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Livro - Chico Xavier - filhos voltando

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1<br />

www.autoresespiritasclassicos.com<br />

FILHOS VOLTANDO<br />

FRANCISCO CANDIDO XAVIER<br />

CAIO RAMACCIOTTI<br />

ESPÍRITOS DIVERSOS DE<br />

JOSÉ ROBERTO PEREIRA DA SILVA<br />

JOSÉ ROBERTO PEREIRA CASSIANO


Sumário<br />

Introdução / Emmanuel<br />

Apresentação 04<br />

José Roberto Pereira da Silva 06<br />

Capítulo I 08<br />

Capítulo II 15<br />

Capítulo III 16<br />

Capítulo IV 17<br />

Capítulo V 18<br />

Capítulo VI 24<br />

Capítulo VII 26<br />

Capítulo VIII 27<br />

Capítulo IX 31<br />

Capítulo X 33<br />

Capítulo XI 36<br />

Capítulo XII 37<br />

Capítulo XIII 38<br />

Capítulo XIV 39<br />

José Roberto Pereira Cassiano 41<br />

Capítulo I 43<br />

Capítulo II 50<br />

Capítulo III 56<br />

Capítulo IV 57<br />

Capítulo V 59<br />

Capítulo VI 64<br />

Capítulo VII 66<br />

Capítulo VIII 69<br />

Capítulo IX 71<br />

Capítulo X 72<br />

Capítulo XI 75<br />

Capítulo XII 77<br />

2


Prezado leitor,<br />

As páginas deste livro acendem a luz da consolação e da alegria nas<br />

sombras da saudade de quantos reencontram entes queridos, depois de<br />

ausência que se supunha definitiva.<br />

*<br />

É que, neste volume despretensioso, surgem às notícias de <strong>filhos</strong><br />

queridos, <strong>voltando</strong> ao lar, após a separação pela morte, entretecem<br />

poemas de ternura e reconhecimento, junto aos pais saudosos que os<br />

recolhem nos braços, em espírito, e, em seguida, permitem que o<br />

reconforto e a esperança, por eles haurido nestas mensagens de paz e<br />

amor, se estendam a corações outros que a morte envolveu no<br />

sofrimento.<br />

Filhos <strong>voltando</strong>!...<br />

Que eles possam falar-te, igualmente, leitor amigo, da bondade<br />

infinita do Senhor e da imortalidade da alma, ampliando-te o júbilo de<br />

servir e a compreensão da importância de viver, são os nossos votos.<br />

Emmanuel<br />

Uberaba, 28 de fevereiro de 1982<br />

3


4<br />

Apresentação<br />

Natal de 1981. Entardecer.<br />

Em tranqüila estância do interior paulista, acompanhávamos os<br />

derradeiros momentos do dia que findava, contemplando através da<br />

ramaria de pequeno bosque de pinheiros, as cambiantes do poente,<br />

enquanto Vênus - a estrela Véspertina - enviava-nos sua plácida<br />

claridade, qual pegureiro de luz a ensinar-nos o caminho dos Céus...<br />

E com as atenções voltadas para este livro, na época em fase final de<br />

estruturação, deixamos o pensamento volitarem torno da quietude<br />

daquela tarde serena, povoando-nos instintivamente a memória a<br />

lembrança de companheiros que já partiram para a Vida Maior, quais os<br />

Betos, autores espirituais deste livro, com quem mantivemos, então,<br />

longos diálogos, apenas testemunhados pelo vento suave que acariciava<br />

a tarde, envolvendo o casario que se aboletava por entre as fraldas das<br />

colinas da pequena cidade.<br />

Ao recordar os valorosos rapazes, que conhecemos através de seus<br />

pais e das mensagens que você, leitor amigo, acompanhará nas páginas<br />

que se seguem, melhor pudemos compreender a grandeza da Vida e da<br />

Misericórdia de Jesus, claramente manifestas nas palavras de nossos<br />

queridos jovens, José Roberto Pereira da Silva e José Roberto Pereira<br />

Cassiano - os Betos - tão fielmente anotadas pela pena mediúnica de<br />

<strong>Chico</strong> <strong>Xavier</strong>.<br />

"Mamãe, a saudade não é uma provação, é um convite de Deus para<br />

trabalharmos com mais dedicação pelos que suportam dificuldades<br />

maiores que as nossas..." Ou então: "Deus existe e a alma é imortal! A<br />

morte é alteração da forma, alteração apenas e nós todos estamos<br />

reunidos em Deus, conquanto a separação aparente...", são frases<br />

esparsas que retiramos ao texto psicografado, para que o leitor


compreenda a dimensão espiritual e o carinho do recado dos Betos aos<br />

pais.<br />

Por isso mesmo, pais saudosos da perda de <strong>filhos</strong> diletos, temos<br />

plena convicção de que este livro os envolverá na mesma atmosfera de<br />

júbilo e bênçãos espirituais que nos cercou e também cremos<br />

sinceramente que lhes trará ao espírito a certeza de que os <strong>filhos</strong> amados<br />

que partiram para o Mundo Espiritual se encontram tão próximos de<br />

vocês, como se encontravam quando ainda na Terra.<br />

Enxuguem as abençoadas lágrimas da saudade, pois Jesus fará o<br />

resto. Dar-lhes-á a paz por que tanto anseiam e falar-Ihes-á ao coração<br />

que os <strong>filhos</strong> queridos não morreram e sim renasceram para a Vida<br />

Imperecível.<br />

Caio Ramacciotti<br />

São Bernardo do Campo, 28 de fevereiro de 1982<br />

5


6<br />

José Roberto Pereira da Silva<br />

José Roberto Pereira da Silva nasceu em São Paulo-SP, no dia 6 de<br />

agosto de 1953. Filho de Nery Pereira da Silva e Lucy Ianez da Silva,<br />

cursava o 1° ano de Medicina em Mogi das Cruzes, cidade próxima da<br />

capital paulista, quando faleceu no acidente envolvendo o trem que,<br />

rumo de Mogi, conduzia sobretudo universitários, na manhã de 8 de<br />

junho de 1972. Contava, ao desencarnar, 19 anos.<br />

A primeira mensagem do Beto, como era chamado, foi recebida por<br />

Francisco Cândido <strong>Xavier</strong>, pouco mais de um ano depois, no dia 29 de<br />

setembro de 1973.<br />

Perguntamos a seus pais, Nery e D. Lucy, a respeito do modo pelo<br />

qual receberam o recado do filho, através do <strong>Chico</strong>, do significado da


primeira e das demais mensagens psicografadas pelo querido médium.<br />

Literalmente, assim se expressou D. Lucy:<br />

"Desesperada de dor, através de vizinha amiga, conheci D. Yolanda<br />

Cezar que me Levou a Uberaba para falar com <strong>Chico</strong> <strong>Xavier</strong>. Isto quase<br />

um ano após a morte do Beto.<br />

Voltei a Uberaba por mais duas vezes e na terceira viagem, manhã<br />

de 29 de setembro de 1973, nosso querido Beto se manifestou.<br />

Não sei como resisti, pois nunca poderia imaginar que, através das<br />

mãos benditas de nosso <strong>Chico</strong> <strong>Xavier</strong>, viessem tantas provas juntas,<br />

mostrando-nos que era meu filho mesmo quem escrevia.<br />

Ao voltar de Uberaba, com a mensagem que para mim representava<br />

um tesouro, de pronto a li para meu marido que desde as primeiras<br />

palavras ficou muito emocionado e surpreso, pois aquelas páginas eram<br />

de irretorquível autenticidade. ‘E mesmo nosso filho!’, dizia meu<br />

marido.<br />

Então, nossa vida começou a mudar. À noite do desespero e do<br />

sofrimento, difíceis de descrever, começava a dar espaço às primeiras<br />

claridades da manhã.<br />

Evidentemente as viagens a Uberaba agora se intensificavam; o<br />

contato com <strong>Chico</strong> e os recados do Beto davam-nos sempre mais forças,<br />

coragem e ânimo para viver.<br />

Hoje, entendemos que nosso filho nos foi emprestado por Jesus pelo<br />

prazo de 19 anos, mas continuamos juntos espiritualmente, mais juntos<br />

mesmo do que antes, embora de outra forma. Deus não se afasta de nós,<br />

a vida continua e seguiremos para a grande alegria de nosso<br />

reencontro.”<br />

7


8<br />

Elucidação<br />

Sexto <strong>Livro</strong> da COLEÇÃO JOVENS NO ALÉM, FILHOS<br />

VOLTANDO é um tanto diferente dos outros volumes que a compõem.<br />

E a diferença consiste justamente na principal característica desta<br />

obra: a seqüência dos recados dos dois Betos, ora extensos e plenos de<br />

revelações, ora mais curtos, à feição de bilhetes, traduz um contato do<br />

filho desencarnado com os pais, estabelecido ao longo de oito e seis<br />

anos, respectivamente para José Roberto Pereira da Silva e José Roberto<br />

Pereira Cassiano.<br />

E, em virtude desse dilatado tempo, através de numerosas<br />

mensagens, podemos observar que o relacionamento entre pais e <strong>filhos</strong>,<br />

por via mediúnica, se estabelece, à maneira de freqüente<br />

correspondência epistolar que se vai tornando, com o passar do tempo,<br />

menos cerimoniosa, mais descontraída e alegre.<br />

Querida Mamãe, peço a sua bênção comigo.<br />

Dizer o que sinto agora, querida Mamãe, é impossível. Quem<br />

conseguirá descrever o , que se sente entre duas vidas?<br />

Eu não sei o que fazer nesta hora em que nos revemos assim, através<br />

das letras que seu filho vai escrevendo com o coração nos dedos,<br />

amparado pelas mãos de amigos e benfeitores que nos protegem.<br />

O papel aqui me parece um espelho em que meu pensamento se<br />

reflete...<br />

Entretanto, Mãezinha, o papel não retrata as lágrimas. As lágrimas<br />

de alegria e de gratidão que elevo a Jesus, agradecendo estes minutos de<br />

escrita.<br />

I


Receba, porém, todos os melhores sentimentos de seu filho, nestas<br />

frases que vou transmitindo às páginas, sem cogitar de saber com<br />

exatidão, como vou registrando o que sinto...<br />

Não chore mais, Mãezinha, e peça ao querido Papai me auxilie com<br />

a fortaleza que ele vai reconstruindo pouco a pouco...<br />

Desde aquela manhã final de 8 de junho (l) a saudade ficou mesmo<br />

entre nós, mas o amor cresceu e cresce cada vez mais. E é no amor que<br />

vivemos, porque o amor é a presença de Deus. Ajudem-me. Não<br />

lastimem mais a partida inesperada do filho que desejaria ter ficado...<br />

1) 8 de junho de 1972, data do acidente em que Beto faleceu.<br />

Entretanto, a lei de Deus sabe mais que os nossos desejos. Se<br />

pudesse, teria permanecido, permanecido sempre, até que pudéssemos<br />

avançar todos juntos no tempo, sem separação e sem morte.<br />

Não creiam que o sofrimento do adeus não está igualmente aqui...<br />

Estamos vivos e quase felizes, mas é preciso lembrar que este quase é a<br />

lâmina que a saudade significa em nosso coração firme na fé.<br />

Estamos contentes e renovados, mas a despedida dói mais, porque o<br />

pranto dos que amamos é chuva de aflições sobre nós.<br />

Lembro, Mãezinha querida, o Papai trabalhando para entesourar os<br />

recursos diante do futuro.<br />

Lembro-me de que ele me pedia dar toda a atenção aos estudos,<br />

enquanto ele sonhava com um hospital em que a Medicina me<br />

aguardasse, para cumprir encargos de amor ao pé dos doentes...<br />

Rogo a ele que não desanime, nem se canse... Além de nossa<br />

querida Sandra, (2) temos outros corações para auxiliar. Os<br />

companheiros que ficaram, que lutam, que estudam e que esperam dias<br />

melhores no Amanhã da Vida, contam igualmente conosco.<br />

2) Sua irmã, Sandra Maria Pereira da Silva.<br />

Rogo ao papai não esmorecer, porque precisamos continuar...<br />

Continuar para valorizar o tempo e os recursos que o Alto nos<br />

concedeu...<br />

9


Tenho sofrido bastante com as inquietações dos familiares queridos.<br />

Não fosse isso, Mãezinha, e tudo estaria melhor.<br />

Não pensem - mas não pensem mesmo - em mim à maneira de<br />

alguém que fosse esmagado pelo acidente. O que se perdeu foi um<br />

retrato - um retrato que um dia, em verdade, deveria desaparecer. Eu<br />

mesmo estou forte, reanimado, a pedir-lhes para que vivam e lutem pelo<br />

bem de nós todos.<br />

Papai, escute o meu grito.<br />

Não morri, não!<br />

Trabalhe, meu pai, guarde o seu ânimo de homem de bem. Não<br />

queira morrer para reencontrar-me, porque eu prossigo vivendo para<br />

reencontrá-lo, a cada dia, mais encorajado para a luta em favor do bem.<br />

Não me procure chorando e clamando por mim, no recanto de terra,<br />

onde meu retrato ficou arquivado!<br />

Agradeço o seu carinho, meu querido pai, suas preces e suas<br />

manifestações de amor, e peço a Deus lhe recompense a abnegação, mas<br />

não procure por seu filho a pedir com tanta dor para que a nossa dor<br />

necessária não exista.<br />

O tempo com a bênção de Deus nas ajudará.<br />

Rogo-lhe viver e viver criando felicidade e progresso para nós<br />

todos.<br />

O trem de Mogi, no dia 8 de junho do ano passado, não trouxe para<br />

cá os rapazes todos.<br />

O senhor queria que eu ficasse ai para realizar os seus ideais, no<br />

entanto, eu não estou morto, meu pai! Estou vivo<br />

E trabalharei com as suas mãos.<br />

Recordo as suas palavras, lembrando os dias de sua infância.<br />

Você queria seu filho num hospital para atender às crianças<br />

necessitadas e auxiliar aos enfermos desvalidos, sem maiores recursos...<br />

E quem diz que não vou servir?<br />

10


Agora, conheço mais profundamente a nossa Gruta de Maquiné das<br />

conversações e até o Padre João de Santo Antônio, (3) que nossa família<br />

sempre honrou com abençoada devoção, me veio ver e abraçar em nome<br />

do carinho de meus antepassados, aqueles mesmos, Papai, que puseram<br />

no seu peito de missionário do bem o coração generoso que o senhor<br />

traz na alma.<br />

3) Famosa gruta, localizada em Cordisburgo-MG, que Beto conheceu na infância. O<br />

padre João dei Santo Antônio era conterrâneo da avó materna do Beto, conhecido da<br />

família e falecido há mais de 60 anos.<br />

Vovô Ianez (4) me acolheu logo que me vi necessitado de apoio.<br />

Digo assim, porque depois de cair como se houvesse sorvido um<br />

tranqüilizante violento para dormir, apenas dormi pesadamente...<br />

Sonhava a me ver no vagão, brincando com os amigos e comentando as<br />

alegrias que projetávamos para as férias próximas... Como que<br />

prosseguia, a dormir, na viagem que parecia não terminar, até que as<br />

minhas impressões se transformaram num pesadelo, do qual acordei<br />

num leito de tranqüila enfermaria, com uma faixa a me resguardar a<br />

cabeça.<br />

4) João Ianez, bisavô materno, seguiu para o Mais Além, no início do século.<br />

