O Estreito de Gibraltar
“A pirataria, no Mediterrâneo, é tão velha como a história”. (BRAUDEL, [1949] 1990, Tomo II, p. 617)
Desde o declínio do Império Romano que os piratas Norte Africanos, conhecidos como piratas da Barbária ou piratas barbarescos, atacavam navios mercantes e povoações costeiras da Europa, de forma indiferenciada, buscando apenas o saque que daí obtinham. A partir do século XII a sua actividade ganha outros contornos, já que passa a integrar-se no contexto da guerra entre muçulmanos e cristãos, com o início dos ataques aos navios que transportam os cruzados para a Palestina e ataques aos portos que lhes davam apoio.
Planta de “La Mamora” em 1621 . desenho anónimo espanhol
Esta alteração legitima a sua actividade perante as autoridades do Norte de Africa e os piratas passam a ser considerados corsários. Enquanto o pirata é um fora da lei, que ataca e saqueia para seu benefício próprio, o corsário cumpre um objectivo político, actuando como uma espécie de guerrilheiro do mar, que apesar de obter lucros com a actividade que desenvolve, assume um papel importante no âmbito da política externa do país que serve, superando as próprias carências que as marinhas de guerra da época apresentavam, se podemos mesmo dizer que existissem. Abrigava-se num porto que lhe era autorizado e a sua acção era reconhecida pelos governantes, através da concessão de uma carta de corso, repartindo com eles o produto do seu saque. Normalmente o produto do corso era dividido em três partes, cabendo 10% para a autoridade da cidade, 45% para o armador do navio e 45% para a tripulação. Ironicamente, a maior parte das mercadorias roubadas aos europeus eram vendidas na própria Europa, principalmente no mercado italiano.
Fernand Braudel apelida o corso de “indústria antiga e generalizada” e acrescenta que “o corso, é a guerra lícita, assim tornada ou por uma declaração formal de guerra, ou por cartas de marca, passaportes, comissões, instruções” (BRAUDEL, [1949] 1990, Tomo II, p. 618). A questão pirataria versus corso tem um outro aspecto interessante. É que o corso não é um simples roubo de mercadoria ou de aprisionamento de escravos, já que os que roubam e os roubados estão disponíveis para dialogar e se entenderem (BRAUDEL, [1949] 1990, Tomo II, p. 619).
A Casbá Oudaia em Rabat
O corso não se resume ao acto de pirataria em si, seja de abordagem de navios ou de raids terrestres, mas encontra-se frequentemente ligado a cidades agindo por conta própria, se bem que legitimadas por um poder nacional, originando uma economia local próspera com base nos mercados de escravos e entrepostos comerciais, e toda a logística e actividades paralelas que originam. Tetuan e Rabat-Salé são exemplos de cidades que prosperaram graças à indústria do corso, ganhando inclusivamente autonomia política durante um determinado período. A guerra do corso envolvia montantes astronómicos. Estima-se que só o corso de Salé empregasse nas tripulações da sua armada cerca de 4.000 homens, ou seja, 20% do total da população da cidade, e que o volume de bens apresados e número de cativos fosse enorme. Só entre 1618 e 1624 terão feito 6.000 cativos, atacado mais de 1.000 navios e pilhado 15 milhões de libras de mercadorias num total equivalente a cerca de três mil milhões de euros em moeda actual. (DUMPER, 2007, p. 306)
As conquistas cristãs do século XIII no Al-Andalus e os êxodos de populações que se lhes seguiram, concretamente nos séculos XV e XVII, com a conquista do Reino de Granada, o estabelecimento da Inquisição e a consequente expulsão dos mouriscos, são a principal fonte de recrutamento para a actividade corsária. De facto, a guerra aos cristãos levada a cabo pelos Andalusinos acaba por se transferir para o mar, estabelecendo-se muitos dos expulsos em núcleos costeiros de Marrocos, que se tornam autênticos ninhos de corsários que atacam permanentemente os navios e as costas da Ibéria. Antes da criação da rede de praças-fortes portuguesas em Marrocos, praticamente todas as cidades costeiras, pequenos ancoradouros ou mesmo embocaduras de rios eram utilizados pelos corsários como bases, locais de abrigo e de abastecimento.
Embarque de Moriscos en el Grao de Valencia [1616] de Pere Oromig, Fundación Bancaja
O estabelecimento das praças e as migrações de mouriscos para as chamadas cidades andalusinas de Marrocos, confina as bases do corso a diversos portos Atlânticos, como Salé, Larache, Mamora Anafé, Fedala, ou Oualidia, ou enseadas e rios na costa do Mediterrâneo como Marsa Tetuan, Targa, Beles ou Jebha.
A entrada em cena dos corsários turcos, após a integração da Argélia no Império Otomano, vem dar uma nova amplitude à actividade corsária, já que a enquadra no âmbito das pretensões turcas de conquista da Europa e a generaliza territorialmente no Mediterrâneo. Este protagonismo dominante dos turcos no corso originou que a designação dos corsários Norte Africanos fosse muitas vezes a de corsários turcos, nomeadamente para os ingleses, que ainda hoje se referem a qualquer ameaça às suas costas como o perigo turco. Para os portugueses a expressão normalmente usada é anda mouro na costa, que convém não confundir com anda moura na costa, utilizada com um sentido mais brejeiro.
Os desertores cristãos também são uma fonte de recrutamento para o corso Norte Africano, com a particularidade de transmitirem aos muçulmanos um grande número de conhecimentos em termos de técnicas de navegação e de construção naval que estes não detinham até aí. Por exemplo, é devido aos corsários de origem europeia que os turcos abandonam no século XVI as galeras a remos e adoptam os barcos de menor calado com vela latina, mais rápidos e facilmente manobráveis. A guerra do corso foi um chamariz para muitos aventureiros, renegados, marinheiros e comerciantes europeus em busca de fortuna, não só para integrarem as tripulações dos xavecos, navios de eleição dos corsários, como para comercializarem as mercadorias apresadas. Para eles, a adesão ao corso significava um enriquecimento rápido e uma grande ascensão social (MAZIANE, 2009, obra citada).
Antonio Barcelo, with his courrier xebec, rejects two Algerian galiots (1738), Museo Naval de Madrid
Os navios utilizados pelos corsários eram pequenos e rápidos, normalmente xavecos (do árabe chabak ou rede, por ser um barco de pesca adaptado) ou galés, mas também fustas, galeotas, patachos, bergantins, cáravos, caravelas, fragatas ou outros, tanto movidos a remos como à vela, e equipados com canhões. Um xaveco, por exemplo, combinava três mastros e vela latina com remos, tinha geralmente entre 200 e 300 toneladas, uma tripulação de cerca de 200 homens e até 20 canhões em bateria. Segundo Roger Coindreau, “podemos concluir que a frota do corso de Salé foi constituída na sua origem sobretudo por navios do tipo mediterrânico ou lusitano, os primeiros modelos marcando a transição entre a navegação a remos e a navegação à vela” (COINDREAU, 2006, p. 108). Apesar de o corso no Atlântico só operar geralmente entre Abril e Outubro, tendo em conta que estes navios não suportavam as condições rigorosas do Inverno na região, há notícia de que frequentemente atacavam os Açores, a costa Sul de Inglaterra e terão mesmo chegado à Islândia.
