Mercado promissor para mecatrônica

Mesmo diante da deterioração do mercado de trabalho brasileiro, as áreas de engenharia mecatrônica e de controle e automação apresentam boas oportunidades, principalmente em empresas que buscam aperfeiçoar as operações por meio da mecanização da […]

22 de junho de 2016 10:46 pm Destaque, Notícias

SÃO PAULO 19/05/2016 CARREIRAS & EMPREGO ROBOTICA E MECATRONICA – GUSTAVO BANINI TRABALHA NA EMPRESA YASKAWA MOTOMAN ROBOTICA DO BRASIL LOCAL PAVILHAO DE EXPOSIÇÃO DO ANHEMBI FOTO ALEX SILVA/ESTADAO

Mesmo diante da deterioração do mercado de trabalho brasileiro, as áreas de engenharia mecatrônica e de controle e automação apresentam boas oportunidades, principalmente em empresas que buscam aperfeiçoar as operações por meio da mecanização da linha produtiva.

Unindo conhecimentos de mecânica e eletrônica, esses profissionais trabalham em diversas áreas da indústria com o objetivo de, por meio de computadores, desenvolver equipamentos automatizados para melhorar a eficiência.

“O cenário de crise também é uma oportunidade para as empresas melhorarem e se destacarem das concorrentes, por meio da redução de custos e maximização receitas. Nesse processo, o engenheiro mecatrônico é essencial”, afirma o coordenador do curso de engenharia de instrumentação, automação e robótica da Universidade Federal do ABC, Luiz Alberto Martinez Riascos.

Segundo o gerente da divisão de engenharia e logística da recrutadora Talenses, Gabriel Almeida, os processos repetitivos de diferentes indústrias estão sendo substituídos por automação e o mercado requer profissional especializado. “Dentro da indústria, cada vez mais os robôs são os responsáveis por setores como soldas e pinturas. Todas as áreas que podem ser programadas têm espaço para robotização e automação”, diz.

Almeida ressalta que esses profissionais não são, necessariamente, de uma única área de atuação. “A formação pode ser intercalada entre engenharia de automação, elétrica, mecânica, mecatrônica e de sistemas. Em comum, eles devem ter alto índice de especialização. A formação é generalista, mas é preciso ser especialista, ter um diferencial, além de raciocínio lógico e visão analítica. É uma janela de oportunidades.”

Com formação técnica em mecânica e graduação em engenharia mecânica, a robótica faz parte do dia a dia do gerente de engenharia da Yaskawa – Motoman Robótica do Brasil, Gustavo Barini, de 41 anos.

Ele conta que sempre gostou de mecânica, de montar e desmontar e na faculdade conheceu a automação. “Meu primeiro estágio foi em uma empresa integradora de robôs, em 1997. Por ser uma companhia pequena pude passar por diferentes áreas. Em 1999, a empresa foi comprada pela Motoman e minha carreira deslanchou.”

Conforme a empresa foi crescendo, Barini e os demais engenheiros evoluíram junto. Atualmente, ele gerencia 60 pessoas dos departamentos de desenvolvimento, execução, montagem e entrega de robôs.

“Desenvolvemos projetos que podem levar de três meses até alguns anos para a entrega final.”
Barini está bastante satisfeito com sua trajetória, influenciada pelo rumos da robótica. “O grande benefício de trabalhar no desenvolvimento de robôs para diferentes indústrias é que em cada projeto há uma novidade, sempre sou desafiado a fazer coisas que nunca fiz e isso é muito motivador.”

O diretor executivo da recrutadora Michael Page, Ricardo Basaglia, afirma que a versatilidade desse profissional também é uma vantagem neste momento recessivo da economia. “Como ele pode atuar em várias etapas do processo produtivo industrial, a queda na indústria, na ordem de 11,4% em março deste ano em comparação a igual período de 2015, segundo o IBGE, não impactou de forma tão drástica nas vagas ofertadas ao engenheiro mecatrônico como às outras especializações.”

