Por Rebecca Crepaldi*, G1 São Carlos e Araraquara


Cozinha coletiva em São Carlos (SP) ajudará mulheres a gerarem renda — Foto: Fernanda San Juan e Wesley Bastos

Percebendo a necessidade de falar sobre cidadania, 13 moradores de São Carlos (SP) se uniram em julho de 2020 para criar o Instituto Cidadão, com o objetivo de organizar projetos sociais para empoderar a população sãocarlense.

Como primeiro projeto, surgiu a "Cozinha Cidadã", uma cozinha coletiva que tem como ideia central oferecer, de forma gratuita, toda a infraestrutura necessária para que os usuários possam construir seus próprios negócios no ramo alimentício.

O foco é atender mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica, incentivando essas futuras microempreendedoras a utilizarem alimentos produzidos por meio da agricultura familiar, de cooperativas e de assentamentos.

Para iniciar o projeto, a equipe realiza uma campanha de financiamento coletivo com o intuito de arrecadar fundos para a reforma do local e a compra de equipamentos, como geladeira, fogão e freezer (veja abaixo como participar).

Instituto Cidadão reformará a cozinha da sede da organização para transformá-la em projeto social — Foto: Instituto Cidadão/Divulgação

História do instituto

“O Instituto, de forma geral, surge a partir do sonho coletivo em ativar uma organização do terceiro setor focada em ações voltadas à promoção da cidadania por meio de educação, do controle social, da geração de emprego e da comunicação popular”, comentou uma das fundadoras, Andréia Botelho, que também é coordenadora da Cozinha Cidadã.

Para o coordenador de projetos e também fundador, João Meira, São Carlos é uma cidade com muito potencial, abrigando dois campi de grandes universidades e sendo reconhecida como polo tecnológico, entretanto, é pouco valorizada pela população, fazendo-se necessário projetos que incentivem o coletivo.

“Além de razões estruturais, como a desigualdade rampante que castiga o povo sãocarlense, há também uma questão central que passa pela sensação de pertencimento de quem mora na cidade”, comentou.

Cozinha Cidadã

Cozinha Cidadã incentivará a produção de alimentos saudáveis, em São Carlos (SP) — Foto: Fernanda San Juan e Wesley Bastos

Partindo desse ponto, o Instituto criou algumas frentes de trabalho, como a Cozinha Cidadã, o primeiro projeto da organização, idealizado pela estudante de Terapia Ocupacional na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Natália Castro.

No final de 2018, a estudante e seu esposo criaram o ‘Quitute Cozinha Afetiva’, um microempreendimento que segue a tradição da família e busca oferecer aos consumidores uma alimentação saudável, baseada em processos artesanais.

Em 2019, a estudante conheceu o atual vereador do primeiro mandato coletivo de São Carlos, Djalma Nery Ferreira Neto, e também fundador do Instituto. Entre conversas, Neto ofereceu a cozinha da sede da organização para que ela pudesse produzir seus alimentos.

Ingredientes utilizados no preparo virão de agricultores familiares, assentamentos e cooperativas de São Carlos (SP) — Foto: Fernanda San Juan e Wesley Bastos

“Eu possuía uma cozinha adequada para o trabalho, porém era relativamente pequena, o que atrapalhava um pouco a logística de produções em dias mais movimentados, então aceitei o convite do Djalma e começamos a conversar sobre a cozinha”, explicou Natália.

Assim, em janeiro de 2021, composta por quatro idealizadores, surgiu a Cozinha Cidadã, que irá ceder às mulheres um espaço equipado para a produção coletiva de alimentos.

Posteriormente, irá oferecer cursos de administração, marketing e cultivo de alimentos, além de uma rede de escoamento, chamada Armazém Cidadão, para alavancar ainda mais os negócios das produtoras.

Financiamento coletivo

Financiamento coletivo ajudará Instituto Cidadão a reformar cozinha e comprar novos equipamentos — Foto: Reprodução

A primeira meta é arrecadar R$ 7,5 mil até dia 30 de janeiro, que será destinada para a reforma do espaço e para a compra de equipamentos básicos. Quem quiser contribuir, poderá acessar o site da campanha.

Em seguida, a arrecadação terá três novas etapas para custear a troca do fogão e do forno para utensílios profissionais, além da remuneração da equipe, que hoje trabalha de forma voluntária, mas pretende se dedicar integralmente ao projeto.

“Tendo em vista que qualquer valor de contribuição neste momento é necessário, disponibilizamos recompensas para todos os valores de contribuição. Elas vão desde um vale-compra para utilização no Armazém Cidadão até o acesso a infraestrutura da Cozinha para realizar um evento”, explicou Andréia.

Inscrição

Produtoras, fornecedores e beneficiados poderão se inscrever na Cozinha Cidadã a partir do segundo semestre de 2021 — Foto: Fernanda San Juan e Wesley Bastos

O ‘Quitute Cozinha Afetiva’, da estudante Natália, será incubado como projeto piloto para o Instituto testar a logística de produção dos alimentos.

A partir deste processo, um chamada pública será aberta por meio das redes sociais para que produtores (mulheres), fornecedores (agricultores) e beneficiados (população que irá comprar) possam se inscrever.

A previsão é para o segundo semestre de 2021 e as vagas serão disponibilizadas de acordo com os recursos financeiros do momento, já que a intenção do projeto é garantir que todos os empreendimentos incubados tenham acesso a infraestrutura.

“A Cozinha Cidadã pode transformar a realidade de muita gente, fazendo com que famílias tenham condições de superar vulnerabilidades estruturais… Além disso, ela pode ajudar a promover a agroecologia e a saúde por meio de uma alimentação balanceada e natural… É uma relação ganha-ganha-ganha que muito tem a contribuir para nossa cidade”, comentou Djalma Neto.

Cozinha Cidadã auxiliará tanto mulheres cozinheiras, quanto produtores agrícolas e pessoas que buscam uma alimentação saudável — Foto: Andréia Botelho

*Sob supervisão de Fabio Rodrigues, do G1 São Carlos e Araraquara.

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