Os corsários utilizavam a violência nas suas abordagens de forma inteligente, preferindo sempre a rendição das suas presas a um confronto directo, que podia provocar feridos desnecessários e que colocava em risco o valor da própria mercadoria a apresar. Para isso procuravam uma aproximação astuta, içando bandeiras dos países das suas presas, e forçavam a rendição dos navios que atacavam, através de uma encenação que passava por gritos e pela própria imagem que davam de si, com as cabeças rapadas e grandes cimitarras. Na abordagem tentavam acalmar as suas vítimas com frases em Língua Franca, como por exemplo non paura! non paura! ou não tenham medo! “À gloriosa incerteza do combate, preferiam vítimas desarmadas e pacíficas” (CASTRIES, 1920, obra citada).
“Nas horas de tensão que precediam um ataque, era comum sacrificar um carneiro oferecido pelo morabito. Era uma operação sangrenta, mas solene. Segundo Joseph Pitts, um cativo inglês que foi testemunha de um destes sacrifícios, o capitão começava por decapitar o animal. De seguida, a tripulação ‘retirava imediatamente as entranhas e atirava-as com a cabeça borda fora’. Depois de decepar as patas e o estômago, ‘o corpo era cortado em dois’. Uma parte era atirada para o lado direito do barco, e a outra para o lado esquerdo. Isto era feito, escreveu Pitts, ‘como uma espécie de sacrifício propiciatório”. (MILTON, 2006, p. 68)
Vista de Lagos
As aproximações a terra eram cuidadosamente preparadas. Muitas vezes de madrugada, misturando-se com os barcos de pesca que regressavam do trabalho. Em terra cortavam as cordas dos sinos das igrejas para evitar que o alarme fosse dado, já que o objectivo era capturar pessoas de preferência ainda nas suas camas, incapazes de fugir ou de se defenderem. Os sinos das igrejas eram normalmente roubados, pelo valor que o bronze tinha, e porque era preciso calá-los, fosse pelo facto de serem o elemento utilizado para o alarme, fosse pelo simbolismo religioso do replicar do sino. Zurara conta que em Ceuta foram encontrados dois sinos levados de Lagos, dizendo que “começou a repicar um sino, que ali estava de dois, que ali foram achados, que os Mouros em outro tempo levaram de Lagos” (ZURARA, [1463] 2015, p. [263] 59).
Os barcos que se encontravam nos portos eram queimados para evitar perseguições e diminuir a frota inimiga (DAVIS, [2003] 2006, pp. 79-83). No que se refere ao rapto de populações, o objectivo dos corsários era primordialmente o de conseguir a sua troca por somas de dinheiro, procurando vender os prisioneiros no próprio local de captura, evitando assim o transporte da mercadoria, com todos os custos e riscos que comportava. Para isso mantinham-se nos locais de aprisionamento durante alguns dias, promovendo o pagamento dos resgates por familiares. O temor pelo perigo turco nas costas de Itália deixou marcas, algumas delas curiosas, como a superstição em relação aos gatos pretos, considerados como os descendentes dos gatos que os corsários deixavam em terra como espiões (DAVIS, [2003] 2006, p. 86).
Bandeiras dos corsários de Salé segundo Bowles
Muitos corsários ficaram famosos em Marrocos e nos ataques que faziam às praças portuguesas e às costas da Península Ibérica. Os corsários de Larache, como Quartão Arráiz, atacavam frequentemente os navios de pesca de Arzila e Tânger. Quartão tinha uma fusta de 16 bancos e provocava sérios danos nos pescadores, “vindo todos feridos e escalavrados das setas e pedras e dos remos”. Outro era um turco chamado Arráiz Querim, que tinha um bergantim e que em 1523 atacou em Arzila dez ou doze caravelas que aí se abrigavam no recife, levando as suas mercadorias e mais de 30 cativos (RODRIGUES, [156-] 1915, pp. 349, 397 e 440-443).
Mas os mais famosos, entre os muitos que se conhecem, foram o Esnarigado, Sayida Al-Hurra, os irmãos Barbarrossa, Dargut Rais e Murad Rais.
Segundo a lenda, o Esnarigado era um corsário berbere, assim chamado porque tinha o nariz cortado, já que era um antigo escravo fugido das minas do Rif, onde os escravos eram normalmente marcados pela mutilação. Em 1417 estabelece-se na zona de Ceuta, onde leva a cabo importantes acções contra os portugueses. No dia 6 de Maio desse ano fez um ataque na Almina, episódio que é narrado por Zurara:
A Enseada do Esnarigado em Ceuta
“Mandaram os Mouros suas Fustas, a saber, uma de quinze bancos, em que ia um valente Corsário Mouro, a que chamavam o Esnarigado, e outra de treze, em que andava outro Corsário, e assim outra de doze bancos, as quais antes da manhã fizeram escala em terra, onde se acaba o muro da Almina numa enseada, que está na parte do levante; e acertou-se, que as Escutas, que ali estavam adormeceram; pois era já madrugada, quando o sono mais carrega aos homens; e os Mouros ficaram assim até que foi dia claro, que as Escutas foram pescar fora do muro, e outros quatro homens, que vinham tirar covos, foram aquela mesma parte, onde os outros estavam, e os Mouros vieram atrás deles, e agarraram-nos”. O alerta foi dado e Fernando Barreto acudiu com vários escudeiros e besteiros, mas as fustas já tinham partido e “já estavam do lado de Barbaçote”, na costa Sul de Ceuta. Então Diogo Vasques Portocarreiro “muito briosamente aparelhou o seu Bergantim”, e iniciou uma perseguição, a que se juntariam posteriormente outras fustas e barcas, num total de nove embarcações, comandadas por Fernando Gonçalves d’Arca, Martim de Crasto, João Pereira e Mice João de Salla-Nova. Os mouros, entretanto, atacaram outras duas barcas e “foram-se lançar ao Castelo de Metene numa angra, que ali está”, na Praia do Castelejo, onde estavam já Afonso Munhoz e Nuno de Góis. O Esnarigado gritou para os seus “que não temessem os Cristãos; pois eram homens como eles, e que os deixassem chegar, e achariam quem lhes mostrasse, quanto havia de bom Mouro a bom Cristão”. Quando os navios portugueses chegaram, duas das fustas dos mouros foram abandonadas pelos tripulantes, tendo numa delas os cativos cristãos sido mortos, e a terceira conseguiu fugir com os quatro soldados que foram inicialmente aprisionados na Almina (ZURARA, [1463] 2015, pp. [341-346] 137-142).
