Entrevista com Vic Ceridono!

Quem é “foca” sabe que, na faculdade, costuma-se ouvir o tempo todo que jornalista que se preze, tem que ser jornalista 24 horas. E quem já teve algum contato efetivo com a área sabe que esse ditado ultrapassa o lado romântico da profissão. De fato, a rotina de trabalho de um jornalista costuma ser estafante na mesma proporção em que é estimulada constantemente por novidades.

Com o aumento da democratização da internet e suas múltiplas possibilidades de mídias, o jornalista que antes era um, agora “é” dois. Os blogs vêm se tornando cada vez mais expressivos e acabam sendo um braço a mais do profissional que, inúmeras vezes, tem grande parte de seu trabalho engavetado por limitações físicas e editoriais, inerentes aos veículos que representa.

E em matéria de trabalho, ser jornalista e blogueiro exige muita dedicação e vontade, porque muitos dos blogs que vemos ganharem cada vez mais espaço por aí, são fruto de uma motivação pessoal muito forte, aliada aos processos de reportagem aos quais estamos acostumados.

Com apenas 23 anos, Victoria Ceridono é editora de moda e beleza da revista RG Vogue e dona do Dia de Beauté, blog especializado em beleza e maquiagem. Pode ser considerada um expoente dessa nova geração de jornalistas, pois seu primeiro emprego foi justamente em um site e atualmente, seu blog tem inúmeros acessos, em ascensão meteórica.

Na entrevista a seguir, Vic conta um pouco sua trajetória, fala dos preconceitos que enfrentou na faculdade, da rotina atribulada e da relação com o público, que é o principal termômetro de sua credibilidade. O resultado de seu trabalho mostra, principalmente, que é possível produzir comunicação de qualidade na internet, independentemente do assunto que se vá tratar.

1 – Vic, você  conta que começou a trabalhar no Chic, da Glória Kalil  em 2005. Diferentemente de muitos jornalistas mais velhos que tiveram que se adaptar a esse “boom” das novas mídias, você já deu seu pontapé inicial na internet. Hoje, além do Dia de Beauté você é editora de moda e beleza da RG Vogue e colabora com outras revistas. Qual é a principal diferença entre trabalhar na mídia impressa e virtual?

Pois é, é curioso que quando entrei no site estava no segundo ano da faculdade, e como fui o último ano do currículo antigo não tive uma aulinha sequer de jornalismo virtual! Então comecei no Chic e um ano depois passei a colaborar com a Vogue, fazia os dois paralelamente, por isso sempre comparei os dois tipos de mídia. Acho que tem bastante diferença, pelo “meio” mesmo, pelo fato de que a pessoa quando está lendo uma revista está lendo apenas aquilo, enquanto quem está na internet tem mil e uma janelas abertas e links para navegar. Então na revista eu consigo fazer um texto mais elaborado, maior, e na internet é uma coisa mais rápida – mesmo que o tamanho seja o mesmo, entende o que quero dizer? Outra coisa é a rapidez, temos que pensar muito no que dar na revista hoje para não ficar velho quando sair. E tem a linguagem, porque no meu blog eu escrevo de um jeito, na revista de outro, você tem que seguir o estilo do veículo.

2 – Os assuntos que regem seu trabalho – beleza e maquiagem – são mais informais, porém suas publicações são bem completas e procuram prestar um serviço de qualidade. Você pode contar um pouco como é a sua relação com as fontes? Já encontrou alguma grande dificuldade na coleta de informações?

Engraçado porque às vezes sento para escrever um texto e simplesmente sai tudo, sem precisar falar com ninguém. Mas claro que não é porque eu sei de tudo, e sim porque acompanho muito de perto tudo o que acontece, tenho contato direto com as novidades, sempre fui leitora ávida por informações de beleza, realmente gosto do assunto então vira uma coisa natural. Acho que por ser mulher, “heavy user” e muito interessada consigo passar para as leitoras uma coisa mais “vida real”, pelo menos esse é meu objetivo, ensinar mostrando que maquiagem e cabelo não são coisas complexas. Nunca tive problema para colher informação, depois de cinco anos trabalhando com isso tenho a facilidade de poder ligar para maquiadores e dermatologistas e resolver o que preciso. E também tem o peso do veículo, claro, que ajuda muito no começo.

