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Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana

Os pratos coloridos e aromáticos são fruto de longa pesquisa da cultura e ancestralidade africanas

Por Texto: Marina Marques | Fotos: Bruno Geraldi | Produção: Florise Oliveira | Concepção visual: Lorena Baroni Bósio
Atualizado em 17 fev 2020, 11h29 - Publicado em 20 nov 2019, 12h13
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  • É fácil saber quando Aline Chermoula está cozinhando. O aroma do cravo, da canela e de pimentas perfumadas preenche a casa, aguçando o apetite dos convidados e aumentando a ansiedade pela hora de sentar-se à mesa. O ritual já é conhecido entre os amigos e familiares da chef de 35 anos.

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    Nascida em Feira de Santana, na Bahia, Aline se mudou com os pais para São Paulo com apenas 1 ano. Aos 16, iniciou-se na culinária numa rede de fast-food, seu primeiro emprego com carteira assinada. Depois, passou por bares, restaurante por quilo e também bufê. Aos 23, totalmente encantada pela área, decidiu cursar gastronomia. Logo assumiu como sous chef do Bourbon Street, casa de shows inspirada na cultura de Nova Orleans, nos Estados Unidos.

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    Formada também em história, Aline aliou a profissão à pesquisa. Foi investigar a diáspora africana, a imigração forçada da população da África Ocidental para países da América para ser escravizada. “Minha culinária é a expressão de uma cozinha de resistência. Passei a pesquisar sobre países como Nigéria e Angola e vi que a mistura de ingredientes era a principal marca dos pratos”, conta.

    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    Notou, então, a semelhança com a cozinha brasileira. “Percebi um elo. E não é mera coincidência. Apesar de a culinária africana não ter sido dominante devido à cultura colonial, ela deixou suas marcas enraizadas não só no Brasil como no Haiti, na Venezuela, em Cuba, Porto Rico, Trinidad e Nova Orleans”, explica.

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    Aline aprofundou-se na cultura negra buscando vestígios históricos de seus antepassados na alimentação. “Compreendi que comida é cultura”, afirma. Chermoula, inclusive, o sobrenome que aderiu por paixão, é um molho muito utilizado no norte da África. Quando ele surgiu em suas pesquisas, o coração até bateu mais forte. A receita leva cravo, coentro, salsa e ervas, que são a base da culinária da chef. Versátil, essa marinada intensifica o sabor de peixes, carnes e até mesmo de legumes e verduras. É muito importante no preparo de vários dos pratos dela. Aline já viu gente usando também para complementar o acarajé.

    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    Vaso alto, Hideko Honma Atelier de Cerâmica; vaso redondo, Olaria Paulistana; prato azul, bowl branco e prato vermelho, Ateliê de Cerâmica Nelise Ometto; toalha, Studio Bergamin; copos, Camicado; frigideira, Utilplast (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    “Só por esse molho ser um componente essencial da minha culinária, já seria motivo suficiente para adotar o sobrenome Chermoula. Mas, antes que eu pensasse nisso, meus clientes deram sua participação e acabaram me apelidando com esse nome”, lembra a chef, bem-humorada.

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    Sabor e história

    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    Cleusa (com camisa florida), mãe e fã assumida da chef desde
    o começo, faz questão de declarar o orgulho que tem da filha. À mesa, ao lado dela,
    Elisangela Teixeira (de turbante), que conheceu Aline nos tempos de cursinho pré-vestibular (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    Casada com Luis Felipe, e mãe de Pedro, 3 anos, e Maria Luiza Aimée, 2, Aline colhe hoje os frutos da realização de um sonho: lançar a própria marca. Com a Chermoula Cultura Culinária, criada em 2006, a chef oferece seu menu autoral em eventos especiais. “Amo cozinhar para os amigos e a família, mas gosto mesmo é de preparar os pratos na casa das pessoas. Elas recebem o gesto como um presente. E isso resgata meu propósito, que é tratar a cozinha como poesia; é um ato de empatia”, conta.

