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Folha de S.Paulo

Lula e Mantega pediram ajuda para 'Carta Capital', dizem delatores


Emílio Odebrecht e seu filho, Marcelo Odebrecht, disseram em depoimentos que receberam pedidos para ajudar a revista "Carta Capital" e que o grupo aceitou fazer um empréstimo de R$ 3 milhões à publicação.

O montante foi providenciado pelo setor de operações estruturadas, que cuidava do pagamento de propina e de recursos de caixa dois do grupo. Pelo relato dos delatores, não foi um empréstimo formal.

Emílio afirma que recebeu um pedido de Lula para ajudar a publicação, enquanto Marcelo diz que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega fez a mesma solicitação a ele. Segundo os delatores da Odebrecht, a dívida foi paga com espaço publicitário na revista.

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e relator da Lava Jato, Edson Fachin, decidiu enviar o caso para procuradores de São Paulo apurarem se há alguma ilegalidade no empréstimo.

A editora da "Carta Capital" diz em nota que, entre 2007 e 2009, a Odebrecht fez um adiantamento de publicidade no valor total de R$ 3,5 milhões à revista e diz tratar-se de uma operação normal no mercado, que não foi intermediada por ninguém.

"Naquele momento, a revista procurou vários anunciantes em busca de um reforço de caixa. O adiantamento foi negociado diretamente com a empresa por Mino Carta e Luiz Gonzaga Belluzzo, sócios da Editora Confiança, que edita a revista Carta Capital. Não houve interferência de ninguém a nosso favor."

Ainda segundo a nota, "o adiantamento foi pago da forma tradicional: por meio de anúncios e patrocínios de eventos".

A revista afirma que "não sabe e não tem obrigação de saber de onde vieram os recursos do adiantamento da verba de publicidade. Não existe carimbo em dinheiro e trata-se de má-fé acreditar que o investimento na revista saiu de um departamento de propina e o aplicado nos demais meios de comunicação tem origem lícita".

O Instituto Lula afirmou que o ex-presidente "não tem conhecimento do depoimento e não vai se manifestar".

O advogado José Roberto Batochio, que defende Mantega, diz que os depoimentos não são críveis porque contêm uma contradição. "Quem é que pediu a contribuição? É Jesus ou é Genésio. Um dos dois está enganado. O Lula e o Mantega sempre negaram que fizeram esse pedido".

O ministro Edson Fachin determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer (PMDB), 24 senadores e 39 deputados federais. Serão abertas 76 investigações pedidas pela Procuradoria-Geral da República após as delações da Odebrecht.

Entre os citados estão os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Dois dos principais aliados de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secreraria-Geral), também estão na lista, que abrange ainda os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, do PMDB, e Aécio Neves (PSDB).

No total a relação tem 98 nomes e inclui três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União. Algumas suspeitas da Procuradoria são corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, fraude e cartel. Fachin remeteu 201 outros casos a tribunais de instâncias inferiores envolvendo citados sem foro no Supremo –entre os mencionados estão os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.

Os inquéritos iniciam longo trâmite. Investigarão o teor das delações, que precisarão de provas adicionais para tornar-se efetivas. Ainda há as fases de denúncia e do processo, com ampla defesa, antes do julgamento.