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Governo japonês pede cancelamento de cursos de Humanas em universidades

Das 60 instituições federais japonesas, 26 confirmaram medidas de redução ou fechamento de graduações
A Universidade de Tóquio informou que não fará cortes Foto: DADEROT/WIKIMEDIA COMMONS
A Universidade de Tóquio informou que não fará cortes Foto: DADEROT/WIKIMEDIA COMMONS

RIO - O ministro da educação japonês, Hakuban Shimomura, pediu que diversos cursos de Ciências Sociais e Humanas sejam cancelados. Em uma recomendação enviada às universidades, ele pediu que as ciências humanas "sirvam áreas que contemplem as necessidades da sociedade". Segundo o site Times Higher Education , das 60 universidades nacionais que oferecem cursos nessas disciplinas, 26 já confirmaram que irão cancelar ou reduzir essas matérias.

ATUALIZAÇÃO EM 2019: Japão vai voltar atrás em política educacional citada como referência por governo Bolsonaro.

Em 2018 o governo japonês decidiu retomar o apoio público às ciências humanas e sociais, revisando sua política para 2020. Pesquisas em áreas como inteligência artificial, mudanças climáticas e ciências biológicas criaram uma necessidade crescente de estudos sobre como esses avanços afetarão a sociedade e as pessoas que nela vivem.

O mais recente texto da Política Básica japonesa de Promoção da Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), publicado em agosto de 2018, afirma que "mais do que nunca" é importante reunir especialistas em disciplinas variadas para alcançar os objetivos de inovação. "É essencial fomentar recursos humanos que possam conectar ciência com política, administração e vários setores dentro e fora do Japão, com perspectivas históricas e internacionais e conhecimento geopolítico", diz o texto.

"Abolir organizações"

A ação aconteceu depois que o ministro da Educação, Hakuban Shimomura, enviou uma carta às 86 universidades nacionais do Japão pedindo que “tomem ações para abolir organizações (de ciências sociais e humanas) ou sirvam áreas que contemplem as necessidades da sociedade”.

O decreto ministerial foi denunciado pelo reitor de uma das universidades como um ato "anti-intelectual", enquanto as universidades de Tóquio e de Quioto, consideradas as mais prestigiadas do país, teriam adiantando que não vão cumprir o pedido.

Por outro lado, 17 universidades nacionais vão parar de recrutar estudantes para cursos de Ciências Sociais e Humana, incluindo cursos como Direito e Economia, de acordo com uma pesquisa com reitores de universidades feita pelo jornal "Yomiuri Shimbun" e publicada no blog Espaço Ciências Sociais.

Segundo a publicação, o Conselho de Ciência do Japão divulgou um comunicado no mês passado em que manifestou sua "profunda preocupação com o potencial do grave impacto que uma diretiva administrativa como essa implicaria para o futuro das Ciências Sociais e Humanas no Japão".

Acredita-se que ação faça parte dos esforços mais amplos de primeiro-ministro Shinzo Abe para promover o que chamou de "educação mais prática profissional, que melhor se antecipa às necessidades da sociedade". No entanto, é provável que a atitude esteja ligada às pressões financeiras em curso sobre universidades japonesas, ligadas a uma baixa taxa de natalidade e diminuição do número de estudantes, que levaram muitas instituições a funcionarem com menos de 50% da capacidade.