Sayida Al-Hurra, a “Senhora Livre” (a imagem geralmente atribuída à governadora de Tetuan representa na realidade a corsária grega Laskarina Bouboulina e encontra-se no Museu Histórico Nacional de Atenas)
Sayida Al-Hurra, conhecida pelos portugueses como Citalforra, Governadora de Tetuan, foi a mais célebre promotora do corso de Marrocos. A partir de 1520 começa a dirigir os destinos da cidade e dos portos que dela dependiam, como Marsa Tetuan, ou Porto de Tetuan, no interior da barra do Rio Martil, Larache e Targa, que transforma em poderosas bases corsárias, iniciando uma guerra sem tréguas no mar contra os portugueses. Esta guerra no mar alarga o âmbito da guerra terrestre em torno das praças que já o seu pai e o seu marido anteriormente desenvolviam, e tem como objectivo as praças portuguesas de Marrocos e os navios que as abastecem, sobretudo os que faziam a rota Lagos-Ceuta, e inclusivamente ataques às povoações costeiras da Península para a captura de populações.
Bernardo Rodrigues descreve o ataque de um bergantim de Tetuan e um navio português que se dirigia de Lisboa a Arzila, levando entre a tripulação o capitão da praça e o artilheiro Pite João ou Petit Jean: “Era Pite João natural francês e de Normandia; casou em Arzila com uma mulher espanhola honrada e virtuosa. Era este Pite João muito gentil homem e o mais limpo, assim de seus trajes e casa e mesa, e melhor servido que homem de seu tempo. Pousavam em sua casa mercadores franceses, com os quais tinha negócio e trato, por cuja causa vivia abastadamente.” O navio encontrava-se carregado de telha e de madeira para uma obra que Pite João tinha na cidade, quando foi surpreendido em Tagadarte, a duas léguas de Arzila por um navio corsário com 36 mouros a bordo. O Rio Tagadarte era um local onde frequentemente os corsários se escondiam para emboscar os navios portugueses, até porque constituía o local onde se desembarcavam os passageiros que viajavam entre as praças de Arzila e Tânger. A artilharia do navio português, que tinha apenas uma tripulação de sete homens, e a coragem de Pite João foram suficientes para repelir o ataque dos mouros (RODRIGUES, [156-] 1919, pp. 136-138).
Khayr Ad-Din Barbarossa, origem e autor desconhecidos
O aumento da actividade corsária que Sayida Al-Hurra promove é acompanhado pelo estabelecimento de um acordo com os irmãos Barbarossa, com quem partilha o Mediterrâneo, ficando senhora do Mediterrâneo Ocidental e do Golfo de Cadiz. Com as suas esquadras de fustas e xavecos, torna-se uma corsária temida e o negócio do resgate de cativos que gere origina lucros fabulosos e uma riqueza enorme para Tetuan. Este negócio só era possível acompanhado de uma actividade diplomática intensa, que incluía a mediação de alfaqueques e a intervenção directa das autoridades das duas partes, que estabeleciam as regras, preços e concediam as respectivas autorizações de libertação, utilizando geralmente intermediários judeus para efectivar os pagamentos, que chegavam a cobrar 20% do valor dos regates (EL JETTI, 2003, p. 5).
Aroudj Barbarossa e seu irmão Khair Ad-Din são talvez os mais famosos corsários da história. Originários da ilha de Lesbos, tornam-se os principais chefes das armadas Otomanas no Mediterrâneo. A sua alcunha vem da cor ruiva da barba de Aroudj Rais, também conhecido como Bábá Aroudj ou Papá Aroudj, nomeado Governador ou Bey de Argel, no seguimento da sua conquista pelos Turcos. Após a sua morte, Khair Ed-Din tinge os cabelos e a barba com hena, em memória ao irmão, adoptando também a sua alcunha. Durante os 25 anos que reinou, Khair Ad-Din atingiu uma posição ainda mais relevante do que Aroudj, ao ser nomeado Pachá, e garantindo a soberania Turca em todo o Norte de Africa, à excepção de Marrocos (HEERS, [2001] 2008, pp. 68-74). O título Rais ou Reis, em português Arrais, derivado do Árabe raís ou presidente, era atribuído geralmente aos chefes corsários.
Planta de Larache de 1606 de João Mateo Benedetti . Arquivo Nacional Torre do Tombo
A actividade dos irmãos Barbarossa preocupava tanto a coroa portuguesa como a espanhola. No ano de 1517 a frota de Aroudj Barbarossa encontra-se sediada em Larache. Larache era um porto seguro para o corso da berbéria, controlado pela cidade de Tetuan, onde os navios eram abastecidos e reparados. A importância estratégica deste porto está patente na afirmação de Felipe II de Espanha, quando diz que “a cidade de Larache valia mais sozinha que toda a Africa” (GARCIA FIGUERAS e JOULIA SAINT-CYR, 1973, obra citada). “Em 1517 o célebre corsário turco Barba Roxa percorre o Estreito com catorze navios de remos. Contra esta armada envia o Rei de Castela uma poderosa frota, que, no entanto, não consegue o capturar, já que este divide a esquadra, indo parte para Larache e outra para Argel. A intervenção espanhola e esta fuga para Larache vão assumir uma importância fundamental no desenrolar da actividade marítima da região. Vem dar consistência às crescentes preocupações dos monarcas espanhóis para com a segurança das suas costas e transformou a cidade de Larache num grande porto de piratas que em muito prejudicaram as ligações de Portugal com o Norte de África. Toda esta actividade corsária terá sido um dos motivos que levou D. Manuel a prover esta região com uma armada permanente, a Armada do Estreito. É a partir da sua criação oficial, em 1520, que a actividade naval portuguesa toma foros mais consistentes” (GODINHO, 1998, p. 122).
Dargut Rais sucedeu a Khair Ad-Din após a sua morte. Em 1549 Dargut Rais ameaça as praças do Estreito, conforme relata Francisco d’Andrada, cronista do Rei D. João III. Nessa ocasião D. Pedro de Mascarenhas encontrava-se em Tânger com Miguel de Arruda para fortificar a cidade e construir uma fortaleza no Monte Seinal, junto a Alcácer Ceguer, quando tiveram notícia de que “Dargut Arraiz tinha entrado no Estreito com grossa armada, e tinha inteligência secreta com o Xerife” para fazerem um ataque concertado, conforme informações dadas por um cativo que tinha fugido de Fez (ANDRADA, 1613, IV Parte, fl. 52). Este acontecimento coincide com a decisão de evacuar Alcácer e destruir as suas casas e fortificações, desistindo também da construção do Seinal, bem como de abandonar Arzila. Os navios que se encontravam preparados para transportar os moradores das duas praças são concentrados para fazer face à armada Turca, mas a notícia confirmou-se ser falsa, pelo que os procedimentos das evacuações prosseguiram conforme previsto (ANDRADA, 1613, IV Parte, fls. 53-56).