    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    Aline com o marido, Luis Felipe (no centro), e o amigo Jonathan Maia. Vaso marrom, Hideko Honma Atelier de Cerâmica; pratos, Quintal das Artes; talheres, Utilplast; taças, OpenBox2; descanso de talher, Olaria Paulistana; guardanapo, Camicado (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    Este almoço, foi servido em uma tarde ensolarada na Casa Azul, em São Paulo. No banquete, não poderiam faltar o famoso jambalaya – tipo de paella, comum em Nova Orleans, que mistura carne, pimentão e camarão –, o gumbo, prato com quiabo, e a cachupa, ensopado típico de Cabo Verde. “São os mais pedidos!”, entrega ela.

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    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    Aline (ao lado, com faixa laranja no cabelo) convidou para o almoço a família e amigos que acompanharam sua trajetória na carreira (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    Além de conquistar pelo sabor, seu trabalho contribui para a derrubada de alguns mitos sobre essa culinária. “Ouço muito falar que azeite de dendê é forte, que coentro é forte. Temos que mudar o conceito de que comida africana e baiana são pesadas. Forte em que sentido? No sentido de fortalecer quem come? Sim, muito.”

    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    Cestas, Cestarias Regio; bowl maior, Muriqui Cerâmica; copo, Camicado; taça à frente, M. Dragonetti; prato fundo com gumbo, Olaria Paulistana; prato verde, Hideko Honma Atelier de Cerâmica (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    Delicadeza exótica

    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    Também participou do almoço Ana Minuto (de amarelo), coach e amiga de Aline (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    A mesa tinha que combinar com a intensidade e força dos pratos. Por isso, as decoradoras Marília Pelissari e Cristiane Britto (@vemfestaporai) apostaram em arranjos coloridos, com plantas que fugissem ao óbvio, como a exuberante prótea (à esquerda), nativa da África do Sul. Uma das mais antigas do mundo, sua flor representa mudança, diversidade, coragem e transformação. “Montamos também arranjos menores, que pudessem ser movidos na hora de acomodar os pratos e travessas na mesa”, explica Marília.

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    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    “Na escolha das louças, demos preferência a peças com visual artesanal, como cerâmicas feitas à mão. A ideia era que nenhum prato fosse igual ao outro”, acrescenta. O final do banquete foi adoçado com sobremesas afetivas para a chef. O docinho africano, originalmente feito com miolo de pão, ganhou uma versão mais prática com recheio de doce de leite em cubos. Já o bolinho de estudante, típico da Bahia, onde é vendido em tabuleiros, leva goma de tapioca hidratada e é envolto em canela com açúcar. “O ideal é servi-lo quentinho. Vai muito bem com café”, indica Aline.

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    Confira 6 receitas da chef Aline Chermoula: 

    1. Chermoula

    Pronto em 1 hora + tempo de descanso | Rende 6 porções

    Ingredientes:

    Modo de preparo: Em uma tigela pequena, misture 1/4 de xícara de água quente e uma pitada de açafrão. Deixe descansar por dez minutos para liberar o aroma. Em uma panela pequena, aqueça o óleo de canola em fogo médio e refogue o alho por 30 segundos. Junte a pimenta ancho, o coentro em pó, o cominho e a pimenta-do- -reino e refogue por mais um minuto. Adicione o açafrão e retire do fogo. Transfira para uma tigela e misture o azeite e as raspas e o suco de limão. Acrescente o pimentão, o tomate, a hortelã e o coentro fresco. Cubra a tigela, deixe descansar em temperatura ambiente por pelo menos 30 minutos e sirva.

    2. Gumbo

    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    Pronto em 1 hora e 30 minutos | Rende 6 Porções

    Ingredientes:

    Modo de preparo: Em uma panela grande, aqueça metade da manteiga e refogue o frango. Junte o tempero cajun e mantenha no fogo, mexendo, até que o frango fique ligeiramente dourado. Retire e reserve. Na mesma panela, aqueça o restante da manteiga e refogue os pimentões, o salsão, a cebola, o alho e as folhas de louro. Junte o chouriço e misture. Adicione a farinha de trigo aos poucos, mexendo, até incorporá-la bem. Deixe cozinhar por cerca de cinco minutos ou até começar a soltar do fundo da panela. Acrescente o tomate pelado e o caldo de galinha. Misture e deixe ferver. Junte o frango reservado e tempere com sal e pimenta. Tampe e deixe cozinhar por cerca de 30 minutos. Adicione o quiabo e cozinhe por mais cinco minutos. Retire do fogo e finalize com o tomilho e cebolinha picada. Sirva acompanhado de arroz branco.