3 – Você já entrevistou algum ídolo seu? E quem você gostaria de entrevistar que ainda não teve oportunidade?

Nossa, vários. Eu sempre fui tiete de maquiador e hoje em dia conheço todos, isso é um privilégio. A Glória Kalil sempre foi ídola e foi minha primeira chefe, com quem eu até hoje mantenho uma ótima relação, ela é minha guru, outro privilégio. E já entrevistei muitas pessoas interessantes, como as responsáveis por desenvolver os produtos da Clinique e da MAC, incrível. Sonho? Pat McGrath, maquiadora musa absoluta.

4- No ano passado eu entrevistei a Nana Caetano, ex- redatora chefe da Vogue e ela me disse que as revistas costumam ter sempre um tema central como pano de fundo. Na RG Vogue também funciona assim? Como editora de moda e beleza, é você que seleciona as pautas da revista? E como você divide o que vai pro blog e pra revista, pra não haver conflito de informações?

Na RG não temos isso tão latente quanto na Vogue, temos apenas a preocupação com a época do ano – fevereiro é mais festivo por ser carnaval, março tem o Baile da Vogue então fazemos uma coisa mais glamour, junho e julho são épocas de viajar então fazemos uma coisa mais tranquila… Meio seguindo o lifestyle mesmo, que é o foco da revista. Eu seleciono as pautas, debatemos na reunião e aí executo. Mas é raro ter conflito de informação porque acho que a abordagem do blog é bem diferente, uma coisa mais pessoal. Eu não faço tantos posts falando sei lá, de novos produtos, como fazemos na revista.

5 – Como você percebeu que o blog tinha “bombado”? Foi um processo gradual ou teve algum fator específico que impulsionou esse “boom”? (Em 2007, o blog tinha uma média de 6 a 12 comentários por post. Em 2008 esse número passou para a casa dos 20 e em 2009 começou a ter mais visibilidade. Atualmente, os comentários variam de 100 a 200 em média, por post.)

Foi beeem gradual, tenho o blog há dois anos e meio. Claro que tem alguns picos, tipo quando eu apareci no Jornal Hoje da Globo, mas no mais foi bem gradual. O que mais me faz perceber que o blog é legal e conhecido é quando encontro conhecidas que não são mega fanáticas por internet e comentam que leem, sendo que eu não divulgo.

6- Você acorda no meio da noite pensando no que vai postar no Dia de Beauté? (porque isso costuma acontecer comigo, rs) E quanto tempo por dia você dedica ao blog?

Não acordo no meio da noite porque durmo tão pouco que minha maior dificuldade é exatamente acordar. Mas penso o dia inteiro no blog, nossa, se você soubesse o tamanho da minha lista de posts que eu quero fazer, não acaba, é incrível. Eu acho fascinante porque tem TANTO assunto. Eu dedico bem menos tempo do que gostaria viu? Tanto que não consigo executar todos esses posts, se pudesse colocava 3 posts por dia. Mas não consigo contabilizar o tempo de dedicação porque além de produzir conteúdo (que costumo fazer de manhã, tenho um combinado de entrar no trabalho às 14h), tenho que ler comentários e responder emails – e isso eu faço de qualquer lugar, sempre que tenho uma brecha.

7 – Atualmente, o seu blog é referência, muito acessado, com milhares de comentários das leitoras. Como você administra isso, paralelamente ao trabalho nas revistas? Faz tudo sozinha ou tem algum assistente?

Nenhum assistente, Acho bem hilário quando deixam comentários tipo “o trabalho de vocês é o máximo” e eu fico “Ah tá, você e não vocês hahaha!” Já pensei em ter, mas acho que eu não daria conta de explicar tudo, sou muito controladora.Tô pensando em outros jeitos de não ficar maluca (ou respondendo emails no domingo até 2 da manhã). Mas eu realmente faço questão de tentar responder, mesmo que eu demore mais de um mês, mesmo que a pessoa nem leia.