Gravura de Salé na Barbária, finais do séc. XVII, de Girolamo Albrizzi, Bibliothèque nationale de France
O século XVII é o século de ouro para os corsários e o trafico de cativos, que origina a criação de uma república corsária independente em Rabat-Salé, que tomou o nome de República de Salé, República das Duas Margens ou República Corsária do Bouregreg, nome do rio que divide as cidades de Salé e Rabat, e que vigorou a partir do ano de 1627, durante 41 anos. A criação desta República teve origem na ida para Marrocos de uma comunidade mourisca da Extremadura Espanhola, originária da vila de Hornachos. Os cerca de 3.000 hornacheros expulsos em 1609 instalaram-se inicialmente em Tetuan, mas o Sultão Mulai Zidane entregou-lhes o célebre Ribat Al-Fath, Ribat da Victoria, ou Ribat de Abdel Moumen, construído pelos Almóadas nos finais do século XII na actual cidade de Rabat, uma casbah que se encontrava num estado de abandono total e que foi então recuperada e adaptada para o uso da artilharia.
Jan Janszoon van Haarlem, Jan Janz, Capitão John, aliás Murad Rais, o “Grande Almirante”, origem e autor desconhecidos
Entre 1614 e 1619 os destinos da Casbah são dirigidos pelo hornachero Ibrahim Vargas, seu primeiro governador, e entre 1619 e 1627 pelo aventureiro holandês Jan Janszoon van Haarlem, também conhecido por Murad Rais, Capitão John, John Barber O Novo, investido pelo Sultão Mulai Zidane em 1624 no cargo de Grande Almirante. Para muitos autores foi o primeiro presidente da República de Bouregreg, entre 1624 e 1627, mas para a maioria a fundação da República só se consumaria após a morte do Sultão Mulai Zidane em 1627. O título de Almirante era geralmente atribuído aos presidentes eleitos pelo diwan ou conselho da república. Jan Janszoon nasceu em 1575 em Haarlem, na Holanda, e aí viveu durante a ocupação espanhola da Flandres, tendo adquirido carta de corso dos holandeses para fazer a guerra aos espanhóis. Como o corso na Flandres era pouco lucrativo, mudou-se para as bases corsárias da costa de Marrocos, usando a bandeira holandesa para atacar os navios espanhóis e a bandeira otomana para atacar os navios de outras nacionalidades. Em 1618 foi capturado por piratas argelinos nas Canárias e levado para Argel, onde se converteu ao Islão, tomando o nome de Murad Rais. Pertenceu ao bando do célebre Sulaiman Rais ou Seliman Reis, comandando uma frota de 18 dos seus xavecos. Em 1619, após a morte de Sulaiman, instala-se na Casbah de Rabat, sendo o único não-hornachero a ter assento no diwan. Em 1627, no seguimento de conflitos internos, abandona Salé e regressa a Argel, voltando a Marrocos em 1640 como governador de Oualidia.
As razias dos corsários de Salé às costas portuguesas eram uma constante e as suas rotas de eleição eram “o Cabo da Roca, as Berlengas e o Cabo de S. Vicente” (MAZIANE, 2009, p. 369), onde faziam ataques nas aldeias para o rapto de populações. Frequentemente, nas suas entradas em terra, contavam com a colaboração de mouriscos locais, onde semeavam o terror com a sua habitual indumentária de calças vermelhas e capa branca e o seu grito característico “Cães, rendam-se aos de Salé!” (MAZIANE, 2009, p. 369). António Saldanha descreve um episódio de um raid à costa do Algarve envolvendo Murad Rais: “Passou Murato Arraes pela costa do Algarve e ainda que levava intento de saquear Faro por meterem nisso dois renegados naturais daquela vila e casados com duas filhas suas (…) quis primeiro amanhecer no cabo de S. Vicente e ver o que ali havia. O adiantado que tinha suas vigias e sabia que o corsário havia desembocado no Estreito (…) fizeram sinal as vigias do cabo que para ele vinham cinco galeotas e, dobrando as sentinelas, com os remos nas mãos, esperavam que o mesmo corsário se lhe viesse meter nelas” (SALDANHA, [160-] 1997, p. 185). No final Murad Rais pressentiu o perigo e fugiu, metendo-se mar adentro, mas é relevante o facto de que levava consigo dois renegados naturais de Faro como guias.
Placa toponímica da Rua dos Cônsules em Rabat
Apesar do seu carácter de república marginal, o Bouregreg foi realmente um estado instituído, tendo sido reconhecido como tal por várias potências europeias, com quem mantinham relações diplomáticas e inclusivamente a presença de consulados. Ainda hoje subsiste na Medina de Rabat a Rua dos Cônsules, designação proveniente desse período. Foi tolerado, e, inclusivamente, utilizado pelo Sultão de Fez como alavanca ou arma de chantagem para conseguir pagamentos das potências europeias, com o argumento de minimizar os ataques aos seus navios. A Inglaterra e a Holanda foram os países que mantiveram relações mais fortes com a República de Salé, aliado seu na guerra contra Espanha. Muitas das mais notáveis famílias da sociedade actual de Rabat guardam nomes mouriscos ou deles derivados, como Bargach (Vargas), Campos, Perez, Balafrej (Pelafres), Barco (Blanco), Carrachkou (Carrasco), Moreno, Pérou (Piru), Palamino, Dinya (Denia), Runda (Ronda), Mulin (Molina), Sabbata (Zapata) ou Cortbi (Cordobês).
No reinado de Mulai Ismail, o Bouregreg é colocado na dependência directa do sultão. Em 1684 Abdellah Ben-Aicha é nomeado General dos Navios de Salé, e de 1691 a 1698 desempenhou o cargo de Comandante General da Armada Marroquina. Ben-Aicha, que já desempenhava importantes funções diplomáticas ao serviço de Mulai Ismail, passa também a ter a função de Alcaide das Duas Margens, “o que lhe permitia supervisionar o conjunto de serviços vitais (alfândega, movimento de navios, import-export) e o controlo das actividades dos cônsules, bem como os contactos diplomáticos com o corpo consular” (LUGAN, 2011, p. 191, citando B. Harakat).
Desta forma, o Estado Marroquino toma nas suas mãos o controlo da actividade corsária, da própria política externa do país e das relações comerciais entre Marrocos e a Europa, seguindo a política que Mulai Ismail já iniciara com a chamada nacionalização da escravatura.
