Por Vivian Reis, G1 SP — São Paulo


Prefeitura de São Paulo inaugurou segundo pátio para compostagem de resíduos orgânicos, na Sé, nesta sexta-feira (28) — Foto: Vivian Reis/G1

A Prefeitura de São Paulo inaugurou nesta sexta-feira (28) o segundo pátio para compostagem de resíduos orgânicos na Sé, região central da cidade. O prefeito Bruno Covas (PSDB) prometeu outros 15 até o final de sua gestão, em 2020.

Em dezembro de 2015 foi inaugurada a primeira central de compostagem do Programa Feiras e Jardins Sustentáveis, na Lapa, Zona Oeste de São Paulo, com 3 mil m². Segundo a Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb), o pátio processa uma média de 6 toneladas de resíduos todos os dias de 52 feiras e podas de árvores das regiões da Lapa, Casa Verde, Pirituba-Jaraguá, Freguesia-Brasilândia e Pinheiros.

Nesta sexta-feira, o prefeito Bruno Covas inaugurou a segunda central de compostagem na Avenida do Estado, nas imediações do Mercado Municipal de São Paulo.

"A primeira central, inaugurada na Lapa ainda na gestão passada, trata em torno de 6 toneladas por dia; esta vai tratar em torno de 10 toneladas por dia. Juntas significam um total de 5 mil toneladas de resíduos que iam parar nos aterros todos os anos e que agora estão sendo reciclados e aproveitados com a criação de adubos, aos quais a população tem acesso aqui e nas feiras", disse o prefeito no ato de abertura do local.

O secretário municipal das Prefeituras Regionais, Marcos Penido, acompanhou o evento e acrescentou que os resíduos tratados no espaço virão das 32 feiras da Prefeitura Regional da Sé, do Mercadão e do Mercado Municipal Kinjo Yamato.

Prefeito Bruno Covas inaugura novo pátio de compostagem de resíduos de feiras e podas, na Sé, nesta sexta-feira (28) — Foto: Vivian Reis/G1

Mais 15 pátios

Na ocasião da inauguração do pátio da Lapa, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) disse que aquele era o pátio piloto, uma referência para as 871 feiras livres de São Paulo, e deixou quatro centrais prontas, que estavam previstas para operar ainda naquela gestão - Sé, Ermelino Matarazzo, Mooca e São Mateus.

Questionado sobre o motivo para manter fechadas a central da Sé até esta sexta, e as outras três ainda sem previsão de inauguração, o prefeito Bruno Covas disse que verificava o comportamento do pátio-piloto enquanto buscava o licenciamento das áreas.

"Desde o ano passado observamos os resultados do que acontecia na Lapa e discutimos com a Cetesb a ampliação do licenciamento para que a gente pudesse ampliar a quantidade de resíduo tratado aqui. Com isso, com esse estudo, temos tranquilidade na inauguração e na certeza de que a gente vai ter 17 até o final da gestão, em 2020", prometeu. O conjunto de pátios deixará de levar 500 mil toneladas de resíduos para os aterros todos os anos.

Pátio de compostagem da Mooca, localizado sob o Viaduto Engenheiro Alberto Badra, na Zona Leste de São Paulo. Pronto, mas ainda inoperante — Foto: Vivian Reis/G1

O presidente da Amlurb, Edson Tomaz de Lima Filho, disse que o método era analisado pela Cetesb desde a inauguração do pátio da Lapa.

"Precisávamos fechar a experiência da Lapa, mostrar para os órgãos de licenciamento, como a Cetesb, que não havia nenhum tipo de problema, não atrai mosquito vetor, não deixa mau cheiro. Inicialmente entendiam que era como licenciar um aterro", explicou. "Aprendemos juntos, provamos que há seleção do resíduo na origem, na feira. Confirmado o sucesso na Lapa, o licenciamento vai ficar mais veloz", completou.

Em maio, Covas acompanhou a assinatura de um termo de cooperação entre a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL), por meio do Projeto Ligue os Pontos, e a Amlurb, para a instalação de um pátio de compostagem de resíduos em Parelheiros, que pode ser um dos 15 novos pátios, e que produzirá adubo para os agricultores familiares da região que fornecem alimentos orgânicos para a merenda de até 1.490 escolas de 18 prefeituras regionais.

