• Manuela Azenha
  • Colaboração para Marie Claire
Atualizado em
Sâmia Bomfim ainda grávida de Hugo (Foto: Arquivo pessoal)

Sâmia Bomfim ainda grávida de Hugo (Foto: Arquivo pessoal)

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) mais uma vez teve que explicar publicamente, à meia-noite da última terça-feira (10), que está de licença-maternidade e por isso impedida de votar nas sessões da Câmara. O aviso foi feito em suas redes sociais após a votação da PEC (proposta de emenda à Constituição) que propunha o voto impresso em eleições, plebiscitos e referendos. A deputada, prestes a completar 32 anos, deu à luz a Hugo no dia 24 de junho, seu filho com o marido e também deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ).

A explicação se faz necessária porque nos painéis de votação da Casa consta apenas que Sâmia está ausente na sessão - dando a entender que a política não quis se posicionar num determinado tema ou então que simplesmente não compareceu. Por esse motivo, Sâmia enviou à Mesa Diretora da Câmara um requerimento para que a Casa passe a sinalizar nos painéis de votações do plenário e nas comissões quando uma parlamentar está de licença-maternidade.

“Estamos no governo Bolsonaro e eu sou uma parlamentar de oposição, atuante, combativa. A partir do momento que aparece como ausente ou falta, isso também tem um significado político, de que não cumpri com as responsabilidades ou que optei por não votar, não enfrentar a pauta. Isso é muito grave num momento de tantos retrocessos. E não corresponde ao meu perfil. O pedido de constar a licença-maternidade é pela transparência com o eleitor e porque o jeito que está hoje é uma violência política contra a mulher”, afirma à Marie Claire em sua primeira entrevista após o parto.

Aos 27 anos, Sâmia tornou-se vereadora de São Paulo pelo PSOL, em 2016. Em 2018 foi eleita deputada federal, a mais votada do partido no estado. Em 2020 anunciou sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo, mas foi derrotada pela chapa de Guilherme Boulos e Luiza Erundina.

Sâmia relata que ao longo dos quase cinco anos de vida pública houve um acirramento da violência política, em especial a de gênero, e conta dos ataques que já recebeu de colegas parlamentares. “É difícil [ser mulher no Congresso], ainda mais jovem e de esquerda, de oposição ao bolsonarismo. Tem muitos parlamentares fascistas, hostis, violentos, desrespeitosos, terríveis (...) Agora mesmo na minha gravidez botaram aquele exército de redes sociais para me ofender, fazer comentários desrespeitosos sobre alguém que ainda estava na minha barriga”.

Abaixo, os principais trechos da entrevista:

MARIE CLAIRE Você enviou à Mesa Diretora da Câmara um requerimento para que a Casa passe a sinalizar nos painéis de votações no plenário e nas comissões quando uma parlamentar estiver de licença-maternidade. Qual a importância dessa mudança?
SÂMIA BOMFIM
A licença maternidade na Câmara é uma luta antiga. A primeira parlamentar a conseguir exercer esse direito foi a Jandira Feghali, no início da década de 1990. Haviam sugerido a ela entrar de licença médica, e por motivos óbvios ela se negou, justamente pela importância de se reconhecer a licença-maternidade a uma parlamentar. Se tem esse tipo de barreira no espaço do Parlamento, o reflexo disso ao restante das mulheres é muito grande, é o não reconhecimento generalizado e um recado de que não podem ter seu exercício profissional assegurado no momento em que também são mães. Esse não foi o primeiro pedido. Ano passado, junto com toda bancada, fizemos um projeto de lei de resolução interna que nunca foi adiante, mas que falava desse tema de painel e outros, como a adaptação dos espaços físicos da Câmara. O banheiro no Senado foi feito muito recentemente. Ainda precisa avançar muito para compreender a mulher mãe. Nos últimos anos houve um aumento de presença de mulheres jovens parlamentares, em idade reprodutiva, e são necessárias adaptações. O pedido que fiz, especificamente, tem a ver com o tema do painel porque estamos no governo Bolsonaro e eu sou parlamentar de oposição, combativa, e a partir do momento que aparece como ausente ou falta, isso também tem significado político, de que não cumpriu com as responsabilidades ou que optou por não votar, não enfrentar a pauta. Isso é grave num momento de tantos retrocessos. Não corresponde ao meu perfil. O pedido de licença-maternidade é pela transparência com o eleitor e porque é uma violência política contra a mulher.

MC Já recebeu alguma resposta sobre o requerimento?
SB
A gente pediu um prazo de 10 dias para responderem, porque costuma demorar muito. Já fizemos outros memorandos e demoraram um mês e meio, dois meses, para responder.

