Um laudo médico aponta que o jovem José Humberto Pires de Campos Filho, de 22 anos, que sofre com problemas renais e luta na Justiça para ter o direito de não fazer hemodiálise, poderia morrer em questão de dias se não fosse tratado. Ele chegou a ficar 30 dias sem filtrar o sangue, mas, depois que a mãe dele conseguiu na Justiça uma liminar que o obrigou a fazer a terapia, ele fez uma sessão.
Um laudo médico da Clínica de Nefrologia apontou que o jovem corria risco de morrer a qualquer momento se não tivesse feito a hemodiálise. "Há cerca de três meses parou de usar medicações prescritas de uso contínuo, e passou a faltar às sessões de hemodiálise.Paciente com risco iminente de óbito, nos próximos dias", aponta o documento.
A disputa judicial sobre o caso começou quando a mãe, a microempresária Edina Maria Alves Borges, entrou com um pedido para obrigar o filho a seguir no tratamento, mesmo contra a vontade
Com base no laudo médico, o juiz Éder Jorge, da Comarca de Trindade concedeu uma liminar dando à mãe o direito de tomar todas as providências necessárias para garantir o tratamento ao filho, inclusive interna-lo na UTI de um hospital. Mesmo não querendo dar continuidade às sessões, o rapaz concordou em passar por, ao menos, mais uma sessão de hemodiálise.
“Eu não quero forçar um tratamento. Eu quero que ele amadureça. E descubra que a vida é linda e que ele vai achar um monte de pontos positivos na vida, para que ele continue, mesmo com dores", disse a mãe.
José Humberto já passou por 60 sessões de hemodiálises e decidiu parar de fazer o tratamento devido às dores e efeitos colaterais que teve. Ele também reclama que teve de mudar o jeito de viver, alterando sua alimentação e deixando de praticar os esportes que gostava. Com isso, também entrou na Justiça para conseguir o direito a não se tratar. “Eu quero viver a vida assim, do meu estilo, sem precisar fazer o tratamento”, disse o jovem.
O jovem disse que entende todos os riscos de sua decisão, inclusive que a falta da hemodiálise pode leva-lo à morte. “Sim eu sei [do perigo]. Mas se eu sentir que eu preciso voltar ao tratamento, eu vou voltar”, explicou.
O jovem descobriu a doença renal quando morava com o pai nos Estados Unidos. “U dia que eu estava em casa, em pé, vi que os meus pés estavam inchando, aí eu liguei pro meu para falar e ele disse para ir na emergência. Aí eu cheguei lá, eles fizeram os testes, acharam que era droga, mas viram que não era nada disso”, contou.
Depois disso, o rapaz fez um ultrassom que identificou uma bola preta bem no rumo do rim. “Pensaram que era câncer. Foi quando eles pediram para fazer uma biópsia e foi constatado que eu tinha uma doença renal crônica, já avançada”, completou.
Os rins já tinham perdido 75% da capacidade. Diante do diagnóstico, ele retornou para o Brasil e iniciou as sessões de hemodiálise. Durante cinco meses tentou fazer o tratamento, mas desistiu. Nem mesmo a hipótese de um transplante lhe dá esperança. "Para quem quer, talvez dê certo, porque ele pode durar até você morrer. Mas tem vezes que o rim morre bem antes do planejado e você tem que voltar para a hemodiálise", afirma.
Interdição
Na liminar, o juiz Éder Jorge destaca que José Humberto passou por avaliações médicas-psicológicas nas quais foi constatado que ele apresenta "absoluta normalidade" em relação ao fato. Porém, observou-se que o paciente mostra "redução na capacidade decisória", que configura "Transtorno de Ajustamento", caracterizado por sofrimento emocional.
Ainda de acordo com o juiz, diante da enfermidade, ele não é totalmente capaz de agir livremente no caso. Sob essa circunstância, procedeu com a interdição "unicamente para que sua genitora trate dos assuntos relativos à sua saúde e tratamento médico necessário". Além disso, ele fará um acompanhamento psicológico.
O magistrado solicitou, ainda, conforme a assessoria, que a Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO) promova a defesa do rapaz e a apresente em até 15 dias. Após isso, haverá uma perícia, a análise do Ministério Público de Goiás e, finalmente, a sentença.