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SXSW 2019: Roger McNamee, ex-mentor de Zuckerberg, agora é um crítico ferrenho ao Facebook

Investidor critica o uso indiscriminado de dados que as empresas de tecnologia fazem sem a permissão dos usuários

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Mariana Iwakura, de Austin
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Roger McNamee (à dir.) é entrevistado pelo jornalista Nicholas Thompson, da Wired (Foto: Mariana Iwakura)

Quando o investidor Roger McNamee conheceu Mark Zuckerberg, o Facebook tinha apenas dois anos de existência, e seu criador, 22 anos de idade. Era uma reunião sem compromisso, para dar conselhos a um jovem empreendedor. O Facebook ainda era limitado a estudantes que tinham um e-mail ligado às suas instituições de ensino, e não havia feed de notícias. “Eu logo me convenci de que a rede social iria explodir”, afirma McNamee, que se apresentou no SXSW 2019.

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Não havia oportunidade de investimento naquele momento, mas McNamee estava otimista. “Até então, a tecnologia só havia produzido coisas boas. Aquilo que não era útil para a humanidade morria rápido.”

Na mesma época, o Google já coletava dados dos usuários e tirava fotos aéreas de residências. “Eles achavam que podiam pegar essas informações e que não haveria problema”, diz McNamee. “Mas eles não pensaram no tipo de desafio que teriam quando a empresa ficasse muito grande.”

Mais de uma década se passou e McNamee, que um dia foi mentor de Mark Zuckerberg e é dono de ações da empresa, virou um dos críticos mais ferrenhos do modelo de negócio da rede social. O investidor é autor do livro “Zucked – Waking up to the Facebook Catastrophe”, ou “Acordando para a Catástrofe do Facebook”.

Dos primeiros tempos da rede social para cá, muita coisa mudou. Em 2016, antes das eleições que colocaram Donald Trump na Casa Branca, foram descobertos perfis falsos e anúncios custeados por russos. Em 2018, vem à tona um escândalo de uso indevido de dados de 87 milhões de usuários da rede social. A empresa publicou anúncios em jornais dizendo “Temos a responsabilidade de proteger seus dados, e se não conseguimos, não merecemos servi-lo”.

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“No Facebook, acham que é aceitável pedir desculpas por algo que já aconteceu. Mas agora isso não funciona mais”, diz McNamee. Segundo ele, as gigantes de tecnologia – não só o Facebook – têm problemas “endêmicos”. “A questão é captar todos os movimentos do usuário e seus dados pessoais, prever comportamentos e depois usar a inteligência artificial para levar as pessoas a determinados resultados”, afirma. “Esse modelo de negócio se desenvolveu atrás da cortina. A gente não sabia o que estava acontecendo.”

McNamee admite, contudo, algumas ligações que ainda tem com o Facebook. Ele ainda é dono de ações da empresa, possui uma conta na redes social e a usa para promover seu livro, por meio de posts patrocinados. “Se eu usar as ferramentas deles e assim conseguir expor as falhas, ótimo”, diz McNamee.

Questionado sobre a fala da pré-candidata à presidência Elizabeth Warren de que as grandes empresas de tecnologia devem ser desmembradas, McNamee disse que a proposta é “brilhante”. “A ideia central dela é a de justiça.” Ele conta que se reuniu com Warren e sua equipe e os aconselhou na elaboração desse manifesto.

McNamee critica empresas como Amazon e Microsoft, dona do LinkedIn. “O Facebook foi desajeitado o suficiente para ser pego. Os outros foram mais espertos”, afirma. Para ele, contudo, Mark Zuckerberg não precisa deixar o cargo de CEO. “Eles podem mudar o modelo de negócio. Tenho muito respeito por Mark e por Sheryl [Sandberg, diretora de operações]. Eles podem ganhar muito mais reformando a empresa.”

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