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Estado de Minas

Saola corre sério risco de extinção

Animal que vive no Laos e Vietnã foi identificado há apenas 20 anos


postado em 22/05/2012 08:38 / atualizado em 22/05/2012 09:27

Espécime do mamífero, em raro registro fotográfico: população está estimada em no máximo algumas centenas
Espécime do mamífero, em raro registro fotográfico: população está estimada em no máximo algumas centenas
Único mamífero de grande porte descoberto pelos cientistas nos últimos 50 anos pode desaparecer da Terra devido à caça intensa e à má gestão das reservas ambientais onde vive. O saola, animal da família dos bovinos e aparência semelhante à de um cervo, foi catalogado há apenas 20 anos, quando pesquisadores o encontraram em seu hábitat, as *Montanhas de Annamite, que ocupam parte do território do Laos e do Vietnã. O bicho, de aparência estranha, tem um par de chifres que pode chegar a 50cm de comprimento e tem pontas afiadas, além de manchas brancas no rosto que contrastam com seu pelo, geralmente marrom.

Preocupado com a possibilidade de a espécie desaparecer antes mesmo de grande parte da humanidade tomar conhecimento de sua existência, o Grupo de Trabalho do Saola (SWG, na sigla em inglês) está em campanha para alertar o mundo sobre o grave risco que ela corre. Embora faltem cálculos precisos, a população total do animal é estimada em “poucas centenas, no máximo, e poucas dúzias, no mínimo”, segundo Sarah Bladen, diretora de comunicação do Fundo Mundial para a Natureza da Grande Mekong (WWF GM, na sigla em inglês).

Também chamado de “unicórnio do Laos”, o saola foi descoberto em 1992, quando uma equipe do Ministério do Ambiente vietnamita e uma equipe do WWF fizeram um levantamento das florestas da fronteira entre a nação asiática e seu vizinho, o Laos. Ao entrar na casa de um caçador, o grupo viu um crânio com chifres estranhamente longos e retos que consideraram “extraordinário”.

O saola é considerado uma das maiores prioridades para a conservação ambiental na região da Indochina, por viver apenas naquele local. “Se ele sumir de seu hábitat, significa que sumiu definitivamente. Não é possível encontrá-lo em um lugar diferente”, alerta o diretor do Programa da Ásia da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem (WCS, na sigla em inglês), Joe Walston. Diferentemente de outras espécies em risco de extinção, como o tigre (veja quadro), esse animal tampouco sobrevive em cativeiro, mais um fator que complica a tentativa de protegê-lo.

Vietnamita exibe crânio do animal: caça ilegal é a maior ameaça(foto: JEREMY HOLDEN/WWF/DIVULGAÇÃO)
Vietnamita exibe crânio do animal: caça ilegal é a maior ameaça (foto: JEREMY HOLDEN/WWF/DIVULGAÇÃO)
É uma missão tão complexa encontrar tal mamífero que os cientistas ficaram de 2000 a 2009 sem saber se ainda havia exemplares na natureza. Em 2009, porém, moradores de uma aldeia próxima às Montanhas de Annamite, na província de Bolikhamxay, no Laos, capturaram um indivíduo do grupo, que morreu poucos dias depois. “Os aldeões sabiam da existência desse bovino, que considero um dos animais mais esquisitos do planeta, bem antes da comunidade científica. Essas pessoas, no entanto, acabam caçando os saolas enquanto tentam capturar outros mamíferos, como búfalos, gambás e veados”, afirma Walston. “Um grande desafio na conservação do saola é detectar sua presença. Esses bovinos são raros, solitários e vivem em um terreno de difícil acesso em uma floresta densa e remota. Além disso, eles se mostraram arredios à tentativa de fotografá-los”, completa Sarah Bladen.

A ausência de parâmetros definidos para distinguir os rastros do bicho – como pegadas, esterco e sinais de alimentação – dos de outros animais com cascos nas patas é mais um item que dificulta o trabalho dos protetores. “Sabe-se tão pouco sobre esse mamífero que ele está na Lista Vermelha de Deficiência de Dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês)”, diz a representante da WWF. Por isso, grupos de proteção ao meio ambiente buscam trabalhar cada vez mais na área onde esses animais vivem, a fim de tentar estudar seu comportamento e encontrar mecanismos eficientes de preservar sua vida.

Sabe-se que o bovino está desaparecendo principalmente por causa da caça ilegal. “Os saolas são capturados em armadilhas de arames feitas por caçadores para pegar diversos animais que são destinados ao comércio de espécies selvagens. As vendas são impulsionadas pela demanda da medicina tradicional chinesa e pelo mercado de alimentos tanto do Vietnã quanto do Laos”, critica a funcionária da WWF, que trabalha na capital vietnamita, Hanói. A invasão da área florestal devido ao desenvolvimento das cidades é mais um fator de risco para a espécie.

