Uma carta de Salvini para manter França (e Macron) sob pressão

A crise diplomática entre Itália e França aprofunda-se, num clima em que para os dois partidos do Governo de Roma, mostrar agressividade com Paris é uma estratégia de sucesso eleitoral.

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Di Maio e Salvini: ambos escolheram Macron como um adversário no plano europeu Remo Casilli/REUTERS

O ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, escreveu a Christophe Castaner, o seu homólogo francês, convidando-o a ir a Roma, para "um confronto e uma discussão profícua sobre os dossiers abertos" entre os dois países, incluindo "a segurança, o terrorismo e a imigração". Castaner fez saber que não responde a convocatórias. 

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O ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, escreveu a Christophe Castaner, o seu homólogo francês, convidando-o a ir a Roma, para "um confronto e uma discussão profícua sobre os dossiers abertos" entre os dois países, incluindo "a segurança, o terrorismo e a imigração". Castaner fez saber que não responde a convocatórias. 

Ao ser tornada pública, a carta é mais uma demonstração de como os ataques contra França – e contra o seu Presidente, Emmanuel Macron – se tornaram uma arma de campanha da coligação no poder em Itália.

Paris chamou de volta o seu embaixador em Roma na quinta-feira, depois de o vice-primeiro-ministro italiano Luigi di Maio, coordenador político do Movimento 5 Estrelas (partido anti-sistema que faz coligação com a Liga, de extrema-direita, de Salvini) ter divulgado no seu próprio Facebook que se tinha encontrado, em França, com elementos de uma das listas de "coletes amarelos" que se tentam organizar para concorrer às eleições europeias.

Di Maio publicou uma foto sua de um encontro com Christophe Chalençon e outros candidatos da lista encabeçada por Ingrid Levavasseur, no qual não esteve a cabeça de lista. Chalençon notabilizou-se por ter expressado posições de extrema-direita, numa entrevista na televisão. E agora, foi desautorizado por Levavasseur por se ter apresentado como porta-voz da lista: "Não é nada porta-voz, pôs-se em bicos de pés com os italianos", disse a candidata ao Le Monde.

Esta não foi sequer a primeira vez que Di Maio se imiscui na política francesa dando apoio aos "coletes amarelos". Em Janeiro, publicou uma carta aberta no blogue do Movimento 5 Estrelas, incitando-os a não cederem e oferecendo-lhes até acesso à plataforma online do partido para se organizarem.

O Governo italiano tem mostrado uma atitude agressiva, de não aceitar receber lições nem ordens na Europa – desde Junho, quando entrou em funções, a Itália ameaçou bloquear conselhos europeus se a sua posição relativamente à imigração no Mediterrâneo não fosse levada em conta.

As relações entre Roma e Paris tornam-se por vezes tensas, frequentemente por causa da economia, com França a ser acusada de defender os seus interesses sem se preocupar com as susceptibilidades italianas – como aconteceu com o polémico caso dos falidos Estaleiros do Atlântico, em Saint-Nazaire (França), que o Governo Macron pretendia renegociar a partir do zero apesar de haver um acordo concluído no mandato de François Hollande para que o armador italiano Fincatieri adquirisse 50% da empresa.

Mas também a imigração, e a primazia diplomática em áreas nas quais os dois países não abdicam de deixar a sua marca (como a Líbia) envenenaram as relações entre Macron e o Governo Salvini-Di Maio. Mas se o Presidente francês se ofereceu como paladino da Europa contra "a lepra do populismo" – visando Salvini e aliados, como o húngaro Viktor Orbán –, em Itália a oposição a França e ao seu Presidente tornou-se um tema maior dos discursos de Salvini e Di Maio, na preparação da campanha para as eleições europeias de Maio.