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Carolina Moreyra, Odilon Moraes,  (Foto: Crescer)

Carolina Moreyra, Cristiane Rogério, Odilon Moraes, Ana Paula Pontes e Aryane Cararo (Foto: Crescer)

Odilon foi o vencedor do Troféu em 2018 (Foto: Crescer)

Odilon foi o vencedor do Troféu em 2018 (Foto: Crescer)

Todos os anos, junto com a lista dos 30 melhores livros infantis (a lista completa você confere na edição de junho da revista, que já está chegando nas bancas), CRESCER concede um prêmio a um autor. Na 13ª edição, Odilon Moraes foi o grande vencedor do Troféu Monteiro Lobato de Literatura Infantil. O reconhecimento é fruto de um trabalho meticuloso de pesquisa e de refinamento com a arte da ilustração e da escrita que se refletem em livros excepcionais.

O prêmio foi entregue a Odilon Moraes na segunda-feira (28) pela editora-chefe da CRESCER, Ana Paula Pontes. Também estiveram presentes no evento Malu Echeverria, editora da marca, Aryane Cararo, colaboradora que organizou a lista anual de livros nesta edição, Cristiane Rogério, jornalista, pesquisadora e coordenadora n'A Casa Tombada, que foi uma das juradas do prêmio, e Carolina Moreyra, cineasta, escritora e esposa de Odilon.

O lapidador de histórias

Ele formou-se arquiteto, mas nunca exerceu a profissão. Não que tenha planejado virar autor de livros infantojuvenis, mas o talento do ilustrador o levou para este caminho. E, uma vez nele, o paulistano Odilon Moraes decidiu se aprofundar no assunto. Transformou-se em um dos nomes que mais entendem de livro ilustrado no Brasil, especialmente aqueles dedicados às crianças e aos adolescentes. É esta mistura de pesquisa com elementos da própria vida que vemos em Rosa, lançado no ano passado e que está entre os 30 Melhores Livros Infantis do Ano. Além dele, também está na lista Direitos do pequeno leitor, escrito por Patricia Auerbach e iustrado por ele.

Carolina Moreyra, Odilon Moraes, Ana Paula Pontes e Malu Echeverria (Foto: Crescer)

Carolina Moreyra, Odilon Moraes, Ana Paula Pontes, Aryane Cararo e Malu Echeverria (Foto: Crescer)

Em 2017, Odilon viu outros dois projetos especiais ganharem corpo: A Princesinha Medrosa e Pedro e Lua foram reeditados, agora pela editora Jujuba. Com Rosa e O Presente, compõem as quatro obras de que Odilon foi autor. Oferecendo tantas notícias boas para os leitores, é merecido que seja ele o ganhador do Troféu Monteiro Lobato de Literatura Infantil, edição 2018, prêmio dado para o artista de maior destaque no ano que passou.

Odilon nasceu em 1º de agosto de 1966, em São Paulo, mas com poucos meses mudou-se para o interior do estado e cresceu por lá, brincando com os amigos na rua e no quintal de casa, ou indo ao cinema que ficava na mesma rua. Aos 12 anos, foi para São Carlos (interior de São Paulo) e, com nova turma, começou a tocar violão, compor músicas e jogar vôlei, esporte que ainda pratica com os filhos.

Em casa, passava horas olhando para os quadros que apareciam em publicações como os da coleção Gênios da Pintura, que o pai, um juiz, comprava na banca. Também lia as coleções de mitologia grega, observando sempre as pinturas com imagens dos deuses e das cenas mitológicas – que seriam uma influência para seu trabalho, mais tarde.

Sua relação com o pai, aliás, foi marcada pelos pincéis e por mais silêncios do que palavras – silêncios que gritam fortemente na relação de um filho e seu genitor no livro Rosa.

O pai de Odilon pinta quadros com tinta a óleo e os dois costumavam sair juntos com cavalete e tinta para retratar as paisagens. “Odilon fala que eles conversavam pela pintura, em silêncio, e isso é uma referência importante”, conta a cineasta e escritora Carolina Moreyra, mulher de Odilon, que manteve a surpresa deste prêmio do marido até a chegada da revista às bancas. Apesar do talento para as artes plásticas, ele decidiu seguir uma carreira mais tradicional e voltou à capital para estudar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo (USP) – com uma breve interrupção para um curso de artes plásticas em Londres. Mas acabou sendo escolhido pelos livros. Certo dia, o amigo e ilustrador Ricardo Girotto o convidou para levar alguns desenhos a uma editora e cada um saiu dali com um texto para ilustrar. Aquele trabalho selou seu destino: Odilon formou-se arquiteto, mas nunca atuou na área.