Despertei, sentindo dor, e imaginei que fora acidentado, sem a<br />

certeza disso.<br />

Remédios vieram de mãos amigas e dormi de novo para depois<br />

acordar com mais calma...<br />

Entretanto, aí, foi a nossa casa a se revelar por dentro de mim.<br />

O senhor e Mamãe, chorando e clamando, sem que eu nada pudesse<br />

responder...<br />

Parentes nossos vieram de modo surpreendente em meu favor, e vou<br />

indo, pouco a pouco, retomando a vida.<br />

O que sucedeu realmente ainda não sei por detalhes.<br />

Estou à feição de alguém que houvesse sofrido longo processo de<br />

anestesia, sem memória muito segura para recordar minudências. Mas<br />

vovô Ianez e o vovô Leite, (5) irmãs de caridade cristã que foram e são<br />

11


amigas de minha avó desde os dias da devoção a Santo Antônio, me<br />

auxiliam com carinho e bênção, dando-me novas forças.<br />

5) Francisco de Paula Leite, também bisavô materno, já desencarnado.<br />

Rogo ao senhor, Papai - a você meu ai e meu amigo - fortalecer<br />

Mamãe e Sandrinha, com o seu esforço e com a sua coragem.<br />

Deus não se afasta de nós, a vida continua e estamos juntos, embora<br />

de outra forma.<br />

Lembre-se com Mamãe de que, desde os primeiros dias da escola, a<br />

idéia de um trem de f erro estava comigo e de que a preocupação com o<br />

tempo me obrigava a estar marcando datas e mais datas. Algo em mim<br />

falava que os dias para mim seriam curtos na Terra e que um comboio<br />

estava me aguardando para a viagem final, mas final de linha, meu<br />

querido Papai, porque os trilhos continuam...<br />

Para mim é como se o trem de Mogi tivesse entrado num túnel... De<br />

um lado ficaram vocês, os meus entes amados e de outro estou eu,<br />

continuando em nova forma...<br />

Peço-lhes mais uma vez para que me ajudem.<br />

A saudade deve ser para nós uma prece de esperança e com essa<br />

prece, trabalhando no bem aos nossos irmãos do caminho, seguimos<br />

para a luz do reencontro...<br />

Mãezinha, não chore mais. Ampare-me com a sua fé.<br />

Rogo aos meus queridos avós para me auxiliarem.<br />

Ano passado foi terrível para mim, o seis de agosto! (6)<br />

6) Data de seu aniversário. Beto se refere ao natalício que passou, no Plano Espiritual,<br />

saudoso dos familiares, apenas dois meses após a desencarnação.<br />

Se puderem, no próximo aniversário, façamos a festa de nossa<br />

comunhão espiritual, ofertando um bolo às crianças reunidas em lar de<br />

Jesus, sem o lar terrestre que não puderam ter. Estarei com vocês e<br />

vamos encontrar muita alegria.<br />

Não deixem que a nossa casa se transforme em recanto de sombras e<br />

lágrimas.<br />

12


13<br />

A vida é tesouro de Deus e todos estamos ricos de trabalho e<br />

esperança, fé e conhecimento.<br />

Agora, é o ponto final que me pedem.<br />

Não posso escrever mais. Minhas forças não estão muito seguras.<br />

Estou como quem cumpriu uma prova difícil - a de escrever quase sem<br />

possibilidade para fazer isto.<br />

Querido Papai, querida Mãezinha, querida Sandrinha, meus<br />

queridos avós e meus companheiros queridos. aqui, com toda a minha<br />

confiança, aquele abraço de meu coração reconhecido.<br />

Beto<br />

29 Setembro 1973<br />

Considerações Complementares<br />

A respeito da mensagem que acabamos de ter, as notas de rodapé<br />

esclarecem nomes e fatos, contudo, alguma coisa mais há que dizer-se:<br />

Quando Beto diz ao pai: "Você queria seu filho num hospital para<br />

atender às crianças necessitadas e auxiliar aos enfermos desvalidos, sem<br />

maiores recursos...", expressa a mais pura realidade, ignorada pelo<br />

médium. Realmente, o Sr. Nery, por várias vezes, manifestara ao filho o<br />

desejo de construir-lhe um hospital para o atendimento de pacientes sem<br />

recursos. Era um sonho acalentado com muito empenho.<br />

Também, em determinado trecho do comunicado, Beto diz:<br />

"Lembre-se com Mamãe de que, desde os primeiros dias da escola, a<br />

idéia de um trem de ferro estava comigo e de que a preocupação com o<br />

tempo me obrigava a estar marcando datas e mais datas. Algo me falava<br />

que os dias para mim seriam curtos na Terra e que um comboio me<br />

estava aguardando para a viagem finai..."<br />

D. Lucy confirmou que Beto, de modo obsessivo, vivia escrevendo<br />

e datando seu nome nos mais variados objetos que lhe surgissem à mão


e nos permitiu apresentar algumas fotos que documentam o hábito<br />

singular lembrado pelo filho no texto psicografado.<br />

Também com relação à verdadeira paixão do Beto pelos comboios,<br />

contou-nos sua genitora que o rapaz, embora tenha sido aprovado em<br />

outras Faculdades de Medicina mais próximas, preferiu fazer o curso em<br />

Mogi das Cruzes, pelo insopitável anseio de viajar diariamente no trem<br />

de ferro, encontrando a desencarnação numa dessas viagens.<br />

14


15<br />

II<br />

Querida Mãezinha,<br />

Deus abençoe a nós todos. Estamos bem. Lutando dor aprender de<br />

modo a podermos realizar o melhor.<br />

Não se aflija, o clima de trabalho se desdobra. As tarefas são<br />

imensas.<br />

É como se a gente obtivesse um diploma, a fim de encontrar o<br />

mundo pela rente. Habituarmo-nos a servir agora é uma necessidade a<br />

que não se consegue fugir.<br />

Ajude a seu filho, com a sua paz confiante.<br />

Compreendemos. A fome de notícias entre nós é semelhante àquela<br />

sede de cartas e palavras, quando, aí na Terra, nos achamos distantes<br />

uns dos outros. Mas, creia, Mãezinha, pelos pensamentos, o nosso<br />

diálogo está sempre mais ativo e mais profundo.<br />

Acalme os nossos entes queridos e estejamos tranqüilos.<br />

Nossos amigos Toledo e Fernando (l) estão aqui conosco e<br />

agradecem o amor das queridas Mãezinhas aqui presentes.<br />

1) Carlos Alberto de Toledo, desencarnado aos 20 anos incompletos, às vésperas do<br />

Natal de 1969, em acidente de moto e Fernando Luiz da Silva Ribeiro, falecido em junho de<br />

1974, em conseqüência de acidente rodoviário, na estrada que liga São Paulo a Curitiba.<br />

Contava 22 anos.<br />

Nosso caro Toledo roga ao pai o auxilie a sustentar a querida<br />

Mãezinha sempre firme e sempre forte na fé.<br />

Por hoje é unicamente este bilhete simples o que posso escrever.<br />

Rega, querida Mãezinha, com todos os nossos corações queridos,<br />

todo amor e todo reconhecimento de seu filho, sempre mais seu,<br />

José Roberto<br />

12 Abri1 1975


16<br />

III<br />

Querida Mamãe, como sempre, seu filho pede a sua bênção.<br />

Mãezinha, nós sabemos.<br />

A saudade é um tormento, uma doença, mas precisamos suportá-la,<br />

transformando-a em serviço e esperança.<br />

Não se aflija, se nossa palavra demora.<br />

Palavra é som e o pensamento é luz. E a luz chega sempre antes.<br />

Pelos pensamentos estamos mais unidos do que nunca.<br />

Às vezes, queremos escrever, mas precisamos coibir esses desejos<br />

para não ferir companheiros que tanto desejariam expressar-se e que<br />

ainda não dispõem de meios.<br />

Fique tranqüila. Estou bem.<br />

O túnel para Mogi me trouxe para outra faculdade e estou estudando<br />

com muita atenção.<br />

Quero aprender a curar os corpos e as almas doentes.<br />

Auxilie a seu filho com a sua coragem. Estou igualmente<br />

cooperando pela paz dos nossos, especialmente pela tranqüilidade da<br />

irmãzinha.<br />

A família continua e o amar nunca morre.<br />

Esteja certa de que ouço todos os seus pedidos.<br />

Seu Beto é pobre ainda, mas vai trabalhar muito para merecer ajudar<br />

ao seu coração e ao coração de meu pai e de todos os nossos.<br />

Desejo ao seu carinho um Céu de estrelas sem nuvens a esconderlhes<br />

a luz e receba o abraço de muito amor e de muita gratidão do seu<br />

filho.<br />

José Roberto<br />

05. Agosto.1975


17<br />

IV<br />

Querida Mãezinha, peço a sua bênção.<br />

É só um bilhete.<br />

Agradeço o carinho destes dias, como sempre.<br />

Estou aqui, ao seu lado, confirmando presença e amor.<br />

A nossa união é inalterável.<br />

Peço-lhe, não fique triste, nem desanimada em momento algum.<br />

Seu filho está agindo e estudando. Criando forças novas.<br />

Trabalharei. Quero dar muita alegria ao seu coração e a todos os<br />

corações que amamos.<br />

Mamãe, a vida é uma herança de Deus. Herança eterna. Confiemos.<br />

Não há morte.<br />

Repetiremos isso até que todos se conscientizem das realidades do<br />

espírito.<br />

Prossigamos para a frente, buscando Jesus, embora sentindo Jesus<br />

em nós, pelas lições do Senhor que nos iluminam a estrada.<br />

Mãe querida, em seu carinho, o reconhecimento com todo o amor de<br />

seu filho,<br />

Beto<br />

07 Agosto 1976


18<br />

V<br />

Mãe querida, peço a sua bênção. Ao mesmo tempo, rogo a Deus nos<br />

proteja a todos.<br />

Estou muito grato aos Mentores Espirituais pela concessão: escrever<br />

aos pais queridos e comentar os ensinamentos novos, todos eles<br />

bordados de saudade.<br />

Falo de saudade, Mãezinha, mas essa é uma inquilina permanente<br />

do coração, convertendo-nos em espíritos transformados pelo amor<br />

sofrido; transformados para as alegrias imperecíveis; transformados para<br />

sempre em <strong>filhos</strong> conscientes de Deus.<br />

Não nos imaginem distantes - nós os <strong>filhos</strong> que precederam pais<br />

bem-amados na mudança para a Vida Maior. Estamos unidos,<br />

associados na mesma esperança e no mesmo ideal de vencer.<br />

Compreendo, tantos somos, que mais vale afastar de uma só vez a idéia<br />

de que seja outro que fala. Sou eu mesmo, Beto, o companheiro do túnel<br />

que varou, às pressas,. as fronteiras que nos separam uma vida da outra<br />

vida.<br />

E venho, Mamãe, pedir-lhe calma e bom-ânimo.<br />

As nossas notícias reconfortam, mas suscitam em casa novas<br />

perspectivas de notícias outras. Parece que, entre dois mundos, cada<br />

mensagem ou frase de intercâmbio entre nós lembra uma sede não<br />

extinta. Começamos a sorver a água pura da certeza de nossa<br />

sobrevivência e de nosso amor, entretanto, a impermanência das<br />

impressões de natureza física nos deixa a idéia de que o líquido não<br />

chegou a retirar a febre da saudade de nosso campo íntimo.<br />

Ainda assim, Mamãe, não temos outro caminho para sustentar-nos,<br />

ante a fome do reencontro. Aqui nos ensinam que a Bondade de Deus<br />

nos concede essa insatisfação para que, ao buscar-nos uns aos outros,


estejamos seguindo à frente, conduzindo outros que sem essa ou aquela<br />

migalha de amor, de nossa parte, talvez desfalecessem.<br />

Aqui também nós somos impelidos por essa força à contenção de<br />

nossos impulsos inferiores para maior devotamento ao trabalho e,<br />

conseqüentemente, ao progresso. Somos lembrados no mundo por entre<br />

nuvens de lágrimas e recordamos os nossos entes amados com a neblina<br />

do pranto a lavar-nos os corações. Isso significa que nos cabe enorme<br />

esforço para a reintegração total no amor-presença que se define por<br />

fator máximo de alegria em nossas vidas<br />

Venho rogar igualmente ao Papai amigo e devotado para que se<br />

reconstitua plenamente na fé.<br />

Ouço nos recessos da alma o que ele me diz sem articular palavras e<br />

o que ele me escreve em tudo aquilo que não fica escrito; no entanto,<br />

peço a ele para nos encorajarmos à procura da felicidade a que<br />

aspiramos. Às vezes, Mãezinha, vejo-o a mentalizar aquela viagem final<br />

de seu filho, quando no Plano Físico, e noto a perfeição de detalhes com<br />

que ele procura reconstruir mentalmente o túnel que me assinalou um<br />

ponto importante na Vida Espiritual.<br />

No entanto, agora penso, Mamãe, que há sempre um túnel para<br />

quem vive na Terra. É preciso nos decidamos a encontrar os que estão<br />

varando os túneis da tristeza e do desânimo, da angústia e da provação,<br />

muito mais escuros e mais dolorosos que o túnel da estrada de Mogi.<br />

Mãezinha, nós, os que regressamos, não somos apenas portadores de<br />

notícias que poderiam ser retardadas. Somos braços que acenam a novos<br />

caminhos, mãos que esculpem novos mapas de trabalho, vozes de<br />

esperança e cartas de renovação. Outra vida nos pede preparação,<br />

alvoradas novas anunciam novos dias. Todos os que se acham em túneis<br />

de abandono e de infortúnio, quantos se instalaram no comboio das<br />

provas, sonhando diplomações de cultura e felicidade no Reino<br />

Espiritual, são lembrados para essa festa de paz e amor.<br />

19


Deus existe e a alma é imortal! A morte é alteração da forma,<br />

alteração apenas e nós todos estamos reunidos em Deus, conquanto a<br />

separação aparente em que as nossas conceituações tradicionais da vida<br />

no mundo nos obrigam a adotar provisoriamente.<br />

Ainda mesmo quando falemos em saudades e lágrimas,<br />

expressando-nos da Vida Nova, estamos pedindo coragem e fortaleza<br />

àqueles que amamos. A sensibilidade nossa pode estar ferida ou as<br />

nossas forças dilapidadas, mas, na essência, estamos edificando uma<br />

vida melhor, em que a ausência com a certeza do reencontro nos impele<br />

a renovar-nos para Deus, trabalhando e servindo cada vez mais.<br />

Agradeço os pensamentos de paz e amor da nossa querida Sandra.<br />

Estamos entrosados na mesma construção. Em verdade, não<br />

conseguimos suprimir os obstáculos da estrada em que seguimos, lado a<br />

lado, suportando cada qual o abençoado fardo de nossas necessidades e<br />

aspirações. E, nessa bendita comunhão, dar-nos-emos todos as mãos<br />

para que a subida se faça menos difícil. Digo assim porque toda senda<br />

para o Alto é sempre íngreme, prenunciando cansaço e empeços naturais<br />

diante da marcha.<br />

Ao escrever nesta noite, desejo expressar os nossos votos de paz e<br />

alegria a todos os corações amigos que nos partilham as orações. Nosso<br />

real desejo seria o de que todos os pais e mães presentes algo<br />

recebessem dos <strong>filhos</strong> queridos ou de outras criaturas abençoadas,<br />

dentre os que se domiciliam aqui; porém, estamos restritos a certas<br />

quotas de força.<br />

Mesmo nessas limitações, temos a satisfação de transmitir algumas<br />

notícias dos amigos e companheiros presentes aos amados, aqui<br />

conosco.<br />

Nosso amigo José Roberto Pereira Cassiano, o nosso querido Shabi,<br />

abraça os pais, em companhia da irmã Dosolina que beija a nossa<br />

querida irmã D. Maura. (1)<br />

(1) Avó e mãe do outro Beto. Ver mais adiante maiores esclarecimentos.<br />

20


Nosso irmão Alfredo Pessoa, com o nosso amigo Tato, recomenda<br />

seja dito à sua filha, nossa irmã D. Dirce, que ele e outros amigos estão<br />

colaborando em auxílio aos irmãos Severino e Olavo. (2)<br />

2) A respeito do Tato, Carlos Alberto da Silva Lourenço, sugerimos ao leitor a consulta<br />

dos livros Jovens no Além e Somos Seis. Alfredo Pessoa é seu avô materno já desencarnado<br />

e Dirce Pessoa da Silva Lourenço, Severino Domingos Lourenço e Olavo Jorge Bonfim, são<br />

respectivamente a mãezinha, o pai e o tio.<br />

A jovem Mafalda beija as mãos da sua querida Mãezinha, nossa<br />

irmã Marinetti, (3) agradecendo-lhe a conformação e o valor com que<br />

soube aceitar a prova da separação violenta que as distanciou uma da<br />

outra entre o campo terrestre e a Vida Espiritual.<br />

3) Mafalda Martins Ribeiro faleceu aos 14 anos, em acidente de moto, no Rio de<br />

Janeiro, no último dia do ano de 1956. Marinetti é sua genitora, Maria Nazaré Martins<br />