Planta da cidade de Lagos, de 1621, in Descrição do Reino do Algarve, de Alexandre Massay, códice Vieira da Silva. Museu da Cidade de Lisboa
O Algarve era em Portugal o alvo preferencial dos corsários de Marrocos. São inúmeros os documentos que referem os seus ataques, como são exemplo estas duas cartas do governador Henrique Correia da Silva ao Rei de Portugal. A primeira é datada de 24 de Janeiro de 1639 e diz o seguinte: “Em Lagos não se achou caravela, ou outro navio algum, com que fazer diligência, ficam advertidos que para quando os haja me avisarem, e o corregedor daquela comarca que serve de capitão mor avisa que apareceram estes dias atrás 4 ou 5 navios de turcos pequenos e que com o tempo que faz se passariam a essa outra parte do Cabo de São Vicente” (IRIA, 1978, p. 42). A segunda é datada de 19 de Abril de 1640 e refere: “Andam os mouros tão atrevidos na quantidade de navios que de 8 dias a esta parte desembarcaram 2 ou 3 vezes do Cabo de São Vicente para dentro, e no meio dos lugares das armações do atum pelejaram com os da terra que os fizeram embarcar a mosquetadas, e lhe tolheram a água de que parece quão andam faltos, para que os tenho providos de pólvora e balas” (IRIA, 1978, p. 161).
Os ataques corsários ao Algarve deram origem à fortificação de muitas vilas e lugares, com muralhas ou simples tranqueiras. Em Lagos, por exemplo, é construída uma muralha no século XVI da autoria de Miguel de Arruda, seguindo o modelo abaluartado posto em prática anteriormente em Marrocos, mas de robustez bastante inferior, já que o previsível assaltante não seria um exército tradicional munido de artilharia pesada, mas razias de corsários com artilharia ligeira. Em Arenilha, para defesa da vila e da barra do Guadiana, são colocadas defesas sob a forma de “tranqueiras e repairos de madeira.” (PESSANHA, 2018, p. 82)
Portugal utilizava a guerra no mar desde que era nação. O mais antigo corsário português de que há memória foi D. Fuas Roupinho, o Almirante, cavaleiro Templário e alcaide de Porto de Mós. A sua actividade como comandante naval desenvolveu-se durante o reinado de D. Afonso Henriques, combatendo os piratas Norte Africanos e fazendo incursões no Algarve e Andaluzia, chegando mesmo a atacar Ceuta. Contava com uma frota de 40 navios. É inegável que Portugal tinha já nos séculos XIII e XIV uma indústria de construção naval forte, como provam as inúmeras referências a taracenas de construção e reparação de navios.
No século XIV, D. Dinis contrata o genovês Micer Manuel Pessanha (Emanuel Pessagno) para organizar a armada portuguesa e operar nas costas do Algarve e Alentejo. Pessanha introduz as galés na guerra do corso, navios movidos a remos e à vela, de grande versatilidade. Como recompensa pelos seus serviços foi-lhe concedido o título de Almirante e doada a Vila de Odemira.
Carta do Algarve, de 1621, in Descrição do Reino do Algarve, de Alexandre Massay, códice Vieira da Silva. Museu da Cidade de Lisboa
O Algarve era o centro da actividade marítima portuguesa ligada à guerra do corso e à exploração dos mares, e uma zona privilegiada no relacionamento com o Norte de Africa. Essa predisposição tem a ver com o facto de que, após a sua conquista pelos portugueses, não ter existido um movimento significativo de populações para o Magrebe, ficando muitos mouros na região, que mantinham contactos e trocas comerciais com Marrocos. O Algarve era um mundo à parte no contexto de Portugal, isolado pela serra algarvia, mantendo as suas tradições e cultura intactas. “Basta referir que em 1320, no reinado de D. Dinis, não havia ainda, ao que se supõe, nenhuma igreja cristã em Lagos, o mesmo acontecendo aliás em Lagoa, Portimão, Monchique, Olhão ou Vila do Bispo” (LOUREIRO, 2008, p. 17). O aumento da presença dos portugueses no Algarve e sobretudo o desenvolvimento do comércio na região, que se torna um importante entreposto de produtos entre o Mediterrâneo e o Norte da Europa, tem como consequência o incremento dos ataques dos corsários mouros, que frequentemente faziam pilhagens nas próprias cidades. O Mar das Éguas ou dos Algarves era permanentemente percorrido por navios corsários, portugueses e mouros, em busca de vítimas para os seus ataques. “Embora os contactos comerciais pacíficos nunca tenham sido interrompidos, assistiu-se então ao recrudescimento da pirataria. De parte a parte, tornam-se cada vez mais frequentes os ataques de piratas a embarcações comerciais ou as incursões a povoações costeiras” (LOUREIRO, 2008, p. 21).
Vemos assim que no final do século XIV a actividade corsária generaliza-se em Portugal. Os corsários portugueses actuavam preferencialmente no chamado Mar dos Algarves ou Mar das Éguas, quer fosse ao serviço do Rei de Portugal ou de nobres nacionais, quer fosse por conta própria, quer fosse inclusivamente ao serviço de potências estrangeiras. A casa real não se limitava a apoiar o corso, como detinha os seus próprios navios corsários, que saqueavam e atacavam navios, e promoviam expedições de busca de novas terras, para a expansão da sua actividade, pilhagem dos seus recursos e sobretudo rapto e escravidão dos seus habitantes. O corso era uma forma de enriquecimento e de ascensão social, já que muitos escudeiros eram nomeados cavaleiros após passarem algum tempo nos navios corsários, beneficiando também de reduções e isenções de impostos. Durante o século XV os portugueses já eram tidos como os maiores corsários da cristandade, actividade considerada nobre e honrada. O corso cumpria um papel determinante na defesa da costa Sul de Portugal e da navegação, sem encargos para o estado, que recebia parte dos lucros arrecadados.
A antiga Alfândega de Lagos, erradamente identificada como o Mercado de Escravos da cidade
Lagos tinha uma posição estratégica para o controlo da navegação, pela curta distância a que se encontra do Cabo de S. Vicente. Era a vila do Infante D. Henrique, sua principal base e um verdadeiro ninho de corsários e piratas. O governador do Reino do Algarve escreveria alguns anos mais tarde sobre Lagos, em carta enviada ao Rei D. José, que “este lugar era a chave do reino, por ser situado na costa do mar, com uma baía onde podiam dar fundo mais de duzentas naus de guerra e que junto tinha uma praia de mais de légua onde em poucas horas se podia fazer um desembarque de grande exército” (LOPES, [1841] 1988, obra citada).