MC Durante a licença-maternidade, temas importantes foram votados na Câmara, como a PEC do voto impresso, a privatização dos Correios, da Eletrobras e o chamado PL da Grilagem. Deveria haver algum substituto ou representante para as deputadas durantes esses 120 dias?
SB
Na licença-maternidade eu não só tenho o direito de não votar como estou impedida de votar, é um pressuposto. Ainda que queira, não consigo votar, fazer requerimentos, nenhuma ação legislativa. Consigo fazer ações na Justiça porque aí independe do exercício da licença maternidade. Mas como parlamentar, do ponto de vista institucional, não posso fazer nada. Acho o método correto, não ter substituto, porque na prática uma substituição significa a dissolução do mandato. Porque um novo parlamentar significaria plenos poderes para ele poder mudar a lógica de funcionamento do gabinete, demissão de assessores. Mas não significa também que o eleitor vá ficar completamente por fora do que eu votaria, das minhas posições. Elas são indicadas pela liderança da bancada. Para além disso, é possível saber as posições do meu gabinete pelas redes sociais.

MC Como fica o seu gabinete enquanto você está de licença, funciona plenamente? O que o gabinete fica impedido de fazer?
SB
O gabinete funciona plenamente porque nosso mandato a gente divide em assessores regionais, que tocam pautas locais, a parte da assessoria política, jurídica, o acompanhamento das pautas de Brasília e a equipe de comunicação. As reuniões que eu faria são feitas por assessores. O que não acontece é minha presença em votações e requerimentos. Num mandato coletivo, como o nosso, é possível seguir um funcionamento. Na lógica personalista, na qual se espera muito da figura pública, tem coisas que são de fato insubstituíveis. Mas quem procurar nosso mandato vai ser atendido nesse período.

MC O tempo de licença-maternidade para deputadas é o mesmo para as outras mulheres servidoras públicas? Você acha o tempo suficiente?
SB
São somente 4 meses para parlamentares e para servidoras são 6 meses. É tempo insuficiente pensando nas necessidades de sobrevivência de um recém-nascido. O aleitamento materno exclusivo, por exemplo, é recomendado pela Organização Mundial de Saúde por no mínimo 6 meses. Não à toa, no Brasil a realidade é de 54 dias em média. Porque para as mulheres em geral não há rede de apoio, condições materiais para que possam ter essa tarefa de cuidado com os filhos. É uma realidade muito cruel para a maior parte das mulheres e é um tema não muito abordado porque diz respeito a um trabalho invisível e não valorizado pela sociedade brasileira.

MC Entendo que sua queixa é sobre sua presença constar como falta durante a licença, mas sobre uma ausência durante esse período: ela é desejada? O seu desejo é viver a licença sem precisar pensar no Congresso e conseguir ficar completamente off?
SB
Para mim é um conflito. Tenho dificuldade de me desligar do Congresso. Vou me atualizando, lendo, sempre estou em contato com minha equipe e com quem está em Brasília, acompanho as discussões nos grupos do PSOL. A questão é ter o direito de não estar lá obrigatoriamente. Mas para mim pelo menos não é uma anulação da minha figura enquanto alguém que exerce política, que emite opiniões, acompanha e tem lutas e pautas. Só é a compreensão de que não dá para eu ter a obrigatoriedade de estar nos horários e presente como demais parlamentares porque tenho outro trabalho a exercer nesse momento.

Imagem do nascimento de Hugo, o primeiro filho de Sâmia e de Glauber, também deputado federal (Foto: Arquivo pessoal)

Imagem do nascimento de Hugo, o primeiro filho de Sâmia e de Glauber, também deputado federal (Foto: Arquivo pessoal)

MC Você ficou grávida durante a pandemia. Foi planejado ou te pegou de surpresa?
SB
Não foi uma gravidez planejada, mas foi consciente no sentido de que a não utilização de métodos contraceptivos poderia levar a isso. Deixamos acontecer. Pelo momento da nossa idade, condições financeiras e vontade de exercer a maternidade e paternidade, e de escolher o companheiro como alguém que confiaria em desenvolver algo tão importante, transformador e profundo.

MC Como foi ser gestante em meio a uma pandemia? E como tem sido agora, com seu bebê recém-nascido?
SB
Bastante delicado, em especial pelos cuidados com a saúde, o isolamento social. Sempre fui atuante na rua e tive que suspender isso na segunda metade da gestação por conta dos riscos da covid-19 para gestantes. O Brasil foi recordista em mortes de grávidas por covid-19, 8 de cada 10 mortes foram aqui. A ausência da vacina e a pandemia completamente descontrolada me fizeram ficar reclusa e exercer atividades online. Mas na medida do possível conseguimos transferir a atuação para uma dinâmica online. Também foi difícil a ausência de uma rede de apoio. Geralmente as pessoas próximas te acompanham, veem sua barriga crescendo. Meus pais me viram quase sem barriga e depois o Hugo nascido já.