Ribeiro.<br />

Nosso irmão, de nome Ério, (4) abraça os pais queridos e notifica<br />

que prossegue em tratamento espiritual adequado.<br />

4) Ério, Francisco Savério Orlandi, jovem desencarnado em acidente rodoviário, filho<br />

de Domenico Orlandi e Elda Coggiola Orlandi.<br />

Entre os nossos queridos Toledos, Carlos, o irmão de nossas faixas<br />

de trabalho, não só beija a fronte dos amigos queridos que lhes foram<br />

pai e mãe no mundo, mas abraça também aos irmãos Marília e Antônio<br />

Carlos, informando ao nosso amigo Carlos Eduardo, o querido pai e<br />

companheiro de sempre, que o seu amigo Dr. Carlos Mesquita está sob<br />

atenciosos cuidados de benfeitores da Espiritualidade Maior e<br />

comunica, ainda, aos pais queridos, nossos irmãos Toledo e D. Olga,<br />

que não se despreocupará do auxílio solicitado em benefício do nosso<br />

amigo Flávio Mindlin e da querida irmã Heloísa. (5)<br />

5) Carlos Alberto de Toledo, já citado anteriormente, envia aos pais, Carlos Eduardo e<br />

Olga, notícias do amigo de família, Dr. Carlos Mesquita, falecido em 1976. Heloísa e Flávio<br />

Mindlin Guimarães são a irmã e o cunhado do jovem mencionado.<br />

Nossa irmã Pia Maciel (6) volve ao convívio das filhas queridas e<br />

pede ao genro-filho paciência e fortaleza, na certeza de que as lutas<br />

presentes passarão, deixando precioso saldo de paz.<br />

21


6) Pia Maciel, falecida em 1975, genitora de Acácia Maciel Cassanha, dirigente do Lar<br />

do Amor Cristão, entidade espírita da capital paulista.<br />

Nosso amigo Durval Tricta beija a filha querida, nossa irmã Dinah,<br />

e pede seja dito à esposa dele que, em companhia de médicos amigos,<br />

está cogitando de auxiliar-lhe a saúde no lar de Sorocaba. (7)<br />

7) Durval Moreira Tricta, pai de nossa amiga e companheira de Doutrina Espírita,<br />

Dinah Tricta. Sua esposa, Maria do Carmo Moreira Tricta, recentemente desencarnada.<br />

Durval Tricta faleceu em 1961.<br />

E outros e mais outros dedicam lembranças afetuosas a todos os<br />

presentes.<br />

Por fim, quero dizer que o nosso estimado Augusto Cezar está<br />

conosco, auxiliando-me a grafar esta carta, ao mesmo tempo que<br />

envolve nossa querida irmã Yolanda, (8) que ele considera seu anjo<br />

protetor, nas mais puras vibrações de reconhecimento e carinho.<br />

8) Yolanda Cezar, abnegada missionária do bem, mãezinha de Augusto Cezar, já nosso<br />

conhecido.<br />

Mãezinha Lucy, não se deixe dominar por tristeza alguma. As lutas<br />

são exames de habilitação para cada um de nós e, com paciência,<br />

transformaremos todas as dores em alegrias na química da vida. Os dias<br />

se desdobram apressados, sofrimentos são unicamente pequenas pedras<br />

que o tem o nos auxilia a transformar em jóias de alto preço, nos<br />

tesouros da Eternidade. Estamos aqui estudando e trabalhando, a fim de<br />

honrar os nossos pais queridos.<br />

Aí se fala em muitos votos à memória dos mortos que não<br />

morreram, pois aqui, igualmente, renovamos compromissos de trabalho<br />

e aperfeiçoamento, a fim de aguardar o reencontro nosso com os valores<br />

diferentes que possamos acumular em nós para recebê-los um dia, com<br />

o respeito e a gratidão que lhes devemos.<br />

Mãezinha, abrace por mim aos nossos - a todos os nossos,<br />

especialmente aqueles que dividem conosco as inquietações e alegrias<br />

diárias. Peça ao papai por mim, para não desanimar em momento algum<br />

e que será melhor recordar trabalhando que recordar sofrendo.<br />

22


A ele e à nossa Sandra, com os nossos corações queridos, a minha<br />

ternura iluminada de preces nas quais peço a Deus nos abençoe e nos<br />

fortaleça, ao mesmo tempo que rogo ao seu carinho de Mãe receber um<br />

beijo de muito amor e de muita saudade, com tudo o que seu filho possa<br />

ser e sentir de melhor.<br />

Sempre seu filho em seu coração, sempre seu<br />

Beto<br />

29 Agosto 76<br />

23


24<br />

VI<br />

Meu pai, querida Mãezinha, peço-lhes a bênção.<br />

Estamos reconhecidos com a festa. Um bolo de aniversário, baseado<br />

nas alegrias da prece! (1) Não sei o que dizer. A palavra parou na<br />

garganta e as melhores letras que eu desejava escrever parecem<br />

encerradas dentro do lápis. Trago-lhes, desse modo, pais queridos, todo<br />

o meu coração.<br />

1) Tocante homenagem anual dos pais do Beto ao filho desencarnado, comemorandolhe<br />

o aniversário, junto de crianças carentes, em Uberaba.<br />

A nossa solenidade do natalício foi um acontecimento espiritual de<br />

muita significação Uma comemoração para as comemorações do futuro.<br />

As alegrias do lar trazidas para outros lares, especialmente aqueles lares<br />

em que outros <strong>filhos</strong> e outros pais estão lutando pela sobrevivência.<br />

Do lado terrestre, os amigos queridos, com tantos companheiros<br />

abençoados e tantos corações maternos, a se desfazerem na felicidade de<br />

fazer os outros felizes.<br />

De nosso lado, é natural lhes diga que o nosso amigo Augusto foi o<br />

maestro da orquestração de paz e de esperança que nos iluminou os<br />

corações. Wady, Carlos Toledo, o Jair Presente, o Erio, a Volquimar, as<br />

irmãs Maria Helena e Maria Célia, o Nasser, o Shabi, o Henrique<br />

Gregóris, (2) e tantos outros da união com Jesus nos rejubilávamos pela<br />

oportunidade de estarmos todos juntos.<br />

2) Augusto Cezar Neto, Wady Abrahão Filho e Volquimar Carvalho dos Santos já são<br />

nossos conhecidos; encontramo-los juntos no livro Somos Seis. Carlos Alberto de Toledo e<br />

Ério já foram citados anteriormente e Maria Helena Marcondes e Maria Célia Marcondes<br />

são irmãs, falecidas em 1976 e 1975, respectivamente, com pouco mais de 20 anos. Seus<br />

pais residem em Santa Izabel, município paulista, também citado no texto. O Nasser, Nasser<br />

Miguel Haddad desencarnou aos 15 anos de idade, em acidente de automóvel. Shabi é o<br />

outro Beto, autor espiritual deste livro e Henrique Gregóris faleceu em Goiânia GO, em<br />

acidente de trânsito, no dia 10 de fevereiro de 1976.


E pedi a professores, especialmente meus, em Medicina,<br />

cooperassem conosco, trazendo aos nossos irmãos visitados, recursos<br />

magnéticos de saúde, nos quais, com as fatias do bolo, transmitissem<br />

saúde e forças novas aos nossos irmãos doentes, notadamente as<br />

crianças. E eu, o pobre rapaz do nat feliz com a irmãzinha Sandra em<br />

meu coração, pedi a Deus os recompense a todos. E agradeci por tudo,<br />

porquanto, nestas horas da Terra em que os noticiários falam de guerras<br />

e ódios, de calamidade e lutas, nós, debaixo daquele céu azul,<br />

louvávamos a Deus, cantando a esperança num mundo melhor.<br />

Agradeço por todas as crianças e por todas as mães, por todos os<br />

pais e por todos os irmãos que a festa beneficiou e peço a Jesus coloque<br />

nas mãos de nossos benfeitores de São Paulo e de Santa Isabel, como<br />

também de outros recantos ali presentes, novos tesouros de amor fiara a<br />

exaltação do bem, nas estrelas invisíveis da caridade.<br />

Papai e Mãezinha querida, muito grato à lembrança. Meus avós<br />

Francisco e Ianez (3) estavam conosco e ali todos éramos corações<br />

unidos em Jesus, sem qualquer se aração, entre os mais jovens e os mais<br />

aumente amadurecidos na experiência. Desejava escrever um poema em<br />

que lhes agradecesse tanto carinho e tanto amor, mas escrevo no<br />

coração a preço de agradecimento, na qual peço a Deus os faça felizes.<br />

3) Francisco de Paula Leite e João Ianez, bisavós já domiciliados na Vida Espiritual.<br />

Creiam. Quando atravessarem o túnel da existência humana, farei o<br />

possível farei exprimir-lhes a todos a minha gratidão.<br />

Papai e Mamãe querida, com os nossos amuos e com as nossas<br />

irmãs, transforma os hoje em nossa família maior, recebam o abraço em<br />

forma de coração do filho e amigo muito reconhecido.<br />

José Roberto<br />

06 Agosto 1977<br />

25


26<br />

VII<br />

Mãezinha Lucy, Deus nos proteja e abençoe.<br />

Um cartão no papel.<br />

Só isto. Mas o coração está em cada letra, desejando-lhe um<br />

aniversário muito feliz - um aniversário de estrela maternal ao nascer no<br />

céu de nossas vidas e outro aniversário de união feliz com o papai. (l)<br />

Felicito a ambos. Agradeço as dádivas de seu amor às crianças,<br />

recordando seu filho. Isso me fala profundamente ao coração. Deus a<br />

recompense. Peça por mim à nossa, querida Sandra muita paciência e<br />

serenidade.<br />

1) Beto refere-se ao natalício da genitora e às Bodas de Prata dos pais, comemorados<br />

nos dias subseqüentes à recepção da mensagem.<br />

Tudo encontra a paz, quando esperamos por Deus. Nosso amigo<br />

Shabi transmite um beijo de muito carinho aos pais e não posso omitir<br />

uma solicitação. O jovem César Araújo Maffra nos solicita registrar<br />

aqui um abraço aos queridos pais presentes. (2) Está em nossa reunião,<br />

mas ainda não se sente bastante forte para escrever sem lágrimas -<br />

lágrimas de alegria e reconhecimento aos pais a quem ama tanto.<br />

2) César Araújo Maffra desencarnou em dezembro de 1975, aos 21 anos de idade, em<br />

Niterói-R.J. Filho de Luciano Maffra e Neuza Angélica Araújo Maffra.<br />

Mãezinha Lucy, receba mais um abraço. Um abraço do tamanho do<br />

amor de seu filho que lhe beija carinhosamente as mãos.<br />

Sempre seu<br />

Beto<br />

22 Outubro 1977


27<br />

VIII<br />

Querido papai Nery, minha querida Mamãe, querida Sandra, estou<br />

aqui, recordando a bênção de casa e pedindo a Deus que nos proteja e<br />

abençoe a todos, sem me esquecer dos familiares distantes.<br />

Estou emocionado com esse carinho com que me rememoram os<br />

vinte e cinco anos de ligação com a vida nova. (l) Recolhendo tanto<br />

amor, posso dizer-lhes que o meu reconhecimento está sendo escrito<br />

com letras em forma de lágrimas. Lágrimas de felicidade, porque Deus<br />

nos facultou o reencontro. A morte do corpo não conseguiu deslustrarnos<br />

a fé. As dificuldades para o relacionamento constante, aliás, nos<br />

acalentaram a esperança de modo diferente.<br />

(1) Beto agradece mais uma vez a festa de aniversário, feita em sua homenagem para<br />

crianças carentes.<br />

Se provações aparecem, estamos em dia com as orações de<br />

confiança em Deus, sabendo que terminarão em tempo breve; se<br />

obstáculos repontam do caminho, lembramo-nos para logo de que<br />

prosseguimos juntos, trabalhando uns pelos outros; nas horas de<br />

insegurança, recorremos à inspiração para resolver os mais intrincados<br />

problemas com as sugestões do Mais Alto; e, sobretudo, quando<br />

surpresas dolorosas se destacam no cotidiano, a certeza de que não nos<br />

separamos nos dá forças novas, auxiliando-nos a suportar com paciência<br />

qualquer tipo de violência que se nos faça.<br />

Creiam que sou mais feliz agora em que o amor é uma luz<br />

permanente a clarear-nos os corações por dentro, para sabermos que<br />

Jesus não nos abandona.<br />

Mãezinha, agradeço ao seu carinho, à bondade de nossa irmã Dona<br />

Maura e de todos os outros corações amigos que ofereceram hoje tanto<br />

carinho e tantas bênçãos em meu nome. Aquele bolo da fraternidade,<br />

numa festa sob os céus da tarde, parecia-me o meu próprio coração


epartido com as crianças que são hoje mais nossas. Tantas dádivas<br />

recebi.<br />

E assim me expresso, porque em cada sorriso de nossos pequeninos<br />

e de nossos irmãos em provas, se me afigura estar recebendo alimento<br />

espiritual que me nutria e me nutre o sentimento para a aquisição de<br />

nova fé na vida.<br />

Muito grato, papai, por suas cartas, por suas felicitações escritas em<br />

pranto, no recanto íntimo de nossas meditações.<br />

Sandra, agradeço ao seu coração de irmã o entendimento com que<br />

aderiu às nossas lembranças. Irmãs e benfeitoras queridas que<br />

auxiliaram minha mãe a realizar estes votos pelo filho que a morte não<br />

aniquilou, muito obrigado! Deus as recompensará com bênçãos<br />

renovadas de paz e alegria, luz e amor.<br />

E aqui, diante de todos os amigos, quero dizer que não mereci tanto<br />

brilho de ternura e tanto testemunho de abnegação, transferindo a todos<br />

os irmãos e a todas as irmãs aqui reunidos, as doações de generosidade<br />

que me foram feitas.<br />

Elas pertencem a vocês todos, os que acreditam nas promessas de<br />

Jesus, ao anunciar-nos que a vida seria amor e proteção de Deus para<br />

sempre. Pertencem a todos os corações que se congregam aqui nesta<br />

noite, na certeza de que Deus não nos separaria uns dos outros e que o<br />

amor vence a morte, para ser perdão e entendimento, paz e luz.<br />

Mãezinha Lucy e meu caro papai, estou reconhecido.<br />

Conosco se encontram amigos queridos outros que, de nossa Vida<br />

Nova, acorrem a participar de nossas preces de gratidão e de esperança.<br />

Shabi, o amigo maravilhoso nos trouxe poemas de amizade e<br />

carinho, cujas vibrações se derramam em nosso favor em todo o<br />

ambiente; Rubens Lázaro e o irmão José de Assis Toledo estão em<br />

nossa companhia, abraçando a nossa querida companheira Dona<br />

Zininha; (2) o irmão Luiz Pitti abraça a nossa irmã Dona Neuza; (3) o<br />

Nasser afaga o coração da Mãezinha Dona Shirley (4) e pede ara que<br />

28


não estranhe a sua ausência de cartas que não significa ausência de<br />

amor, e amigos diversos se reúnem conosco neste mesmo ágape de<br />

felicidade espiritual.<br />

2) D. Zininha, Ambrosina Coragem Toledo, mãe de Rubens Lázaro e esposa de José de<br />

Assis Toledo, desencarnados, respectivamente, em maio de 1977 e outubro de 1964, em São<br />

