POLÍTICA

Alinhamento entre Ibaneis e Bolsonaro se torna mais evidente em 2020

Chefe do Buriti acompanhou decisões do governo federal em temas polêmicos, como a reabertura do comércio durante a pandemia

Em meio às crises e instabilidades de 2020, o governador Ibaneis Rocha (MDB) estreitou a relação com o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Até então, o emedebista demonstrava proximidade com o chefe do Palácio do Planalto, mas adotava postura mais crítica. Neste ano, porém, o alinhamento tornou-se mais claro e apareceu em momentos importantes.

Ibaneis, um dos primeiros governadores a adotar medidas mais rígidas contra a covid-19, tornou-se um aliado relevante para o Executivo nacional em relação às estratégias definidas durante a pandemia. Nos bastidores, a avaliação do Palácio do Planalto era de que o retorno das atividades comerciais no DF poderia puxar movimentos do tipo no restante do país, o que, de fato, ocorreu. O emedebista participou de diversos encontros na sede do governo federal no período e a decisão pela reabertura teve efeito em outras partes do Brasil.

Em entrevista ao Correio durante a pandemia, o governador explicitou apoio às políticas do presidente. “Eu acho que o Bolsonaro está muito bem e digo isso desde o ano passado. O presidente está bem colocado nas pesquisas e está com um trabalho muito bem-feito em plena pandemia, em especial no que diz respeito às pessoas mais pobres”, disse Ibaneis, em setembro. “Ele conseguiu fazer quase todas as reformas. (...) Eu tenho para mim que o presidente tem direito a uma reeleição, principalmente com o nível do percentual que ele tem hoje. Se quiser, Bolsonaro vai ser merecidamente reeleito e terá meu apoio.”

O presidente da República também deixou claro o alinhamento com o governador do DF: “Viemos conversando há algum tempo. Estou muito feliz em contar com a contribuição dele e, também, com o entendimento de alguma coisa que propomos ao Distrito Federal, afinal de contas, somos irmãos. Vamos viver juntos eternamente”, disse Bolsonaro a Ibaneis, na cerimônia de posse do ministro da Justiça e Segurança Pública, André Luiz Mendonça, em abril.

Saídas

Ibaneis também ficou ao lado do mandatário em momentos conturbados, como à época das demissões dos ex-ministros Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde). As duas baixas no governo federal provocaram desgaste para a gestão do presidente, mas o emedebista apoiou publicamente, nos dois casos, a decisão de Bolsonaro e fez críticas a Moro e Mandetta.

Na Saúde, Ibaneis também tem ficado junto ao Executivo federal na questão do plano de vacinação contra a covid-19. Ao contrário de governadores de outras unidades da Federação, o chefe do Palácio do Buriti defende que a estratégia deve ser nacional e coordenada totalmente pelo Ministério da Saúde. Em São Paulo, por exemplo, João Doria (PSDB) optou por construir campanha própria de imunização, o que gerou momentos conturbados com o Planalto.

Reajuste

Se houve diversos acenos do Executivo local para o governo federal, também ocorreram contrapartidas. A principal delas foi a concretização do reajuste para as forças de segurança do DF, uma demanda das corporações que se arrastava havia décadas. Para sair do papel, o aval e a articulação da União eram fundamentais, pois os pagamentos são feitos com recursos do Fundo Constitucional.

Mesmo em um ano atípico e complicado, Bolsonaro, que também vê os servidores da segurança como parte fundamental do capital eleitoral dele, enviou ao Congresso Nacional a medida provisória (MP) que permitiu o aumento para policiais civis e militares, além de bombeiros, do DF. Com articulação do Governo do Distrito Federal e da bancada local no parlamento, a recomposição teve aprovação da Casa e passou a valer.

Houve pressa na edição da MP, em maio, para que o texto começasse a vigorar antes de o presidente sancionar o auxílio para estados e municípios com congelamento do salário de servidores. Era fundamental que o reajuste para as corporações do Distrito Federal fosse aprovado antes da restrição, que impossibilitaria completamente a recomposição em 2020.