• Ana Laura Stachewski
Atualizado em
Profissional; PcD; trabalho; home office (Foto: Pexels)

(Foto: Pexels)

Cada vez mais, a tendência é que profissionais não se resumam apenas aos seus currículos. Empresas estão mais atentas às habilidades comportamentais, ou soft skills, dos candidatos. A inteligência artificial já é capaz de fazer essa análise – e os empregadores não são os únicos que saem ganhando.

Quem se cadastra na plataforma Contrate-me, do SENAI, por exemplo, insere mais do que as suas habilidades técnicas e experiências. Os profissionais são instruídos a escrever sobre si mesmos, descrevendo gostos, sonhos e aptidões. Com uma ajuda da IA, a plataforma analisa os textos para traçar o perfil socioemocional dos indivíduos.

O conjunto de informações é usado para fazer o "match" entre os profissionais e as vagas disponíveis. É uma forma também de ir além do sim ou do não na hora de dar um retorno para os candidatos. "Conseguimos dizer por que uma pessoa não preencheu uma vaga. Pode ser por um fator cognitivo, como não saber um idioma, ou porque ela não expressa uma característica, como um alto nível de confiança", explica Roberto Francisco, CEO da Kukac, empresa responsável pela tecnologia usada na plataforma.

Batizado de Speck, o sistema une metodologias das áreas da psicologia e da linguística para fazer as análises. Os padrões na linguagem são avaliados a partir das chamadas teorias da personalidade. Uma das mais conhecidas é a Big Five, que descreve cinco dimensões, como extroversão e afabilidade. "A IA faz em larga escala o que a psicolinguística se propõe a fazer", diz Francisco.

A tecnologia utilizada é baseada no Watson, da IBM. Os conteúdos inseridos para análise podem ter o formato de texto ou de voz – neste caso, a tecnologia de reconhecimento de fala do Google é usada para a transcrição dos áudios. O usuário pode escrever um texto sobre um assunto específico ou responder perguntas. O importante é que o conteúdo final seja autoral e intimista.

Apesar de ser útil nos processos seletivos, o principal intuito da plataforma é acompanhar profissionais e estudantes ao longo do seu desenvolvimento. A implementação em escolas, por exemplo, permite adaptar processos de aprendizado e identificar habilidades que podem ser estimuladas. Com o acompanhamento contínuo dos alunos, a tecnologia consegue resultados ainda mais detalhados do desenvolvimento de cada um. "Temos uma avaliação muito mais precisa dessa forma do que fazendo um teste ao final da formação", diz o CEO.

O Speck hoje é usado em programas de formação da Falconi e da Fundação Dom Cabral e tem uma base de cerca de 110 mil usuários. O plano é lançar, nos próximos dois meses, uma plataforma voltada a clientes pessoa física. Até o fim do ano, a empresa também planeja disponibilizar um assistente pessoal de aprendizado.

Em vez de escrever textos ou responder perguntas em uma plataforma, o usuário poderá conversar de forma contínua com um robô. Dotado da mesma tecnologia, ele poderá identificar os traços da pessoa e até recomendar conteúdos focados no seu desenvolvimento.

O próximo passo, segundo Francisco, é levar a tecnologia para o sistema público de ensino. "O Brasil tem um desafio e uma escala enormes no setor da educação. Não conseguiremos fazer uma transformação sem tecnologia."

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