8 – O que você considera mais difícil e o que você mais ama no jornalismo que você faz?

Difícil é administrar o tempo, sem dúvidas. E o que mais amo é o retorno, a reação das pessoas, perceber que estou fazendo uma coisa que realmente influencia e ajuda as pessoas, isso não tem preço.

9 – Uma das principais diferenças positivas da comunicação na internet é a interatividade e a velocidade com que as coisas acontecem. A participação dos leitores cria uma aproximação maior com o jornalista, além de uma noção de “intimidade”. Isso pode tanto ser positivo quanto um pouco perigoso, ainda mais porque você lida com um assunto que mexe com o imaginário das meninas, muitas vezes em uma faixa etária em que elas ainda estão construindo a imagem. Você se sente responsável por isso?

Eu me sinto, claro, e é por isso que a coisa que mais me deixa feliz é comentário ou email falando que por causa do meu blog ela está se maquiando e se achando mais bonita e etc, isso é incrível. E assim, eu tento deixar claro no blog que maquiagens e beleza vão muito além do produto da moda, porque sei que muitas não têm dinheiro pra comprar as coisas que eu uso, então vira e mexe faço posts como aquele da diferença entre ter produtos e se maquiar, para trazer o sonho para a realidade.

10 – Você acabou virando um ídolo pra muitas meninas. Muitas querem ser como você, ou até mesmo se tornarem suas amigas. Em algum momento você sente sua privacidade invadida? E como você define os limites entre a Victoria na intimidade e a Vic jornalista?

Não me sinto invadida, mas é bem curioso quando vou no shopping e depois alguém comenta no blog que me viu. Mas acho que não dá pra ficar paranoica com isso, nem penso muito, só fico feliz. O que eu acho mais importante é deixar claro que se eu “sou o que sou” entre muitas aspas é porque trabalho muuuito, assim creio que serei um bom exemplo para as meninas. Não é só glamour e festas né? Quanto aos limites, bem, eu tento controlar o que exponho, por exemplo no Twitter, falo sempre de coisas que têm a ver com o trabalho, tento não ficar muito no “estou jantando com meu namorado” se isso não for relevante ou tiver um link.

11- Você diz que sofreu preconceito durante a faculdade de jornalismo, por querer cobrir assuntos de beleza ao invés de buracos nas ruas, principalmente porque a PUC é conhecida como uma faculdade mais politizada. E hoje, você ainda sofre algum tipo de preconceito por ter se transformado em um “ícone” de maquiagem?

Nenhum. Quer dizer, se alguém quiser agora falar que eu sou fútil vou realmente achar que essa pessoa é no mínimo burra, porque não percebe como a beleza é importante na vida de QUALQUER mulher, e hoje eu tenho provas concretas disso, ao contrário da época da faculdade quando eu apenas suspeitava que isso era relevante. Mas olha, realmente o que a PUC tentou fazer comigo não deu certo, eu sou exatamente a mesma pessoa, não comprei esse papinho!

12 – Ser blogueiro hoje em dia é quase uma profissão nova, porque os blogs sérios exigem muito trabalho e responsabilidade, devido à cobrança por parte do público e à consequente repercussão disso. Porém, essa “profissão” ainda não conquistou um espaço significativo em termos de mercado de trabalho e reconhecimento financeiro. Que tipo de benefícios do mundo real você recebe por conta do blog? Você acha que daqui algum tempo esse retorno tem que mudar, pra incentivar os profissionais?

Olha, não tenho quase nenhum ganho com o blog, mas acho que um pouco é minha culpa porque não vou atrás, não tenho tempo. Então tenho um anúncio aqui outro ali porque me procuram e eu realmente valorizo meu espaço. Tenho a vantagem de ser jornalista de outro veículo, então já conhecia as assessorias e já vou aos eventos e lançamentos por conta da revista. Mas confesso que seria maravilhoso ter um retorno pra incentivar!

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