Violência psicológica: como reconhecer suas diferentes formas?

A violência psicológica é considerada uma forma sutil de violência. Quando se pensa em atos violentos, o que costuma aparecer na mente da maioria das pessoas são agressões físicas. Muitas ainda não veem as agressões psicológicas como formas de violência.  

Na verdade, não raro elas são justificativas como “ações mal pensadas” ou como parte da personalidade explosiva ou “forte” do agressor. Esta forma de violência, no entanto, é tão tóxica e prejudicial quanto à violência física. Ela inflige feridas emocionais profundas nas vítimas, as quais levam muitos anos para cicatrizar. 

Um relacionamento violento, seja amoroso ou não, pode ser definido por múltiplas formas de violência, não somente por socos e empurrões. Sendo assim, é preciso compreender as particularidades desta forma de violência para não se ver vítima dela. 

É importante destacar, ainda, que as agressões psicológicas podem ocorrer em qualquer tipo de relacionamento. Entretanto, é mais comum que elas sejam percebidas em relações afetivas. 

O que é violência psicológica?

A violência psicológica acontece de múltiplas formas. Enquanto algumas agressões podem passar despercebidas outras são mais evidentes, como xingamentos, humilhação e chantagem emocional.

Este tipo de violência possui a intenção de fragilizar o estado emocional e psicológico da vítima. O agressor psicológico recorre a várias artimanhas para deteriorar a sua saúde mental. Em relacionamentos afetivos, é mais comum esses artifícios serem usados friamente para deixar o cônjuge apegado ao agressor. 

As ações violentas são comumente mascaradas como ciúme, excesso de cuidado, temperamento forte, desentendimentos, entre outras justificativas. O agressor psicológico tende a se safar por um longo período devido às essas interpretações errôneas. 

Outra característica deste tipo de violência é o seu crescimento gradual. As agressões psicológicas vagarosamente minam a autoestima da vítima e confundem a sua percepção dos acontecimentos e da personalidade do agressor. 

Elas começam como comentários e provocações sutis. À medida que a vítima abaixa a guarda e passa a escutar o agressor, elas se transformam em agressões sérias. Dessa maneira, a vítima é incitada a se colocar em uma posição de submissão. 

Formas de agressões psicológicas

As agressões psicológicas acontecem de variadas formas, podendo ser mais violentas ou mais sutis. Como a diversidade de ações violentas é grande, a vítima pode ficar confusa ao tentar identificar o que é problemático e o que é da personalidade do agressor. 

Quando o agressor é o cônjuge, obter essa percepção é ainda mais complexo já que a vítima também nutri sentimentos bons por ele. Ela tem dificuldade para separar o que sente pelo agressor no momento do julgamento das agressões. Assim, leva mais tempo para chegar à uma conclusão concreta sobre o comportamento do parceiro.  

Para esclarecer quais atitudes compõem a violência psicológica, reunimos uma série de agressões abaixo.

  • Ameaças: o agressor psicológico ameaça terminar o relacionamento, ferir a vítima de alguma forma ou acabar com algo precioso para ela, como uma amizade ou uma oportunidade profissional;
  • Humilhação: as humilhações podem ocorrer tanto em momentos íntimos, somente entre a vítima e o agressor, quanto em ambientes públicos. Alguns agressores têm prazer em diminuir as vítimas diante de amigos e familiares para se enaltecerem;  
  • Manipulação: o agressor manipula a vítima emocionalmente por meio de várias artimanhas, como chantagem emocional e distorção da realidade. Assim, ele consegue sempre deixar a vítima perto dele para sofrer mais agressões;
  • Isolamento social: é comum a violência psicológica acontecer em paralelo com o isolamento da vítima de amigos e familiares para que ela não consiga identificar o que está errado na relação. Além disso, o agressor sente necessidade de controlar a vítima;   
  • Insultos: esta é a forma mais evidente de agressão psicológica. O agressor insulta a vida de várias maneiras desde pequenos comentários disfarçados de brincadeiras até xingamentos. Normalmente, o agressor faz a vítima se sentir burra e incapaz, colocando na cabeça dela que precisa dele para viver;
  • Limitação de direitos: esta forma de violência também se estende ao controle dos direitos de ir e vir da vítima, bem como de se expressar e de interagir com quem ela deseja. O agressor faz de tudo para administrar a vida da vítima da forma como ele bem deseja;
  • Ridicularização: semelhante à humilhação, a ridicularização tem a intenção de fazer a vítima se sentir inferior. É comum o agressor dizer que ela nunca encontrará alguém como ele porque somente ele aguenta a “estupidez/grosseria/chatice” dela. Outra característica da ridicularização é a constância de críticas à aparência, personalidade, modo de falar, vestimentas, entre outros; 
  • Distorcer fatos: a distorção de fatos, também conhecida como gaslighting, ocorre para deixar a vítima confusa sobre a realidade. O agressor distorce acontecimentos, conversas e memórias para implantar dúvidas na cabeça da vítima. Deste modo, ela passa a ver a percepção dele como certa sem considerar os seus próprios julgamentos.