Paulo-SP.<br />

3) Ainda não foi possível identificar Luiz Pitti e D. Neuza.<br />

4) O Nasser já é nosso conhecido. Filho de Miguel Nasser Haddad e Shirley Haddad,<br />

residentes em São Paulo-S°. O Sr. Miguel partiu para o Além posteriormente à recepção da<br />

mensagem, no dia 10 de novembro de 1979.<br />

No conjunto daqueles irmãos que ainda não conhecia pessoalmente,<br />

destaco a jovem Elionete que, em companhia do seu pai Edvaldo<br />

França, nos solicita sejam transmitidas carinhosas lembranças à sua<br />

Mãezinha Damiana (5) e cito esta ocorrência para dizer, querida<br />

Mamãe, que não temos aqui apenas os nossos amigos íntimos e sim<br />

companheiros muitos que agradecem a Deus estes minutos de paz que<br />

desfrutamos.<br />

5) D. Damiana Santos França, esposa de Edvaldo França e mãe de Elionete,<br />

desencarnados respectivamente em 1968 e 1978.<br />

Querida Sandra, creia, seu irmão não a esquece. Tenho ouvido suas<br />

lembranças e petições. Deus concederá a você a felicidade que o seu<br />

generoso coração merece.<br />

Não se entristeça por dificuldades de compreensão no campo dos<br />

seus ideais de menina e moça. Esperemos. O tempo exato das nossas<br />

realizações, aquele tempo em que os nossos sonhos se realizam<br />

naturalmente, é o tempo de Deus. Aguardemos a vontade de Deus,<br />

trabalhando, estudando, servindo e melhorando-nos sempre.<br />

Tenho o coração como que a se desfazer na emotividade com que<br />

escrevo.<br />

Pais queridos, queria irmã, amados de meu coração, irmãs e irmãos<br />

que me doaram tanto amor, peçam a Deus para que eu possa valorizar<br />

esses tesouros que me confiam e, beijando-lhes as mãos, sou o filho,<br />

29


irmão, amigo, companheiro e servidor sempre reconhecido que pede a<br />

Jesus nos conserve a todos nas bênçãos de seu amor e de sua paz.<br />

Beto<br />

José Roberto Pereira da Silva<br />

05 Agosto 1978<br />

30


31<br />

IX<br />

Querida Mãezinha Lucy, peço a Deus nos abençoe. O seu<br />

pensamento é um ímã e não posso esquivar-me.<br />

Sei que a senhora tem estado doente e um tanto mais fatigada. Mas<br />

não se sinta sozinha no tratamento quase silencioso. Amigos espirituais<br />

estão agindo em seu favor e seu Beto, embora ainda tão pobre de<br />

recursos, já consegue auxiliar um tanto. Deus abençoará esse tanto que é<br />

tão pouco, a fim de que a migalha de minha singela cooperação se<br />

transforme em concurso substancial de verdade.<br />

Felizmente, Mãezinha, o seu cansaço é de trabalho e cansaço dessa<br />

natureza facilmente se converte em renovação de forças. Não julguem à<br />

senhora e meu pai Nery que eu esteja ausente das letras<br />

voluntariamente.<br />

Acontece que assumimos o compromisso de colaborar com outros<br />

comunicantes, para que se matriculem por dentro de nosso intercâmbio,<br />

a fim de que não sejamos nós os únicos favorecidos e o nosso grupo vai<br />

esperando vez...<br />

Estou sempre por perto...<br />

Esse por perto é o fio da oração no poste da saudade. Basta um<br />

toque de campainha da prece sem palavras e o fio vibra transmitindo a<br />

mensagem.<br />

Peço dizer à nossa querida Ângela que não a esqueço e formulo<br />

votos para que ela prossiga esperando o melhor que exista no mundo e<br />

na vida... Namoro é aproximação e aproximação é vida permutada. Se<br />

não fiquei aí para casar, estou aqui para ser útil e amar sempre.(l)<br />

1) Beto e Ângela eram namorados, quando do falecimento do jovem estudante de<br />

Medicina.


Nossa querida Sandra vai muito bem e rogo a ela continue sendo a<br />

irmã sempre dedicada que ficou em lugar duplo, o dela e o meu junto<br />

dos queridos pais e dos avós sempre queridos.<br />

Mãezinha Lucy, o nosso amigo Shabi está presente e se faz<br />

lembrado aos genitores cada vez mais queridos.<br />

O Nasser igualmente está conosco e trabalhando ativamente em<br />

auxílio aos familiares.<br />

Peço ao seu carinho de mãe e a meu pai Nery não permitirem que a<br />

amargura das lembranças tristes fique em nosso campo de pensamentos<br />

por nuvens de frio, congelando esperanças e frustrando-nos a alegria de<br />

pertencermos uns aos outros.<br />

Tudo segue bem, porque temos Deus em nossos corações a guiarnos<br />

para dias melhores.<br />

Desejando querida Mãezinha Lucy, que a sua saúde esteja em pleno<br />

refazimento, abraça o papai e deixa-lhe um beijo de filho sempre<br />

reconhecido o seu, sempre seu<br />

José Roberto<br />

13 Abri1 1979<br />

32


33<br />

X<br />

Querida Mãezinha Lucy, receba com meu pai a minha solicitação de<br />

bênção. Tenho os dois, unidos à nossa querida<br />

Sandra e aos nossos familiares queridos, em minhas recordações<br />

mais íntimas. Oito de junho! Oh! as saudades do filho que não<br />

desaparecem, os castelos que se transferiram de lugar e as novas<br />

esperanças no coração!<br />

É assim que me apresento para celebrar com os pais queridos e com<br />

tantos amigos dedicados o sétimo ano de transformação.<br />

Mãezinha querida, com as nossas amigas D. Maura e Dona Shirley e<br />

junto de outras afeições, acompanhei as suas emoções, rememorando a<br />

minha partida involuntária.<br />

Sei que o seu coração de Mãe adotou o melhor processo de festejar.<br />

Compreendo que esse festejar é lembrar sofrendo, mas Jesus nos deu<br />

outras estradas para acompanhá-lo. A senhora, Mamãe, com meu pai<br />

quiseram brindar-me com o amor, no amor que distribuíram e estão<br />

distribuindo com aqueles irmãos nossos do caminho terrestre...<br />

Quanto vale a roupa que subtrai a nudez de uma criança ou o<br />

cobertor que agasalha um doente desvalido, qual o preço de um bolo aos<br />

que sonham com a mesa farta e qual a importância em que se taxa uma<br />

dádiva em benefício de um amigo ao desamparo, sinceramente não<br />

sei...Mas para mim que recebi tudo isso, na pessoa dos que foram<br />

beneficiados, esses tesouros não encontram avaliação...<br />

E por isso que as lágrimas de alegria hoje me sobem do coração<br />

para os olhos no objetivo de agradecer.<br />

Fui eu, Mamãe, quem na realidade recolheu tudo o que doaram em<br />

memória destes nossos sete anos de modificação. O comboio de Mogi<br />

não me afastou de casa. Continuamos sempre mais unidos e a prova<br />

disso é a nossa comemoração intima de hoje.


Aqui se encontram em nossa companhia os irmãos que Deus me<br />

concedeu nos tempos últimos.<br />

Nosso querido Shabi me reanima, indicando-me as realizações da<br />

frente, o nosso Nasser me abraça, o nosso Sidney (l) me dirige palavras<br />

de paz e esperança, além de outros muitos companheiros que nos<br />

visitam e eu, em meio de tudo isso, me sinto cada vez mais rico de<br />

amor, na pobreza que me caracteriza, mas sempre a enriquecer-me do<br />

carinho que meus pais queridos, a querida irmã e os avós queridos me<br />

ofertam, qual se eu fosse um privilegiado de Deus.<br />

1) Vitimado por disparo acidental, Sidney Rodrigues deixou o Plano Físico, no início<br />

de dezembro de 1976, na capital paulista.<br />

Nesse sentido, me sinto realmente assim; porque acolho todos esses<br />

talentos de luz por empréstimos do Céu que me induzem a trabalhar e<br />

aprender a servir sempre mais. Estou feliz e agradeço a todos; Deus, em<br />

sua Bondade Infinita, retribuirá com estrelas de felicidade essas bênçãos<br />

com que me iluminam os passos.<br />

Responderei, sob o amparo de Jesus, com trabalho. O Senhor me<br />

concederá essa felicidade de agir para o bem, a única forma de que<br />

disponho para assinalar a minha gratidão.<br />

Nosso amigo Carlos Alberto de Toledo faz questão de mostrar-me o<br />

seu afeto e tento uni-lo à corrente de meus pensamentos de alegria e<br />

gratidão.<br />

Jesus acoberte a todos os amigos queridos em sua proteção,<br />

estruturada de paz e amor.<br />

Querida Mãezinha Lucy, a felicidade mora em lugar desconhecido<br />

em que não encontra meios de expressão, porque debalde a procuro para<br />

falar por mim ao seu carinho, mas, bem no íntimo de seu maternal<br />

coração, a sua ternura saberá quanto seu filho está contente.<br />

A todos, todos os nossos afetos, os meus agradecimentos e para<br />

você, querida Mamãe, juntamente do Papai e de nossa Sandra Maria,<br />

34


todo o carinho iluminado de preces pela felicidade de todos, do seu<br />

filho, sempre o seu companheiro de todas as horas, sempre o seu,<br />

Beto<br />

José Roberto<br />

08 Junho 1979<br />

35


36<br />

XI<br />

Queridos pais, abençoem-me. Deus nos proteja a todos.<br />

Mãezinha Lucy, meu pai Nery e querida Sandra, estou multo grato<br />

pela festa do aniversário que celebraram, recordando a minha presença<br />

singela.<br />

Estou feliz e reconhecido. As roupas com que vestiram nossos<br />

companheiros necessitados, especialmente as nossas queridas crianças,<br />

são trajes para mim mesmo pelo conforto que me ofertam e o bolo<br />

precioso dedicado aos nossos pequeninos é um tesouro de bênçãos que<br />

me alimenta de novas energias para a vida espiritual.<br />

Agradeço comovido aos pais queridos e à querida irmãzinha,<br />

extensivamente a todos os nossos amigos que nos compartilharam da<br />

alegria de hoje,.antecipando a nossa segunda-feira próxima e peço a<br />

Jesus a todos recompense e a todos nos abençoe.<br />

Muito carinho do filho sempre grato e irmão reconhecido.<br />

Beto<br />

04 agosto 1979


37<br />

XII<br />

Querida Mãezinha Lucy, peço-lhe me abençoe.<br />

Mamãe, a página é para desejar-lhe um feliz Dia das Mães, ao lado<br />

de meu pai, da Sandra, da vovó e de todos os nossos. Com essas<br />

felicitações, venho rogar-lhe revigorar-se com a medicação adequada.<br />

Noto-a um tanto fatigada e precisamos restaurar-lhe as energias. A<br />

vovó, igualmente, vem sendo objeto de nossa melhor atenção, no<br />

sentido de que se lhe recuperem as forças orgânicas. Peço dizer ao Papai<br />

Nery que venho acompanhando as notas e observações que ele está<br />

alinhando para destacar o nosso encontro e a minha própria<br />

sobrevivência. (1)<br />

1) O Sr. Nery habitualmente escreve cartas ao filho, em prosa e verso, inspiradas<br />

páginas com que o pai amoroso busca atenuar a dura saudade da separação compulsória.<br />

Tudo bem. Façamos o melhor ao nosso alcance, compreendendo<br />

que semear a verdade é plantar alegria e confiança nos caminhos difíceis<br />

que as criaturas humanas estão atravessando em nossos tempos.<br />

Envio a ele e à nossa querida Sandra. à vovó (2) e a todos os nossos,<br />

a minha palavra humilde de paz e de esperança.<br />

2) Otília Leite Ianez, avó materna.<br />

Para o seu querido coração, Mãezinha Lucy, deixo neste papel todo<br />

o carinho e todo o reconhecimento de seu filho.<br />

José Roberto (Beto)<br />

10 Maio 1980


38<br />

XIII<br />

Querida Mãezinha Lucy, abençoe-me.<br />

Estou ouvindo os seus pensamentos a me falarem alto pelas ondas<br />

do amor materno. "E um bilhete só, meu filho" - diz você sem palavras.<br />

Compreendo. As saudades são conjuntos de sombras a vagarem por<br />

dentro de nós, tangidas por forças que ainda não compreendemos e que<br />

nos envolvem todo o ser. Não me supunha indiferente a essa carência<br />

afetiva a que fomos arrojados em nossa casa. Foi com dificuldade que<br />

prossegui meus estudos na Vida Espiritual e que continuo a sustentá-los<br />

no sentido de me fazer mais útil aos benfeitores que se dedicam à cura<br />

dos doentes, nossos irmãos.<br />

Compreendo, porém, que será trabalhando que conseguirei abrir<br />

caminhos para a construção do nosso próprio futuro e, desse modo,<br />

prossigo em minha demanda: continuar vinculado à família querida na<br />

Terra e empenhar-me às tarefas da Espiritualidade, entre as quais vivo<br />

sempre transitando e, ao mesmo tempo, partilhando as alegrias e as<br />

dificuldades, as realizações e as bênçãos de nosso grupo sempre<br />

querido.<br />

Amigos nossos estão auxiliando ao Papai Nery na organização do<br />

livro que ele vem formando e estamos satisfeitos. (l)<br />

1) Ver nota de rodapé na mensagem anterior.<br />

Envio muito carinho a nossa querida Sandra. E agradeço ao seu<br />

amor, Mãezinha Lucy, pelas roupas agasalhantes que faz com os seus<br />

próprios esforços para vestir as crianças menos afortunadas, em meu<br />

nome. Muito grato.<br />

Vou terminar, porque o relógio comanda aí e aqui. Toda a gratidão<br />

aos familiares e aos amigos, pedindo-lhe receber com o papai Nery um<br />

beijo de muita saudade e de muita esperança do filho reconhecido.


39<br />

Beto<br />

José Roberto<br />

25 outubro 1980<br />

XIV<br />

Querida Mãezinha Lucy, abençoe-me.<br />

Compreendo que estamos quitados na contabilidade das notícias,<br />

porque pelas pá g, roas dó Papai Nery e por nossos entendimentos<br />

gerais, sabem ambos que a nossa união prossegue indissolúvel.<br />

Ainda assim, querida Mãezinha Lucy, estou registrando os seus<br />

desejos de obter algumas palavras de seu filho, quanto ao casamento de<br />

nossa querida Sandra e solicitei permissão para endereçar ao seu carinho<br />

a presente mensagem de carinhosa gratidão.<br />

Estou muito reconhecido por todo o seu ideal e disposição de<br />

memorizar-me o 6 de agosto. Fiquei satisfeito com o bolo e não tenha<br />

dúvida de que também usufruí a minha parte no lar de nossos irmãos<br />

necessitados ou mais necessitados que nós mesmos, para onde a sua<br />

bondade nos dirigiu.<br />

Agora, aguardemos o setembro vindouro, no qual desejo aos nossos<br />

queridos Sandra e Fábio (l) muitas felicidades. Um lar é sempre uma<br />

bênção de Deus e espero que a nossa Sandrinha saberá imitar-lhe os<br />

exemplos de Esposa e Mãe, sempre com a luz do sacrifício por nós,<br />

iluminando-nos os caminhos.<br />

1) Fábio Gonçalves Dias Filho, cunhado de Beto.<br />

Felicitações aos irmãos queridos no empreendimento a que se<br />

confiam e sigamos a nossa viagem nos continentes da experiência<br />

humana, procurando constantemente o melhor para cada um de nós,<br />

dentro dos critérios cristãos que nos inspiram e governam a vida.