Paixão pela literatura

De lá para cá, nem ele mesmo sabe quantos livros ilustrou. “Há anos que ele fala mais de 80, mas não sei se já chegou a 100”, diz Carolina, que o conheceu há 14 anos. Poderia ser mais, mas Odilon é muito criterioso. Para as obras que escreve, além de ilustrar, ele faz um protótipo e dá início a um sem-fim de intervenções, como conta a mulher: “Muda o texto, mexe na ilustração, tira uma cópia. E coloca o livro na gaveta. Dali a um tempo tira, mexe no texto, muda a ilustração e volta com o livro para a gaveta. É um processo lento, de lapidação”. Foi assim com Rosa, que começou a ser escrito em 2005, quando nasceu seu primeiro filho, João – Odilon e Carolina são pais também de Francisco, 8 anos, e Luísa, 6. “[Em Rosa] acho que ele se pensou enquanto filho de um pai e, ao mesmo tempo, passou a se ver como pai de um filho, lugar em que ele não havia se colocado antes”, revela a mulher. Curioso é ver que sua relação com os filhos também passa pela arte: juntos, eles costumam desenhar e pintar.

Um passeio às livrarias é sinônimo de felicidade para Odilon Moraes (Foto: Divulgação)

Um passeio às livrarias é sinônimo de felicidade para Odilon Moraes (Foto: Divulgação)

Nos projetos em que faz com outros autores, Odilon é criterioso na escolha de quais textos pegar – assim, o trabalho costuma fluir com rapidez. “Admiro o comprometimento com que ele trabalha. As decisões, os critérios, as escolhas são sempre pensando no bem do livro, em como aquela história deve ser contada. Nisso, ele pode se mostrar uma pessoa sensível, delicada ou um leão”, revela Carolina.

Ela sabe bem o que está falando, pois já foi sua parceira também na literatura com os livros Lá e Aqui e O Guarda-Chuva do Vovô. Tanto esmero lhe rendeu diversos prêmios, entre eles os Jabutis de melhor ilustração por A Saga de Siegfried (1994) e O Matador (2009); o Prêmio Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) 2003 Criança e Ilustração e o Prêmio Adolfo Aizen por A Princesinha Medrosa; o FNLIJ 2005 Criança por Pedro e Lua; e o selo White Ravens, da Alemanha.

Os prêmios são reflexo de sua paixão pela literatura e também de seu olhar como estudioso do livro ilustrado. “Quer deixar ele feliz é propor um passeio na livraria”, conta a mulher de Odilon. O conhecimento acumulado ele transmite em aulas no curso de pós-graduação n’A Casa Tombada e no Instituto Vera Cruz (SP), além de diversas oficinas. Quando fala, ninguém interrompe. “A paixão pela história e pelas possibilidades do livro ilustrado fica tão evidente que é só ouvir. Odilon demonstra uma generosidade incrível: está sempre pronto a ouvir um ponto de vista novo. Por mais estudo que ele acumule, as aulas são espaços de criação”, diz Cristiane Rogerio, coordenadora n’A Casa Tombada (SP). Típico de quem gosta de lapidar uma ideia.

Por que Odilon merece este prêmio

"Enquanto ilustrador, é versátil em seus traços e produz narrativas visuais belíssimas, tratando de temas importantes da condição humana. Suas obras proporcionam ao leitor uma rica experiência estética, de linguagem e da potencialidade das metáforas.""

Lucélia Martins de Souza, agente do brincar, estudante de Educomunicação (ECA-USP) e articuladora para formação de leitores e mediadores

"Odilon é um escritor talentoso e um ilustrador refinado ao extremo. Como escritor, tem feito belíssimas histórias e se superado em cada uma delas.""

Denize Carvalho e Priscila Carvalho, sócias da distribuidora Casa de Livros (SP)

"Mais que talento e trabalho, imaginação e virtuosismo: o autor vem, a cada livro, enriquecendo o gênero em que se especializou, e aumentando sua ‘aposta’ e seu desafio em obras de consecução difícil, como na mais recente, Rosa, quando faz falar por sua voz, seu pensamento, sua mão, o grande escritor mineiro.""

Mario Hélio, jornalista editor e professor

"Suas obras têm se destacado pela sensibilidade e profundidade dos textos e pelas belas ilustrações.""

Alice Bandini, arte-educadora e contadora de histórias

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