRODUÇÃOEntrevistaDISCIPLINAS CH OBS.1. O processo Cinematográfico 16h.2. Historia da Arte I 16h3 . História do cinema I 16h4. Linguagem cinematográfica I 16h5. Roteiro I 16h5. Desenho <strong>de</strong> Produção I 16h7. Decupagem <strong>de</strong> Roteiro 12h8. Produção <strong>de</strong> objetos/figurino 12h9. Produção <strong>de</strong> locações 12h10. Informática 16h11. Inglês experimental 32hSECRETARIA DE PRODUÇÃOCurso completo <strong>de</strong> secretariadoDISCIPLINAS CH OBS.1. O processo Cinematográfico 16h.2. Historia da Arte I 16h3 . História do cinema I 16h4. Linguagem cinematográfica I 16h5. Roteiro I 16h6. Contratação <strong>de</strong> autor, equipe8htécnica e artistas.7. Contrato <strong>de</strong> Locações e8hequipamentos8. Planejamento e orçamentos 8h9. Informática 16h10. Inglês experimental 32h


Fim da Primeira EtapaOBSERVAÇÃO: a carga horária <strong>de</strong> cada uma das disciplinas é aproximada, po<strong>de</strong>ndosofrer modificações <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das propostas específicas dos professores..______________________


PROGRAMAÇÃO GERAL* A disciplina: O Processo cinematográfico é comum a todos os cursos.Descrição das Disciplinas por Área e FunçõesASSISTENTE DE DIREÇÃOCONTINUISTADIREÇÃOAvaliação. Entrevista1. Historia da Arte I/II/III2. Linguagem cinematográfica I/II/III3. Percepção visual I/II4. Direção <strong>de</strong> Atores5. Escolas e Estilos <strong>de</strong> Direção6. Estética Cinematográfica7. Ótica e iluminação I8. Montagem I9. Som I10. Roteiro I/ II11. Casting12. Planejamento.13. Informática14. Inglês instrumentalAvaliação. EntrevistaDesenvolver um conhecimentopormenorizado do enca<strong>de</strong>amento econtinuida<strong>de</strong> da narrativa, cenários,figurinos, a<strong>de</strong>reços, maquilagem,penteados, luz, ambiente, profundida<strong>de</strong><strong>de</strong> campo, altura e distância da câmera.Elaborar boletins <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> econtrolar os <strong>de</strong> som e <strong>de</strong> câmera.Conhecer e acompanhar até nosmínimos <strong>de</strong>talhes o processo <strong>de</strong>produção do filme <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a pré-produçãoaté a montagem.CASTINGConhecimentos aprofundados <strong>de</strong>atuação, fotogenia, leitura <strong>de</strong> roteiro,psicologia e analise dos personagens.1. Historia da Arte I/II/III2. Linguagem cinematográfica I/II/III3. Percepção visual I/II4. Montagem I/II5. Ótica I6. Iluminação I7. Som I8. Roteiro I/ II9. Planejamento10. Informática11. Inglês instrumentalAvaliação. Entrevista1. Historia da Arte I/II/III2. Linguagem cinematográfica I/II/III3. Percepção visual I/II4. Roteiro I/ II5. Direção <strong>de</strong> Atores6. Casting II7. Fotografia I8. Informática9. Inglês instrumental