Querida Mãezinha Lucy, esteja certa de que muito me sensibilizei<br />

ao notar-lhe a idéia de vir até aqui, na firme confiança de encontrar-nos,<br />

reencontrando-nos.<br />

Deus a recompense pelo amor que nos dedica e receba com o Papai<br />

Nery e<br />

todos os entes que amamos sob o teto abençoado em que a Bondade<br />

de Deus nos colocou, o coração em forma de abraço do filho<br />

agradecido.<br />

Beto<br />

14 Agosto 1981<br />

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41<br />

José Roberto Pereira Cassiano<br />

O OUTRO BETO<br />

José Roberto Pereira Cassiano, o Shabi, nasceu na capital paulista, a<br />

19 de fevereiro de 1951, falecendo em acidente rodoviário na Via<br />

Anchieta, quando retornava de Santos para São Paulo, na noite de 9 de<br />

março de 1974.<br />

Filho do Sr. Abigail Pereira Cassiano e de D. Maura Pereira<br />

Cassiano, deixou o convívio dos pais e amigos com apenas 23 anos.<br />

Dotado de invulgar sensibilidade artística, Shabi, como estimava que o<br />

chamassem, era desenhista projetista, mas cultivava a pintura, a<br />

fotografia e a decoração. Como observamos no texto do outro Beto,<br />

também nas páginas assinadas pelo Shabi, destaca-se a exteriorização de


sua alma sensível, construindo frases e expondo pensamentos, com a<br />

mesma firmeza e graça com que manejava o pincel e a paleta.<br />

Filho único, sua partida mergulhou os pais em infindável tristeza,<br />

tendo se agravado sobremaneira o estado de saúde do Sr. Cassiano que<br />

permaneceu internado, nos primeiros dias de separação, na Terapia<br />

Intensiva da Beneficência Portuguesa de São Paulo.<br />

O que representou a primeira e também as demais mensagens do<br />

Shabi, pela psicografia do <strong>Chico</strong>, aos pais saudosos?<br />

O depoimento que se segue, recolhemo-lo ao Sr. Cassiano e D.<br />

Maura, cujas palavras pausadas e ternas dão a medida da grandeza dos<br />

pais estóicos e serenos, confiantes em Jesus, ante a adversidade que os<br />

atingiu.<br />

"Estivemos pela primeira vez em Uberaba, para falar com <strong>Chico</strong><br />

<strong>Xavier</strong>, sete meses após o falecimento do Shabi, orientados pela<br />

bondade de D. Yolanda Cezar. No ano seguinte, dezoito meses após o<br />

desenlace de nosso filho, voltamos a Uberaba e recebemos sua primeira<br />

carta. "<br />

"Até então, a situação era de total desespero. Minha saúde a cada<br />

vez mais se agravava", lembra o Sr. Cassiano. "As noites eram<br />

indormidas e quando chovia nosso desespero aumentava, pois temíamos<br />

que nosso Shabi, sepultado, recolhesse os rigores da chuva a encharcar a<br />

terra fria. " Os pais saudosos encontravam arrimo somente nos<br />

tranqüilizantes que lhes aquietavam as forças.<br />

E prosseguiu o Sr. Abigail com a palavra:<br />

"A mensagem representou-nos um bálsamo para a alma e para o<br />

corpo. A saúde melhorou e eu passei, com minha esposa, a sentir o filho<br />

presente em tudo o que era dele e que guardávamos com carinho.<br />

Compreendemos, então, que o reencontro com ele somente poderia ser<br />

um reencontro espiritual. O sono começou a voltar e passamos a ir mais<br />

vezes a Uberaba, na esperança de receber novos recados ou, como nós<br />

entendíamos, mais uma carta do filho querido.<br />

42


43<br />

Hoje, vivemos mais felizes, oramos pelo Shabi e constantemente<br />

sentimo-lo conosco em espírito.<br />

Pelas palavras de nosso filho compreendemos que a morte não<br />

existe. "<br />

I<br />

Querida Mãezinha, meu querido pai, é tudo tão novo para mim, em<br />

nosso reencontro, que tenho dificuldade para registrar um assunto<br />

antigo: - pedir a bênção de Deus para nos. Mas peço esse auxílio da<br />

Divina Providência e conto com esse amparo em nosso favor.<br />

Se pudesse, não escreveria e sim tomaria lápis e cores, tintas ou<br />

pincéis, para transmitir os meus pensamentos de agora num quadro em<br />

que lhes pudesse dar a idéia de toda a beleza e de toda a luz que nos<br />

rodeiam.<br />

Entretanto, é preciso resignar-me às linhas cravadas no papel,<br />

tentando exprimir o que sinto. E tenho lágrimas dentro de minha alegria.<br />

E noto a alegria, dissipando-me o sofrimento em que se nos convertem<br />

as lembranças aqui nesta abertura entre duas vidas.<br />

De qualquer modo, resumo as emoções novas em duas palavras que,<br />

de certa maneira, me quadram as expressões: estou bem. Isto, queridos<br />

pais, é tão pouco e, no entanto, diz tudo porque, na essência, quero<br />

explicar que toas às aflições passaram.<br />

Aquele nove de março (1) foi realmente um dia de duras provas.<br />

1) 9 de março de 1974, data em que o jovem comunicante foi transferido para a Vida<br />

Maior.<br />

Quando deixei a Beth em casa, voltei no mesmo veículo para tomar<br />

condução de volta. Conhecia o Expresso e não podia supor que seria<br />

surpreendido pela hora do adeus de que não cogitávamos.


A viagem seguia o compasso da Anchieta, entre paradas de trânsito<br />

e marchas rápidas para ganho de tempo, quando, ao movimentar-me, caí<br />

num impacto de forças que não sei descrever.<br />

Quis reagir, gritar por socorro, mas tive a impressão de que um<br />

suave anestésico me entorpecia as forças mentais. O pensamento<br />

escorria do cérebro, como se fora sangue a derramar-se de outros<br />

campos do corpo...<br />

Sensação estranha de esvaziamento, compelindo-me a desfalecer,<br />

sem recursos de resistência. E dormi. Pelo menos, foi esta a convicção<br />

que me ficou na memória ao despertar...<br />

Conflitos e providências, toques e chamamentos, em torno de mim,<br />

pareciam pesadelo no qual mergulhava, cada vez mais, até que entrei<br />

num nível de inconsciência profunda.<br />

Acordei, queridos fiais, numa sala de apresentação muito difícil com<br />

as palavras de que conseguiria dispor.<br />

Era eu e não era eu quem se achava ali numa dualidade que não<br />

podia reconhecer.<br />

Ouvi conversações e apontamentos que me espantavam.<br />

No entanto, médicos e enfermeiros me administravam agentes<br />

sedativos que me impuseram mais descanso.<br />

Em meio daquela penumbra da mente, em que todas as formas se<br />

expressavam desfiguradas ao meu olhar, acreditei-me acidentado e, por<br />

isso mesmo, doente.<br />

Com muito esforço pronunciava os nomes de vocês dois, rogando<br />

fiara que me buscassem, até que um amigo, o Irmão Cassiano, (2)<br />

amorável benfeitor, à feição de um pai a tutelar-me, explicou que<br />

representava a nossa família, a recomendar-me tranqüilidade e<br />

confiança. A presença de semelhante protetor me acalmava...<br />

2) Benfeitor Espiritual da família.<br />

A situação prosseguia, quando o Irmão Cassiano me avisou que<br />

traria meus pais para um reencontro.<br />

44


Daí a instantes, notei-lhes a presença quase rente a mim. Mãezinha e<br />

você, papai, pediam notícias minhas.<br />

Só então entendi que me achava em São Bernardo, não longe do<br />

quilômetro em que havia sofrido a queda. Compreendi mais.<br />

Aquele não era um recinto de hospital, mas um refúgio de paz e<br />

silêncio, reservado aos que já haviam atravessado as fronteiras, das<br />

quais me vejo agora muito aquém...<br />

Fiz tudo para fazer-me sentir, a fim de tranqüilizá-los. Mas o amigo<br />

fiel que me assistia e ainda me protege, em todos os passos da Vida<br />

Nova, me sossegou o espírito atribulado, afirmando que estavam dados<br />

os primeiros passos para que recebessem minhas notícias.<br />

A idéia da despedida, então, tomou corpo em mim e só aí, querida<br />

Mamãe, compreendi que seu filho havia deixado a veste física, à feição<br />

de alguém que se transfere de estrada ou de carro, a fim de tomar<br />

caminhos diferentes.<br />

Confesso, meu pai, que a Lágrimas me subiram do coração para os<br />

olhos, porque não me sentia preparado, quanto agora, para o exame do<br />

assunto. Era muito sonho e muita esperança a tombarem do alto de<br />

nossas aspirações e projetos.<br />

Lembrei-me, porém, da energia de Mamãe no trato da vida e da<br />

compreensão de meu pai nas dificuldades do mundo e, refletindo nos<br />

exemplos de amor e fé viva com que ambos sempre me facultaram o<br />

entendimento mais-elevado e mais correto, busquei asserenar-me...<br />

Ainda assim, a pesquisa que efetuavam, as perguntas que ouvi, sem<br />

que me fosse possível qualquer manifestação para esclarecê-los, me<br />

feriam o coração.<br />

Observei que me procuravam com aflições iguais às minhas e<br />

percebi que a incerteza era o clima de nossos pensamentos e indagações.<br />

Sofri ao vê-los na retirada com as mesmas dúvidas que me pairavam<br />

na alma e caí em crise de lágrimas como não podia deixar de ser.<br />

45


Novamente, o benfeitor incansável promoveu os meios de socorro<br />

dos quais necessitava e um sono maior abençoou a minha cabeça<br />

cansada...<br />

Depois, quando voltei de novo a mim, achava-me em outro lugar e<br />

em outra instituição. Um hospital-escola, ou melhor, um educandário de<br />

recuperação espiritual me abrira às portas e, esse recanto de paz e amor,<br />

consegui sair devidamente acompanhado para visitar papai na<br />

Beneficência Portuguesa. Desde então, melhorei, porque era preciso<br />

consolidar minha fé para ser-lhes útil.<br />

Necessário esquecer-me fiara sustentar, quanto possível, o querido<br />

enfermo que abracei, contente, no dia em que vimos de alta, em nossa<br />

casa da Alameda. E vou compreendendo que todas as nossas<br />

dificuldades vieram, Mãezinha, do passado em que o seu Shabi contraiu<br />

dívidas a pagar.<br />

Sei que você, minha mãe e minha luz, tem sofrido um calvário em<br />

que a subida é feita de pranto a encharcar o caminho de angústia. Mas<br />

peço a ambos para que a alegria nos retome os corações.<br />

Mamãe, você foi sempre, é e será em nossa vida, a nossa fortaleza e<br />

o nosso carinho, a nossa confiança e a nossa paz. Continue, fervorosa na<br />

certeza de que Deus não nos abandona.<br />

Realmente, não desejo lembrar as ocorrências estranhas que seu<br />

filho atravessou naquele março distante.<br />

Mãezinha, agora, temos papai por nosso maior amor, por filho<br />

mesmo a quem precisamos doar toda a nossa ternura.<br />

Estejamos unidos em nossa esperança.<br />

Sei tudo quanto empreendem em meu benefício e tudo agradeço. E<br />

creiam que a parte melhor do nosso culto de saudade, é a bênção de<br />

reconforto que estendem aos que necessitam de apoio, em dificuldades e<br />

provações maiores do que as nossas.<br />

Ouço o que me falam em casa, quando as nossas recordações se<br />

completam na mesma faixa de saudade e de indagação; entretanto, rogo<br />

46


para que me tratem, como antes, desenhando ou fotografando,<br />

estudando a vida ou construindo mentalmente o futuro.<br />

Peço a meu pai coragem e alegria. Medicar-se, sim, e sempre, mas<br />

situar a fé em Deus sobre os recursos humanos.<br />

E você, Mãezinha, conserve-aquela felicidade tão nossa, quando<br />

suas mãos queridas me guiavam nos estudos, abençoando-me as lições.<br />

Não deixe a alegria de lado quando me fite os retratos. Recorde-me,<br />

sorrindo.<br />

Lembro todos os poemas de amor de seu amor para mim, suas<br />

expressões de ternura, suas páginas de carinho e seus bilhetes que<br />

sempre me alcançam e me alcançaram o coração por estrelas de<br />

felicidade e de paz.<br />

Estamos todos mais juntos. E trabalharemos para o nosso<br />

reencontro, um dia, com as bênçãos de Deus, no Plano Maior.<br />

Lembre-se, querida Mamãe, de seus doces avisos quando os<br />

obstáculos surgiam: - meu filho, tudo está melhorando e amanhã nossa<br />

vida será sempre mais linda.<br />

Baseado em suas disposições, sempre venci e creia que estou<br />

vencendo... pois até as barreiras da morte consigo atravessar, conquanto<br />

sob auxílio, a fim de lhes enviar as notícias de agora.<br />

Penso, queridos pais, que não devo criar sugestões no ânimo das<br />

afeições que deixei. Todos estamos na bênção de Deus e hoje reconheço<br />

que Deus a nos todos conduzirá para o que nos seja. mais aconselhável e<br />

mais justo. Mas envio, em silêncio, a todos os corações queridos, a<br />

mensagem de meu agradecimento e de meu afeto.<br />

Entrego-lhes, pais queridos, todo o meu coração nesta carta.<br />

Companheiros queridos hoje me compartilham das novas<br />

experiências. Os colegas de ontem estão aqui de outra forma, porque<br />

tenho novos irmãos de trabalho e de ideal para valorizar os tesouros do<br />

tem o, enquanto melhoro a mim mesmo, a fim de auxiliá-los.<br />

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48<br />

Querida Mãezinha e querido Papai, aqui o horário pede o ponto<br />

final.<br />

E desejo reafirmar que a morte não é ponto final em cousa alguma<br />

do que pertence a vida. Que seria a morte? Sorriam comigo e<br />

imaginemos nela um ponto e vírgula. Aquele sinal que indica estação de<br />

pausa, sem ser fim no que se escreve.<br />

Recebam meus melhores pensamentos, nos quais volto à prece,<br />

rogando a Deus por nossa felicidade.<br />

Papai querido e querida Mãezinha, com vocês dois aquele abraço de<br />

três juntos.<br />

E conservem a certeza de que este beijo que deposito aqui nesta<br />

folha simples, é o beijo de muito carinho e de muita saudade, de muito<br />

amor e de muita esperança do filho sempre mais de vocês dois, sempre<br />

mais reconhecido e sempre mais filho do coração.<br />

José Roberto<br />

(Shabi)<br />

20 Setembro 1975<br />

Esclarecimentos<br />

Os fatos são de desconcertante precisão, envolvendo detalhes e<br />

citações totalmente alheias ao conhecimento de <strong>Chico</strong> <strong>Xavier</strong>, como,<br />

aliás, sempre acontece em suas participações mediúnicas.<br />

Destacamos ao leitor a precisa narrativa de Shabi, sobre os<br />

momentos primeiros, após a morte, lembrando que deixara a namorada<br />

Beth em Santos e, com o mesmo táxi, o que Beth posteriormente<br />

confirmou, voltara à Rodoviária, onde tomou o Expresso Zefir, rumo de<br />

São Paulo.


Fala do acidente e dos instantes que se lhe seguiram, quando foi<br />

transportado da Via Anchieta para o Necrotério de São Bernardo do<br />

Campo, sendo, então, sepultado na condição de um desconhecido.<br />

Relata a exumação, em São Bernardo do Campo, já uma semana<br />

depois do acidente, quando foi possível a identificação dele,<br />

confidenciando que acompanhava a aflição dos genitores, na tentativa<br />

de localizar-lhe o corpo.<br />

Lembra, também, que depois do novo sepultamento, realizado em<br />

São Paulo, visitou o pai na Beneficência Portuguesa, buscando socorrêlo<br />

e, após a alta hospitalar, reencontra-o já em casa, na Alameda Jahu.<br />

<strong>Chico</strong> <strong>Xavier</strong> ignorava nomes, fatos, o detalhe do táxi, os<br />

contratempos, envolvendo a identificação do seu corpo, a exumação,<br />

etc...<br />

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50<br />

II<br />

Mãezinha do coração, pai amado,<br />

Shabi.<br />

Sou eu, meus amores.<br />

O fone está funcionando pelos fios da alma.<br />

Quero falar de saudade e o amor toma a vanguarda. O carinho quer<br />

dizer que é maior. Noto a luta entre os meus próprios sentimentos. Faço<br />

a soma de todas as parcelas de vida que me compõem o ser e a média<br />

geral é amor sempre. Amor, saudade e gratidão.<br />

Os assuntos são tantos!<br />

Mas, acima de tudo, querida Mãezinha, quero informá-la de que<br />

estou lendo todas as páginas que você me escreve pelo correio da prece.<br />

O silêncio é o carteiro.<br />

Agradeço por tudo e respondo<br />

- Sim, me lembro...<br />

- Amo-a cada vez mais...<br />

- Papai está em meu coração...<br />

- A falta hoje é muito maior que a de ontem...<br />

- Sim, Mãezinha, as estrelas brilharão outra vez para nós.<br />

- Seu filho está bem...<br />

- Por que? Porque as leis de DEUS queriam que assim fosse...<br />

- Mamãe, a saudade não é uma provação, é um convite de DEUS<br />

para trabalharmos com mais dedicação pelos que suportam dificuldades<br />

maiores que as nossas...<br />

- A Primavera chegou, mas seu filho não está ausente...<br />

- Trago flores para você e meu pai, flores perfumadas de carinho<br />

incessante...<br />

- Nossos quadros são hoje mais belos...


