Morre Rochelle Costi, artista visual que reinventou a fotografia com escala insólita

Autora que já participou da Bienal de São Paulo foi vítima de um atropelamento na tarde deste sábado na capital paulista

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São Paulo

Morreu, vítima de um atropelamento na tarde deste sábado, em São Paulo, a artista plástica Rochelle Costi. Um dos nomes mais destacados da arte contemporânea do país, ela participou da Bienal de São Paulo e se notabilizou pelo trabalho fotográfico em que reinventa a escala de cenários domésticos.

A artista plástica Rochelle Costi - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress

Ela deixava o Museu da Imagem e do Som, na avenida Europa, na zona oeste paulistana, quando foi atingida por um motoqueiro. O lugar do acidente é perto de onde Marcelo Fromer, da banda Titãs, foi atropelado, também por um motociclista, em 2001 —ele morreu pouco depois em decorrência dos ferimentos.

Costi, que tinha 61 anos, chegou a ser socorrida e levada ao Hospital das Clínicas, mas não resistiu aos ferimentos. Ela estava acompanhada da irmã, Simone, no momento do acidente.

Nascida em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, Costi ganhou projeção no cenário artístico do país a partir da década de 1990, quando participou de mostras importantes como o Panorama da Arte Brasileira, do Museu de Arte Moderna de São Paulo, e da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre.

Vencedora do prêmio Marcantônio Vilaça, mais importante láurea das artes visuais no país, Costi participou uma segunda vez da Bienal de São Paulo, em 2010, e teve seu trabalho exibido em mostras coletivas nas mais importantes instituições do país, como o Museu de Arte de São Paulo, o Masp, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Instituto Inhotim, em Minas Gerais. Sua obra integra a coleção permanente de todos esses espaços.

Antes de se firmar nas artes plásticas, Costi chegou a trabalhar como fotojornalista, tendo fotografado inclusive para veículos como a extinta Revista da Folha, deste jornal.

"Eu quis fazer uma equipe de fotógrafos que tivessem um outro olhar, um olhar que não fosse jornalístico apenas, e convidei a Rochelle", lembra Eduardo Brandão, hoje um dos sócios da galeria Vermelho e à época editor de fotografia do suplemento. "Eu sabia que ela tinha um olhar que não era aquele do jornal e, como eu queria dar uma cara para a revista, ela ficou com a gente muitos anos."

A fotografia, aliás, foi seu meio de expressão por excelência. Costi se notabilizou por uma obra fotográfica de estranha delicadeza, trabalhando espaços domésticos inventados. Muitas de suas séries fotográficas partem da exploração de maquetes de casas habitadas por objetos em tamanho real, que, no jogo insólito de escalas criado por ela, parecem gigantescos.

No centro de seu trabalho, está uma reflexão sobre laços afetivos e lugares que marcam a nossa memória. Embora usasse uma ferramenta que exprime o máximo da verdade e do real, como a fotografia, Costi encenava situações fantásticas, sempre no limiar entre a realidade e o terreno dos sonhos. Sua obra é uma arquitetura de flagras construídos, cenas montadas de modo milimétrico para que pareçam espontâneas, apesar da estranheza.

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