“Fui tratada como princesa e sou eternamente grata”. Carla Beninger foi uma das mais de cinco mil crianças austríacas que Portugal recebeu depois da II Guerra Mundial. A presença no país destas crianças é tema de uma exposição itinerante que está, neste momento, patente no Museu Diocesano de Lamego.

A crise que se abateu sobre a Áustria depois da guerra levou a família de Carla a fazê-la emigrar. Chegou a Braga, em 1947.

Carla, então com seis anos, viu a sua vida mudar. "Tinha um bom relacionamento com os meus irmãos e pais e não percebi por que é que veio alguém buscar-me e pôr-me um cartão ao pescoço", recorda.

O cartão tinha a marca da Cáritas portuguesa. O de Carla era "o número 923". Encaminharam-na para o comboio. "Eu não sabia porquê. Vinha com aquelas crianças todas, na totalidade cinco mil, trazidas pela Cáritas”, conta.

“Não percas o cartão”, insistiam com ela. Carla, hoje com 75 anos, diz, com emoção na voz, que não mais esqueceu o destino que a esperava. Ficou temporariamente num seminário, em Braga, e, depois, com uma família de acolhimento – um casal com quatro filhos, que tratava por tios.

“Estive cá seis meses e, depois, regressei, mas nunca perdi o contacto com a minha família acolhedora. Eram amorosos, tratavam-me como uma princesa, eu era a rainha lá da aldeia. Fui tratada como uma princesa, sou eternamente grata pelas coisas boas que aqui recebi do povo português que ainda hoje me acolhe", recorda. “Sem eles, tinha morrido.”

Carla Beninger diz que está viva graças à família de acolhimento portuguesa. Casou, teve três filhos e mora em Braga.

São testemunhos como o de Carla que estão relatados em fotografias, artigos de jornal e outros documentos que compõem a exposição patente, até 31 de Janeiro, no Museu Diocesano de Lamego.

A exposição, organizada pela Cáritas e pela embaixada de Áustria em Portugal, mostra "fotografias dessas crianças, das famílias de acolhimento, de aerogramas, de telegramas", conta o padre João Carlos Morgado, responsável pelo museu.

“Fizemos um levantamento de fotografias e recortes de jornais da diocese de Lamego e encontrámos, em 1947, provisões do bispo de então a sensibilizar os cristãos para acolherem estas vítimas da guerra”, acrescenta.