Consequências da violência psicológica

À medida que as agressões psicológicas se repetem, a vítima ao mesmo tempo fica com medo do agressor e com autoestima baixa. A autopercepção negativa impede que ela termine a relação tóxica, seja esta romântica, profissional, familiar ou de amizade.  

A vítima de violência psicológica começa a duvidar da sua própria capacidade de julgamento das situações e do seu merecimento da felicidade. O agressor psicológico comumente consegue fazer a cabeça dela, criando um laço de dependência difícil de ser quebrado. 

Consequentemente, a vítima se anula, se diminui e se isola de pessoas queridas. Para não ser agredida repetidas vezes, ela cede às vontades do agressor e tenta criar uma convivência harmoniosa, mesmo que isso signifique sabotar a sua própria felicidade. 

Violência psicológica - como reconhecer suas diferentes formas

Outras esferas da vida da vítima também são afetadas. Ela deixa de trabalhar com afinco, de contatar amigos, de sair de casa (quando divide a moradia com o agressor, é comum que isso aconteça), de cuidar da saúde e da aparência, de fazer planos, entre outras. 

A longo prazo, essa forma de violência também causa diversos transtornos mentais severos, como ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático e depressão

Como o estado emocional da vítima é fragilizado a ponto de ela duvidar de seu próprio valor como pessoa, é muito difícil para ela deixar um relacionamento abusivo ou cortar relações com o agressor psicológico. 

Quem está de fora pode não entender a sua decisão de ficar ao lado do perpetuador das agressões. É assim que surgem concepções errôneas acerca de relacionamentos doentios, tais como “ele/ela gosta de sofrer”. Na verdade, a vítima precisa de ajuda psicológica e apoio para se reerguer e conseguir deixar a situação desagradável.  

O que fazer ao ser vítima de violência psicológica? 

Vítimas de agressões psicológicas devem procurar o apoio de amigos e familiares para conseguir deixar o relacionamento abusivo. A orientação de um psicólogo também é extremamente útil para fortalecer a autoestima e, consequentemente, cortar laços com o agressor.  

A terapia também auxilia as vítimas de violência psicológica a compreenderem a natureza do seu relacionamento tóxico, reestruturarem as suas vidas a partir do término ou do distanciamento do agressor, e curarem as mágoas criadas durante a relação. 

Como as agressões psicológicas têm como principal objetivo inferiorizar a vítima, é crucial trabalhar a autoestima e o amor-próprio. Ainda assim, pode levar muito tempo para a vítima se sentir como ela mesma novamente. 

O acompanhamento psicológico pode durar anos até que a vítima consiga deixar os momentos ruins vivenciados ao lado do agressor para trás por completo. O medo e a vergonha são empecilhos comuns neste processo.

Se você está sendo vítima desta forma de violência, entenda que não é preciso se envergonhar por isso. Já se você teme por sua segurança, não hesite em contatar as autoridades e se distanciar do agressor. 

Uma vez que o vínculo entre você e o agressor é cortado, você pode se concentrar unicamente em recuperar a sua autoestima. Procure esquecer as memórias desagradáveis momentaneamente e se colocar como prioridade da sua vida.

O que fazer para ajudar outra pessoa?

Violência psicológica - como reconhecer suas diferentes formas

Se alguém próximo a você é vítima de agressões psicológicas, independente da natureza do relacionamento dela com o agressor, você pode primeiramente demonstrar o seu apoio a ela.

Como as vítimas costumam estar em um estado fragilizado, essa pessoa pode ter medo ou vergonha de falar com você sobre a violência. Sendo assim, deixe claro que você não está lá para fazer julgamentos acerca da situação dela. 

Em seguida, mostre a ela quais comportamentos do agressor são, na verdade, formas de violência. Você também pode incentivá-la a avaliar o seu próprio estado emocional e psicológico, bem como identificar os sentimentos que o agressor a faz sentir no dia a dia. 

É importante que a vítima seja capaz de reconhecer esses elementos sozinha, por isso, sempre incentive a reflexão em vez de fazer acusações

Informe amigos e familiares da gravidade da situação. Se você não tiver um relacionamento muito íntimo com a vítima, é provável que eles tenham mais sucesso que você.

Por fim, encoraje a vítima de violência psicológica a fazer terapia para cuidar de sua autoestima abalada e curar as suas dores emocionais. 

Esperamos que este artigo tenha ajudado você a compreender mais sobre esta forma de violência. Para mais artigos e informações, acompanhe o blog da Vittude!

Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta