Ceci Cunha: o crime político ‘clássico’

Cléia dos Santos de Oliveira, irmã da deputada assassinada, considera o ato ‘uma covardia’ e o julgamento do caso ‘um divisor de águas’

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Por Redação
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O assassinato de uma autoridade pelo suplente é o crime político mais "clássico" e "puro" das disputas pelo poder. Rixas pessoais e interesses econômicos não costumam ser as principais causas que motivam o homicídio. A execução é encomendada para abrir uma vaga no Executivo ou no Legislativo. A morte da deputada federal eleita Ceci Cunha (PSDB), em Maceió, no início da noite de 16 de dezembro de 1998, foi a mais célebre do gênero nos últimos anos. Ela e três parentes foram assassinados horas depois da diplomação. A polícia não demorou em apontar o primeiro suplente, Pedro Talvane Gama de Albuquerque Neto, do PFL, como autor intelectual da chacina. Médica em Arapiraca, no agreste alagoano, Ceci foi eleita com 55 mil votos, a terceira maior votação. Albuquerque Neto recebeu 24 mil. Ele não se conformou com o resultado e decidiu matar um deputado eleito pela sua coligação. A primeira opção foi Augusto Farias, um político que era alvo de muitos grupos. Farias, no entanto, foi informado do plano por um pistoleiro. Albuquerque, então, resolveu matar Ceci. Ele mal a conhecia. Nunca tiveram divergências política ou pessoal. Após a diplomação no Fórum de Maceió, Ceci e o marido, Juvenal Cunha da Silva, foram para a casa da mãe dele, Ítala Neyde Maranhão, no bairro Gruta de Lourdes, na capital alagoana. Um carro escuro os seguiu. O casal entrou na residência e iniciou, na varanda, uma discreta comemoração com Ítala e Iran Carlos Maranhão Pureza, irmão de Juvenal. Poucos minutos depois, três homens armados entraram na casa. Eles dispararam contra Ítala, confundida com a deputada. Sentada numa cadeira, Ceci foi morta em seguida com uma rajada de metralhadora de cima para baixo. Juvenal e Iran também foram assassinados. Uma parente de Ítala que estava na sala ouviu os diálogos dos matadores.Na época, tabelas de preços de serviços de pistoleiros eram divulgadas em Maceió. O assassinato de um vereador no interior custava de R$ 3 mil. A morte de um deputado federal valia até R$ 100 mil.Investigado como principal suspeito de ser o mandante da chacina, Albuquerque Neto tomou posse na Câmara em janeiro de 1999. No começo de abril, foi cassado por quebra de decoro. Em 2012, a Justiça o condenou a 103 anos e quatro meses de prisão. Os três executores do crime receberam penas que totalizaram 371 anos. Um deles, Alécio César Alves, não chegou a cumprir 86 anos de detenção. Morreu supostamente de infarto semanas após o julgamento.A advogada Cléia Santos de Oliveira, irmã de Ceci, avalia que o julgamento dos acusados foi um "divisor de águas" em Alagoas. "A palavra que sintetiza a morte da minha irmã é covardia", diz.O desfecho jurídico do caso Ceci Cunha costuma não ocorrer com frequência nem mesmo nas principais cidades do País. No Rio de Janeiro, a família do deputado estadual Valdeci Paiva de Jesus (PSL), pastor da Igreja Universal, fuzilado na capital carioca, espera há dez anos uma posição da Justiça. Ele chegava à sede do partido. em Benfica, Zona Norte do Rio, na manhã de 19 de janeiro de 2003, num Passat azul, quando foi abordado por quatro homens num Palio branco. Os homens disparam pistolas calibre 380 e 9 milímetros no parlamentar, acertando 19 tiros no tórax, na face esquerda e no punho esquerdo. Socorrido, Valdeci chegou morto ao Hospital do Exército, em Inhaúma.A polícia indiciou o suplente do parlamentar, o ex-cabo da Polícia Militar Marcos Abrahão (PSL) pela suposta autoria do crime. O então deputado federal Carlos Alberto Rodrigues (PL-RJ), também da Universal, chegou a ser citado no inquérito, mas depois teve o nome retirado das investigações. Naqueles dias, Rodrigues e Valdeci trocaram ofensas e acusações de apropriação de dinheiro da igreja e dos partidos. Valdeci teria chamado Rodrigues de "ditador".A Assembleia do Rio cassou o mandato de Abrahão. O parlamentar, no entanto, conseguiu no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal decisão para permanecer no cargo. Os tribunais avaliaram que a votação aberta para cassar o mandato dele era inconstitucional. Não saiu mais do Palácio Tiradentes. Em 2006, Abrahão foi reeleito com 36 mil votos. Ele ainda ganhou mais um mandato, agora pelo PT do B, com 52 mil votos.

 

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