Cleo: Chega de body shaming

"A Bey engordou, a Rihanna engordou, eu engordei, e tá tudo bem! Tá tudo bem ser mutável – como todo ser humano", diz, em sua primeira coluna para a Glamour

Por Cleo


audima

Em 2019, Camila Cabello comemorou os dois anos do seu hit Havana, música que consolidou seu voo solo. Esperávamos posts de comemoração, um grande #tbt sobre como sua carreira chegou onde está hoje, muita comoção dos fãs, e etc. E, de fato, teria sido assim se a cantora não tivesse tido a "ousadia" de aparecer de biquíni curtindo um dia de sol na mesma data. A comemoração pelo aniversário da música ficou para depois, e Camila precisou interromper sua programação normal para manifestar-se a respeito dos comentários maldosos sobre o seu corpo. Assim como Camila, Beyoncé teve o lançamento de O Rei Leão ofuscado por comentários como: "Nossa, como a Bey tá enorme".

Bem-vindxs a 2019, o ano que descobri que nem a Beyonce está imune ao body shaming. A expressão refere-se ao ato de apontar os "defeitos" do corpo alheio, causando constrangimento e vergonha para quem recebe esse tipo de comentário. Ou seja, bullying dos mais cruéis.

Esse fenômeno tóxico – que viralizou graças ao fácil acesso que temos à vida dos outros pela Internet – causa um grande reflexo social.

No mundo, estima-se que de 10% a 20% dos adolescentes sofrem com transtornos alimentares que começam a se manifestar ainda na infância. Desde muito cedo, as crianças absorvem essa cultura doentia de exigir que seres humanos (especialmente mulheres) sejam esteticamente perfeitxs de acordo com um padrão inventado por sei lá quem. E eu cansei disso.

Cleo (Foto: Rodolfo Magalhães / Divulgação) — Foto: Glamour

É revoltante pensar que a cereja do bolo para o mundo nos considerar "mulheres de sucesso" tem, no combo de exigências, o item barriga de tanquinho. E artistas, influencers e figuras mundialmente expostas lidam com as expectativas dos outros sobre si 24 horas por dia – eu me incluo nessa.

A minha reflexão é sobre o que podemos fazer, enquanto consumidorxs do trabalho dessas mulheres, para não alimentar a prática do body shaming.

São evidentes os motivos que me levam a falar sobre isso agora. Não que eu tenha me tornado uma pessoa monotemática – adoraria estar falando aqui sobre os meus novos projetos –, mas o que vem acontecendo em relação à postura da mídia e de uma parcela das pessoas que me seguem nas redes vem me afetado, sim. E, vez ou outra, nós, "pessoas públicas", precisamos lembrar ao mundo que também somos de carne e osso (e células de gordura, que às vezes dobram de tamanho, rs).

Quantas pessoas têm registros sendo entrevistadas pela Glória Maria aos 6 anos de idade? Quantas têm imagens do primeiro trabalho aos 14? Minha vida começou a ser exposta quando eu nasci, e lidei com o fato das minhas atitudes gerarem expectativas (mesmo que irreais) até o presente momento. Mas foi quando eu percebi que, por não corresponder tais expectativas em relação à minha imagem, as pessoas se acham no direito de me questionar e envergonhar publicamente, que me dei conta: ser mulher é isso, ter grandes e dolorosas fichas caindo todo santo dia.

Cleo de maio (Foto: Reprodução / instagram) — Foto: Glamour

Eu mesma tenho refletidoo sobre a maneira como enxergo as artistas que considero grandes ícones. Por quê? Porque eu, assim como você, tive meus pensamentos intoxicados para automaticamente julgar a aparência do outro o tempo inteiro. E eu venho corrigindo isso no meu olhar há anos.

Para mim, essa é a base da desconstrução: aceitar-se como uma pessoa "envenenada" pelas referências brutais que recebemos diariamente; assumir-se nessa condição e, então, detectar ações e pensamentos tóxicos para substituí-los por outros mais positivos.

Então eu sugiro que, daqui pra frente, toda vez que você ver uma mulher e a primeira coisa que saltar aos seus olhos for algo sobre sua aparência, mude! Diga para si mesma: “not today Satan, hoje eu vou ser melhor.” A Bey engordou, a Rihanna engordou, eu engordei, e tá tudo bem! Tá tudo bem em ser mutável – como todo ser humano.

Cleo (Foto: Instagram/Reprodução) — Foto: Glamour
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