MC Glauber já declarou publicamente algumas vezes a admiração por Hugo Chávez. O nome do seu bebê foi uma homenagem ao ex-presidente venezuelano?
SB
Pensando em nomes a gente sempre voltava para Hugo, justamente pela admiração do Glauber pelo Chávez, mas também pelo argentino Hugo Capacete, mais conhecido como Nahuel Moreno, um dirigente da quarta internacional. É um nome bonito, curtinho, mas também uma forma de vinculá-lo a nossas convicções políticas, ideológicas, e é uma homenagem a quem tem um importante legado de luta na América Latina.

"Não à toa Silvia Federici tem se tornado cada vez mais uma referência nos debates feministas. Há a importância do trabalho reprodutivo, para pensarmos o quanto o patriarcado e capitalismo recaem sobre as mulheres"

Sâmia Bomfim

MC Você foi uma das principais defensoras no Congresso da ampliação do programa de vacinação a todas as grávidas. Em que pé está o PL? Como parlamentar, a gravidez te fez voltar mais os olhos às gestantes?
SB
Sim, até por estar passando pela situação, me deparar com as fragilidades de uma gestante durante a pandemia e pensar que eu consegui fazer distanciamento social, tive acesso pleno ao pré-natal. Ao me deparar com a realidade pras demais gestantes foi absolutamente desesperador. A luta pelo PL da vacinação de gestantes marcou bastante esse período para mim. Se tornou lei agora, é uma conquista, mas por outro lado quantas mulheres morreram? A legião de órfãos que a pandemia trouxe nenhuma lei vai reverter. Ficou ainda mais exposta a falta de cuidados e de amparo à maternidade como um todo. Sem dúvida, ser gestante e agora mãe me faz ser política de outra forma. Eu já tinha uma série de PLs e pautas com relação a isso, mas agora vejo de uma maneira diferente as tarefas reprodutivas de uma maneira geral. Esse debate tem aumentado na política brasileira. Não à toa Silvia Federici tem se tornado cada vez mais uma referência nos debates feministas, a importância do trabalho reprodutivo para pensar o quanto o patriarcado e capitalismo recaem sobre as mulheres e o quanto isso é necessário para perpetuar esse modelo. O feminismo sempre foi algo transversal à minha atividade política, mas agora identifico uma invisibilidade e uma ausência profunda de direitos que dizem respeito a muitas mulheres que, até pela condição de mãe, não têm voz. São retiradas dos espaços públicos, não são consultadas, não são visíveis para o sistema.

MC Você e Glauber apresentaram o Projeto de Lei nº 1.974/21, chamado de Estatuto da Parentalidade. Qual a importância de trocar licenças maternidade e paternidade por uma licença parental?
SB
O estatuto visa trazer luz a esse debate dos primeiros cuidados com o bebê, propõe uma ampliação do tempo para 6 meses e que as tarefas possam ser compartilhadas pela figura do casal, homem e mulher, mas também pelas demais figuras de cuidadoras, como avó, tia, e esposa quando é um casal homoafetivo - para que se pense no cuidado do bebê não só como tarefa exclusiva da mãe. Tirando a amamentação, todas as demais atividades devem ser compartilhadas. Se romantiza muito esse período da maternidade, mas é muito desgastante quando só a mulher a exerce, e pode ser violento e traumático. O Brasil é muito atrasado, são só 5 dias para licença paternidade, uns dois dias depois que você sai do hospital. Não foi o meu caso, mas para quem faz cesária, tem uma questão física muito forte, muitas ficam impedidas de pegarem o bebê no colo. Ainda estou no puerpério, o que do ponto de vista psicológico é um turbilhão. Glauber saiu da licença nesse momento. É cruel também para quem quer ser pai.

MC Esse foi o primeiro PL que elaboraram juntos? Como é a experiência de trabalhar com o seu companheiro?
SB
Temos outros projetos de coautoria, mas compartilhados com o resto da bancada. Esse foi o primeiro nosso juntos. Foi muito legal fazer isso, e a gente atua junto em outros temas também. Somos da mesma bancada, temos posições muito próximas e compartilhamos o  mesmo projeto de mundo, mesmos anseios para a sociedade. A nossa vida pessoal e atividade política estão muito relacionados. Nos apoiamos muito, é muito bom. Gosto muito de tê-lo como companheiro de militância e de vida.

MC Como foi o início do relacionamento? Se conheceram onde e como?
SB
A gente se conheceu em 2017 num congresso do PSOL, mas começamos a conviver de fato na legislatura, em 2019, quando fui eleita deputada federal. Começamos a nos relacionar no fim do ano e no início de 2020 já a namorar. Por conta da convivência e até do isolamento social, ele veio para São Paulo, eu fui para o Rio, os tempos se aceleraram. Em meio à pandemia e à eleição eu acabei engravidando, e foi ficando mais sério e intenso. Foi tudo muito rápido.