Em 1444, Lançarote de Freitas, almoxarife da Vila de Lagos, funda a Parceria de Lagos, uma “sociedade de exploração e comércio organizada para resgate e descobrimentos da costa da Guiné” (PAULA, 1992, p. 357), que irá congregar os principais corsários de Lagos, como Soeiro da Costa, Gil Eanes, Vicente Dias e Estêvão Afonso, entre outros, promovendo expedições à costa Ocidental de Africa para captura de escravos. A primeira expedição parte nesse mesmo ano de 1444 e é constituída por 6 navios, comandados por Lançarote de Freitas, Gil Eanes, Estêvão Afonso, Rodrigo Alvares e João Dias, capturando 235 berberes e negros nos bancos de Arguim, na costa da Mauritânia. A sua venda num terreiro junto às Portas da Vila em Lagos foi descrita por Gomes Eanes de Zurara na sua Crónica da Guiné: “Uns tinham as caras baixas, e os rostos lavados com lágrimas, olhando uns contra os outros; outros estavam gemendo muito dolorosamente, esguardando a altura dos céus, firmando os olhos neles, bradando altamente, como se pedissem socorro ao pai da natureza; outros feriam seu rosto com suas palmas, lançando-se estendidos no meio do chão; outros faziam suas lamentações em maneira de canto, segundo o costume de sua terra, nas quais posto que as palavras da linguajem aos nossos não pudesse ser entendida, bem correspondia ao grau de sua tristeza (…) as mães apertavam os outros filhos nos braços, e lançavam-se com eles de bruços, recebendo feridas, com pouca piedade de suas carnes, para lhe não serem tirados! (…) O Infante estava ali em cima de um poderoso cavalo, acompanhado de suas gentes, repartindo suas mercês, como homem que de sua parte queria fazer pequeno tesouro” (ZURARA, [1448] 1841, pp. 133-135). Nos dois anos que se seguiram partiram mais expedições de Lagos com destino a Arguim, trazendo escravos. O volume do tráfico negreiro era tal, estimado em 700 a 800 escravos traficados por ano, que foi fundada uma feitoria em Arguim, onde se trocavam trigo, tecidos e cavalos por escravos e ouro, e que originou a criação em Lagos da Casa de Arguim e da Casa da Guiné para gerir o negócio.
Manipulação da suposta imagem do Infante D. Henrique patente nos Painéis de S. Vicente de Nuno Gonçalves, Museu Nacional de Arte Antiga
O rei tinha os seus próprios corsários, os corsários del rei. Os infantes D. Henrique, D. Fernando, D. Pedro e D. Duarte tinham todos corsários ao seu serviço, mas o Infante D. Henrique era de longe o grande promotor dos corsários de Portugal. Era D. Henrique que promovia e autorizava as expedições para o tráfico de escravos, e sobretudo que lucrava pessoalmente com o negócio, já que era detentor do seu monopólio. As condições dos contratos celebrados entre o Infante e os particulares impunham que “se o particular armasse uma caravela à sua custa, e a carregasse de mercadoria, teria de pagar ao Infante um quarto da carga importada de Africa”, mas “se o Infante armasse a caravela e o particular a abastecesse de mercadoria, o Infante receberia metade da carga de retorno” (LOUREIRO, 2008, p. 61). Para além da casa real, a nobreza também promovia o corso como um investimento lucrativo e uma forma de afirmar o seu poder e influências. Nobres como Álvaro de Castro, conde de Monsanto, ou Sancho de Noronha, Conde de Odemira, eram proprietários de navios corsários, pagando o correspondente tributo à casa real. O próprio clero participava neste negócio, como atesta o facto de D. Álvaro Afonso, bispo de Silves e Évora, chanceler-mor do infante D. Pedro, ter navios no corso. De entre a extensa lista de corsários portugueses destacam-se figuras como Bartolomeu Dias, João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira, Vasco Anes de Corte Real, Álvaro Fernandes Palenço, Álvaro Mendes de Cerveira ou Pedro Vaz de Castelo Branco.
As Ordens Militares de Cristo, Santiago e Avis também estiveram envolvidas na guerra do corso. Não foi estranho a esta situação o facto do Infante D. Henrique ter sido administrador da Ordem de Cristo até 1460 e D. Fernando da Ordem de Santiago. A Ordem de Avis foi particularmente activa no Mediterrâneo, onde se destacaram os corsários Soeiro da Costa, alcaide de Lagos, Rodrigo Sampaio, Diogo de Azambuja e Pedro de Ataíde o inferno, o mais famoso de todos os corsários portugueses, que ficou na história pelo terror que incutia nos mares por onde navegava.
Gravura de Ceuta. origem, data e autor desconhecidas
Com a conquista de Ceuta, Portugal afirma-se perante Castela como a grande potência naval da região. Este facto, aliado à necessidade de proteger os cada vez mais numerosos comboios de navios mercantes dos assaltos dos corsários Norte Africanos, origina um incremento do corso português, que esteve na génese dos próprios Descobrimentos. A actividade dos corsários portugueses teve um tal incremento no século XV, que não só atacavam os navios sarracenos, como os próprios navios de Portugal e Castela, motivando frequentes queixas ao rei. Era comum os navios corsários portugueses posicionarem-se na foz do Guadalquivir para atacar os navios mercantes espanhóis assim que estes se faziam ao mar. Os principais ninhos de corsários portugueses eram Lagos, Tavira, Odemira, Lisboa, Buarcos e Leça da Palmeira, mas Ceuta suplantaria todos eles na sua importância após a sua conquista em 1415.
“O arranque do processo expansionista, marcado pela conquista de Ceuta em 1415, foi, aliás, em parte, moldado em função dos interesses ligados ao corso, visto que o domínio da praça permitiu a automática substituição dos assaltantes muçulmanos, que costumavam operar a partir daquele ponto, por outros portugueses. Os infantes D. Pedro e D. Henrique aproveitaram o ensejo para usar Ceuta como base operacional das esquadras corsárias por si patrocinadas, o mesmo sucedendo com D. Pedro de Meneses, primeiro capitão nomeado (…) O estímulo sentido por tais personalidades era de dupla natureza. Por um lado, contribuíam para o combate aos ‘infiéis’, no âmbito de uma guerra que era tida como justa e honrosa pela generalidade do mundo cristão. Por outro lado, contabilizavam avultados ganhos materiais, que lhes advinham tanto da condição de armadores como do privilégio de arrecadarem o quinto das presas, de que a Coroa abdicou a seu favor “ (PELÚCIA, 2010, pp. 35-36).
Ceuta transforma-se rapidamente na maior base de corsários portugueses, suplantando a importância de Lagos. A conquista de Ceuta alarga o âmbito das açcões de Portugal, que passa a controlar a navegação no Estreito de Gibraltar e a sabotar o comércio entre Marrocos e o reino de Granada. “A necessidade obrigava-a a transformar-se numa poderosa base naval. Tinha de limpar o estreito da pirataria moura e cristã e engordar ferindo as ligações entre o Magrebe e o Reino de Granada. Desde as primeiras horas os seus corsários flagelaram as rotas que ligavam Granada a Tunes e aos portos atlânticos de Tânger, Arzila, Larache, Anafé” (COELHO, 2011, p. 24).
