São Paulo, terça-feira, 20 de março de 2007

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Sucesso das "graphic novels" avança no Brasil com a publicação de títulos de peso como "American Born Chinese", que foi indicado, nos EUA, ao National Book Awards

Divulgação
"American Born Chinese", que concorreu ao National Book Awards e traz a história de garoto chinês que sofre por ser um imigrante nos EUA


EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde que "Maus", de Art Spiegelman, recebeu o importante Prêmio Pulitzer em 1992, as "graphic novels", histórias em quadrinhos para jovens e adultos, com estatuto de romances, não experimentam tanto prestígio e boas receitas como nos últimos anos.
No fim de fevereiro, durante a Comic Con de Nova York, uma das mais importantes feiras internacionais da indústria dos quadrinhos, foi anunciado um aumento de 12% nas vendas de "graphic novels" em 2006, nos Estados Unidos. Um faturamento de US$ 330 milhões (cerca de R$ 700 milhões) em vendas somente daquele formato no país.
E, de modo semelhante a "Maus", "American Born Chinese", de Gene Luen Yang, entrou para a história como o primeiro livro de quadrinhos a concorrer, no ano passado, ainda que na categoria de literatura juvenil, ao National Book Award, o mais prestigioso prêmio literário americano, já concedido a medalhões como Philip Roth, Susan Sontag e William Faulkner. Em breve, o título ganhará traduções em francês, espanhol, chinês e português, no Brasil.
"O livro foi feito para um público mais jovem, mas, como ele toca, entre outras coisas, na questão da exclusão do imigrante, acabou tendo um apelo maior para leitores adultos e se tornou um grande best-seller nos Estados Unidos", conta o editor Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, que publicará a "graphic novel" no primeiro semestre de 2008, no país.
Citando dois títulos fortes de "graphic novels" do seu catálogo, Schwarcz aponta um maior interesse do público e das editoras pelo nicho ilustrado.
""Maus" vende sempre muito, "Persépolis" vem pegando cada vez mais, com vendas acima da média. É um momento em que há menos experimentalismo nas narrativas e a linguagem gráfica vem se firmando como um espaço para novas experiências", completa Schwarcz, que também tentou, sem sucesso, trazer para o país "Jimmy Corrigan: The Smartest Kid on Earth", best-seller citado pela revista "New Yorker" como a "primeira obra-prima do formato". O motivo: o autor Chris Ware não aceitou dividir o alentado título em volumes, o que o tornaria mais viável comercialmente.

Apostas em 2007
O sucesso das "graphic novels", afirmam as principais editoras do formato no Brasil, não se limita aos Estados Unidos, e no país o gênero também vem crescendo a cada ano, em número de títulos e tiragens mais ambiciosas. A Conrad, uma das editoras especializadas no país, tem várias apostas para 2007, entre elas o elogiadíssimo "Epiléptico" ("L'Ascension du Haut Mal", no título original), uma autobiografia em quadrinhos do francês David B. (ou Pierre-François Beauchard), e "Kickback", o novo quadrinho de David Lloyd, criador de "V de Vingança" com Alan Moore.
"E temos também "Black Hole", que é a obra maior de Charles Burns, que, ao lado de Art Spiegelman, foi o maior nome que surgiu da geração que criou a revista "Raw'", conta o editor Rogério Campos, da Conrad. Ele destaca ainda em 2007, no Brasil, o que chama de "a estréia no Ocidente" de "Jornada para o Oeste", de Wu Cheng'en, um clássico das histórias em quadrinhos chinesas, a respeito da chegada do budismo no Extremo Oriente.
"Este título vendeu dezenas de milhões de exemplares na China, e mesmo para os padrões chineses, é um megassucesso. Agora, à parte de tudo isso, tem algo muito especial que é o lançamento de "Paradise Kiss", de Ai Yazawa, a maior criadora de mangás femininos na atualidade. A trilha sonora do desenho animado da série tem Franz Ferdinand. Dá uma idéia do que se trata."

Pioneiras
Criada em 1997, a Via Lettera foi uma das primeiras editoras a investirem no formato no mercado brasileiro, tendo lançado em 1999 "Cidade de Vidro", uma versão "graphic novel" do livro de Paul Auster, assinada por Spiegelman, Paul Karasik, Bob Callahan e David Mazzucchelli. Para Mônica Seincman, editora da Via Lettera, o interesse "está crescendo do ponto de vista de leitores e das editoras. Está ficando sério, negócio de gente grande".
Douglas Reis, um dos diretores da Devir, que só trabalha com "graphic novels" há cerca de dez anos, faz coro com Mônica. E comemora o fato de vir mantendo a editora bem-sucedida, lançando sucessos como "Sin City" (Frank Miller) e "O Nome do Jogo" (Will Eisner).
"A Devir vende em média, todo ano, 85% dos livros que imprime. Temos ousado nas tiragens. Por exemplo, "300 de Esparta" [Frank Miller] saiu com 8.000 cópias. E em abril vamos colocar cerca de 5.000 dos três volumes de "Lost Girls", de Alan Moore, no mercado. É um bom número, visto que a média aqui na Devir é de no máximo 2.500", conta Reis.


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