O São Paulo pode fechar a 29ª rodada do Campeonato Brasileiro apenas uma posição à frente da zona de rebaixamento – enfrenta o Sport nesta quarta-feira, às 21h45 (de Brasília), na ILha do Retiro. Mas o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva prefere olhar para a parte de cima da tabela.
Leco acredita que a equipe tem condições de se recuperar na competição e até brigar por uma vaga para a Libertadores de 2017, agora que a CBF determinou que o G-4 virou G-6 e que, dependendo do resultado da Copa do Brasil, até o sétimo colocado pode estar na competição sul-americana.
O dirigente recebeu as reportagens do GloboEsporte.com e da TV Globo para uma entrevista no estádio do Morumbi na tarde de terça-feira. E, entre diversos assuntos, falou sobre a situação do técnico Ricardo Gomes, negou que tenha havido falha no planejamento de 2016, explicou a saída do diretor executivo Gustavo Vieira de Oliveira e assegurou que gostaria de continuar com Marco Aurélio Cunha no ano que vem. Garantiu ainda a formação de um time forte, capaz de brigar por títulos na próxima temporada.
Confira a primeira parte da entrevista:
GloboEsporte.com – Por que o São Paulo está a quatro pontos da zona de rebaixamento?
Carlos Augusto de Barros e Silva – Em 2013, foi pior. Ficamos em situação difícil duas vezes e conseguimos escapar. Em 2009, com o Ricardo, estávamos muito perto. Infelizmente, os grandes clubes passam por essas situações. Acho que a troca de técnico atrapalhou bastante, não ajudou. O Bauza estando aqui era como tínhamos planejado. A saída dele mexeu com a estrutura emocional de todos. Foi preciso reconstruir. E estamos neste caminho.
Houve alguma falha no planejamento pós-Libertadores?
– Não acredito nisso. Claro que existe aqueles que interpretam de outra maneira. Mas é preciso lembrar os fatos. Eu peguei o São Paulo (em outubro de 2015) com nove jogadores que já tinham saído e quatro que sairiam no final do ano (Rogério Ceni, Luis Fabiano, Alexandre Pato e Edson Silva). Aí eu precisava montar uma equipe e conseguimos, com o trabalho importante do Gustavo (Vieira de Oliveira, ex-diretor executivo), trazer o Mena, o Calleri, o Maicon, o Kelvin. E teve mais gente aí. Teve o Lugano, que é importante, ajuda demais. Se não trago, até hoje estariam pedindo.
Naquela época, não tinha dinheiro para pagar a água, quanto mais contratar jogador. A situação financeira era calamitosa. Passamos por essa reconstrução. Agora estamos fazendo o alongamento das dívidas com os bancos. Vamos deixar de ter uma exigência imediata para pagar em cinco anos. O São Paulo que peguei é muito diferente daquele que eu vou entregar. Não sei se no ano que vem ou em quatro anos (há eleição em abril de 2017, e Leco pode concorrer à reeleição). O planejamento é composto de várias coisas.
No início do ano, a campanha na Libertadores deu um ânimo a todos, mas eu preciso prestar atenção em tudo. Reformamos o gramado do Morumbi, cuidamos de aspectos que estavam parados há muito tempo. E isso custa. O futebol está dentro disso, mas não posso desconsiderar todo o resto. Não é só simplesmente montar um time de futebol. O futebol é o que mexe comigo, eu quero montar um grande time e vou fazer isso no ano que vem.
Por que o Gustavo Vieira de Oliveira foi demitido?
– Ele saiu porque o São Paulo quis, foi uma decisão em conjunto do departamento de futebol. Porque ele sofreu, ao longo dos tempo, um crescente desgaste. Ele é um profissional sério, competente, qualificado, mas que vinha sofrendo desgaste. É preciso ter sempre um bode expiatório. Enquanto o time estava bem na Libertadores, nós chegamos na semifinal, tudo estava bem. De repente, começamos a descer um pouco a escada, e o time passou a ser rebaixado.
Sempre precisa ter culpados. Todos cometem acertos e equívocos. Digo com perfeito conforto, mas não foi justa a campanha que se desenvolveu contra ele. E pior que foi movida e motivada por propósitos subalternos de algumas pessoas que ficam inflamando conselheiros da oposição. É uma minoria que se movimenta, principalmente nas redes sociais. É fácil ficar falando mal dos outros. Se não tem motivo, inventa. O pior é que isso tem patrocínio externo, que não contribui para o engrandecimento do São Paulo para que o clube tenha tranquilidade.
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A contratação do Ricardo Gomes foi algo feito com 100% de convicção ou foi uma necessidade de momento? Além disso, ele será o técnico no início de 2017?