Fusta com pavilhão português, de Jan Huygen van Linschoten, Koninklijke Bibliotheek, Holanda
D. Pedro de Menezes é nomeado capitão da Praça e responsável pela sua defesa. Pedro de Menezes compreende rapidamente que a defesa de Ceuta não se faz só por detrás dos seus muros, mas principalmente no mar. Inicialmente só tinha ao seu dispor duas galés deixadas por D. João I à guarda de Micer Tom, “irmão do Almirante Micer Lançarote” (ZURARA, [1463] 2015, p. [309] 105), comandante da armada de Portugal, que se mostraram embarcações pouco adequadas para combater os corsários muçulmanos. “Na altura do regresso a Portugal, após a conquista de Ceuta, João I deixou em Ceuta duas galés para guardar o Estreito e defender a praça, recém-ocupada. O tempo demonstrou, no entanto, que para reprimir a pirataria muçulmana, era conveniente usar-se um tipo de barco, rápido e ligeiro, capaz de perseguir e se aproximar do inimigo e, naturalmente, apresá-lo. Ocorreu, assim, a necessidade de se construírem embarcações menores e mais velozes, a fim de se adaptarem às águas da bacia do Mediterrâneo e do ‘Mar das Éguas’. Também se verificou o recurso a lenhos capturados pelos corsários, que iam engrossar a marinha de guerra portuguesa. A coroa e, em particular, Ceuta assimilaram esta experiência funcional, ao optarem pelo fabrico de naves de baixa tonelagem, adaptadas à singularidade de navegação no Estreito. Ao menor porte, exigia-se que fossem céleres. Ora, uma pequena vela actuava em qualquer praia, ancoradouro, enseada, o que não acontecia com outras de maiores dimensões, que exigiam lugares mais apropriados.” (CRUZ, 2003, p. 54)
E porque as galés são navios grandes “é necessário, que façamos começo naquela nobre Fusta, que o Conde primeiramente mandou fazer, a que chamaram Santiago Pé de Prata (…) a qual era de dez bancos, e quis a boa dita do Conde, que saiu muito ligeira assim de remos, como de velas; e foi um bom sinal dos acontecimentos vindouros: e a primeira vez, que aquela fusta foi armada, mandou o Conde por Patrão dela um Afonso Garcia Queirós, que era homem fidalgo, e esforçado, e muito usado na guerra dos Mouros, aos quais desamava” (ZURARA, [1463] 2015, p. [310] 106). Seguiu-se a construção de outros barcos de pequeno porte e a utilização de navios aprisionados. “Do que foi dado a estudar, a frota portuguesa empregou, preferencialmente, a fusta e o bergantim, seguido da galeota e da barca e, com menor expressão, a barqueta, galé, além da caravela e alaúde” (CRUZ, 2003, p. 55).
A Mulher Morta, monte que domina a paisagem de Ceuta
Zurara relata vários dos muitos assaltos que Afonso Garcia fez a navios. Certa vez colocou a sua fusta junto a Almarça, durante a noite, esperando “alguma presa, se Deus lha quisesse oferecer”. Atacaram um navio que se dirigia de Málaga para Tânger. A tripulação fugiu abandonando o barco e a sua carga, capturando-se também duas mouras. O assalto rendeu dez mil coroas, em “panos de ouro, e de seda, e de outra roupa talhada” (ZURARA, [1463] 2015, pp. [311-312] 107-108). Noutra ocasião o corsário português teve a notícia de que um navio carregado de mercadorias se preparava para largar ferro de Gibraltar. Durante a noite atacaram essa barca já em viagem, “mas por certo, ele não achou aquela gente preguiçosa nem cobarde; mas homens prestes, e de muito esforçados corações”, já que se bateram com valentia e causaram mortos e muitos feridos, entre os quais o próprio Afonso Garcia. “Esta entrada foi muito trabalhosa; pois os Mouros eram homens de força e pelejavam pela sua própria fazenda”. No final a barca foi aprisionada, 24 mouros feitos cativos, e “ali achadas muitas coisas de grande valor, especialmente seda fina, e roupa talhada, e muita moeda de ouro, e de prata”, para além de muita fruta que levavam como lastro (ZURARA, [1463] 2015, pp. [312-315] 108-111).
Muitos nobres mantinham frotas de corso em Ceuta, cujas embarcações circulavam entre a cidade e Lagos. Zurara refere-se às “Fustas do Conde, das quais era o principal Capitão Álvaro Fernandes Palenço, homem por certo nobre, e que grandes, e muito notáveis coisas fez no mar” (ZURARA, [1463] 2015, pp. [534-535] 330-331). Outros estabeleceram-se em Ceuta e aí geriam os seus negócios, como Micer João de Salla-Nova, Diogo Vasques ou Fernão Guterres. Muitos estrangeiros também utilizavam Ceuta como sua base, principalmente genoveses e aragoneses, como Pêro Palau ou Benito Fernandez. D. Pedro de Meneses empregava nos seus navios corsários portugueses e estrangeiros, como o genovês Pedro Palhão ou o castelhano João Riquelme, construindo em poucos anos um autêntico império económico. O aumento do número de corsários e dos recursos navais expandiu a actividade do corso sediado em Ceuta para o Mar de Alborán, a Leste, até ao Cabo Gata e para a costa Atlântica de Marrocos até Anafé. A esta expansão da actividade do corso correspondeu também o aparecimento das incursões em terra, muitas vezes de forma concertada com a marinha de guerra e a tropa regular, saqueando aduares com o objectivo de fazer cativos e pilhar gado, colheitas e outros bens. “Como nos faz crer Zurara, era difícil a Ceuta manter-se sossegada: ora se faziam entradas território adentro, ora incursões marítimas” (CRUZ, 2003, p. 50).
A caravela Boa Esperança
O corso não se combatia com uma marinha de guerra tradicional, como demonstraria mais tarde o pouco sucesso que teve a Esquadra do Estreito criada por D. Manuel em 1520, já que os navios para serem eficazes tinham que ser rápidos e facilmente manobráveis. As tonelagens das embarcações de guerra são assim reduzidas em benefício da sua versatilidade. As próprias embarcações que os portugueses utilizavam inicialmente nas viagens dos Descobrimentos durante o século XV eram pequenas, normalmente caravelas de entre 50 e 200 toneladas e equipagens de meia centena de homens. A barca com que Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador era uma embarcação ligeira, de 25 a 30 toneladas (VELOSO, 2006, p. 39). As naus que Vasco da Gama utilizou na descoberta do caminho marítimo para a India eram também de pequena tonelagem, tendo em conta a dimensão do percurso: a S. Gabriel e S. Rafael tinham 180 toneladas, enquanto a Bérrio tinha apenas 50. A caravela henriquina tinha cerca de 65 toneladas, e foi o navio de excelência deste período, tanto utilizada nas viagens de exploração, como no corso. Era muito versátil e o facto de dispor de uma vela latina permitia-lhe velejar à bolina, ou seja, contra o vento, assegurando as viagens de regresso no Atlântico, onde dominam os ventos do Norte. A caravela seria uma embarcação já existente no Algarve, concretamente na comunidade de pescadores de Lagos, onde o infante D. Henrique se estabelece, que seria posteriormente adaptada, passando dos dois mastros com velas triangulares latinas para três mastros e castelo na popa, mais tarde quatro mastros e finalmente “o bastardo da vela do traquete foi substituído por uma vela redonda dando aso ao aparecimento da chamada caravela armada” (VELOSO, 2006, pp. 66-69).