    3. Cachupa

    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    Pronto em 1 hora e 30 minutos | Rende 6 Porções

    Ingredientes:

    Modo de preparo: Em uma tigela, junte a carne, o bacon, o pé de porco e os chouriços. Tempere com sal, pimenta-do-reino e o alho e reserve. Na panela de pressão, cubra com água os grãos de milho, o feijão e o grão-de-bico. Junte a cebola picada, um fio de azeite, as folhas de louro e sal a gosto, tampe e cozinhe por 30 minutos. Espere sair toda a pressão antes de abrir a panela. Transfira os grãos para uma panela maior, cubra com água e leve ao fogo até ferver. Acrescente as carnes temperadas e cozinhe até que fiquem macias. Junte a batata, a batata-doce, a couve e a mandioca. Terminado o cozimento, deixe repousar por alguns minutos e sirva. A cachupa deve ficar um pouco líquida.

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    4. Jambalaya

    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    Pronto em 1 hora e 30 minutos | Rende 6 Porções

    Ingredientes:

    Modo de preparo: Em uma panela, aqueça o óleo e frite o frango, a linguiça, o presunto e o camarão picado. Em uma frigideira, derreta a manteiga, refogue a cebola e os pimentões e adicione às carnes. Junte o salsão, o alho-poró, o louro, os cravos, o alho e o tomate. Deixe cozinhar até que as carnes estejam macias. Acrescente o caldo de galinha, as especiarias e o extrato de tomate. Misture e deixe engrossar. Junte o arroz e tempere com sal. Adicione o tomilho e o alecrim. Decore com o pimentão e os camarões-de-sete-barbas.

    5. Melktert

    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    A Melktert, que significa torta de leite no idioma falado na África do Sul, tem aparência semelhante à da torta holandesa, mas o preparo é bem diferente. Ela é assada, e não servida gelada (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    Pronto em 1 hora + tempo de geladeira | Rende 8 porções

    Ingredientes:

    Para a massa:

    Para o recheio:

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    Modo de preparo: Prepare a massa em uma tigela grande, bata a manteiga e o açúcar até obter um creme. Acrescente o ovo e a baunilha. Junte a farinha de trigo, aos poucos, e uma pitada de sal, misturando até formar uma massa homogênea. Cubra com ela o fundo de uma fôrma redonda de 30 centímetros, untada com manteiga. Com um garfo, faça furinhos na massa e leve ao freezer por 15 minutos (ou deixe na geladeira por 30 minutos, até resfriar). Leve ao forno preaquecido a 180°C por cerca de 30 minutos. Retire e deixe esfriar. Prepare o recheio: Em uma panela, junte o leite e a canela. Corte a fava de baunilha ao meio no sentido do comprimento e raspe as sementes depositando-as na panela juntamente com a fava. Leve ao fogo brando de cinco a dez minutos. Aumente a chama e deixe ferver. Na batedeira, bata as gemas e o açúcar. Acrescente aos poucos a farinha e o amido e bata até obter uma mistura homogênea. Retire o leite do fogo, coe sobre a tigela e misture. Descarte a fava de baunilha e o pau de canela. Enxágue a panela e volte a mistura ao fogo médio, mexendo até engrossar. Acrescente a manteiga e misture até que derreta. Transfira para outro recipiente e deixe amornar. Em outra tigela da batedeira, bata as claras com uma pitada de sal até atingir o ponto de neve. Junte ao creme de ovos morno e despeje-o sobre a massa na fôrma. Em uma vasilha, junte a canela em pó e o açúcar e polvilhe a torta com essa mistura. Deixe esfriar em temperatura ambiente e leve à geladeira por pelo menos três horas antes de servir.

    6. Docinho africano

    Chef Aline Chermoula ensina pratos saborosos da culinária africana
    (Bruno Geraldi/CLAUDIA)

    Pronto em 30 minutos | Rende 23 unidades

    Ingredientes:

    Modo de preparo: Em uma panela média, misture o leite condensado, a manteiga, o cacau em pó, o chocolate meio amargo e o amendoim. Leve ao fogo baixo mexendo sempre por cerca de 20 minutos ou até que desgrude da panela. Transfira para um prato untado com manteiga e deixe esfriar. Retire porções da massa, recheie com os cubos de doce de leite e enrole formando os docinhos. Passe-os no coco ralado e sirva em forminhas de brigadeiro.

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