STF declara Sport campeão brasileiro de 1987

Flamengo reivindicava o título do Campeonato Brasileiro
Time do Flamengo que venceu a Copa União de 1987 Foto: Arquivo O Globo

BRASÍLIA – Não foi uma partida de futebol e teve até ares de discussão de botequim, mas, ao final, pelo placar de 3 a 1, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou o Sport como campeão brasileiro de 1987. A maioria dos cinco ministros da mais alta corte do país — à qual se atribui a defesa da Constituição e o enfrentamento de uma congestionadíssima fila de processos vitais para o país— indeferiu o recurso do Flamengo que se baseava em decisão de 2011 da Confederação Brasileira de Futebol — posteriormente cancelada pela própria CBF. O clube carioca tentava dar chancela jurídica ao título da Copa União, obtido sobre o Internacional. Com isso, o Sport permanece, do ponto de vista jurídico, como o único vencedor de 1987, conforme sentença de 1989 confirmada no Superior Tribunal de Justiça. Do ponto de vista esportivo, O GLOBO respeita a decisão do STF, mas continuará tratando os dois como campeões.

O relator Marco Aurélio Mello, flamenguista declarado, votou contra o time do coração quando o julgamento começou, em agosto de 2016. Defendeu que a declaração tardia da CBF não tinha validade; o Judiciário havia definido a questão.

Quando o tema voltou ao colegiado ontem, ouviam-se fogos de artifício nas proximidades do tribunal. Marco Aurélio foi logo anunciando que tem como toque do telefone celular o hino do Flamengo, e que “não gostaria de trocar o som” depois do julgamento, a depender do resultado.

Luís Roberto Barroso, também torcedor do Flamengo, votou pelo compartilhamento do título entre os dois clubes, uma vez que não via as duas decisões, a da CBF e a da Justiça comum, como incompatíveis. Mas Alexandre de Moraes e Rosa Weber concordaram com o relator, encerrando a polêmica de três décadas — ao menos juridicamente. A decisão ainda pode ser contestada no STF, mas a chance de reversão é praticamente nula.

Em 1987, a CBF não organizou o torneio, alegando falta de recursos. Os principais clubes do país se uniram no extinto Clube dos 13 e criaram a Copa União, com as agremiações mais bem colocadas do ranking da entidade — o que alijou Guarani, vice-campeão de 1986, entre outros que jogaram a elite. Para os insatisfeitos, a CBF organizou outro campeonato, que se tornaria o Módulo Amarelo, com os clubes que correspondiam à segunda divisão. E fez aprovar a regra que criou um racha no Clube dos 13, segundo a qual os dois primeiros colocados da elite — rebatizada Módulo Verde — deveriam disputar um quadrangular final com campeão e o vice do Amarelo — cuja final entre Sport e Guarani terminou empatada nos pênaltis em 11 a 11.

PAIXÕES TOGADAS

Flamengo e Internacional, campeão e vice do módulo da elite, não aceitaram a mudança da regra e, por isso, se recusaram a disputar a fase quadrangular. Apenas Sport e Guarani jogaram entre si, com vantagem para os pernambucanos na final, vencida por 1 a 0.

O julgamento no STF despertou paixões não apenas entre os torcedores, mas também entre os ministros — que quebraram o gelo formal da corte. Diante da declaração de Marco Aurélio de que o Flamengo tem a maior torcida do país, o paulista Alexandre de Moraes se revelou corintiano e protestou:

— Fica aqui registrada minha divergência! — brincou.

Moraes também resolveu intervir quando Marco Aurélio e Barroso discutiam a questão já de forma prolongada:

— Se fosse um corintiano e um palmeirense, nós sairíamos daqui só amanhã.

“'Prevaleceu o lógico, a força do direito'”

Arnaldo Barros, presidente do Sport
Sobre a vitória do clube no STF

Único a insistir no compartilhamento do título, Barroso ainda fez referência ao velho apelido da Justiça Desportiva:

— Não é tapetão desportivo, nós estamos falando do tapetão do STF para decidir um título de um campeonato de futebol. Essa é uma decisão fundada em mérito desportivo, uma decisão técnica da CBF — argumentou, em vão.

Até a discreta Rosa Weber se declarou:

— Se pudesse definir com o meu voto o campeão brasileiro de 1987, eu estaria declarando o Internacional, e não estaria com a tristeza na alma de estar na segunda divisão — lamentou a gaúcha.

PRESIDENTE DO SPORT COMEMORA

Ao fim do julgamento, com empolgação bem menor que a de um narrador esportivo, o presidente do colegiado, Marco Aurélio, declarou a vitória do Sport.

— Estou com a alma estilhaçada pela decisão desse turma, como milhões de brasileiros — declarou Barroso, rindo.

Presidente do clube pernambucano, Arnaldo Barros comemorou a vitória:

- Prevaleceu o lógico, a força do direito, porque o que o Flamengo fez, durante todos esses anos, foi se insurgir contra a garantia constitucional da coisa julgada, que é uma garantia da sociedade brasileira que aquilo que foi decidido em última instância.

 O Flamengo se manifestou anunciando que aguardará a publicação da decisão para avaliar se caberá novo recurso. Nas redes sociais, o clube publicou uma foto do time de 87, com o texto "Campeão Brasileiro de 1987". Já o Sport fez festa em suas redes sociais.