Vantagem. De acordo com ele, o engenheiro mecatrônico trabalha desde a concepção do projeto até a implantação e a manutenção. “A cautela das empresas na realização de novos projetos devido à crise, não provocou uma redução da demanda por esses profissionais de forma acentuada. Ocorre uma espécie de compensação na área de manutenção”.

A remuneração também é atraente. Basaglia diz que o salário-base do profissional é de R$ 6,3 mil. Já um engenheiro sênior pode ganhar até R$ 13 mil e um especialista até R$ 18 mil.

O coordenador do curso de engenharia mecatrônica da Universidade de Brasília, Adolfo Bauchspiess, afirma que a carreira exige atualização constante. “O profissional precisa ser relativamente autodidata. Não dá para achar que vai sair da faculdade sabendo tudo.”

Profissional da área e sócio da TFPA Solutions, Ricardo Jardim endossa que é essencial estar atento às mudanças. “As tecnologias mudam rapidamente. Há fabricantes que toda semana nos enviam novidades sobre seus equipamentos.”

A carência de profissionais na área facilita à colocação rápida. Segundo Jardim, o especialista em mecatrônica é uma raridade. “O mercado é atraente, mas sofre com a falta de capital humano. Dizemos que o engenheiro mecatrônico é que nem mosca branca. Quem tem essa formação, está empregado.”

Apesar de discordar que o momento atual seja promissor para a carreira, Bauchspiess diz que, no Brasil, há grande déficit de engenheiros em relação a países desenvolvidos. “Estudo realizado pela Confederação Nacional de Indústrias, em 2015, mostra que o Brasil tem cerca de dois engenheiros para cada 100 mil habitantes. Nos Estados Unidos, esse número pula para oito e, na Alemanha, para 14.”

‘Área é uma ponte entre a mecânica e a eletrônica’, diz professor

O professor de engenharia mecatrônica do Insper Rodrigo Arruda conta que a especialização em robótica está entre as atribuições tanto da engenharia mecatrônica quanto da engenharia de controle de automação. “Mecanismos robóticos estão entre as soluções empregadas por profissionais de mecatrônica e de automação em indústrias ou sistemas de manufatura. Ele pode se especializar apenas em robótica e desenvolver braços e manipuladores robóticos”, diz.

Rodrigo Arruda, professor de engenharia mecatrônica do Insper

Arruda afirma que para ser engenheiro é preciso ter curiosidade natural e querer saber o porquê das coisas. Tem de investigar, testar e levantar hipóteses, porque irá atuar na resolução de problemas. “Mas na mecatrônica, ele também tem de gostar de componentes eletrônicos. A área é uma ponte entre a mecânica e a eletrônica.”

Segundo ele, neste momento em que as indústrias estão sendo impactadas pela crise, é hora de buscarem melhorar a eficiência na produção. “Este momento oferece grande oportunidade para os profissionais da área, porque as empresas estão repensando o custo de operação das fábricas, o número de máquinas e de etapas dos processos. Esse profissional pode atuar diretamente sobre esse tipo de problema, pensando no melhor processo de fabricação e em formas mais rápidas e eficientes de fazer as coisas utilizando dispositivos eletrônicos, sensores e controles.”

O professor ressalta que essas mudanças no processo produtivo acarretam redução de desperdício e de erros, resultando no aumento de qualidade.

Ele afirma que o mercado brasileiro acompanha as tendências mundiais. “Atualmente, muito se fala em fábricas inteligentes ou fábricas 4.0. São termos que têm a ver com o trabalho desse profissional e designam fábricas que estão atuando de maneira autônoma e mais eficiente.”

Arruda conta que a internet das coisas está chegando ao processo industrial e permitindo que haja controle mais amplo da produção. “Inclusive, já estão utilizando inteligência artificial para que as máquinas possam tomar decisões sobre o processo produtivo. Essa é a tendência, é o que vem acontecendo lá fora, principalmente na Alemanha e Estados Unidos.”

Arruda afirma que essa área tem grande potencial neste momento, pois as indústrias estão repensando o processo produtivo e questionando se realmente precisam de tantas máquinas e de tantos funcionários. “Serão esses engenheiros que irão ajudar a resolver essas questões.”

Fonte: Thaís Barcellos 
ESPECIAL PARA O ESTADO

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