Por Naiara Arpini, G1 ES


Olhar para o espelho e não se identificar com aquilo que vê. Esse é o sentimento dos chamados transgêneros, pessoas que não se identificam com o sexo biológico atribuído a elas desde o nascimento. É como se tivessem “nascido no corpo errado”.

“É um sentimento de não pertencimento, é muito além de um simples incômodo. É um sofrimento bem grande de se ver em um corpo que ele não sente como sendo dele. A gente costuma dizer que a alma é diferente daquele corpo”, explica a sexóloga e psicóloga especializada em sexualidade humana, Priscila Junqueira.

Essa sensação, segundo Priscila, se manifesta desde a infância, e não tem a ver com a orientação sexual do indivíduo.

“A orientação sexual irá fazer com que a pessoa busque relacionamentos afetivos-sexuais com pessoas do mesmo sexo (homossexual), sexo oposto (héterossexual) e ambos (bissexual). Já na identidade de gênero diz respeito a como a pessoa se sente, se do gênero feminino ou masculino”, disse.

A psicóloga ainda acrescenta que o transgênero ou transexual não é o mesmo que travesti. “O transexual é diferente de travesti. Os travestis irão usar roupas do sexo oposto durante parte da vida para ter uma experiência temporária ou permanente de ser do gênero oposto”.

Transição de gênero

Para mudarem a aparência e se parecerem mais com o gênero com o qual se identificam, os transgêneros podem se submeter ao processo de transição de gênero, que acontece a partir da hormonização e/ou cirurgia de mudança de sexo.

Através desse procedimento, características como voz, músculos e pêlos são alterados.

Atendimento especializado no ES

No Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), em Vitória, há um Ambulatório de Diversidade de Gênero, onde acontecem reuniões de acolhimento para pessoas trans.

A unidade conta com uma equipe multidisciplinar, que inclui urologista, endocrinologista, psiquiatra, ginecologista, infectologista, cirurgião plástico, enfermeiro, psicólogo, assistente social e fonoaudiólogo.

Cada usuário dos serviços é acompanhado em suas dimensões psíquica, social e médica-biológica.

De acordo com a enfermeira Léia Brotto, chefe da divisão responsável pelo ambulatório, a pessoa interessada precisa comparecer ao Hospital e marcar um atendimento, que é realizado sempre na quarta quinta-feira do mês.

Em cada encontro são atendidas dez pessoas. Dali, os pacientes saem com pedidos de exames, que podem ser feitos em unidades de saúde, e devem ser levados na próxima consulta.

Um consulta é agendada com psicólogo e assistente social, que fazem uma avaliação. O paciente também é encaminhado para um endocrinologista, que faz a prescrição dos hormônios, que podem ser comprados na farmácia.

O ambulatório é o único no Espírito Santo que realiza a cirurgia de mudança de sexo pelo SUS. Para realizar o procedimento, o paciente precisa ter mais de 21 anos e estar sendo acompanhado há pelo menos dois.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) disse que vem acompanhando todo o processo de habilitação do ambulatório da Unidade pelo Ministério da Saúde e informou que, atualmente, tem contratualizadas com o Hucam as cirurgias de retirada do órgão genital masculino e construção do feminino nos pacientes trans mulher.

Após a habilitação do ambulatório do Hucam pelo Ministério da Saúde, os pacientes contarão com atendimento de equipe multidisciplinar e será possível realizar os processos de hormonização e de transexualização no local.

Glossário — Foto: Reprodução/ Globo

Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!

Mais lidas

Mais do G1

Sugerida para você