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Publicado em
11/2/23

Residência médica em Pediatria: O que é, rotina e mercado de trabalho

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Residência médica em Pediatria: O que é, rotina e mercado de trabalho

Uma das cinco grandes áreas da medicina, a Pediatria, costuma ser a segunda ou terceira área de especialização mais concorrida – ficando atrás apenas de Clínica Médica e ora empatando, ora ficando ligeiramente atrás de Cirurgia Geral.

Segundo dados divulgados este ano, o Brasil possui 48.654 pediatras em atividade, o que corresponde a 9,8% do total de especialistas na medicina brasileira. Esse número transforma a área na segunda especialidade com maior número absoluto de praticantes – ficando atrás, novamente, apenas da Clínica Médica

Ser pediatra é o desejo de muitos estudantes de medicina, que em sua maioria gostam bastante de clinicar mas que preferem, na prática, lidar com crianças e adolescentes.

O que é Pediatria?

A Pediatria é responsável por cuidar da saúde biopsicossocial, desde o nascimento até a adolescência, por causa disso, o médico pediatra é considerado o clínico da infância. É ele quem presta orientação sobre a vacinação e o aleitamento materno, e lida com a família em ações preventivas e curativas.

Quais as características de um residente em Pediatria?

Residência médica em Pediatria
O pediatra não precisa ser meigo ou fofo, mas ser atencioso é fundamental. Foto: Reprodução/Shutterstock

Desnecessário dizer que, antes de tudo, um residente de Pediatria precisa gostar de trabalhar com crianças. Um pediatra deve ter habilidades clínicas observacionais até mais aguçadas que a de um clínico geral, pois, ao contrário do paciente adulto, nem sempre o paciente pediátrico poderá adequadamente descrever seus sintomas – muitos deles ainda nem aprenderam a falar, afinal.

Sendo assim, direcionar extrema diligência à avaliação dos sinais é fundamental. Paciência, compaixão e empatia também deverão entrar nesta conta. Além de lidar com uma criança doente, o residente de Pediatria precisará lidar com pais preocupados e, por isso, muitas vezes difíceis ou até hostis.

Aí entra mais uma habilidade necessária ao perfil: excelente capacidade de comunicação. Além dessa, é preciso ter habilidade na anamnese, pois, como mencionado anteriormente, as crianças normalmente não conseguem descrever o que estão sentindo.

Como é a rotina de um residente em Pediatria?

O residente em Pediatria é exposto às diferentes rotinas de trabalho que um pediatra pode ter em sua carreira e, dessa forma, desenvolve habilidades específicas referentes à área. Após os três anos-base, a maioria dos profissionais procura uma subespecialização, durante a qual focará apenas em uma das sub-áreas que conheceu nesses anos-base. É possível, também, trabalhar como pediatra generalista. 

O dia-a-dia é baseado na matriz curricular, que você verá detalhadamente a seguir, então o residente passa pelo ambulatório, enfermaria, UTI, centro obstétrico, pela urgência e emergência, e pela unidade básica de saúde.

Para saber mais detalhadamente sobre a rotina do residente em Pediatria, o Eu Médico Residente entrevistou o R3 Gabriel Melo, residente em Pediatria pela Universidade de Pernambuco (UPE). Veja como é a rotina da residência médica na UPE.

Quais as vantagens e desvantagens da residência em pediatria?

Vantagens Desvantagens
Residência com acesso direto Alta carga emocional e de responsabilidade
Muitas opções de subespecialização Dificuldade na comunicação com os pacientes
Alta demanda no mercado Sucesso terapêutico depende da rede de apoio em torno do paciente
Muitas opções de subespecialização Qualidade de vida afetada pelo alto número de emergências
Grande satisfação pessoal Competitividade alta no mercado
Maior remuneração por plantão em comparação a outras especialidades Dependência do regime de plantões até possuir clientela estabelecida

Como é a residência em Pediatria?

Veja o vídeo sobre sobre a residência em pediatria com o nosso professor Filipe Marinho:

A residência em Pediatria é o programa de acesso direto com três anos de duração, que conta com uma carga horária mínima de 60 horas semanais - sendo 20 horas para os plantões - dividida entre emergências, ambulatórios, interconsultas, UTIs e enfermarias. Os estudos teóricos são focados na puericultura. A carga horária nesses locais também é distribuída entre uma grande variedade de subespecialidades, similarmente à Clínica Médica – tais como terapia intensiva, neonatologia, cardiologia pediátrica, pneumologia pediátrica, alergologia, entre outras.

Sendo assim, a rotina é pesada, com estágios na Neonatologia, centro obstétrico, enfermaria, ambulatório de puericultura e de especialidades médicas, em Unidades de Terapia Intensiva e nos serviços de urgência e emergência. 

O que estudar para ser um residente em Pediatria?