Material orgânico é depositado em canteiros no novo pátio de compostagem da Sé. Eles são cobertos por camadas de palha de grama, propiciando o surgimento de bactérias e fungos, que transformam o resíduo em adubo — Foto: Vivian Reis/G1

Como funciona

O recolhimento da poda é feito pelas prefeituras regionais e entregue nos dois pátios. Os serviços em ambos os locais são operados pela empresa Inova, que também é responsável pela coleta de indivisíveis das regiões.

De acordo com a engenheira Eugênia Gaspar Costa, da Inova, o material é depositado em canteiros, que são cobertos por camadas de palha de grama, propiciando o surgimento de bactérias e fungos, que degradam a matéria orgânica de forma controlada, sem exalar mau cheiro ou atrair insetos.

Na mistura, os resíduos de poda triturada garantem a circulação do ar e o êxito do processo em 120 dias. O adubo de qualidade, 100% natural, sem mistura de carnes e produtos químicos industrializados, é utilizado em ações de jardinagem nas praças, nos parques, hortas comunitárias e hortas de escolas, além de doados aos feirantes e à população nos próprios pátios.

Prefeito Bruno Covas realiza plantio com adubo produzido por meio da compostagem dos resíduos de feiras e podas da cidade de São Paulo — Foto: Vivian Reis/G1

Panorama

O engenheiro agronômico Antônio Storel, que ajudou a desenvolver o Programa Feiras e Jardins Sustentáveis, explicou ao G1 que acreditava-se que o maior problema era o resíduo divisível, como papéis, plásticos, vidros e metais.

“São Paulo precisa de uma estratégia para trabalhar a questão dos resíduos orgânicos, que representam mais da metade dos resíduos do município. Os resíduos foram tratados como sendo um problema da reciclagem, mas hoje se tem clareza de que o problema são os orgânicos”, avalia.

A Prefeitura investiu na implantação de 100 Ecopontos, cerca de 1.500 Pontos de Entrega Voluntária, assim como ações de coleta e revitalização de pontos viciados de descarte irregular.

Resíduos domiciliares na cidade de São Paulo (%)
Mais da metade do resíduo produzido nas residências é orgânico
Fonte: Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb)

Contudo, segundo os dados mais recentes disponibilizados pela prefeitura, São Paulo produz mais de 20 mil toneladas de resíduos todos os anos, sendo mais da metade deles domiciliares.

Considerando estes últimos, então, a Amlurb informa que 51% dos resíduos produzido nas residências paulistanas é orgânico.

“Quando isso foi constatado, pensamos: vamos começar pelos resíduos orgânicos públicos, que são aqueles das feiras e podas, para dar o exemplo. Ambos os resíduos são complementares – um seco (poda) e outro úmido (feira). É a compostagem perfeita para fazer o adubo”, continuou Antônio Storel.

Importância

Na opinião do consultor para gestão de resíduos Guilherme Turri, a consolidação dos pátios de compostagem é o primeiro passo para a evolução do tema da destinação correta dos resíduos em São Paulo.

“A prática internacional orienta as cidades que queiram destinar seus resíduos de forma mais inteligente a começar pelo resíduo público, cuja responsabilidade é do próprio governo. Ele dá o exemplo e, a longo prazo, a gente consegue resolver o problema do resíduo doméstico, que é o maior, mas também o mais complexo, já que depende de como se combina esse jogo de separação e coleta com a população”, explica Turri.

Aterro sanitário São João, em Sapopemba, foi desativado mas área deve ser monitorada por 50 anos, sem ocupação — Foto: Márcio Fernandes de Oliveira/Estadão Conteúdo

O consultor diz ainda que, além dos benefícios para o meio ambiente, os pátios de compostagem surgem como uma solução mais viável economicamente do que os aterros. A capital paulista destina seus resíduos para seis aterros, sendo dois deles sanitários (recebem domiciliares).

“Os aterros estão ficando mais caros e se tornando uma armadilha. Eles estão dentro de cidades que crescem, então são transferidos para locais mais distantes, encarecendo a terra e o transporte. É uma enorme esterilização de recursos, um sistema que deu o que tinha que dar”, afirma.

“Os resíduos de feiras e podas são um grande volume, têm relevância e temos o cinturão verde em São Paulo para onde poderíamos escoar o composto produzido. Isso requalificaria as áreas rurais e periféricas, além de retornar os nutrientes para o campo, proporcionando uma alimentação mais saudável a todos, livre de agrotóxicos. Esse é o futuro”, conclui Guilherme Turri.

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