MC Numa entrevista para a Marie Claire em 2019, você disse que Rodrigo Maia como presidente da Câmara tinha um perfil republicano, que permitia dar voz às suas ideias. Como tem sido com Arthur Lira?
SB
O Lira é um dos maiores responsáveis pela situação catastrófica do Brasil, ele é uma correia de transmissão da política bolsonarista, comanda a Câmara para isso. Ele se silencia diante dos inúmeros pedidos de impeachment protocolados. Com os parlamentares, ele se elegeu com um discurso de que a Câmara daria voz aos deputados, mas ele dá voz para a política bolsonarista, à agenda econômica, ao autoritarismo e à conivência com o genocídio e diferenças formas de violência do bolsonarismo. É muito grave, pior do que nos dois primeiros anos, sob a gestão do Rodrigo Maia. E as consequências estão aí: nesse primeiro ano foram aprovadas muitas medidas que não têm nada a ver com as principais urgências da população brasileira. Ele trata os parlamentares de uma maneira ruim, em especial as parlamentares mulheres de esquerda. É só assistir a uma sessão da Câmara. Mas dias melhores virão. Poderemos nos livrar dos Bolsonaros e bolsonaristas de plantão.

MC Você foi eleita pela primeira vez, como vereadora, em 2016. De lá para cá, com a eleição do Bolsonaro, o ambiente de trabalho mudou?
SB
Houve um acirramento da violência política, em especial de gênero, do ódio na sociedade, das redes sociais como meio de propagação desse ódio. Pioraram muito as condições objetivas da população. A pandemia trouxe ainda um agravante sobre a forma de se fazer política, com o isolamento social, mas também o absurdo que é o negacionismo se enfrentando com a realidade concreta. Além disso, a Câmara dos Vereadores e o Congresso são muito diferentes. O vereador é muito mais próximo da população, dos bairros e territórios. Sinto falta disso, de ouvir a população de forma mais direta. Por outro lado foi um ganho para minha militância, para quem vota em mim e milita comigo, porque o país está numa situação muito difícil e ali na Câmara acontece um enfrentamento direto com o bolsonarismo.

"No meu sétimo mês de gravidez, me enchiam de mensagem, um ataque organizado, questionando por que eu não tinha abortado, quando eu ia matar minha criança"

Sâmia Bomfim

MC É difícil ser mulher no Congresso Nacional?
SB
É difícil, ainda mais sendo jovem e de esquerda, de oposição ao bolsonarismo. Tem muitos parlamentares fascistas, hostis, violentos, desrespeitosos, terríveis. São da base bolsonarista, como o Daniel Silveira, Éder Mauro, Eduardo Bolsonaro. Covardes e essencialmente fascistas. O Éder Mauro chegou a fazer ameaças de morte a mim e a outras parlamentares numa sessão da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Daniel Silveira já fez insinuações e ameaças em pleno plenário. O Eduardo Bolsonaro atua principalmente pelas redes sociais, até porque ele não costuma frequentar tanto assim os espaços da Câmara. Sempre utiliza as redes para colocar a turba fascista e robôs para fazer ameaças veladas e ofensas. Mas eu e as demais parlamentares não abaixamos a cabeça, respondemos, fazemos o que for necessário para não naturalizar essas violências. É difícil, porém não mais difícil do que o que qualquer outra mulher enfrenta na sociedade brasileira.

MC Qual foi o pior episódio de violência que você já enfrentou?
SB
Agora mesmo na minha gravidez, quando botaram aquele exército de redes sociais para me ofender, fazer comentários desrespeitosos sobre alguém que ainda estava na minha barriga, tentando desconstruir minha atividade política. As ofensas ao Hugo dizem respeito ao fato de eu ser uma femininsta que defende a legalização do aborto. Eles tentam apontar alguma contradição, que na verdade é deles. Legalizar o aborto é dar a opção para a mulher escolher quando e se vai ser mãe, e fazer com que o Estado ofereça essas condições. No meu sétimo mês de gravidez, me enchiam de mensagem, um ataque organizado, questionando por que eu não tinha abortado, quando eu ia matar minha criança. Dizendo que por ser filho de comunista, ele provavelmente será um lixo como os pais. Esses são os que se dizem defensores da moral e dos bons costumes, com discurso de ódio contra um bebê que nem tinha nascido ainda. Os mesmos que querem dar status civil, jurídico a partir de projetos absurdos como o estatuto do nascituro. Agora também houve questionamentos sobre eu entrar de licença maternidade, como se eu tivesse que abrir mão do mandato em função de ser mãe. Mas nada tão difícil a ponto de desanimar ou fazer desistir.