Policial que salvou Neto quer visitá-lo: "Foi guerreiro, lutou por 10h pela vida"

Subtenente Marlon Lengua se emociona ao lembrar de busca e quer conhecê-lo. Comandante conta que um dos resgatados morreu depois de carregado por 15 metros

Vicente Seda, em Medellín

O grito de socorro de Neto ao amanhecer. O sobrevivente que terminou falecendo metros depois de ser carregado pelas equipes de resgate. O drama da tragédia da Chapecoense marcou as buscas colombianas. Comandante da Polícia de Antióquia, o coronel Wilson Pardo, relatou detalhes da busca que teve a participação de mais de 500 soldados de toda a corporação na tragédia de Medellín. O coronel revelou que todas as pessoas que saíram com vida estavam na parte de trás da aeronave. Muito emocionado, o subtenente Marlon Lengua salvou o zagueiro Neto quando as buscas estavam suspensas. Ele quer conhecer o jogador, que ainda se recupera em Medellín e vai passar por cirurgia nas pernas.

- Quando escutei os primeiros ruídos e percebi que era uma pessoa (Neto). Nossa, o meu coração viveu uma emoção, uma mescla de sentimentos. Quando todos davam como perdido. ele foi um guerreiro, lutou por mais de 10h pela vida - disse, muito emocionado e ainda com as botas sujas de lama, o subtenente Marlon Lengua.  

Subtenente estava muito emocionado: ele encontrou Neto após horas de busca (Foto: Vicente Seda / GloboEsporte.com)

A Polícia nacional da Colômbia foi a primeira a chegar ao local, contou o comandante da Polícia Nacional. Eram 20 policiais no princípio, que foram chamados por um soldado que mora próximo da região e ouviu o estrondo do avião. Apesar da escuridão, eles conseguiram resgatar as primeiras cinco pessoas com vida.

A morte metros depois do resgate

No peito do subtenente, um broche da CBF e o luto pela tragédia (Foto: Vicente Seda / GloboEsporte.com)

Marlon Lengua encontrou Neto quando todos socorristas já haviam deixado o local, encerrando as buscas para retornarem nas primeiras horas do amanhecer. Muito emocionado, ele usava um broche com o símbolo da seleção brasileira e uma peça de luto. Ele comprou o adereço em Medellín.

- Quando terminamos a busca, os bombeiros se retiraram dizendo que não encontrariam mais corpos com vida. Socorristas disseram o mesmo. Únicos que ficamos fomos nós da Polícia Nacional, devido ao nosso compromisso e dever. Tentamos até 9 horas da manhã de hoje (quarta-feira). Eles se retiraram 2 horas da manhã, horário da Colômbia. Passadas horas depois encontramos o último sobrevivente, o Neto. Eu o escutei. Falei com meus companheiros para saber que não era impressão minha. Ele se queixava, gritava. Se manifestava a cada dois minutos. Isso quando já não havia mais esperanças nenhuma de socorristas e bombeiros - disse o subtenente da Polícia Nacional colombiana, que relatava o ocorrido muito emocionado.

Torcedor do Junior Barranquilla, Marlon disse que foi o trabalho mais traumático da vida dele.

- Não é fácil uma pessoa como polícia e como ser humano que gosta de futebol chegar e encontrar jogadores mortos, alguns desmembrados. Ver bolas, camisas... É algo realmente traumatizante. É a primeira tragédia desta dimensão que trabalho - contou o subtenente.

Outro relato que impressiona é do comandante da Polícia Nacional. Um dos socorridos, que ele não soube precisar o nome - mas lembrou apenas de Andre Luis -, já era levado com vida para ser encaminhado ao hospital mais próximo, mas não resistiu.

- Escutamos sinais vitais dele, acho que se chama Andre Luis. Andamos 15 metros com os socorristas e terminou falecendo, infelizmente - contou o coronel Wilson Pardo.

Coronel Wilson Pardo, comandante da Polícia de Antioquia, comandou 500 policiais nas buscas (Foto: Vicente Seda)