MP investiga extorsão que rendia mais de R$400 mil por mês a policial civil
Segundo o Ministério Público, o esquema de extorsão de dinheiro a comerciantes envolvendo policiais civis de duas delegacias da região central de São Paulo rendia cerca de R$ 400 mil por mês aos policiais.
Em depoimento aos promotores, um comerciante contou que “entre julho e agosto deste ano foi procurado por um policial civil, que exigiu 2.800 reais pra que ele pudesse continuar trabalhando”.
A vítima reconheceu o autor da extorsão num álbum com as fotos de policiais que já estavam sendo investigados por exigir dinheiro de lojistas, donos de máquinas caça-níqueis e casas de prostituição para não fazer apreensões e avisar, com antecedência, sobre operações policiais.
O policial civil Anderson Maciel de Moraes, que se apresentava como Roger, foi preso na semana passada. Ele trabalhava na delegacia do Pari, responsável por combater a criminalidade nas ruas do Brás.
A partir dessa denúncia, agentes do Ministério Público Estadual passaram a seguir os passos do policial. Interceptações telefônicas e imagens feitas pelos investigadores durante dois meses revelaram como funcionava o esquema de extorsão.
Anderson telefonava para os comerciantes sempre perto do último dia útil do mês. Segundo os promotores, era para avisar que ele passaria para recolher o dinheiro da propina, como mostra a transcrição de uma conversa.
MP investiga extorsão que rendia mais de R$400 mil por mês a policial civil — Foto: Reprodução/TV Globo
O policial telefona pra um homem identificado como dono de máquinas caça níquel e pergunta:
- Posso passar lá?
O comerciante responde:
- Opa! Que dia é hoje?
- Hoje é dia 30, diz o policial.
- O comerciante responde.
- Eu nem estava lembrando de você hoje.
- É mas eu lembro de você, diz o policial.
- O comerciante promete cumprir o combinado.
- Eu vou me preparar aqui, meu amigo, é... Amanhã é dia 31 ou hoje é o último dia?
- Amanhã, 31
- Então amanhã eu deixo lá
Imagens feitas pelos investigadores mostram encontros que o policial teve com suas vítimas logo depois desses telefonemas. Segundo o Ministério Público, era durante esses encontros que Anderson recebia o dinheiro da extorsão.
Numa outra conversa o policial Anderson combina a cobrança de propina para não incomodar comerciantes que vendem linha chilena, que é proibida.
Diz o policial:
- tá tendo uma cobrança lá de fazer essas lojinhas de pipa, que vende linha chilena e cortante. Cem pau cada lojinha mano, diz o policial.
Outros cinco policiais que trabalham na 1ª Delegacia Seccional, que controla todos os distritos do Centro de São Paulo, são suspeitos de envolvimento no mesmo esquema.
Os promotores acreditam que o esquema rendesse R$ 400 mil por mês. E que a Delegacia do Pari tenha funcionado como uma central de financiamento eleitoral de deputados, que, depois de eleitos, influenciavam na indicação de policiais corruptos.
O Ministério Público diz ter indícios de que os achaques também aconteciam na Delegacia dos Campos Elísios, que cuida da Rua Santa Ifigênia, o mais importante pólo de comércio de eletrônicos da cidade. Depois da prisão do policial Anderson, um delegado foi transferido e outro deixou o cargo e está a disposição da Polícia Civil.
Nós tentamos falar com as vítimas dessas extorsões, mas ninguém quis gravar entrevista. A defesa do policial Anderson Maciel de Moraes não vai se pronunciar porque ainda não teve acesso ao processo.
No começo da tarde pedimos uma entrevista para a Secretaria da Segurança Pública que não se pronunciou.