- Mãe, as tintas do pensamento são muito mais lindas que as da<br />

paleta terrestre...<br />

- E os nossos ideais estão sempre mais vivos...<br />

- Só o bem, meditemos unicamente no bem, porque o bem<br />

triunfará...<br />

Querida Mãezinha, aqui estão algumas de minhas respostas às suas<br />

páginas de ternura.<br />

"Fale conosco desta vez, meu filho..."<br />

Escutei o seu pedido que para seu filho é sempre uma lembrança<br />

querida e nunca uma solicitação, e estou aqui para dizer-lhes que estou<br />

melhorando.<br />

Papai, você está melhor de saúde e precisa melhorar cada vez mais...<br />

Rogo ao seu espírito valoroso sobrepor-se aos estados negativos da<br />

tristeza sem significação. Estamos, presentemente, mais juntos.<br />

Aqui, vivemos segando o que pensamos e pensamos conforme a<br />

substância de nossa personalidade, nas faixas espirituais da vida.<br />

Creiam, fiais queridos, que estou trabalhando, ativamente, na<br />

preparação do futuro. Procuro renovar-me por dentro de mim mesmo, a<br />

fim de criar elevação por fora de mim.<br />

Agradeço igualmente o esforço que fazem na colaboração comigo.<br />

Embora, por vezes, muito longe, espacialmente falando, recebo de<br />

imediato as idéias que me transmitem e com essas idéias as ações que<br />

elas produzem. Recursos que se transformam em alegria, amparo que se<br />

faz bênção, doações que se convertem na felicidade dos corações que as<br />

recebem e moedas que acabam parecendo luzes acesas nas sombras da<br />

necessidade.<br />

Em memória", "pela saudade de nosso Shabi", "pela felicidade de<br />

nosso filhinho", "pela reafirmação de nosso imenso amor" - tudo isso<br />

me vem aos ouvidos, com as preces que trocamos, pedindo a Deus, uns<br />

pelos outros. (I)<br />

51


1) As palavras de Shabi confirmam o que os jovens desencarnados sempre reiteram nos<br />

textos psicografados: permanecem muito próximos de seus pais e familiares vivendo e<br />

sentindo os mesmos problemas as mesmas alegrias. A separação da morte é apenas física;<br />

os espíritos, freqüentemente, continuam ligados conosco e sua aproximação é tanto maior<br />

quanto menor for o desespero dos que permanecem aqui na erra, porquanto o sofrimento<br />

que os familiares evidenciam lhes é diretamente transmitido pelas forças vivas do<br />

pensamento.<br />

Querida Mãezinha e meu querido pai, não sei fotografar o meu<br />

reconhecimento com as palavras; se pudesse desenharia um coração<br />

amparado em duas estrelas, simbolizando eu mesmo, apoiado em<br />

ambos, amados meus.<br />

A vida para mim, nos domínios diferentes da Espiritualidade, vai<br />

decorrendo em faz,, não obstante as inquietações injustificáveis, mas<br />

compreensíveis da ausência. Digo "injustificáveis", porque aprendi com<br />

meus pais queridos que os Planos da Bondade Divina se efetuam sobre<br />

os nossos próprios desígnios.<br />

Meu avô José Henrique Pereira e a querida vó Dosolina são para<br />

mim benfeitores e guardiões. (2) Outros protetores do campo familiar<br />

me reanimam e me auxiliam.<br />

2) José Henrique Pereira e Dosolina Sponton Pereira, avós maternos, desencarnados,<br />

respectivamente em 1970 e 1974.<br />

Estou deslanchando do cais de nossa profunda ligação para o mar<br />

alto da compreensão maior. Isso não significa mais extensão na<br />

distância e nem qualquer perda no tesouro de nosso afeto. Desejo<br />

apenas configurar que estou seguindo adiante, já que o tempo é uma<br />

força de Deus que não se pode interromper. Sigamos.<br />

Para complementar os meus exercícios de ação espiritual, venho<br />

oferecendo a cooperação possível ao nosso irmão Carlos Alberto<br />

Fernandes, no Santa Rita, ante o pedido de nossa irmã Lucy, (3) e<br />

podem acreditar que, apesar do longo processo quase comatoso, ele<br />

encontrou sempre, e está encontrando de nossa parte, o concurso que se<br />

nos faz possível. E as almas querias agradecem o carinho e a assistência<br />

que o cercam.<br />

52


3) Carlos Alberto Fernandes, jovem que, na época, se encontrava internado na Casa de<br />

Saúde Santa Rita, em São Paulo-SP.<br />

Mãezinha, o amor é um mistério. Por mistério designamos o<br />

inexplicável. Começa em nós, de nós para alguém e de pois somos três:<br />

pai, mãe e filho ou mais <strong>filhos</strong> a estendermos essa bênção do Céu, de<br />

uns para com os outros. Depois Mamãe, o coração assemelha-se a uma<br />

concha de luz que se multiparte. E iniciamos um novo curso de<br />

entendimento. Esse curso bendito, em que vocês dois me instalaram, é a<br />

beneficência.<br />

Eu que amava tanto as artes todas, principio hoje por penetrar na<br />

maior de todas - a do amor ao próximo, seja o próximo quem seja.<br />

Mamãe, esses meninos descalços, que você me ensinou a ver<br />

melhor, poderiam estar conosco, em nossa casa e esses doentes todos<br />

que abraçamos, poderiam ser nossos parentes, amados por você e por<br />

meu pai, como vocês me amaram e me amam.<br />

Mãe, é tão bela a claridade da gratidão nos que sofrem e é tão<br />

soberanamente lindo o reflexo estelar das mães que carregam os<br />

filhinhos nos próprios braços que, por vezes, seu filho imagina que<br />

Deus não teria outro lugar para colocar o império dos astros senão no<br />

regaço da noite, porque é no sofrimento humano que a Divina<br />

Providência traçou o caminho de luz para a felicidade.<br />

Trabalhemos sim, esperando e amando-nos naqueles que nos<br />

estendem os braços sequiosos de paz e compreensão.<br />

As recordações de São Bernardo desapareceram. (4) Lembro-me do<br />

apóstolo de Jesus que se dedicava a salvar os que jaziam relegados à<br />

neve e ao desamparo e penso que ele também ter-nos-á estendido as<br />

mãos socorredoras, enviando recursos para que nos reencontrássemos na<br />

saudade e na oração, que hoje se renovam para nós, em forças<br />

abençoadas de esperança e serviço.<br />

4) Cidade onde o corpo do jovem foi recolhido, após o acidente. Ver comentários<br />

iniciais.<br />

53


Agora são as áreas enormes de realização que nos esperam, a cada<br />

dia, para que nós, dia por dia, venhamos a construir a estrada de nosso<br />

reencontro.<br />

Creiam-me presente. Não há separação entre os que se amam. O<br />

pensamento é uma tomada de poder divino ante os recursos prodigiosos<br />

da Criação. Basta a idéia, e a imagem voa ao nosso encontro com a<br />

velocidade sem acesso, por agora, ao conhecimento dos homens.<br />

Chamem-me, sim. Estou disponível. Nossos mentores daqui me<br />

afirmam que posso cooperar de algum modo e que as ligações nossas se<br />

erigem por intercâmbio d e ação sempre mais construtiva.<br />

Sei que sou ainda tão pequeno, a fim de ajudar e preciso fazer esta<br />

ressalva; no entanto, é um privilégio ser lembrado por pais tão queridos<br />

e tão devotados ao bem, quanto os meus, para que eu a renda a realizar<br />

algo de bom ou de mais útil.<br />

Estou feliz com as lágrimas de alegria que esta carta me faculta<br />

verter. Quando o coração quer falar de amor e não encontra as frases<br />

próprias, encontra em si mesmo as pérolas do pranto de júbilo e de<br />

gratidão pela possibilidade de expressá-lo.<br />

As letras explicam e as lágrimas contam. Mãezinha e meu pai, doulhes,<br />

de novo, todo o meu afeto com toda a minha alma, centralizada<br />

nesta mensagem. Muito grato dor tudo, tento, quase diariamente,<br />

repetir-lhes estas palavras com os beijos que lhes entrego, no silêncio.<br />

E, quando ambos conseguem algum repouso, no veludo da noite,<br />

muitas vezes, lembro-me de quando me embalavam em criança e peço a<br />

Deus, em oração, para que os conserve valorosos e felizes. Não consigo<br />

devolver as melodias com que me acalmavam no adormecer, mas posso<br />

transformar a prece que faço num hino sem palavras em que Deus sabe<br />

que a minha gratidão fala muito alto.<br />

Fiquem fortes e contentes, é o que lhes desejo.<br />

E, agradecendo o carinho de todos os nossos e a especial atenção<br />

dos amigos que nos compartilham da alegria deste reencontro, entrega-<br />

54


lhes o coração reconhecido, o filho e companheiro de trabalho e de<br />

esperança, hoje quanto ontem, agora quanto será sempre.<br />

José Roberto<br />

(Shabi )<br />

31 De Outubro 1976<br />

55


56<br />

III<br />

Mãezinha querida e papai sempre lembrado, abençoem-me.<br />

A falta de escrita não é falta de saudade. (l)<br />

1) Resposta de Shabi aos rogos maternos. D. Maura se queixava em pensamento ao<br />

filho que há algum tempo não recebia qualquer palavra sua, através do <strong>Chico</strong>. Sempre perto<br />

dos pais, apesar da ausência física, o nosso Beto "pescou" o lamento materno e respondeu:<br />

"A falta de escrita não é falta de saudade".<br />

Nasser, Sidney e outros amigos, estamos aqui a desejar-lhes um<br />

Feliz Natal. (2)<br />

2) Nasser já é nosso conhecido; Sidney Fava faleceu em 1976, atropelado, em São<br />

Paulo, aos 16 anos.<br />

Um amigo nos solicita seja transmitido à Irmã Dona Célia uma<br />

rogativa - a rogativa para que ele se console e se fortaleça onde se<br />

encontra. É o nosso irmão Célio Onida Araújo, (3) que veio para cá, de<br />

improviso, num processo de aneurisma que ele mesmo desconhecia. O<br />

rapaz chora e pede à Mãezinha para que não se lamente, a fim de que<br />

ele possa reconfortar-se.<br />

3) Célio Onida de Araújo, economista falecido aos 33 anos de idade, vítima de ataque<br />

cardíaco, em 1977, no Rio de Janeiro.<br />

Não me esqueço, Mãezinha, dos parentes e amigos. Vovó Cecília e<br />

a irmã Déa (4) ainda estão com a prioridade em meus cuidados - depois<br />

dos cuidados com que sigo Papai e você mesma.<br />

4) Déa Dias Schmulevitch, amiga da família, que perdera em 1973 um filho com 22<br />

anos. Na época, ainda entre nós, Shabi a reconfortou muito, continuando a fazê-lo, também<br />

do flano Espiritual. Vovó Cecília, avó paterna, Cecília Bonás Cassiano. sempre enferma, daí<br />

os cuidados do neto Shabi.<br />

Agora, faça seu filho sorrir e fique feliz. Com um beijo repartido<br />

entre ambos - Você e Papai - sou o seu filho enamorado de seu carinho e<br />

cada vez mais agradecido ao seu amor.<br />

Sempre seu SHABI (*)<br />

26 Novembro 1977


57<br />

(*) Após assinar a mensagem, Shabi tentou desenhar flores e como não o conseguisse,<br />

certamente pela forte emoção do momento, escreveu as seguintes palavras:<br />

"Não posso desenhar as flores que desejo. Ofereço-as, Mãezinha, a você, pela<br />

imaginação.<br />

Seu sempre, Shabi."<br />

IV<br />

Querida Mãezinha, querido Papai. Abençoem-me.<br />

O aniversário está em minha lembrança. (l) Luzes foram acesas nas<br />

preces e votos de felicidades que me ofertaram.<br />

1) Dias antes, 19 de fevereiro, os pais comemoravam, em prece, o aniversário do filho<br />

que, em Espírito, estava presente.<br />

Flores de esperança em nossa festa da alma enriquecem-me a nova<br />

vida.<br />

Mãezinha, seria difícil, ontem para mim, fazer-me lembrado, de vez<br />

que a nossa comemoração a três com Jesus estava sendo levada a efeito.<br />

Não que seu filho menospreze a doce recordação de família e sim<br />

porque tenho visto o sofrimento sob novas modalidades.<br />

A dor nas mães, aqui reunidas ontem, não me permitia<br />

manifestações de regozijo fremente. E a deixar de fazê-lo com a<br />

espontaneidade e a extroversão que são minhas, julguei mais acertado<br />

votar a favor dos propósitos de nosso irmão Eurico Tadeu que precisava<br />

podar as angústias da senhora Mirthes que, entre nós, mostrava um<br />

coração agoniado e profundamente deprimido.(2)<br />

2) Eurico Tadeu desencarnou em Manaus-AM, em acidente de automóvel, no ano de<br />

1977.<br />

Hoje, ao que me parece, posso falar em nossa festa e agradecer,<br />

rogando ao Papai fortalecer-se e viver tranqüilo. Alegria é saúde.<br />

Reconforto é remédio. Carinho é tranqüilizante. Amor é vida.<br />

Entendimento é renovação.


Peço a Deus para que em aninha condição de filho tenha posto o<br />

ponto nas iiiis do caminho.<br />

Agradeço por tanta ternura, tesouro que me faz infinitamente feliz.<br />

E agradeço ainda o bem que espalharam em favor dos nossos doentes e<br />

das crianças, pensando em mim.<br />

Sou dos <strong>filhos</strong> mais ricos da Terra, porque os tenho no coração.<br />

À vista disso entrego-lhes, com toda a minha alma, o coração do<br />

filho e companheiro reconhecido de todos os instantes,<br />

Shabi<br />

11 Março 1978<br />

58


59<br />

V<br />

Mãezinha querida, Querido pai.<br />

Deus na bênção com que me fortalecem.<br />

Estimaria escrever com pinceladas de luz estas frases de<br />

agradecimento e de amor. Enunciar o meu reconhecimento pelas flores<br />

deste mês de Maio que me ofereceram. Contar-lhes muito mais com<br />

carinho do que com palavras o júbilo, por vezes, orvalhado ~ lágrimas<br />

com que lhes recebo no coração as lembranças queridas.<br />

Entretanto, nas grandes emoções, os vocábulos do mundo<br />

assemelham-se a pedras, naturalmente buriláveis para a execução de<br />

obras-primas,. no entanto, sempre frias, à maneira de tijolos preciosos e<br />

inertes, incapazes de exprimir a linguagem do coração.<br />

Curvo-me, portanto, aqui, neste lápis amigo para restringir-me à<br />

convenção do "muito obrigado.<br />

Muito obrigado pela ternura com que me recordam, pelo<br />

devotamento com que me escrevem as mais belas páginas da alma, pelo<br />

apoio incessante com que me acompanham em plena vida espiritual,<br />

pela cobertura de abnegação com que me enviam tantas estrelas de<br />

bondade, através do caminho e da presença de tantas crianças e de<br />

tantos jovens, em cujo contato me rememoram a vida.<br />

Querida Mãezinha, acolho em espírito as memórias sublimes que a<br />

sua generosidade me endereça pela face de todos aqueles pequeninos e<br />

de todos os companheiros de juventude, em sorrisos e bênçãos de<br />

compreensão e de amor. Sei que a sua maravilhosa vida é um castelo<br />

encantado nas tarefas de educação a que se consagrou e através das suas<br />

lágrimas de saudade e esperança, ausculto a própria Humanidade.<br />

Sempre ouvi dizer que o ouvido terrestre escuta, na concha, o<br />

idioma do mar, e um filho registra na dedicação maternal todas as forças<br />

que sustentam o mundo. Continue sim, abençoando e auxiliando...