SÍMBOLO

O saola é um símbolo da diversidade em Annamite, uma vez que o local abriga diversas espécies raras de animais. “Além dele, duas espécies de veado, o muntiaco de grande galhada e a muntiaco truong son, foram descobertos nas florestas dessa região em 1994 e 1997, respectivamente”, salienta Bladen. Os esforços para salvá-lo ficaram ainda mais intensos após o rinoceronte de Java vietnamita, outro animal símbolo da região, ter sido dado como extinto em 2011, devido à caça intensa. Nesse sentido, mais do que proteger esse bovino, diversas organizações não governamentais lutam para preservar seu hábitat. “Assim, salvaremos animais de outras espécies que ficam isolados nas montanhas”, estima Walston.

O que fazer, então, para garantir que um animal conhecido há tão pouco tempo não suma da natureza? Desde que o bovino foi descoberto, os governos do Vietnã e do Laos estabeleceram uma rede de áreas protegidas e estão buscando novas abordagens para combater a caça desenfreada. O WWF, por sua vez, tem ajudado o governo vietnamita a fazer com que os guardas florestais gerenciem o trabalho na área selvagem. “Desde fevereiro de 2011, a nova equipe de patrulha da reserva removeu mais de 12,5 mil armadilhas e fechou 200 campos de caça ilegal”, comemora Bladen. O diretor da WCS diz que o trabalho tem de ir além disso. Para ele, atrair atenção para o perigo da extinção desses animais e compreender quem são e como vivem são duas medidas que podem auxiliar em seu salvamento.

* Florestas densas

Localizadas na fronteira entre o Laos e o Vietnã, as Montanhas de Annamite têm clima tropical úmido. Elas têm floresta densa e contêm muitos animais selvagens, especialmente cervos. O pico das cordilheiras, que fica ao leste do Rio Mekong, tem 2,5 mil metros de altura. A área florestal das montanhas está ficando cada vez menor devido à expansão da agricultura, exploração de minérios e construção de barragens e rodovias. A região ecológica dos Annamites engloba, além da área do Vietnã e Laos, uma parte do Camboja. Com isso, sua área total chega a 23 milhões de hectares, embora apenas 3 milhões sejam protegidos, segundo o WWF.

EM PERIGO


Veja quais são os 10 animais que correm mais risco de entrar em extinção, de acordo com o WWF:

Tigre
De acordo com a organização, há 3,2 mil desses animais na natureza. Encontrados principalmente na Ásia, eles têm, atualmente, apenas 7% do hábitat natural disponível, uma vez que as demais áreas foram ocupadas pelo ser humano.

Urso-polar
Há entre 20 mil e 25 mil ursos-polares em todo o mundo. Esses animais vivem no Ártico, e como o aquecimento global está afetando a região, o aumento da temperatura põe em risco suas vidas.

Morsa
Com 223 mil exemplares da espécie no mundo, as morsas entraram em 2010 na lista dos animais em maior risco de extinção. Como elas vivem em regiões geladas, como o Ártico, o aquecimento global está reduzindo a quantidade de seus alimentos.

(foto: FELIPE CAMPBELL/DIVULGAÇÃO)
(foto: FELIPE CAMPBELL/DIVULGAÇÃO)

Pinguim-de-Magalhães
Com população estimada de 2 milhões de animais, os pinguins-de-Magalhães se encontram no Sul do Oceano Atlântico, podendo ser vistos na costa da América do Sul. Devido ao aquecimento dos mares, esses pinguins precisam viajar cada vez mais para longe a fim de encontrarem comida.

Tartaruga-gigante
Segundo o WWF, há cerca de 34 mil fêmeas da também chamada tartaruga-de-couro. No Oceano Pacífico, hábitat desse réptil, porém, há apenas 2,3 mil fêmeas. A poluição, o aumento da temperatura dos mares e a pesca fazem com que possa ser extinta.

Atum-azul
Apesar de não haver dados precisos de quantos exemplares existem dessa espécie de peixe, sabe-se que ela está entrando em extinção devido à pesca predatória. Esses animais existem no Oceano Atlântico e no Mediterâneo e são um dos principais ingredientes do sushi.

Gorila-das-montanhas
Em estado crítico de extinção, a população dos gorilas-das-montanhas é formada por aproximadamente 785 animais. Eles vivem nas florestas africanas e no Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo.

Borboleta-monarca
Encontrada do Canadá ao Nordeste da Argentina, essa borboleta vive em florestas de pinheiros. Não há informações claras de quantos exemplares existem, mas a crescente urbanização e o aquecimento global ameaçam seu hábitat.

(foto: ALAIN JOCARD/AFP - 18/2/12)
(foto: ALAIN JOCARD/AFP - 18/2/12)
Rinoceronte-de-Java

Provavelmente, o rinoceronte-de-Java é o mamífero de grande porte mais raro da natureza, com pouco mais de 50 indivíduos na natureza e nenhum em cativeiro. Eles costumam ser caçados de forma predatória porque partes do seu corpo são consideradas remédio na medicina tradicional asiática. As plantações têm destruído seu hábitat.

 

Panda

á apenas 1,6 mil exemplares do animal símbolo do WWF na natureza. Como as cidades da China estão crescendo, o hábitat desses ursos, as florestas do país, está ficando cada vez menores. Atualmente, há 20 áreas de proteção ambiental para os pandas, que vivem nesses locais ou em zoológicos.


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