O estudo para a residência médica de quaisquer especialidades passa pelo conhecimento da banca. Através da observação e resolução de questões de provas anteriores é possível saber quais os principais conteúdos cobrados. Você deve estar se perguntando, como eu devo fazer isso? A resposta é, se tornando aluno do Eu Médico Residente.

Aqui a nossa equipe de professores estuda as provas de residência médica para te oferecer o direcionamento correto para a sua banca. Não vai ser preciso fazer mais 6 anos de medicina, podemos dizer assim, a sua preparação vai durar apenas 1 ano, o tempo do nosso extensivo R1.

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Qual a grade de estudo de um residente médico em pediatria?

A matriz curricular do CNRM para a residência médica em Pediatria é de 2016, e detalha as atividades bases que cada serviço deve oferecer para a especialidade durante os três anos. Além das atividades práticas, também têm atividades teóricas como análises, discussões e seminários. 

Primeiro ano

O residente deve atender os pacientes internados na enfermaria, fazendo a anamnese, exames clínico e prescrição terapêutica e deve atender e acompanhar os recém-nascidos na sala de parto e alojamento conjunto, orientando as puérperas com bebês de baixo risco. O atendimento em urgência e emergência, e nas unidades básicas também faz parte do primeiro ano. 

Além disso, ele deve atuar na atenção secundária e terciária, trabalhando na promoção e prevenção de doenças, valorizando o Programa Nacional de Imunizações e o aleitamento materno.

Segundo ano

Na metade da residência tem início o atendimento ambulatorial de crianças e adolescentes e os cuidados aos pacientes internados. A complexidade aumenta e agora o residente orienta as mães com recém-nascidos de médio risco. Continuam os atendimentos na urgência e emergência e começam aqueles na UTI pediátrica e nas unidades de internação neonatal.

Terceiro ano

Além de continuar os atendimentos e procedimentos realizados nos dois últimos anos, no terceiro ano de residência tem o estágio opcional, o treinamento em cirurgia pediátrica e o treinamento em terapia intensiva neonatal.

‍Quais são as subespecialidades da Pediatria?

A seguir, daremos uma pequena descrição das principais subespecialidades dentro da Pediatria, falando a respeito de suas habilidades específicas e funções gerais.

Cardiologia Pediátrica

Essa especialidade abarca os conhecimentos da Pediatria e da Cardiologia, integrando ambos para que se previna, diagnostique e trate disfunções do sistema cardiovascular na infância e adolescência, sejam eles específicos dela ou não.

Neurologia Pediátrica (ou Neuropediatria)

Ramo da Pediatria – ou da Neurologia – que se dedica ao estudo de patologias relacionadas ao desenvolvimento e à maturação do sistema nervoso. Diagnostica e trata doenças neurológicas, e possui grande importância na análise das aquisições cognitivas, motoras e sensitivas da criança.

Alergia e Imunologia Pediátrica

Estuda as doenças do complexo sistema imunológico infantil, tanto aquelas relacionadas a imunodeficiências quanto às alergias.

Cancerologia/Oncologia Pediátrica

A Oncologia Pediátrica abrange o diagnóstico e o tratamento do câncer infantil e do adolescente. É bom frisar que esta é uma especialidade clínica – para a Cirurgia Oncológica Pediátrica, a formação base é na área de Cirurgia.

Endocrinologia Pediátrica

É a área que diagnostica e trata as patologias relacionadas às glândulas endócrinas em crianças e adolescentes, tais como suas subsequentes desordens hormonais.

Gastroenterologia Pediátrica

Estuda, diagnostica e trata doenças relacionadas ao aparelho gastrointestinal da criança e do adolescente, ou seja: patologias específicas ao esôfago, estômago, intestinos, pâncreas, fígado e vesícula biliar.

Hematologia e Hemoterapia Pediátrica

Especialidade que estuda doenças hematológicas – ou seja, do sangue – em crianças e adolescentes, tais como hemoglobinopatias, deficiências enzimáticas, trombofilia, anemias e também doenças que cursam com a Oncologia, como leucemias e linfomas.

Infectologia Pediátrica

Investiga, diagnostica e trata doenças infectocontagiosas e parasitárias em crianças e adolescentes, sendo estas específicas da idade ou não.

Medicina do Adolescente ou Hebiatria

Área um pouco diferente das citadas até agora, que não foca em um sistema específico do corpo, mas sim em um período do desenvolvimento: a adolescência. O hebiatra trata pacientes desde o início da puberdade até a chegada da idade adulta.

Medicina Intensiva Neonatal

Também diferenciando-se pela fase do desenvolvimento, e não sistema específico, a Medicina Intensiva Neonatal foca no cuidado de recém-nascidos que precisam de acompanhamento intensivo nas UTIs.

Medicina Intensiva Pediátrica

Tem a mesma descrição da subespecialidade acima, com o diferencial sendo a idade: os pacientes deste médico intensivista não são recém-nascidos, mas bebês e crianças mais velhas.