PESQUISADORNível superiorARQUIVISTAFormado em Ciências Sociais,Biblioteconomia Comunicação.1. Historia da Arte I/II/III2. Linguagem cinematográfica I3. Historia do Cinema I/II/III4. Técnicas e <strong>de</strong>senvolvimentosBásico <strong>de</strong> Fotografia1. Historia da Arte I/II/III2. Linguagem Cinematográfica I3. Historia do Cinema I/II/III4. Tipos <strong>de</strong> Negativo5. Laboratório - Processos (analógico edigital)6. Novas mídias e suportes7. Montagem I8. Arquivo <strong>de</strong> imagens e sons9. Informática10. Inglês instrumentalATORES/FIGURANTESBásico <strong>de</strong> teatro ou conhecimentos epratica equivalentes.1. Historia da Arte I/II/III1. Linguagem cinematográfica I/II2. História do cinema I/II/III3. Roteiro I4. Atuação I/ II/ III5. Aula PraticaFOTOGRAFIA E CÂMERAOPERADOR DE CÂMERA* Correlativo <strong>de</strong> Assistente 1.Historia da Arte II/III2. Linguagem cinematográfica II/III3.Ótica, lentes e objetivas II4. Câmera II (pratica)5. Iluminação II6.Maquinaria7. Laboratório - Negativo II8. Maquiagem e caracterização I9. Montagem I10. Steady-camASSISTENTE DE CÂMERAAvaliação. EntrevistaELECTRICISTA*Correlativa <strong>de</strong> Assistente1. Historia da Arte I2. Linguagem cinematográfica I3. Ótica, lentes e objetivas I5. Iluminação I6. Laboratório – Negativo I7. Normas <strong>de</strong> Segurança8. Informática9. Inglês InstrumentalCurso <strong>de</strong> Assistente <strong>de</strong> eletricista


Obter Bases Científicas, Tecnológicas eartísticas.Desenvolver competências <strong>de</strong>coor<strong>de</strong>nação e <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> equipes<strong>de</strong> trabalho, planejamento,<strong>de</strong>senvolvimento e avaliação <strong>de</strong> projetos,aplicação <strong>de</strong> normas técnicas,capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver problemasnovos, espírito crítico e ética profissional.ASSISTENTE DE ELETRICISTAPlanejamento, Execução, Competênciase Habilida<strong>de</strong>s específicas da função.Obter Bases Tecnológicas e artísticas.Orientar e coor<strong>de</strong>nar a execução <strong>de</strong>serviçosMAQUINISTA*Correlativa <strong>de</strong> AssistenteConhecimento profundo da dinâmica ehierarquia na equipe e <strong>de</strong>streza namanipulação dos equipamentos <strong>de</strong>fotografia.Desenvolver sensibilida<strong>de</strong>, criativida<strong>de</strong> erapi<strong>de</strong>z para resolver problemas novos.ASSISTENTE DE MAQUINISTAConhecimento do processo <strong>de</strong> produção,dinâmica no set, manipulação emanutenção <strong>de</strong> equipamentosespecíficos.FOTÓGRAFO DE CENA1. Historia da Arte II2. Linguagem cinematográfica II3. História do cinema II4. Eletricida<strong>de</strong>5. Instalações II6. Geradores7. Prática <strong>de</strong> Estúdio II8. Prática Externa II9. Ótica I10. Iluminação I/II11. Reparo e Manutenção <strong>de</strong>EquipamentosBásico <strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong>1. Historia da Arte I2. Linguagem cinematográfica I3. História do cinema I4. Instalações I5. Normas <strong>de</strong> Segurança Próprias6. Prática <strong>de</strong> Estúdio I7. Prática Externa I8. Reparo e Manutenção <strong>de</strong> Equipamentos– Cinema9. Informática10. Inglês instrumentalCurso <strong>de</strong> Assistente <strong>de</strong> Maquinista1.Historia da Arte II2. Linguagem cinematográfica II3.Tipos <strong>de</strong> câmera4. Equipamentos específicos II5. Eletricida<strong>de</strong> I/II6. Pratica II7. Reparo e Manutenção <strong>de</strong> EquipamentosIIBásico <strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong>.1. Historia da Arte I2. Linguagem cinematográfica I3. Equipamentos específicos I4. Normas <strong>de</strong> Segurança Próprias5. Reparo e Manutenção <strong>de</strong> EquipamentosI6. Pratica I7. Informática8. Inglês InstrumentalBásico <strong>de</strong> Fotografia. a <strong>de</strong> equipamentosanalógicos e digitais, noções <strong>de</strong>iluminação e Laboratório.1.Historia da Arte I/II2. Linguagem cinematográfica I/II3. Laboratório e Negativos4. Iluminação I5. Noções <strong>de</strong> MKT e Publicida<strong>de</strong>


