MP pede que Caixa troque vice-presidentes e mude critérios para montar 'primeiro escalão'

Recomendação é da força-tarefa da Greenfield, com base em investigação de comitê independente do próprio banco. Documento cita Cunha, Joesley e Geddel; G1 tenta contato com a Caixa.

Por G1 DF


Edifício-sede da Caixa Econômica Federal, em Brasília — Foto: Bento Viana/Divulgação

O Ministério Público Federal em Brasília recomendou, nesta sexta-feira (15), que a Caixa Econômica Federal troque imediatamente todos os seus vice-presidentes. O documento também pede que o banco crie uma nova forma de seleção dos altos funcionários, que permita "maior independência e transparência nas decisões estratégicas".

Atualmente, o primeiro escalão da Caixa é composto pelo presidente Gilberto Occhi e 12 vice-presidentes, em áreas como Logística e Operações, Riscos, Tecnologia da Informação e Gestão de Ativos de Terceiros. O G1 tenta contato com a empresa.

O documento de 16 páginas é assinado pela força-tarefa da operação Greenfield, que também responde pelas operações Cui Bono e Sépsis. Essas duas recomendações – troca dos vices e nova forma de seleção – devem ser cumpridas em um prazo de 45 dias.

Segundo o texto, o pedido de substituição dos vice-presidentes foi motivado pela "existência de diversas figuras proeminentes na administração da CEF em casos investigados e/ou alvos de investigações, bem como a perene influência política sobre funções que deveriam ser essencialmente técnicas".

A recomendação também pede que os órgãos internos da Caixa e a União aprovem o novo estatuto social da empresa, que inclui regras mais objetivas para a montagem do primeiro escalão, e que a Caixa melhore práticas de documentação de atos, gestão da informação e manutenção de dados.

Cunha, Joesley e Geddel

A recomendação do MPF se baseia na investigação de um comitê independente da própria Caixa Econômica, instaurado pelo Conselho de Administração do banco para melhorar a gestão da instituição.

Segundo o documento, essa apuração concluiu que, após o afastamento de consultores da Caixa supostamente envolvidos em irregularidades, "o ex-Deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) teria procurado Gilberto Occhi e, depois, Antônio Carlos Ferreira, para tratar de operações de interesse da Rodrimar, empresa que opera no Porto de Santos".

Aos investigadores, Ferreira declarou que, logo após assumir o cargo de vice-presidente, em 2014, foi procurado pelo ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O parlamentar teria cobrado três condições para que ele permanecesse no cargo: a exoneração de um servidor, o comparecimento a reuniões semanais na casa de Cunha e o fornecimento de informações privilegiadas sobre movimentações de alto valor da Caixa.

Antônio Carlos Ferreira é o atual vice-presidente Corporativo da Caixa. Ele aparece em áudios gravados pelo presidente do grupo J&F, Joesley Batista, perguntando sobre um "movimento por fora" com o atual ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira (PRB).

Na época da divulgação do áudio, em outubro, Antônio Carlos Ferreira disse que "vem trabalhando continuamente no combate à corrupção, enfrentando dificuldades para blindar a Caixa de práticas não republicanas", e que vai provar sua inocência.

A recomendação também cita a atual vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa, Deusdina dos Reis Pereira. Ela afirmou aos investigadores da comissão independente que possui "suporte político do PR para manter-se no cargo" e, segundo o MP, ascendeu ao cargo atual depois de trabalhar diretamente com Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa.

Em vários trechos, a recomendação também cita o nome do ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso na Penitenciária da Papuda, em Brasília, desde setembro. O político é acusado de agir para atrapalhar investigações da Operação Cui Bono, que apura fraudes na liberação de crédito da Caixa Econômica Federal – ele foi vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa entre 2011 e 2013, no governo Dilma Rousseff.

A investigação, que se concentra no período em que Geddel ocupou o cargo, teve origem na análise de conversas registradas em um aparelho de telefone celular apreendido na casa do então deputado Eduardo Cunha.