Ao lado de meu pai, o companheiro incansável de nossa caminhada<br />

nas trilhas do Tempo, prossigamos doando à vida o que tenhamos de<br />

melhor. Não lhes firam os espinhos da marcha no chão da Terra. Ainda<br />

que as sementes do bem e da esperança venham a cair em glebas<br />

aparentemente estéreis, esses valores nunca desaparecem.<br />

Chuvas de provações e canículas de angústia surgem nos climas da<br />

existência, erosões inesperadas convertem altos montes em vales e<br />

planícies, tempestades arrasadoras explodem, por vezes, e transformam<br />

as paisagens...<br />

Rochedos se deslocam, desertos se fazem verdes, abismos alcançam<br />

alturas, fontes desabrocham de penhas esquecidas e as sementes de<br />

Deus erigem prodigiosos jardins...<br />

Flores despontam por toda parte e perfumes inesperados buscam os<br />

céus.<br />

Tudo isso vemos daqui, deste "Mais Além", que é continuidade da<br />

própria Terra. A morte pode trazer as sombras da noite, entretanto, a<br />

vida reinará sempre e ninguém lhe barra as fulgurações do alvorecer.<br />

Nós, os que voltamos do mundo, somos unicamente viajores de retorno<br />

ao lar.<br />

A saudade é a sentinela que nos guarda nos dois planos. Aí nos faz<br />

chorar na sede de presença e aqui nos aflige no desajuste da distância...<br />

Mas, é da lei do Senhor, seguirmos sempre ao encontro do Bem Eterno<br />

e da Eterna Beleza, para a comunhão integral no Amor Divino.<br />

Creiam, pais queridos, que não divago. Por vezes, a expectativa<br />

humana aguarda de nossas manifestações uma cornucópia de<br />

revelações, a derramar-se em valores indiscutíveis de identificação da<br />

verdade, no entanto, nem sempre a simbologia dos nomes e dos<br />

números usada na Terra consegue acender a luz que desejamos,<br />

porquanto, em muitos casos, é imprescindível que a revelação espere<br />

pela maturidade, a fim de ser útil.<br />

60


Compreenderão quanto digo, à face dos problemas de nossas<br />

vivências no muno. Quantas vezes anelamos falar de cimos<br />

resplendentes a corações queridos que em vão nos assinalam os<br />

conceitos, habituados que se acham à sombra respeitável em que se<br />

encontram, realizando o melhor que se lhes faz possível.<br />

Não desejo dizer que estejamos num intercâmbio de ordem superior<br />

àquele que se verifica entre os entes amados. Não é bem isso. O<br />

problema é de amor que sabe compreender ara saber esperar. Onde<br />

exista uma agulha de amor, aí está a presença de Deus, e Deus é a<br />

própria paciência convertida em esperança no trabalho incessante do<br />

Bem a tudo e a todos.<br />

Venho agradecer-lhes. Se posso atingir.o objetivo a que me<br />

proponho, estou satisfeito. Entendemo-nos e isso vale mais que<br />

quaisquer argumentos tendentes à discórdia, porque a discórdia será<br />

sempre desequilíbrio e o desequilíbrio é sempre perda.de tempo.<br />

Amemo-nos sempre mais e sirvamos quanto se nos faça possível.<br />

Em nossa companhia temos o Irmão Cassiano que a identificação<br />

nos arquivos humanos não consegue a ficha talvez desejável. De onde<br />

vem o sol que nos ilumina, detido no Espaço, a fim de sustentar-nos a<br />

vida? Que nome doaremos ao firmamento, quando sem nuvens?<br />

Como exumar a memória dos anjos que esculpiram na Terra as<br />

flores primeiras?<br />

Quem saberá a procedência dos gênios tutelares que combinaram os<br />

agentes químicos no nascimento do mundo para a fabricação dos<br />

perfumes conhecidos do homem?<br />

Assim também, aqui, vezes e vezes, defrontamo-nos com aqueles<br />

que nos embalaram nas noites do tempo, amparando-nos e amando-nos,<br />

muito antes que os conhecêssemos.<br />

Irmão Cassiano será um ser assim celestial e terrestre que inspirou a<br />

existência de meu avô Cassiano, a união dele com a vó Cecília, (l) para<br />

que meu pai aparecesse e me entregasse aos seus braços. Mãezinha<br />

61


querida... Ele será o amor indefinível, o mensageiro que fala com o<br />

silêncio e que nos ama com a bênção do apoio oculto e incessante, para<br />

mim semelhante ao dos anjos.<br />

1) José Pereira Cassiano e Cecília Bonás Cassiano, avós paternos.<br />

Dessa atmosfera de alegria e de entendimento em que esse mesmo<br />

sublime benfeitor me recebeu é que tenho escrito, na ânsia de pintar<br />

com palavras os quadros de minha nova vida.<br />

As cores, porém, não são figuras geometrizáveis e muitas vezes<br />

troco impressões com os pais queridos no domínio inabordável das<br />

idéias mais puras, com as quais operamos no caminho das horas em que<br />

seguimos juntos e separados, visíveis e invisíveis, felizes e aflitos, qual<br />

se nos mantivéssemos numa corrente sutil de sorrisos e lágrimas, de<br />

esperanças e desconsolos, de tristezas e alegrias...<br />

Mas este é o acesso a vencer e não temos outro, porque as Leis de<br />

Deus determinam que nos ausentemos, por vezes, uns dos outros para<br />

amar-nos muito reais, aprendendo, ao mesmo tempo, a compreender e<br />

amar aqueles que ainda não amávamos e nem compreendíamos.<br />

Agradeço por tudo o que nos deram neste mês de aniversários<br />

coloridos de imorredouras lembranças, (2) tempo de mães e <strong>filhos</strong>,<br />

horas sagradas de lar e momentos de reaconchego nos ninhos de ternura<br />

em que evoluímos pela dor e pelo trabalho para o Amor Sempre Maior.<br />

2) Em comemoração ao Dia das Mães e em reverência à memória do filho, os pais de<br />

shabi visitaram em Uberaba algumas Instituições Beneficentes, ofertando-lhes socorro<br />

material, a par do calor humano que lhes caracteriza a presença.<br />

Agradeço à irmã Nury bolores e aos seus <strong>filhos</strong> queridos pelos<br />

diálogos de fé renovadora e pelas bênçãos de cooperação em nossas<br />

tarefas; (3) à irmã Lucy pela entrega dos brindes de paz e carinho em<br />

benefício dos corações maternos, tantas vezes desalentados e sofridos<br />

no mundo; à irmã Olga Duprat (4) pelas preces de confiança em nossa<br />

colaboração, pedindo resistência nas provas redentoras; agradecemos,<br />

tantos amidos juntos e eu mesmo, por tudo o que fizeram e fazem por<br />

62


amenizar o sofrimento, onde encontram esse buril de Deus, esculturando<br />

o progresso espiritual.<br />

3) Amiga da família.<br />

4) D. Olga Duprat se encontrava em grande sofrimento, com o filho e o mando<br />

enfermos. Ambos faleceram algum tempo depois.<br />

Pai amigo, muito obrigado, querida Mãezinha, muito obrigado.<br />

Minhas letras refletem saudade, mas essa saudade é um setestrelo de<br />

amor e esperança em meu coração.<br />

Estou renascido e feliz por pertencer-lhes, reconhecendo que nós<br />

três pertencemos a Deus.<br />

Sigamos juntos para diante. Hoje é o calendário humano a desfolhar<br />

os dias com números e siglas convencionais, no entanto, amanhã será a<br />

imortalidade vitoriosa e o reencontro sem adeus.<br />

Muito amor com todo o coração e todos os sonhos da filho que os<br />

reúne no mesmo beijo envolvente de confiança e carinho na união em<br />

Deus, luminosa e sem fim.<br />

Sempre o filho reconhecido.<br />

Shabi<br />

20 Maio 1978<br />

63


64<br />

VI<br />

Mãezinha querida, querido papai Abigail.<br />

Unidos, peçamos a Deus nos abençoe.<br />

Tempo vai, tempo vem...<br />

Correm as dificuldades no trânsito das horas. As provas seguem<br />

voando, embora, por vezes, com asas de chumbo... A renovação se<br />

processa. A mudança age com força inexorável. Entretanto, o amor é a<br />

presença de DEUS. Luz envolvente e imperecível. Por isso mesmo, a<br />

saudade deixa de ser um caminho de sombra para ser a chama da<br />

esperança, nas vias do reencontro.<br />

Estas reflexões me ocorrem à frente do Natal, quando Jesus nos<br />

reúne a todos no mesmo ideal de solidariedade. Uma compreensão nova<br />

desponta por dentro de nós e inclinamo-nos, de uns para os outros,<br />

entendendo-nos por irmãos autênticos, viajores da mesma estrada e<br />

<strong>filhos</strong> do mesmo pai.<br />

Mãezinha, embora as dificuldades de intercâmbio, estou feliz.<br />

Permutamos, diariamente, as nossas impressões e, momento a momento,<br />

endereço à Eterna Bondade a minha gratidão por haver encontrado nos<br />

pais amados, que me acolheram, os melhores companheiros do mundo.<br />

Associo-me ao júbilo de nossa casa nas recordações de Jesus e<br />

compartilho do trabalho bendito em que surpreendo tantos irmãos<br />

nossos, nos mais variados setores da experiência na vida.<br />

Muito grato, Mãezinha, por matricular-me na escola bendita da<br />

beneficência em que as revelações da Bondade Divina se nos fazem<br />

mais acessíveis aos corações.<br />

Penso na alegria dos amigos que recolhem, sob a neblina da<br />

provação, as notícias do Divino Benfeitor, com o anseio baldado de<br />

expressá-la em quadros de luz que nos dessem as dimensões do amor<br />

infinito do Cristo de Deus, vencendo as eras e dominando as


circunstâncias do mundo, conquistando almas e comunidades,<br />

iluminando vidas e reajustando corações, cada vez mais.<br />

Mãezinha, a sua bondade é o meu cartão de Boas Festas, que<br />

encaminho a quantos conheço, porquanto, em todos os votos que<br />

formulo, estão as sementes vivas dos seus exemplos de abnegação e<br />

carinho.<br />

Que o Natal e o Ano Novo lhes ofereça - a ambos - pais queridos,<br />

tudo aquilo que a vida contenha de melhor.<br />

De coração ligado à ternura com que se dedicam aos companheiros<br />

da retaguarda, levantando-lhes o ânimo, para que se ergam para Deus e<br />

se façam felizes, tanto quanto já nos sentimos esperançados de encontrar<br />

a alegria perfeita, com a vitória sobre nós mesmos, peço a DEUS nos<br />

conserve plenamente integrados na união fraternal, uns com os outros, a<br />

fim de aprendermos a servir com o Divino Servidor.<br />

E estendendo os meus votos de paz e felicidade a todos os corações<br />

amigos que nos oferecem base e estrutura às tarefas em que nos<br />

comprometemos na Seara do Bem, entrega-lhes o coração reconhecido e<br />

feliz, o filho e companheiro que lhes segue os passos na jornada de<br />

elevação, reafirmando-lhes que sou e serei sempre o filho que os ama<br />

infinitamente e lhes deve cada vez mais,<br />

Shabi<br />

15 Dezembro 1978<br />

65


66<br />

VII<br />

Querida Mãezinha e meu querido papai Abigail.<br />

Abençoem-me.<br />

A noite recorda a outra de cinco anos de retaguarda. Depois do<br />

ofício religioso em que nos vimos consternados pelo sofrimento da<br />

separação, o recolhimento em casa, depois de tantos cerimoniais para o<br />

silêncio.<br />

Tudo recapitulado, temos hoje, a dor transforma em alegria. As<br />

notas do cântico de angústia são, neste momento, melodias de júbilo em<br />

nossos corações que o tempo transfigurou em relicários d e esperança.<br />

Lembro-me de todas as minudências e, nesta hora, associo a nossa<br />

querida Beth em minhas recordações, de vez que naquela alma de<br />

menina e moça os acontecimentos haviam assumido a face do horror.<br />

Graças a Deus estamos longe daqueles dias, que medearam entre o 9<br />

e o 16 de março, comprimindo-nos os sentimentos, qual se estivéssemos<br />

prensados numa estreita câmara de fogo. Quando pude abraçar o papai,<br />

em pleno tratamento intensivo, no hospital, num encontro,<br />

aparentemente, de sonho, já me encontrava, então, liberto de todos os<br />

laços negativos que me algemavam àquela sede de reencontro.<br />

Agradeço a Deus e aos nossos mentores quanto aprendemos, em<br />

dias tão poucos, assimilando ensinamentos que apenas se recolhem no<br />

educandário da angústia.<br />

Mãezinha querida, a Vida continua...<br />

Os nossos diálogos dentro da vida são os mesmos. O amor jamais<br />

desaparece. A vida é luz perene. A morte será sempre a grande ilusão.<br />

Tudo vibra. Da estrela ao verme e do abismo ao espaço celeste, as<br />

marcas sublimes da Presença de Deus se destacam, indicando-nos os<br />

cimos que nos cabem atingir.


Ainda hoje, sei o preço que os pais queridos resgatam em saudade e<br />

pranto, no que se refere à minha suposta ausência; entretanto,<br />

reconforto-me ao pensar que celebramos o meu renascimento na Vida<br />

Triunfante, onde todo gemido humano se converte num hino de<br />

esperança e onde as maiores tribulações se dissolvem na alegria perfeita,<br />

à maneira da nuvem que desaparece à frente do sol.<br />

Agradeço aos pais queridos quanto fizeram e fazem a meu favor,<br />

creditando-me a felicidade, que sabem esculpir para os outros, em nome<br />

do filho que tanto lhes deve e peço ao Senhor da Vida enriquecê-los de<br />

bênçãos sempre maiores.<br />

Estamos aqui, alguns amigos, o Beto e eu, expressando o nosso<br />

reconhecimento a Deus pelos genitores que nos concedeu para a<br />

travessia da Terra. E o vovô José Henrique com a vovó Dosolina<br />

compartilham aqui de nosso contentamento.<br />

Permitirá Jesus, venhamos a exteriorizar esta nossa felicidade,<br />

estendendo-a a todos os nossos corações queridos que, em se nos<br />

vinculando à família, são credores de nosso amor.<br />

Mãezinha querida, muito grato pelas doces evocações de nossos<br />

registros mais íntimos.<br />

Estou feliz por vê-los felizes e quanto possa, trabalharei para que<br />

esse pão bendito de paz e alegria não nos falte à mesa do coração em<br />

quantidade suficiente para que possamos torná-lo extensivo aos outros,<br />

especialmente os que trilham a mesma estrada de experiência,<br />

suportando as aflições e as lágrimas que lhes marcam a vida.<br />

À nossa estimada irmã Lucy, os nossos corações agradecidos.<br />

Somos todos uma família só. Por isso mesmo, as palavras de gratidão e<br />

carinho a cada coração do nosso núcleo afetivo se faz mensagem de<br />

agradecimento a todos.<br />

Prosseguimos trabalhando e nisso consiste a nossa realização maior.<br />

Sinto-me profundamente integrado nesse luminoso complexo de paz e<br />

amor e rendo graças ao Senhor por isso.<br />

67


Mãezinha Maura, receba com o papai Abigail um painel de<br />

saudades, emoldurado em flores de esperança, dessa esperança que<br />

vibra imortal no coração de seu filho que lhes deseja o Céu na Terra.<br />

com todas as maravilhas de Deus a lhes brilharem no caminho de<br />

construtores do Bem.<br />

Para ambos, a vida toda e todo o carinho do filho cada vez mais<br />

reconhecido.<br />

Jose Roberto Pereira Cassiano<br />

(Shabi ) 16 março 1979<br />

68


69<br />

VIII<br />

Querida Mãezinha Maura, com o Papai Abigail, receba os meus<br />

votos ao Senhor da Vida pela paz e bom ânimo em nossas tarefas.<br />

Mãezinha, em seu querido aniversário, se eu pudesse materializar<br />

uma rosa, seria ela a mensageira de meu reconhecimento, a envolvê-la<br />

no perfume dos mais lindos sentimentos que a sua dedicação me deu a<br />

guardar. (l)<br />

1) Shabi fala do aniversário da mãezinha, justamente comemorado na data da<br />

psicografia da mensagem.<br />

Se possuísse uma estrela, oferecê-la-ia ao seu querido coração, para<br />

que significasse o meu próprio anseio de ser tudo aquilo que o seu amor<br />

sonhou para seu filho e que ainda não consegui efetivar.<br />

Se conseguisse deter as bênçãos de uma fonte, decerto que<br />

solicitaria à corrente cantar para a sua alma os mais belos versos de<br />

ternura e gratidão que me fosse possível.<br />

Se conquistasse um pedaço de céu azul, escreveria nele um poema<br />

em que se gravassem todas as minhas saudades e esperanças, tentando<br />

patentear quanto devo à sua presença constante em meu espírito.<br />

Entretanto, Mãezinha, já que seu filho não dispõe de semelhantes<br />

possibilidades e riquezas, ofereço-lhe o meu coração pobre, mas sempre<br />

seu, com as minhas súplicas ao Senhor para que a paz e a felicidade lhe<br />

iluminem todos os passos, ao lado de meu querido pai Abigail e no<br />

clima de todos os nossos.<br />

Indiscutivelmente, cabe-me limitar as felicitações que lhe trago, tãosó<br />

às luzes da alegria e às esperanças que nos abençoam a caminhada.<br />

No entanto, querida Mãezinha, sei que o seu amor nos adivinha os<br />

cuidados da hora presente.