OPERADOR DE GERADOROPERADOR DE VÍDEO ASSISTENGENHEIRO DE VIDEONível superiorRESTAURADOR DE FILMEASSISTENTE DE DIREÇÃO DE ARTENível superiorDesenvolver a criativida<strong>de</strong>, sensibilida<strong>de</strong>e o conhecimento aprofundado emrelação ao estilo da dramaturgia, àinteriorida<strong>de</strong> dos personagens e seumomento histórico. Exercitar orelacionamento e a interação com oDiretor Arte, <strong>de</strong> Fotografia, Cenógrafo,Figurinista, Maquiador, Técnico <strong>de</strong>efeitos especiais cênicos, e <strong>de</strong>maisprofissionais.6. Normas <strong>de</strong> Segurança7. Técnicas da Fotografia <strong>de</strong> Cena8. Tipos e Funções <strong>de</strong> Câmerasfotográficas9. Informática10. Inglês InstrumentalBásico <strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong>1. Historia da Arte I2. Linguagem cinematográfica I3. Eletricida<strong>de</strong> I4. Funcionamento e Operacionalização doGerador5. Manutenção do Gerador6. Normas <strong>de</strong> Segurança7. Iluminação I8. Informática9. Inglês InstrumentalBásico <strong>de</strong> Ví<strong>de</strong>o.1.Historia da Arte I1. Linguagem cinematográfica I2. Roteiro I3. Som I4. Equipamentos5. Métodos <strong>de</strong> controle técnico (imagem esom)6.Informática7. Inglês instrumentalFormação superior em Eletrônica.1. História da arte I2. História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I4. Roteiro IBásico <strong>de</strong> Fotografia e laboratório.1. História da arte I2. História do cinema I3. Linguagem cinematográfica I4. Roteiro I5. Técnicas e Processos6. Informática7. Inglês instrumentalARTEFormado em <strong>Artes</strong> plásticas,Arquitetura.1. História da arte I/II/III2. História do cinema I/II/III3. Linguagem cinematográfica I/II4. Percepção visual I/II5. História da cenografia I/II6. Móveis e Objetos antigos econtemporâneos


ASSISTENTE DE CENOGRAFIACENOTÉCNICO10. Iluminação I11. Fotografia I12. Figurino I13. Roteiro I14. Informática15. Inglês instrumentalFormação Técnica Média. Desenho.Construção.1 . História da arte I/II/III2 . História do cinema I/II/III3. Linguagem cinematográfica I/II4. Percepção visual I/II5. História da cenografia6. Cenografia I/II/7. Arquitetura cênica e acústica8. Móveis e objetos antigos econtemporâneos9. Som I10. Iluminação I11. Figurino I12. Roteiro I13. Informática14. Inglês instrumentalFormação Técnica. Desenho.1. História da arte I/II2 .História do cinema I/II3. Alvenaria4. Marcenaria5. Eletricida<strong>de</strong> I6. Normas <strong>de</strong> Segurança7. Matemática Básica Aplicada8. Pintura. Materiais. Técnica9. Informática10. Inglês instrumentalADERECISTACONTRA-REGRAFormação Técnica Básica. <strong>Artes</strong>ão1. História do cinema I/II2. História da arte I3. Conhecimento <strong>de</strong> Ferramentas /Equipamentos4.Conhecimento <strong>de</strong> Tipos <strong>de</strong> Materiais5.Técnicas <strong>de</strong> Marcenaria6.Técnicas <strong>de</strong> Pintura em Objetos eTecidos7. Informática8. Inglês instrumentalFormação técnica básica. Habilida<strong>de</strong>smanuais1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I


PINTOR ARTISTICOASSISTENTE DE FIGURINOGUARDA-ROUPEIROMAQUIADORCABELEIREIRO4. Continuida<strong>de</strong> I5. Alvenaria6. Eletricida<strong>de</strong> I7. Normas <strong>de</strong> Segurança8. Matemática Básica Aplicada9. Pintura. Materiais. Técnica s10. Informática11. Inglês instrumentalFormação Técnica específica1- Historia da Arte I/II/III2. História do cinema I/II3. Iluminação I4. Roteiro ICurso <strong>de</strong> Design e Mo<strong>de</strong>lagem1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Recursos e Materiais4. Pesquisa <strong>de</strong> Figurino5. Iluminação I6. Som I7. Roteiro I8. Continuida<strong>de</strong> I9. Informática10. Inglês InstrumentalCurso Básico <strong>de</strong> costura1. Historia da Arte I/II2. Roteiro I3. Figurino I4. Recursos e materiais5. Técnicas <strong>de</strong> Manutenção <strong>de</strong> Figurino(Lavar/Passar)Curso Básico <strong>de</strong> Maquiagem1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II3. Percepção Visual I4. Roteiro I5. Iluminação I6. Continuida<strong>de</strong> I7. Filtros I8. Caracterização9. Inglês instrumentalCurso Básico <strong>de</strong> Cabeleireiro1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II3. Percepção Visual I4. Roteiro I5. Iluminação I6. Continuida<strong>de</strong> I7.Inglês instrumental


