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Folha de S.Paulo

Sistema inédito nas eleições dos EUA projeta voto antes de urna fechar


Pela primeira vez na história recente das eleições americanas, foram divulgadas projeções de votação antes do fechamento das urnas. O Votecastr, mecanismo para projetar votos em tempo real, dizia no meio da tarde de terça (8) que a democrata Hilary Clinton estava na frente em estados importantes como Flórida, Ohio e Colorado.

O Votecastr começou a divulgar projeções sobre cada Estado às 11h, baseadas em um modelo que usa porcentagem de comparecimento em locais chave de votação com pesquisas eleitorais realizadas até o dia 7. Com isso, ao longo do dia, o sistema soltava quantos prováveis eleitores de cada candidato haviam votado e quem, portanto, estaria ganhando naquele momento.

Investidores afirmaram que os dados da Votecastr haviam levado a uma alta na Bolsa –o mercado acha que Hillary trará mais estabilidade à economia.

Mas havia dúvidas em relação à exatidão das projeções e o mecanismo enfrentou alguns problemas.

A divulgação dos dados foi lenta, porque houve problemas na transmissão dos resultados para o Slate, e as informações sobre comparecimento de eleitores vieram de forma mais devagar que o esperado, segundo informou o Votecastr.

O mecanismo usou dados errados em seus resultados do Estado de Nevada, que foram corrigidos posteriormente. Pesquisadores apontavam também que o mecanismo não conseguia captar as variações de volume de eleitores votando nos diferentes horários, o que mudaria as projeções.

É bom lembrar que nem as pesquisas de boca de urna são 100% confiáveis –em 2004, vários veículos de mídia anunciaram equivocadamente a vitória de John Kerry sobre George W Bush, baseados em dados de boca de urna.

Alguns analistas criticaram a iniciativa, porque teriam o potencial de afetar o resultado das urnas, ao influenciar os eleitores. Em 1980, o ex-presidente Jimmy Carter teria sido prejudicado quando as TVs noticiaram resultados parciais na costa leste que favoreciam o republicano Ronald Reagan.

Por isso, tradicionalmente, representantes de um consórcio de veículos de mídia (Associated Press, ABC News, CBS News, CNN, Fox News e NBC News) ficam fechados em uma sala isolada, sem internet ou celular, acompanhando as pesquisas de boca de urna, mas sem divulgar nada antes de as urnas fecharem, às 17h.

O temor é que, ao ver um dos candidatos muito à frente, eleitores desistam de votar. O estrategista-chefe do Votecastr disse à Folha que discorda da crítica. "Pode até ser positivo e aumentar a motivação das pessoas para votar, ao verem que está bastante competitivo", disse Sasha Issenberg.

"Havia um acordo de cavalheiros entre as agências de notícias e as TVs, que decidiam de forma paternalista o que era melhor para o país. Nós achamos que os cidadãos podem ser confiados com esse tipo de informação", afirmou.

O Votecastr é uma startup de ex-integrantes do governo Obama e Bush Filho e fez uma parceria com a Slate e a Vice News para divulgação.