Com as suas mãos e com as mãos de nossos amigos, achamo-nos<br />

todos, os companheiros do nosso amigo Nasser, compartilhando-lhe o<br />

trabalho, no auxílio aos familiares.<br />

Perdoe-me, se lhe digo que os nossos pensamentos destes dias estão<br />

encharcados com as lágrimas de nossa irmã Shirley, de nosso amigo<br />

Miguel, do companheiro Gugu, da nossa benfeitora Angelina, da Bebel<br />

e das irmãzinhas e com o zelo ativo, mas tisnado de inquietação do<br />

nosso Nasser, empenhado com outros familiares no socorro aos<br />

corações queridos. (2)<br />

2) Shabi se refere às dificuldades da família Haddad, comentando as inquietações do<br />

jovem Nasser que do Plano Espiritual se via naturalmente incomodado com acidente recém<br />

corrido, em que o pai, Sr. Miguel, e o primo Gugu deixaram a vida física. Bebel é irmã do<br />

Nasser e D. Angelina, sogra do Sr. Miguel.<br />

Estamos trabalhando. Seu filho que passou por ocorrência tão difícil<br />

à rente de máquinas, se comove diante do quadro doméstico de nossos<br />

amigos em prova, associando-se às preces pela tranqüilidade de todos.<br />

Peçamos aos Mensageiros do Mais Alto, possam balsamizar os<br />

sofrimentos de nossos queridos companheiros. Isso faz parte da nossa<br />

festa, porque o seu carinho me ensinou esse dever de lealdade aos<br />

amigos que se nos fazem parcelas da própria alma.<br />

Continuaremos agindo no tenta-me de fazer o melhor pelos queridos<br />

irmãos, reunidos na tribulação redentora.<br />

Agradeço ao Papai Abigail o carinho de sempre e colocando os pais<br />

queridos em meus próprios braços, imitando-lhes os gestos de proteção<br />

com que me afagavam em criança, entrega-lhes todo o coração, o filho<br />

reconhecido que prossegue pedindo a Deus por nossa paz e felicidade.<br />

Shabi<br />

16 Novembro 1979<br />

70


71<br />

IX<br />

Querida Mãezinha, abençoe-me.<br />

Sem palavras para configurar todo o nosso amor numa longa carta, o<br />

amigo José Roberto e eu deixamos às queridas Mãezinhas o nosso<br />

coração reconhecido com a certeza de que estamos bem, conquanto em<br />

serviço ativo no apoio aos nossos amigos que se transferiram ara cá<br />

recentemente, em nos reportam ao irmão Miguel. (l)<br />

1) Sr. Miguel Nasser Haddad desencarnado em companhia do sobrinho poucos meses<br />

antes. Ver mensagem anterior.<br />

Se poucas palavras podem dizer muito, queremos afirmar que o<br />

nosso carinho é cada vez maior, e que estamos a postos, a fim de nos<br />

reunirmos todos como sempre, na fé viva em Deus e no exercício do<br />

Bem.<br />

Carinhosamente, o filho reconhecido.<br />

Shabi<br />

08 Março 1980


72<br />

X<br />

Querida Mãezinha Maura, receba com meu pai Abigail as minhas<br />

saudações de carinho no pedido de bênção com que me sinto o seu<br />

menino de sempre.<br />

Dia das mães à vista!<br />

Achamo-nos todos na condição de viajores que retornaram do<br />

Exterior, avistando as primeiras paisagens da terra em que nasceram. É<br />

um grito de júbilo, esse que tantos de nós aqui desferimos, nesta noite,<br />

rogando aos Céus pela felicidade dos anjos maternos que nos refizeram<br />

a vida no Plano Terrestre.<br />

Mãezinha, comigo está outra mãezinha - a sua pérola que lhe<br />

recebeu as irradiações de amor no poema que a sua ternura lhe<br />

endereçou. A querida vovó faz questão de nos partilhar a companhia,<br />

não só para festejar esta formosa antevéspera do Abençoado Dia, mas<br />

igualmente para me complementar a solicitação de paz que lhe fortaleça<br />

e revigore o coração.<br />

Ela, a nossa doce benfeitora do lar, recorda a sua presença e a<br />

presença dos outros <strong>filhos</strong> queridos - tio Ivo, tio Oswaldo, tia Iracema,<br />

tia Ilda e tia Aurora, entrando em prece na qual recomenda todas as suas<br />

queridas crianças a Deus, porque especialmente para o carinho materno,<br />

os <strong>filhos</strong> não crescem. São sempre personagens de sonho que não se<br />

marginalizam nas sendas do amor puro.<br />

Pois é, querida Mãezinha Maura, vovó e eu vimos pedir-lhe alegria<br />

e tranqüilidade, aliás, merecidas por seu espírito de devotamento e<br />

renúncia em auxilio a nós todos.<br />

A nossa mensagem mais expressiva para a sua sensibilidade,<br />

mensagem quase cifrada pelas forças de nosso amor em família, se<br />

condensa numa simples frase - o seu não foi abençoado. A sua palavra


criteriosa visou a defender amigos queridos que precisam de segurança<br />

para facear o futuro.<br />

A sua compreensão elevada com o apoio de muitos amigos nossos,<br />

procurou preservar um abençoado ninho no qual aves ainda implumes -<br />

os primos queridos - necessitam preparar as energias próprias ante o<br />

grande porvir. A sua paz não pode ser quebrada por haver atendido a um<br />

dever que todos consideramos respeitável e justo.<br />

E, nesse esquema, ficou uma sugestão: A idéia de que a nossa<br />

abençoada empresa doméstica, com o auxílio da Divina Providência<br />

permanecerá neste princípio: "O não é o limite"<br />

Efetuada a defensiva de nossas crianças, no sentido de lhes<br />

assegurar ambiente para o amanhã próximo, deixemos os assuntos<br />

correlatos entregues a Deus, através da responsabilidade das criaturas.<br />

O caminho é longo para o aperfeiçoamento que demandamos e não<br />

precisamos apontar esse ou aquele espinho na trilha das pessoas amadas,<br />

porque já possuímos espinhos em quantidade suficiente para nos<br />

afastarem de qualquer repouso inadequado.<br />

Mantenhamos o "não" que é "sim" para, o bem do nosso grupo de<br />

corações queridos e sigamos para ante, na certeza de que o Senhor é o<br />

nosso Pastor e nada nos faltará, recordando as belas palavras do salmo<br />

de Davi. O tempo é o grande instrutor de todos, de todos nós que<br />

estamos matriculados no educandário da vida.<br />

Descanse com o papai Abigail e permaneça contente com a sua<br />

inspiração que solucionou antecipadamente um problema grave que<br />

certamente mais tarde apareceria.<br />

Peço dizer ao tio Ivo e à tia Doroti que a bondade de Deus nunca<br />

falha e que não temos motivos para aflições. Trabalhemos e pelo filtro<br />

do serviço a Providência de Deus de tudo nos cercará, a fim de que nos<br />

vejamos na abastança precisa.<br />

Rogo ainda seja dito à tia Aurora que acompanhamos a festa do<br />

nosso caro companheiro José Eduardo e que desejamos a ele, junto da<br />

73


74<br />

companheirinha, todas as alegrias e bênçãos que a vida lhes possa<br />

proporcionar no clima da proteção do Mais Alto.<br />

Aqui em nossa companhia está o nosso Beto e o caro Nasser que<br />

nos partilham a mensagem de <strong>filhos</strong> reconhecidos, desejando felicidade<br />

e saúde, paz e bom ânimo às mãezinhas queridas, nossa irmã Lucy e<br />

nossa irmã Shirley.<br />

Agora, Mãezinha Maura, é o momento de me recolher à câmara da<br />

saudade.<br />

Creia, porém, que a saudade de seu filho é sempre uma esperança<br />

crescendo no coração.<br />

Estamos juntos como nunca estivemos. Papai, Mãezinha, o seu<br />

coração e eu mesmo, somos um trio de fé viva em Deus na atividade<br />

incessante do bem, na qual vamos acumulando experiências das<br />

melhores.<br />

Beijando-lhes as mãos reunidas nas minhas mãos enternecidas no<br />

reconhecimento por tudo o que lhes devo em carinho e proteção,<br />

segurança e bênção, sou o filho que permanece, sempre em casa e<br />

sempre no coração, na alegria de ser a criança para a qual os meus pais<br />

queridos construíram o caminho da felicidade e um mundo melhor.<br />

Sempre o filho reconhecido.<br />

Shabi<br />

09 Maio 1980<br />

Esclarecimentos<br />

O texto anterior tem cunho estritamente familiar, conversando Shabi<br />

com os pais, a propósito de ocorrências que, na época, os preocupavam,<br />

agora felizmente superadas.


75<br />

Podemos, ainda uma vez, compreender a intensidade da participação<br />

dos <strong>filhos</strong> desencarnados na vida dos pais e familiares, buscando<br />

cooperar para a solução dos problemas que preocupam os entes amados.<br />

Oportuno lembrar que, toda dor, tristeza ou desespero dos familiares<br />

se refletem diretamente nos entes queridos que partiram para a Vida<br />

Maior, causando-lhes sofrimento muito grande. Daí ser comum, nas<br />

mensagens psicografadas, a petição dos <strong>filhos</strong> rogando aos pais que<br />

procurem não chorar mais, vivendo tanto quanto possível mais felizes,<br />

pois a alegria e a felicidade deles são fundamentais para a sua<br />

readaptação no Além, após a morte física.<br />

Os nomes citados são de familiares de D. Maura, além de menção<br />

ao outro Beto, ao Nasser, já nossos conhecidos, e a suas mãezinhas,<br />

Lucy e Shirley.<br />

XI<br />

Querido Papai Abigail e querida Mãezinha Maura.<br />

A noite avança e o tempo aqui é um condomínio de que os<br />

Mensageiros do Mais Alto são os síndicos.<br />

Não posso alongar-me. Estou, no entanto, na companhia do vovô<br />

Evaristo, (1) trazendo ao Papai a nossa mensagem de gratidão e de<br />

alegria, formada por nossas preces a Jesus, a fim de vê-lo refeito e<br />

plenamente integrado em suas faculdades orgânicas.<br />

1) Evaristo Pereira Cassiano, bisavó paterno, falecido em 1942.<br />

A tempestade passou. Agora, apenas rogamos ao querido benfeitor<br />

paternal conduza o carro físico na consciência de que fomos agraciados<br />

com muitas bênçãos. Estou contente, marcando esse ponto de<br />

restauração que nos faz a todos mais felizes para a continuidade de<br />

nossas tarefas. (2)


2 ) Preocupação do filho com o estado de saúde do pai. O Sr. Cassiano experimentara<br />

piora sensível, felizmente transitória, daí Shabi dizer: "A tempestade passou."<br />

Mãezinha, tenho comigo todos os seus poemas e cartas, petições e<br />

votos. Respondi a tudo no silêncio de nossas meditações, resumindo<br />

muitas das minhas laudas imensas de amor com estas palavras:<br />

- Pais queridos, recebam o meu amor invariável! Sejam sempre<br />

felizes! É o pensamento incessante do filho que pede às tintas do sonho<br />

se agregarem para o mais lindo quadro de alegria, no qual eu lhes<br />

ofereça, como sempre, todo o coração do<br />

Shabi<br />

24 Julho 1981<br />

76


77<br />

XII<br />

Querida Mãezinha Maura e querido papai Abigail, agradeço a festa<br />

de aniversario que ambos enriqueceram de flores mil.<br />

Aqui me encontro, à feição de um menino feliz que conquistou o<br />

que mais quis - uma árvore perene de Natal que se repete em todos os<br />

dias, com as mais lindas alegrias.<br />

Realmente o amor é muito mais forte do que o tempo e vence a<br />

própria morte que deixa de existir, quando nos afastamos do presente no<br />

encalço do porvir...<br />

Por tudo em que me rejubilo, sempre mais animado e mais<br />

tranqüilo, à frente da ternura na qual ambos me trazem tudo aquilo de<br />

que vivi na difícil procura do amor, encantamento, regozijo e beleza,<br />

luz, vida e esplendor que em tudo vemos superar a riqueza soberana da<br />

própria natureza...<br />

Sim, tenho tudo o que sonhei nos trechos de esperança, quanto a<br />

felicidade, e na plenitude de paz e de alegria que me envolve e me<br />

invade, peço a Deus os proteja sempre mais, na união benfazeja que<br />

deve iluminar os passos e caminhos dos melhores dos pais.<br />

Mãezinha Maura, é verdade que vejo tudo quanto se faz por meu<br />

desejo. Vejo a Grécia querida por matriz de cultura e exaltação da vida,<br />

noto Sócrates e Platão, Tucídides e Terêncio, nas imagens felizes em<br />

que se nos conservam as raízes...<br />

Vejo Roma e as Sabinas, Rômulo e Remo e os juízes, formando o<br />

povo eleito que nos faria sobre a Terra a força do direito...<br />

Vejo, ainda, a história linda e os lances de terror, quando os<br />

imperadores se mantinham por inimigos dos cristãos e fito de novo<br />

Constantino, alterando o destino de povos e nações...<br />

Mas ouça, Mãe querida...


Tudo isso que contemplo está nas telas que visito, as formas sempre<br />

belas do que já foi, porquanto, na verdade, os senhores da História já<br />

sofreram bastante e partiram no rumo do Melhor e do Mais Alto...<br />

Posso dizer-lhe ainda que não vou às estrelas, mas, posso<br />

surpreendê-las na formosura nova em que tudo o que somos se renova;<br />

entretanto, muito mais do que tudo isto, agora o que mais sinto,pela<br />

necessidade ou pelo instinto, é o desafio da Vida Espiritual a que me<br />

alteie e me refaça.<br />

Acima de tudo isto - volto a dizer - quero notar-me em Cristo, a fim<br />

de ser o filho agradecido que lhes deve o dom de ser sem parecer o<br />

coração que os ama, incendido na chama do amor em luz sem fim...<br />

Agora para mim, só o amor é essencial e esse amor encontrei nos<br />

pais que Deus me deu fiara que eu descubra mais amor nos mais altos<br />

caminhos...<br />

Agradeço aos amigos que vieram à nossa festa de saudade e alegria.<br />

José Roberto, o amigo e irmão, com muitos outros, saúda os pais<br />

amados a quem nós três somos reconhecidos.<br />

Queria transmitir tudo o que tento expor numa tela de amor em que<br />

o rosa fosse a tônica do sonho... mas não tenho tinta alguma, nem<br />

qualquer palavra que, por fim, me resuma o coração que trago.<br />

Recebam, pois de minhas mãos vazias a gratidão de todos os meus<br />

dias e essa ternura sem fronteiras, sem sombra e sem limites em que me<br />

reconheço unicamente a criança que os segue e não alcança. E, por mim<br />

Jesus dirá, nas estradas da vida, tudo quanto quero falar e não consigo...<br />

Guardem, assim, esse pouco de mim, no afeto sem tamanho em que<br />

sou e serei para os dois, hoje, agora e depois, meus tesouros de amor, o<br />

filho sonhador e o companheiro de todos os instantes - ante os queridos<br />

pais - o menino feliz que os ama sempre mais.<br />

Shabi<br />

19 fevereiro 82<br />

78


79<br />

(Este poema, psicografado na data do natalício de Shabi, responde,<br />

uma a uma, a indagações formuladas pela genitora - sem que o médium<br />

o soubesse - momentos antes de sua recepção.)<br />

FIM

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