TECNICO EM EFEITOS ESPECIAISCÉNICOSTÉCNICO DE SOMMICROFONISTATÉCNICO DE TOMADA DE SOMFormação, recursos e habilida<strong>de</strong>sdiversas.1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Percepção Visual I4. Roteiro I5. Direção <strong>de</strong> atores6.Montagem I7. Ótica8.Técnicas <strong>de</strong> efeitos especiais9. Informática10. Inglês experimentalSOMBásico <strong>de</strong> Eletrônica e Eletricida<strong>de</strong>.Músico.1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Percepção auditiva I5. Acústica6 - Audiometria7 - Eletrônica Básica Digital4 - Equipamentos e Sistemas <strong>de</strong> Som5 - Eletricida<strong>de</strong> I6 - Câmeras e Lentes I7 - Montagem I8 - Captação <strong>de</strong> Som I9 - Técnicas <strong>de</strong> Estúdio e Edição10 - Técnica <strong>de</strong> Roteiro11 - Revelação <strong>de</strong> som12. Inglês InstrumentalSensibilida<strong>de</strong> auditiva. Músico1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Percepção auditiva I5. Câmeras e Lentes I6. Equipamentos (Fones /Microfones)7. Manutenção <strong>de</strong> Equipamentos8. Eletricida<strong>de</strong> I9. Captação <strong>de</strong> som I10. Inglês instrumentalBásico <strong>de</strong> Eletrônica e Eletricida<strong>de</strong>1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Percepção auditiva I5. Câmeras e Lentes I6. Equipamentos (Fones /Microfones)7. Eletrônica Básica Digital


TÉCNICO DE TRANSFERÊNCIASONORATÉCNICO OPERADOR DE MIXAGEMEDITOR DE SOMRESTAURADOR DE SOM8. Acústica9. Captação <strong>de</strong> som I10. Informática11. Inglês instrumentalBásico <strong>de</strong> Som1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Percepção auditiva I5. Equipamentos e Sistemas <strong>de</strong> Som6. Conhecimento <strong>de</strong> Material Sensível(Negativos/Ótico)7. Eletrônica Básica e Digital8. Revelação <strong>de</strong> Som9. Técnicas <strong>de</strong> Som10. Inglês instrumental11. InformáticaTécnico <strong>de</strong> Som1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Percepção auditiva I5. Roteiro I5. Equipamentos e Sistemas <strong>de</strong> Som6. História da música I/II7. Eletrônica Básica e Digital8. Imagem e som9. Técnicas <strong>de</strong> mixagem10.Técnicas <strong>de</strong> som11. Informática12. Inglês instrumentalTécnico <strong>de</strong> Som1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Percepção auditiva I5. Roteiro I5. Equipamentos e Sistemas <strong>de</strong> Som6. História da música I/II7. Eletrônica Básica e Digital8. Imagem e som9. Técnicas <strong>de</strong> mixagem10. Técnicas <strong>de</strong> som11. Revelação <strong>de</strong> Som12. Montagem I11. Informática (nível médio)12. Inglês instrumentalTécnico <strong>de</strong> Som. Operador <strong>de</strong> Mixagem1. Historia Música I/II


