Inca se posiciona pela 1ª vez pela redução do uso de agrotóxicos

Instituto Nacional do Câncer afirma que não se trata de 'achismo ou por questões ideológicas', mas sim de evidências científicas

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Por Clarissa Thomé
Atualização:

Atualizada às 18h55
RIO - O Instituto Nacional do Câncer (Inca) recomendou nesta quarta-feira, 8, a “redução progressiva e sustentada” do emprego de agrotóxicos nas plantações, diante das evidências de que a exposição aos pesticidas está ligada a casos de câncer. É a primeira vez que a instituição se pronuncia oficialmente contra o uso de agrotóxicos (clique aqui para ler a íntegra do documento). O Brasil é o maior consumidor desses produtos químicos no mundo.
“O Inca se posiciona claramente não por achismo ou por questões ideológicas. O instituto segue evidências científicas, fruto do trabalho da sua equipe e de cientistas do mundo inteiro que tiveram seu trabalhos reavaliados pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês), ligada à Organização Mundial de Saúde”, afirmou Luiz Felipe Ribeiro Pinto, coordenador de Ensino do Inca e único representante da América Latina na Iarc.

As intoxicações agudas por agrotóxicos atingem os trabalhadores rurais, que sofrem com irritação da pele e olhos, cólicas, diarreias, dificuldades respiratórias, convulsões e morte Foto: Divulgação

O documento do Inca chama a atenção para o fato de o Brasil ser o maior consumidor mundial de agrotóxicos, com consumo médio mensal de 5,2 quilos de veneno agrícola por habitante. A venda de agrotóxicos no país passou de US $ 2 bilhões para US $ 8,5 bilhões entre 2001 e 2011.
“É importante destacar que a liberação do uso de sementes transgênicas no Brasil foi uma das responsáveis por colocar o país no primeiro lugar do ranking de consumo de agrotóxicos, uma vez que o cultivo dessas sementes modificadas exigem o uso de grandes quantidades desses produtos”, diz o texto.
As intoxicações agudas por agrotóxicos atingem os trabalhadores rurais, que sofrem cólicas, diarreias, dificuldades respiratórias, convulsões e morte. A exposição prolongada pode causar infertilidade,
impotência, abortos, malformações e câncer, informa o documento. 
“Há subnotificação da intoxicação aguda porque nos serviços de saúde muitas vezes os sintomas são confundidos com uma virose. Em 2013, houve 5,5 mil casos registrados. A OMS estima que para cada caso notificado, outros 50 não foram comunicados”, afirmou Márcia Sarpa de Campos Mello, pesquisadora do Inca.
Ribeiro Pinto informa que as pesquisas mostram “associações bastante contundentes” entre a exposição a alguns pesticidas e o surgimento do linfoma não Hodgkin (sistema linfático) e cânceres de pulmão e
próstata. “Temos que lembrar que houve explosão do uso de pesticidas em dez anos. Se pensarmos que o câncer ocorre 20 a 30 anos depois da exposição, a gente ainda verá o efeito desse aumento grande do uso de pesticida daqui a uns 15 ou 20 anos”, afirmou.
Em defesa. Em nota, a Associação Nacional de Defesa Vegetal, que reúne empresas produtoras de agrotóxicos, cita que “todos os defensivos agrícolas autorizados para o uso em nosso País passam pelo crivo e aprovação de três ministérios”.
“Levada ao extremo, a volta da lavoura arcaica - que alguns defensores tanto admiram no conforto dos seus escritórios bem refrigerados - aniquilaria a competitividade dos campos, sobretudo dos pequenos
lavradores - cerca de 70%, dos cinco milhões de agricultores do país”, diz o texto.

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