A tatuagem de caveira no braço expõe o orgulho do mestre em Antropologia e pesquisador em Segurança Pública Paulo Storani pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro, o Bope. Storani ficou conhecido por ter ajudado a construir um dos personagens mais polêmicos do cinema brasileiro, o Capitão Nascimento dos filmes Tropa de Elite 1 e 2.

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Fora do Bope, o ex-capitão carrega como uma missão estimular os jovens sobre a importância de uma sociedade mobilizada, com líderes fortes e ativos, por isso, aceitou prontamente o convite para participar do 2º Congresso Universitário de Empreendedorismo (Unicongres), que terminou nesta quarta-feira em Florianópolis. Nesta entrevista, Storani fala sobre segurança pública e é incisivo ao provocar a falta indignação da sociedade.

Diário Catarinense – Florianópolis é semelhante geograficamente com o Rio de Janeiro. As medidas de segurança pública do Rio poderiam ser aplicadas aqui para reduzir o tráfico de drogas?

Paulo Storani – As duas cidades são semelhantes, ambas são cidades litorâneas, com fluxo turístico muito grande. Sobre segurança pública, há peculiaridades próximas, mais ainda bem que há outras um pouco distantes da realidade do Rio. O Rio é a segunda maior capital do país, o estado tem a segunda economia do país. Tem alguns aspectos que agregam ao Rio de Janeiro, principalmente no que diz respeito à administração pública, fatores diferenciados.

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DC – O senhor conhece o Bope em outras cidades?

Storani – Conheço algumas corporações. Aqui em Florianópolis conheço o comandante Marcelo Cardoso. Fiz o curso do Bope com ele. Eu era o 01 e ele o 02, ficamos próximos. Posso dizer que Florianópolis está bem de comandante. Comandante Cardoso é uma pessoa excelente.

DC – A retomada dos morros no Rio de Janeiro mudou a cidade ou as medidas foram aplicadas tarde demais?

Storani – As três facções criminosas que dominavam o tráfico no Rio de Janeiro controlavam áreas povoadas. Qualquer ação causava o atingimento da população. Até que se criou o trabalho das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) com a compreensão de que não resolveria o problema com o tráfico, mas a reentrada do Estado. A curto prazo a ação reduziu os indicadores de violência. O grande problema é o desdobramento. Hoje, a geração do tráfico é aquela que nasceu no momento mais violento do tráfico da história do Rio de Janeiro, entre 1995 e 2000, por isso é a mais violenta.

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DC- Apesar da retirada do tráfico dos morros, há o risco do fortalecimento das milícias nestes espaços?

Storani – Se o desdobramento das UPPs não acontecer – o Estado precisa dar atenção ao jovem em situação de vulnerabilidade para que não veja no crime uma opção de vida – não haverá diminuição significativa da violência ligada ao narcotráfico. A milícia está crescendo e será ainda maior até o final da década. O combate, embora exista, não é efetivo ainda. O estado não tem estrutura de inteligência e de efetivo.

DC – Seria o caso de fortalecer a formação da polícia para combater as milícias?

Storani – Sim, tem que fortalecer a formação. Tem que pensar numa política de remuneração muito maior do que a que se tem hoje. O Rio de Janeiro é um dos estados com piores salários de polícia. Tem que repensar o processo seletivo, o treinamento da polícia e, principalmente, o controle de desempenho dos policiais, com monitoramento e não permitir que policiais integrem milícias.

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DC – O senhor é a favor da divisão da polícia em militar e civil?

Storani – Este modelo só é aplicado no Brasil e na Turquia. No Brasil, há antagonismo entre as instituições quando não deveria, há disputa entre as duas tanto por espaço na mídia quanto em ações de segurança pública. Sou contra à divisão quando nem o gestor público tem capacidade de promover a integração e fazer com que elas funcionem em sua plenitude. Uma mudança significativa nessa estrutura depende de vontade e coragem, mas falta mobilização pública em reivindicar isso.

DC – Como o cidadão pode mudar isso?

Storani – Vejo pseudo líderes que hoje governam a democracia, sem defendê-la. Só um imbecil que não conhece o mínimo de história para cair em um discurso como o destas pessoas. Mas não há mobilização. Vivemos onde acontece um Mensalão, com pessoas julgadas e culpadas e ninguém fala disso. Num país que não há lideranças legítimas, cria-se um espaço para demagogos que defendem ideias para determinadas categorias e não para o interesse público. Nunca vi uma classe estudantil, uma OAB, entidades e sindicatos tão silenciosos.

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