MONTADOR*Correlativa <strong>de</strong> AssistenteASSISTENTE DE MONTAGEMARQUIVISTATÉCNICO EM FINALIZAÇÃO* Correlativa <strong>de</strong> Montador2 . História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Percepção auditiva I5. Técnicas <strong>de</strong> restauração6. Informática7. Inglês InstrumentalMONTAGEMCurso completo <strong>de</strong> Assistente1. Historia da Arte II2 . História do cinema II/III3. Linguagem cinematográfica II/III4. Percepção visual II5. Percepção auditiva II6. Roteiro II7. Teorias da montagem II8. Edição II9. Revelação <strong>de</strong> Imagem II10.Técnica <strong>de</strong> Mixagem11. Som II12. Tecnologias e Aplicativos com Software13. Pratica com softwaresAvaliação. Entrevista1. Historia da Arte I2 . História do cinema I3. Linguagem cinematográfica I4. Percepção visual I5. Percepção auditiva I6. Roteiro I7. Teorias da montagem I8. Edição I9. Som I11. Informática (nível médio)12. Inglês experimentalBásico <strong>de</strong> Fotografia. Laboratório1. Historia da Arte I/II2. Linguagem Cinematográfica I3. Historia do Cinema I/II/III4. Tipos <strong>de</strong> Negativo5. Laboratório - Processos (analógico edigital)6. Novas mídias e suportes7. Montagem I8. Informática9. Inglês experimentalCurso <strong>de</strong> montagem1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II/III3. Linguagem cinematográfica I/II4. Percepção visual I/II


PRODUTOR*Correlativa <strong>de</strong> AssistenteASSISTENTE DE PRODUÇÃOSECRETARIA DE PRODUÇÃO4. Percepção auditiva I5. Roteiro I6. Revelação <strong>de</strong> Imagem7.Técnica <strong>de</strong> Mixagem8. Som I9. Revelação do som10. Trucagem11. Montagem12. Informática13. Inglês experimentalPRODUÇÃOCurso <strong>de</strong> Assistente <strong>de</strong> Produção1. Historia da Arte II2 . História do cinema II3. Linguagem cinematográfica II4. Desenho <strong>de</strong> Produção II4. Câmeras e lentes5. Iluminação I6. Equipamentos e Maquinaria7. Som I8. Montagem I9. Planejamento <strong>de</strong> produção10. Pós produção e Laboratório11. Legislação e Mercado12. Contratação <strong>de</strong> autor, equipe técnica eartistas13. Contrato <strong>de</strong> Locações e equipamentos14. Desenvolvimento <strong>de</strong> projetosAvaliação. Entrevista1. Historia da Arte I2. História do cinema I3. Linguagem cinematográfica I4. Roteiro I5. Desenho <strong>de</strong> Produção I6. Decupagem <strong>de</strong> Roteiro7. Produção <strong>de</strong> objetos/figurino8. Produção <strong>de</strong> locações9. Informática10. Inglês experimentalCurso completo <strong>de</strong> Secretariado1. Historia da Arte I2. História do cinema I3. Linguagem cinematográfica I4. Roteiro I5. Contratação <strong>de</strong> autor, equipe técnica eartistas.6. Contrato <strong>de</strong> Locações e equipamentos7. Planejamento e orçamentos8. Informática9. Inglês experimental


MONTADOR DE NEGATIVO*Correlativa <strong>de</strong> AssistenteASSISTENTE DE MONTADOROPERADOR DE TELECINEREVISOR DE FILMESCENARISTALABORATÓRIOCurso <strong>de</strong> Assistente <strong>de</strong> Montador <strong>de</strong>Negativo1. Historia da Arte II2. História do cinema II3. Linguagem cinematográfica II4. Equipamentos / Laboratório5. Material Sensível6. Revelação <strong>de</strong> Som7. Revelação <strong>de</strong> Imagem8. Trucagem9. MontagemAvaliação. Entrevista1. Historia da Arte I2. História do cinema I3. Linguagem cinematográfica I4. Roteiro I5. Equipamentos / Laboratório6. Material Sensível7. Informática8. Inglês experimentalBásico <strong>de</strong> Imagem e Som1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Sinal <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o5. Equipamentos <strong>de</strong> áudio e ví<strong>de</strong>o6. Laboratorio. Telecine.7. Informática8. Inglês instrumentalBásico <strong>de</strong> Fotografia. Laboratório1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Percepção visual I5. Percepção auditiva I6. Conhecimento <strong>de</strong> Material sensível (Some imagem)7. Montagem I8. Técnicas <strong>de</strong> reparação e limpeza9. Informática10. Inglês experimentalANIMAÇÃOEnsino superior. Específico1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Técnicas <strong>de</strong> animação digital eintegração


