Perfil biográfico de Cora Coralina

Da Redação | 19/08/2011, 12h11

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, poeta e contista conhecida pelo pseudônimo de Cora Coralina, nasceu na cidade de Goiás (GO), no dia 20 de agosto de 1889. Publicou seu primeiro livro - Poemas dos becos de Goiás e estórias mais - só os 76 anos de idade, embora tenha começado a escrever os primeiros textos aos 14 anos.

Os escritos da adolescência e juventude eram publicados nos jornais da cidade de Goiás e também em outras cidades do estado. Naquele tempo, apesar de viver numa sociedade conservadora, e que reservava um papel secundário às mulheres, Cora era saudada por conterrâneos ilustres como uma promessa literária.

A promessa se cumpriu.

Igualmente se concretizou o destino de mulher participativa, que liderou movimentos políticos locais em prol da cidadania e da caridade - estes no âmbito da Igreja Católica. Sempre foi muito religiosa.

A temática de seus escritos foi, desde os primeiros tempos, a história, os personagens e o cotidiano de sua região.

Depois da publicação dos Poemas dos Becos de Goiás e Estórias mais, em 1965, Cora publicou, em 1976, Meu livro de cordel. Outras obras da autora são: Estórias da Casa Velha da Ponte (contos); Meninos Verdes (infantil); O Tesouro da Casa Velha (contos); A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu (infantil); Vintém de Cobre; e As Cocadas (infantil).

Entre os prêmios recebidos pelo conjunto de sua obra, destacam-se o Troféu Jaburu, do Conselho de Cultura do Estado de Goiás, em 1981; e o Troféu Juca Pato da União Brasileira de Escritores (UBE), em 1984. O Juca Pato é um dos mais importantes prêmios literários nacionais, já tendo sido concedido a nomes do porte de Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Sérgio Buarque de Holanda e Carlos Drummond de Andrade. Este último alías, foi quem projetou realmente o nome de Cora em termos nacionais, ao escrever um artigo histórico para o Jornal do Brasil em 1980.

Vida atribulada

As tardias realizações literárias de Cora Coralina são o resultado de uma trajetória pessoal marcada por desafios que teimaram em desviá-la do caminho da criação. Menina adoentada, filha de um pai idoso, que muito cedo a deixara, enfrentou desde cedo a estranheza frente ao seu modo distraído e inquiridor. As irmãs de "Aninha" a chamavam de "inzoneira", por causa do teor de suas fantasias. Era a gênese da escritora.

Em 1910, aos 21 anos, já considerada uma solteirona, começou um relacionamento com o advogado Cantídio Tolentino Bretas, chefe de Polícia de Goiás. Como ele era separado, e a família dela não admitia a união, mudaram-se às escondidas para o interior de São Paulo em 1911. Quinze anos depois, com a morte da primeira esposa, o casamento se realizaria em termos formais.

Cora passou 45 anos em terras paulistas, vivendo inicialmente no interior, em Jaboticabal, e depois na capital. Em 1930, presenciou a chegada de Getúlio Vargas à esquina da rua Direita com a praça do Patriarca. Um de seus três filhos participou da Revolução Constitucionalista de 1932, contrária ao ditador.

Com a morte do marido, em 1934, Cora passou a vender livros como meio de sustentar a família, dando sequência à atividade de microempresária na qual se lançara em Jaboticabal, onde mantivera uma floricultura. Também abriu uma pensão, confiante em seus dotes de cozinheira.

Tempos depois, em Penápolis, voltaria à venda de plantas (mudas de árvores), o que contribuiu para campanhas pró-arborização nas cidades vizinhas, e tocou um comércio de tecidos e aviamentos, segundo informa o site Casa de Coralina. Ainda em Penápolis, ligou-se ao Santuário São Francisco de Assis. Em Andradina ficou conhecida por todos devido à sua ligação com a terra. Dona de um sítio, vendeu hortaliças e lingüiças de porco feitas por ela mesma.

Em 1956, os 67 anos, voltou para a casa velha da ponte, em Goiás. Ali exerceu por muitos anos o ofício de doceira, até que uma queda limitou seus movimentos, obrigando-a a andar com o auxílio de uma muleta. No retorno a Goiás, a superação de outro desafio: aprendeu datilografia, num esforço para não depender de ninguém que fizesse a transcrição de seus textos. Ainda assim, o grosso dessa tarefa acabou destinado a parentes

O mestre

Na casa velha da ponte, hoje um museu, Cora gostava de receber parentes, amigos e visitantes ansiosos por conhecê-la. Além da conversa amigável com a artista, os turistas se serviram de algum doce ou quitute da casa, enquanto ela pôde produzí-los. Uma das frases que gostava de repetir a seus interlocutores: "Todos estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo".

Helena Daltro Pontual e Nelson Oliveira / Agência Senado

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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