– Sobre
a última pergunta, tenho que dizer que é, não cometeria o equívoco de dizer que
não. É minha intenção que ele obtenha resultados que tornem tranquila a decisão
de que ele siga como nosso treinador em 2017. Por que escolhi o Ricardo? Quando
você formula essa pergunta, precisa analisar vários aspectos. Naquele
momento, a circunstância era dificílima
quanto à escolha, a não ser que pensasse em alguém que não estivesse empregado
e confesso que nada me atraiu. Naquele momento, era a melhor opção.
Tenho enorme admiração pelo Ricardo por tudo que ele fez na sua
primeira passagem, entre o meio de 2009 e o meio de 2010, quando fui vice-presidente de
futebol. O Ricardo é uma pessoa correta, íntegra, gosto disso. É
competente, isso é indiscutível. Ele chegou no meio de 2009, o time estava em
16º no Brasileiro, e fomos jogar a Libertadores de 2010. Isso é competência. Um homem
que tem histórico como jogador e como treinador. No PSG, no Bordeaux, no
Monaco, no Vasco, como dirigente quando estava na sua recuperação (de um AVC), e no Botafogo.
São referências que nos convenceram.
Apesar de reconhecer a competência do
André Jardine (treinador do sub-20), era temerário conduzi-lo à condição de técnico do time principal. Eu perderia no profissional e na base em algum tempo. Isso foi observado. A coisa foi tratada com muita
lealdade.
O fato da rejeição do torcedor ser enorme ao trabalho dele muda alguma coisa?
– A rejeição é maior que a aprovação? Eu lamento. O que não admito é que teve gente que falou até da dificuldade física dele, o que é inconcebível. Antes de vir,
ele disse que teria determinados segmentos que não iriam gostar,
mas eu tenho de conviver e enfrentar. Senão vou pra casa e fico vendo
televisão. E assim se passa com ele. Mesmo nesse ponto, o Ricardo se comporta com
grandeza. É o momento. Se nós sairmos da situação em que estamos na tabela e
ascendermos até uma condição de disputar um torneio sul-americano, as coisas
mudam, tenho certeza.
Você falou em montar um grande time para 2017. Existe
dinheiro para isso?
– Existem formas de fazer e quero fazer um grande time com a
base boa que eu já tenho na equipe atual. Haverá mudanças para o ano que vem, faremos uma reformulação que já está sendo planejada. Além dos reforços, temos a ascensão de
garotos da base. Tem o Luiz Araújo, o Lyanco, o Lucas Fernandes, o David
Neres... São quatro jogadores que são da maior qualidade e que serão nomes do ano
que vem. Mas sem dúvida precisaremos trazer outros nomes.
Lucas
Pratto é um nome que agrada?
– Muito.
É um grande centroavante. Agradava especialmente ao Bauza, que inclusive o
convocou para a seleção argentina.
Existe
um namoro?
– Existiu
já, hoje acredito que é uma situação difícil. Existiu um namoro a partir do
momento em que o Daniel (Nepomuceno, presidente do Atlético-MG), desesperado
com a demanda financeira que tem, que é um absurdo, meio que acenou a figuras
do mercado com a perspectiva de que poderia negociar qualquer jogador. Acho que as
coisas foram se resolvendo. Na verdade, ele desenvolveu um projeto de ser campeão de alguma
coisa e corre o risco de não ser campeão de nada, já que nem campeão mineiro
foi. Investiu muito. Acho difícil o mesmo time ter o Fred e o Pratto. Se um deles quiser jogar no São Paulo e for compatível com a nossa situação, será bem-vindo.
A montagem de um grande time que você falou acima passa por jogadores dessa qualidade?
– Sem
dúvida. É desse tamanho que eu quero.
Você
será cobrado pelo que está falando.
– Sei
disso. É uma grande responsabilidade, mas estamos planejando tudo para isso. Não
vou dizer que será o Prato ou o Fred, mas é gente desse nível.
Essa reformulação para 2017 será feita pelo Marco Aurélio Cunha? Você conta com ele na direção executiva para o ano que vem?
– Conto
com ele totalmente. Se eu quiser que ele fique no São Paulo,
ele vai continuar, a CBF vai liberar, tenho certeza (o acordo inicial com o diretor de futebol feminino da CBF vai até dezembro). O Marco tem história, tem vivência no futebol, tem vivência no São Paulo. Ele é um
homem de total integridade, corretíssimo, em que você pode confiar totalmente.
Ele tem ótima relação com os atletas. Houve momentos em que ele era padrinho
de casamento de oito jogadores do São Paulo. Ele sempre se relacionou bem, todo mundo gosta
dele, é correto. Era o nome para o momento.