COLORISTAARTE FINAL / COMPUTADORCLEAN UPCOORDENADOR DE ARTE FINALDESIGNEDITOR DE ANIMAÇÃO5. Stop motion y técnicas mixtas6. Desenvolvimiento do Projeto específico7. Roteiro I/IIEnsino superior. Específico1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Técnicas <strong>de</strong> animação digital eintegração5. Stop motion y técnicas mixtas6. Desenvolvimiento do Projeto específico7. Roteiro I/IIEnsino superior. Específico1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Técnicas <strong>de</strong> animação digital eintegração5. Stop motion y técnicas mixtas6. Desenvolvimiento do Projeto específico7. Roteiro I/IIEnsino superior. Específico1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Técnicas <strong>de</strong> animação digital eintegração5. Stop motion y técnicas mixtas6. Desenvolvimiento do Projeto específicoEnsino superior. Específico1. Historia da Arte I/II2 . História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Técnicas <strong>de</strong> animação digital eintegração5. Stop motion y técnicas mixtas6. Desenvolvimiento do Projeto específico7. Roteiro I/IIEnsino superior. Específico1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Animação digital e integração5. Stop motion y técnicas mixtas6. Desenvolvimiento do Projeto específico7. Roteiro I/IIEnsino superior. Específico


INTERVALADOR1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Tec. animação digital e integração5. Stop motion y técnicas mixtas6. Desenvolvimiento Projeto específico7. Roteiro I/IIEnsino superior. Específico1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Técnicas <strong>de</strong> animação digital eintegração5. Stop motion y técnicas mixtas6. Desenvolvimiento do Projeto específico7. Roteiro I/IISCANNEREnsino superior. Específico1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Técnicas <strong>de</strong> animação digital5. Roteiro I/IITRUCADOR*Correlativo <strong>de</strong> AssistenteASSISTENTE DE TRUCAGEMTRUCAGEMCurso <strong>de</strong> Assistente <strong>de</strong> Trucagem1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I/II4. Roteiro I5. Som I6. Ótica7. Fotografia II8. Técnicas <strong>de</strong> Trucagem9. Laboratório10. Eletrônica Básica e Digita l11. Montagem I12. Informática13. Inglês instrumentalCurso Básico <strong>de</strong> Fotografia eConhecimentos <strong>de</strong> Laboratório1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I4. Eletrônica Básica e Digital5. Som I6. Ótica7. Fotografia II8. Laboratório


TÉCNICO EM EFEITOS ESPECIAISOTICOS9. Informática10. Inglês instrumentalEnsino superior específico1. Historia da Arte I/II2. História do cinema I/II3. Linguagem cinematográfica I4. Fotografia II5. Laboratório. Negativos6. Ótica7. Trucagem I8. Eletrônica Básica e Digital9. Montagem I10. Informática11. Inglês instrumentalMANUTENÇÃOTÉC. DE MANUTENÇÃO DEEQUIPAMENTOElaborar relatório técnicoElaborar planilha <strong>de</strong> custos <strong>de</strong>manutenção eletrônica <strong>de</strong> equipamentos.Analisar condições técnicas, econômicase ambientais.TÉCNICO DE MANUTENÇÃOELETRÔNICAEstudar <strong>de</strong>feitos e diagnosticar suascausas para correção. Elaborar planilha<strong>de</strong> custos <strong>de</strong> manutenção eletrônica.Criar relatório técnico da manutençãoeletrônica. Analisar condições técnicas,econômicas e ambientais.Básico <strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong> e Eletrônica1. História do cinema I/II2. Eletrônica Básica e Digital3. Equipamentos <strong>de</strong> Câmera / Edição / Som4. Mecânica Cinematográfica5. Técnicas <strong>de</strong> Manutenção6. Informática7. Inglês instrumentalBásico <strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong> e Eletrônica1. História do cinema I/II2. Eletrônica Básica e Digital3. Equipamentos - Som4. Técnicas <strong>de</strong> Manutenção5. Informática6. Inglês instrumental


ANEXOS

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