Nefrologia Pediátrica

Especialidade que foca no estudo, diagnóstico e tratamento das patologias relacionadas aos rins em crianças e adolescentes.

Nutrologia Pediátrica

Relativamente nova, a Nutrologia Pediátrica é a área médica que foca na nutrição e sua relação com o desenvolvimento saudável da criança e do adolescente. Cursa com outras especialidades, estudando e tratando carências nutricionais, distúrbios alimentares, obesidade infantil e outras questões relacionadas à alimentação.

Pneumologia Pediátrica

A Pneumologia Pediátrica é a área responsável pelo diagnóstico e tratamento de patologias que envolvem o sistema respiratório de crianças e adolescentes. Algumas patologias respiratórias são especialmente prevalentes em crianças, tais como a bronquiolite, e bronquite, a asma e diversas pneumonias.

Veja nosso vídeo sobre pneumonia na Pediatria com a professora Tarciana Mendonça:

Reumatologia Pediátrica

Diagnostica e trata um abrangente conjunto de doenças inflamatórias crônicas sistêmicas (como o lúpus, por exemplo) ou específicas a certos tecidos (sendo o muscular, ósseo e conjuntivo os mais afetados) na criança e no adolescente. 

‍Emergência Pediátrica

É a Medicina de Emergência voltada à Pediatria, basicamente – atende crianças e adolescentes em situações de emergência, onde o risco de vida ou de sequelas graves é iminente.

Como funciona a rotina profissional de um pediatra?

O pediatra é o responsável por tratar as disfunções que ocorrem desde a primeira infância até a adolescência. Sendo assim, ele atua também indicando ações preventivas e curativas para os pacientes - que são acompanhados pelos seus responsáveis - bem como prestando orientações sobre o aleitamento materno, alimentação, vacinas e até indicando outros especialistas caso seja necessário.

Ele pode ser considerado um clínico médico infantil, sendo responsável por acompanhar o desenvolvimento infantil. Por isso, a sua rotina deve ser acompanhada de muito estudo, já que cada idade possui as suas particularidades. Além disso, são muito os plantões e chamadas no meio da noite

O pediatra não precisa ser “fofo ou meigo”, ele precisa ser atencioso, prestando toda a assistência necessária e orientando muito bem os responsáveis. Ele pode trabalhar em ambulatórios, pronto-socorros, consultórios ou em clínicas particulares. Também é possível que o profissional atue em centros de terapia intensiva ou como plantonista na enfermaria dos hospitais.

Falando especificamente sobre os atendimentos, eles são bastante diversificados, mas os casos de baixa complexidade se sobressaem. Veja aqueles mais comuns:

  • UBS: vacinação, asmas e rinites alérgicas, crises febris, viroses e doenças exantemáticas;
  • Pronto-socorro: bronquiolite viral aguda, ingestão de corpo estranhos no nariz, gastroenterites, faringoamigdalites e otites

Mercado de trabalho e salário

A rotina de trabalho vai depender bastante da subespecialidade escolhida. Quem opta por Neonatologia ou UTI Pediátrica trabalha mais em regime de plantão, por exemplo. Para quem está iniciando a carreira, os atendimentos ambulatoriais em clínicas populares são comuns. Também é possível montar o próprio consultório.

Os plantões também são bastante comuns no início, além do dinheiro, o pediatra também ganha experiência e faz o seu networking. A área de atuação da especialidade é ampla, então é possível trabalhar com exames complementares, como os Cardiologistas Pediátricos, por exemplo. 

É possível trabalhar também como médico parecerista, de enfermaria e de UTI. Toda a rotina do pediatra vai depender da sua escolha, que deve observar a demanda da região, o nível de experiência e a instituição de saúde, seja ela pública ou privada.

Sobre a remuneração, de acordo com a pesquisa do salario.com.br, o médico pediatra ganha em média R$ 7.474,84 por uma jornada de trabalho de 21 horas semanais. O teto salarial pode chegar a R$ 16.573,31.

Conclusão

A residência médica em Pediatria pode ser especialmente difícil por tratar de uma população altamente vulnerável, algo que pode adicionar ao médico uma carga emocional e de responsabilidade extras, além de exigir uma comunicação mais complexa e cheia de nuances.

Por outro lado, pode ser uma especialidade muitíssimo gratificante pelos exatos mesmos motivos. Nem tanto pela dificuldade da prática, mas pela recompensa que existe em ver seus pequenos pacientes sobreviverem, crescerem e se transformarem em adultos saudáveis.

Pais de pacientes pediátricos que tiveram seus filhos curados, tratados de forma humana e empática costumam ser algumas das pessoas mais gratas do mundo, e isso se reflete na paixão que alguns médicos desenvolvem pela área da Pediatria.

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