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PT deixa renovação de lado e aposta em veteranos na disputa municipal

Partido lança ex-governadores, ex-prefeitos e ex-ministros para prefeituras
Ex-ministros Benedita da Silva (PT-RJ) e Nilmário Miranda (PT-MG) Foto: Roberto Moreyra/Agência O Globo e Alex Ferreira/Câmara dos Deputados
Ex-ministros Benedita da Silva (PT-RJ) e Nilmário Miranda (PT-MG) Foto: Roberto Moreyra/Agência O Globo e Alex Ferreira/Câmara dos Deputados

RIO - Embora pregue a necessidade de renovação do partido desde o fim das eleições presidenciais de 2018, o PT decidiu apostar em veteranos no pleito municipal. Em meio à pandemia da Covid-19 e em uma campanha que será feita principalmente nas redes, a sigla optou por lançar ex-ministros, ex-governadores e lideranças já conhecidas em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e em cidades-chave pelo país.

No Rio, o PT confirmou ontem a candidatura da ex-governadora Benedita da Silva à prefeitura . Benedita começou na vida pública pelo PT em 1982, como vereadora. Desde então, foi deputada federal, senadora, ministra no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e governadora do estado.

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O partido chegou a cogitar abrir mão de uma candidatura na cidade para apoiar o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), tido como uma liderança nova na esquerda. Com a desistência de Freixo , a legenda optou por Benedita.

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Em São Paulo, o ex-deputado federal e ex-secretário municipal de Transporte nas gestões de Marta Suplicy e Fernando Haddad, Jilmar Tatto será o candidato do partido. Ele venceu as prévias contra o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. Apesar de ser um nome tradicional no PT paulista, Tatto sofre resistências da própria sigla e de setores da esquerda, que pediam um apoio ao candidato do PSOL Guilherme Boulos, visto com uma liderança em ascensão.

A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, minimiza os conflitos pela decisão de um nome próprio para a campanha de São Paulo, e diz que o partido optou por uma mescla entre nomes tradicionais, com experiência, e jovens lideranças em todo o país.

— A nossa estratégia é apresentar os melhores quadros que temos, valorizando muito a experiência. Mas isso também não tirou de nós a renovação. Temos a major Denice em Salvador e Marília Arraes, em Recife, por exemplo. Em algumas cidades, apostamos em lideranças consolidadas, com experiência e trajetória, que o caso da Benedita.

Outro nome paulista de peso no partido vai tentar se eleger prefeito, de novo. Luiz Marinho, ex-ministro do Trabalho e da Previdência Social no governo Lula, comandou São Bernardo do Campo, reduto petista no estado, entre 2009 e 2016. Ele tenta voltar ao cargo nas eleições de novembro, após ter ficado em quarto lugar na disputa pelo governo do estado em 2018.

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Ex-ministros no Sul e BH

Em Belo Horizonte, Nilmário Miranda, ex-ministro dos Direitos Humanos no governo Lula, foi indicado para concorrer pelo partido. Candidato ao governo do estado por duas vezes, sem sucesso, Nilmário diz que a ideia de “novos políticos” e renovação foi testada nas últimas eleições e não deu certo.

— Nas eleições passadas, tivemos esse discurso de renovação política. E vimos no que deu. Pessoas sem experiência em administração e gestão pública e que contribuíram para a negação da política. Os eleitores querem, agora, pessoas com experiência, que saibam conduzir a cidade em meio a uma crise sem precedentes.

Se no Rio e em São Paulo, o PT não abriu mão da cabeça de chapa, em Porto Alegre (RS), o também ex-ministro petista Miguel Rossetto foi indicado para ser vice de Manuela d’Ávila (PCdoB).

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Na leva de ex-ministros que voltam à cena política, o ex-ministro no governo Dilma Rousseff, Pepe Vargas, é uma das apostas do partido no Sul. Vargas, que passou por três ministérios da ex-presidente, será candidato à Prefeitura de Caxias do Sul, uma das maiores do estado. Ele já foi vereador e prefeito da cidade.

Já no Nordeste, o senador Jean-Paul Prates será o nome para a prefeitura de Natal. O parlamentar entrou no Senado na vaga de Fátima Bezerra (PT) eleita governadora do Rio Grande do Norte, em 2018. Em Fortaleza (CE), o partido aposta na tentativa da deputada federal Luizianne Lins de ocupar o cargo novamente. Ela foi prefeita da capital cearense por dois mandatos, entre 2005 e 2013.

Além de apostar em nomes de peso do partido para algumas cidades, o PT ainda deve ter uma participação mais ativa de lideranças tradicionais da legenda, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vai gravar mensagens para petistas que disputarão eleições nas capitais, e dos ex-ministros José Dirceu e Fernando Haddad, que também devem apoiar candidaturas pelo país.

De acordo com o doutor em Ciência Política Malco Camargos, professor da PUC-Minas, apesar de o PT vir de um desgaste das eleições de 2016, o partido trabalha uma estratégia nas eleições municipais deste ano para marcar posição, aproximar o eleitor e preparar a campanha nacional de 2022.

— A eleição municipal serve não só como disputa de poder local, mas como posicionamento de um partido que espera chegar na Presidência em 2022. Isso muda a estratégia para as eleições. Aqueles que disputam a eleição municipal pensando na eleição nacional tendem a trabalhar com nomes mais consolidados. Já os partidos menores veem as campanhas nas cidades com a oportunidade de um naco de poder — afirma Camargos.