Por Marília Marques, G1 DF


Controladores de voo acompanham aviões que passam pela área de Brasília — Foto: TV Globo/Reprodução

"Senhores passageiros, decolagem autorizada". Por trás do anúncio do piloto, 210 controladores de tráfego aéreo se revezam diariamente entre mapas, computadores e radares para organizar as incontáveis rotas que cortam o céu de Brasília. Do alto da torre de controle, no Aeroporto JK, os profissionais autorizam pousos e decolagens de, pelo menos, 500 aviões por dia.

O olhar atento e o controle emocional são fundamentais para o dia a dia de quem monitora o vaivém de aeronaves. A rotina é intensa, desgatante, dizem eles – "mas compensa".

Neste sábado (20), Dia Internacional do Controlador de Tráfego Aéreo, o G1 mostra como foi a visita feita nesta semana ao Centro de Controle de Área de Brasília (ACC) para conhecer os bastidores da atividade.

Passo a passo

Avião decolando em Brasília — Foto: Aeroporto de Brasília/Divulgação

A 25 metros do chão, em uma torre com visão privilegiada do aeroporto, 15 controladores emitem comandos para aviões iniciarem o taxiamento na pista. A autorização para a decolagem acontece em um segundo momento – antes, o controlador confere o plano de voo e avalia as rotas de todas as outras aeronaves que passam sobre o DF.

"A função básica é manter a distância de segurança entre as aeronaves, manter o tráfego ordenado", explica o sargento Marcelo de Paula, que atua há 12 anos no controle de voos.

"É preciso ter boa visão espacial e, principalmente, ter bom controle emocional para tomar atitudes sensatas."

Com a decolagem autorizada, desde o momento em que o avião ganha os ares, até o pouso, a cabine do piloto mantém contato permanente com os controladores. A 500 pés de altitude (cerca de 150 metros do solo), a torre de controle no aeroporto de Brasília deixa de operar e passa o contato para uma central, a 8,5 km dali.

Janaína França é supervisora de controle de tráfego aéreo em Brasília — Foto: Marília Marques/G1

Em uma sala isolada, no coração do Centro Integrado de Defesa Aérea (Cindacta I) – no Lago Sul – outros controladores passam a monitorar os aviões por meio de radares. Cada ponto colorido na tela do computador é uma aeronave que se desloca no espaço aéreo.

A missão de cada profissional é direcionar o piloto caso ele precise mudar o trajeto devido ao mau tempo ou outros imprevistos no caminho, como uma aeronave que aterrissou e ainda não saiu da pista. "Às vezes, o piloto também erra a rota", explica o capitão Adilson Drumond. Os pilotos inserem a rota no computador do avião antes de decolar --e depois ajustam, caso tenham que desviar, por exemplo, em razão de mau tempo ou tráfego aéreo congestionado.

Em Brasília, a autorização do novo trajeto é dada pela sargento Janaína França, supervisora de controle. Com oito anos de experiência, a militar garante que tudo é avaliado com muito cuidado. "Tem um controlador, um assistente e um supervisor. São filtros para verificar se há algum conflito na rota".

"Voar é bastante seguro, a gente trabalha sempre com bastante responsabilidade."

Controladora de tráfego aéreo em contato com piloto de aeronave

Controladora de tráfego aéreo em contato com piloto de aeronave

Sem distração

No centro de controle, os profissionais trabalham quase sempre em duplas, mantendo o contato com pilotos de aeronaves militares e comerciais. O dia a dia é permeado de códigos, números e mapas inacessíveis a um olhar destreinado.

Os comandos de voz são técnicos, diretos, para evitar dúvidas. "O controlador fala, 'suba para 31 mil pés, suba para nível 240 [ou 24 mil pés]'. São autorizações de mudanças de rotas, para separar as aeronaves", explica o capitão Drumond. Na aviação, a altitude é informada em pés, não metros. Um pé equivale a 0,3 metro.

Na sala, os profissionais ficam em frente a monitores onde é possível acompanhar, em tempo real, todas as aeronaves que passam sobre o setor de Brasília. Cada controlador é responsável por 12 a 14 aviões de uma só vez.

Controladora de tráfego aéreo na torre de comando, no aeroporto JK — Foto: Marília Marques/G1

Para evitar o desgaste psicológico, os militares trabalham, no máximo, uma hora e meia seguida. O período é intercalado por descanso em salas reservadas.

No centro de controle, a dedicação é exclusiva ao trabalho. O local funciona 24h, sete dias na semana, não há distrações no ambiente e é proibido o uso de celulares. Na parede, apenas uma bandeira do Brasil como decoração.

As informações entre os controladores são trocadas quase em sussurro, por microfones acoplados a fones de ouvido. Tudo, para não atrapalhar os comandos de quem é responsável por traçar as rotas mais seguras para quem está nos ares.

Avião decola no Aeroporto de Brasília; vista da torre de controle

Avião decola no Aeroporto de Brasília; vista da torre de controle

Militares e civis

De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), atualmente 4,4 mil controladores de voo atuam em quatro centrais espalhadas no país. Ao todo, são 3,5 mil militares e apenas 157 civis.

Fora da gestão da aeronáutica, ainda há outros 861 controladores que atendem empresas prestadores de serviço de tráfego aéreo, como a Infraero, o Exército e a Marinha. O controle de tráfego aéreo no aeroporto de Guarulhos, por exemplo, fica a cargo da Infraero.

A formação de um controlador leva, em média, dois anos e não exige nível superior. Para militares, a entrada é por meio de concurso público. A formação é oferecida pela Escola de Especialista da Aeronáutica (EEAR), na cidade de Guaratinguetá (SP).

Para os civis, o curso é dado no Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), em São José dos Campos (SP). Após a formação, o salário médio varia de R$ 3,5 mil a R$ 4,4 mil.

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