coluna no Globo

Risco Bolsonaro

(* A colunista volta na próxima semana)


A alta do dólar ontem após a divulgação de uma pesquisa eleitoral reforça o que muita gente comenta no mercado financeiro. O candidato Jair Bolsonaro, líder nas intenções de voto na ausência do ex-presidente Lula, não é visto como um político capaz de tocar a agenda de reformas. Não só pelo seu histórico de votações no Congresso, mas pela pouca capacidade de diálogo. Por isso, explica Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria e especialista em câmbio, o cenário para o dólar no país é binário: a moeda deve disparar ou voltar para próximo de R$ 3,00. Tudo dependerá das eleições.


Encontro marcado

Nathan avalia que o mercado financeiro dará mais dois meses de trégua para que algo mude no cenário eleitoral. Se não acontecer, o dólar poderá romper a casa de R$ 4,00 justamente quando haverá o primeiro reajuste do diesel programado pelo governo Temer. “O que temos hoje são duas candidaturas populistas liderando as pesquisas. Uma de direita, outra de esquerda. O mercado de câmbio oscila em função disso, por causa da forte crise fiscal. Há pouca relação com os fundamentos do mercado de câmbio porque o país tem reservas de US$ 380 bilhões, baixo déficit em conta-corrente e fluxo cambial positivo”, explicou.


Âncora cambial

A saída de Pedro Parente da Petrobras também deixou o mercado mais sensível. Isso porque a equipe econômica do presidente Temer ficou enfraquecida e aumentou o risco fiscal com novos subsídios aos combustíveis. Hoje, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, é visto como uma âncora cambial do país, após as saídas de Meirelles, Parente e Maria Silvia Bastos. Nathan diz que “não dá nem para pensar” no que poderia acontecer com o dólar em caso de saída de Goldfajn.


Ritmo da indústria

A alta de 0,8% na indústria em abril foi melhor que o esperado, mas o desempenho de maio é incerto. Os setores que mais se destacaram em abril, petróleo e automotivo, foram também os mais afetados pela greve, em maio. A paralisação dos caminhoneiros interrompeu o acesso a refinarias. No caso das fabricantes de veículos, há a crise cambial na Argentina. Já se sabe que em maio as exportações para lá recuaram 15,4% na comparação com 2017, com queda nas vendas de automóveis, veículos de carga e autopeças. No ano, mais da metade dos embarques para o país são de itens relacionados ao setor automobilístico. No início de maio, o governo argentino aumentou os juros para 40%.


Longe do pico

Na comparação com abril de 2017, a produção da indústria saltou 8,9%. Mesmo com o avanço mais forte, o setor ainda está 14,6% abaixo do melhor momento, registrado em maio de 2011.

OTIMISMO. O Banco Mundial manteve em 2,4% a projeção de crescimento do Brasil no ano, liderando o grupo dos otimistas.

(COM MARCELO LOUREIRO)

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