No século XVI, o intenso tráfego que a Carreira das Índias originava e consequente necessidade de espaço para armazenamento de mercadorias e de rentabilização das viagens obriga à construção de navios de carga de grande porte, naus e galeões, que eram normalmente escoltados por comboios de embarcações de combate durante a fase inicial do percurso, para fazer face aos ataques corsários no Mar dos Algarves. As taracenas de Lisboa construíam embarcações de tonelagens impressionantes, como refere Braudel, citando um viajante que em 1634 visitou a cidade: “Os Portugueses, conta ele, têm o hábito de construir em quantidade e de enorme tonelagem. A madeira que se emprega é fantástica, ao ponto de uma floresta de várias léguas não ser suficiente para dois navios. A construção de um desses barcos reclama o trabalho de 300 homens durante um ano; os pregos e outras peças de ferro pesam até 500 toneladas. As naus são normalmente de 2.000 a 2.500 toneladas. Para o mastro, eles escolhem oito pinheiros entre os mais altos e juntam-nos num só cilindro, com aros de ferro; a bordo, a equipagem é de 400 homens” (BRAUDEL, [1949] 1990, Tomo I, pp. 370-371).
Planta de Larache de Bernardo Alderete, 1614, Biblioteca Nacional de Espanha
Os capitães das praças atacavam frequentemente as bases corsárias para neutralizar os seus navios e prevenir futuros ataques. Uma incursão que merece uma referência especial, foi um ataque a Larache em Julho de 1417, narrado por Zurara, com efeitos devastadores na cidade. Nesse mês chegou a Ceuta um castelhano com quem D. Pedro de Meneses falou em segredo, contando-lhe que “desejava marchar sobre Larache, que é um lugar daquela parte das praias, para o queimar, e destruir”. O castelhano, que ia regularmente a Larache fazer comércio, informou o conde que as defesas de Larache eram fracas, já que “dois pedaços do muro da Vila caíram, pouco tempo há, e foram levantados com pedra ensossa, de tal forma, que com pequena força vão logo ao chão”. O conde propôs-lhe que o ajudasse na entrada das forças portuguesas na barra, ao que o castelhano lhe respondeu que Castela estava em paz com Marrocos e não podia quebrá-la, mas que ajudaria os portugueses dentro das suas possibilidades. O conde deu então ordem a Afonso Martins, Diogo Vasques de Portocarreiro, João Barroso, Álvaro Pires e Lourenço Anes de Pádua que organizassem uma força de bergantins e fustas, num total de sete navios, para ir a Larache. O ataque foi rápido e letal, já que os portugueses entraram facilmente na vila e a mortandade foi grande. “Ali se podiam ouvir brados, e gemidos dolorosos, que davam aqueles, que os golpes recebiam, e de si sangue corria por cada parte, por cuja míngua os corpos frios do natural calor caiam estendidos por aquelas ruas; e como a mortandade fosse grande, ainda seria muito maior, se os Mouros não tivessem acordo de se recolher ao Castelo, e dai fugir logo por uma porta da traição, que aquela Fortaleza tinha”. O saque foi muito grande e ainda foram aprisionados 24 mouros que não conseguiram fugir. A vila e o castelo foram no final incendiados, todo o gado e os cavalos que encontraram foram mortos. (ZURARA, [1463] 2015, pp. [400-406] 196-206)
David Lopes relata um outro ataque à praia de Larache no ano de 1504, organizado por D. João de Meneses, capitão de Arzila, onde se encontravam quatro caravelas portuguesas “tomadas nas costas do nosso Algarve”. Para isso reuniu três caravelas de Arzila e mais três que Garcia de Melo tinha para vigiar o Estreito, protegeu uma delas com colchões e sacas de lã para resistir aos tiros de artilharia da fortaleza que defende a barra do Rio Lucos, e conseguiu fazer desembarcar através dessa caravela vários homens na praia, que pegaram fogo às caravelas roubadas (LOPES, 1925, pp. 107-109).
Gravura de Anafé no séc. XVI da obra Civitates Orbis Terrarum de Braun e Hogenberg, 1572
Para além de ataques da iniciativa dos capitães das praças, a Coroa Portuguesa também organizou operações de destruição de grande envergadura, como foi ou o ataque a Anafé no ano de 1468, a Expedição dos Aduares no ano de 1487 e o ataque a Targa em 1490.
No ano de 1468 ou 1469, a data varia conforme os autores, uma armada portuguesa aportava em Anafé para uma missão punitiva. Anafé, actual Casablanca, era uma base de corsários particularmente activos. Damião de Góis escreveu que ataque foi meticulosamente preparado, com o envio prévio de um fidalgo espião, Estevão da Gama, “que foi lá com um navio carregado de figo passado do Algarve a modo de mercador, e para melhor conhecer o sítio da Vila, ele mesmo em vestidos de marinheiro, andava com as peças de figos, e passas às costas, vendendo-as pela Vila, para notar o que nela havia, e a Fortaleza que tinha, e a gente que era necessária para a tomarem” (GÓIS, [1567] 1724, p. 82), que recolheu preciosas informações sobre a cidade. Foi organizada uma esquadra de 50 navios e 10.000 soldados, comandada por D. Fernando, irmão do Rei D. Afonso V, como refere Marmol y Carvajal: “Afonso, Rei de Portugal, enviou o seu irmão D. Fernando com dez mil soldados, que a queimaram e a demoliram, sem nenhum obstáculos, pois os seus habitantes não descobriram a tempo a armada real e abandonaram a cidade sem nunca mais voltar” (MARMOL y CARVAJAL, [1573] 1667, p. 140). Anafé foi totalmente arrasada. Rui de Pina refere que os mouros quando viram o poder da força portuguesa desampararam a cidade, “que foi logo entrada e roubada; e porque era de grande cerca, cuja defesa seria muito difícil (…) e porque na frota não ia gente e mantimentos que pudessem deixar e suprir à defesa da cidade, acordaram de em muitas partes a desportilhar e derrubar” (PINA, [15–] 1902, Vol. III, pp. 53-54). Leão O Africano visitou Anafé após o ataque e escreveu o seguinte: “Vendo o que vi quando lá fui, não pude reter um a lágrima súbita que corria do meu olho, testemunhando a grande pena de que do meu coração se apoderou, oferecendo-se à minha vista um tal espectáculo, porque a estrutura do lugar fora bastante agradável e magnífica, tendo em conta os templos sumptuosos, as belas lojas e os soberbos edifícios que estão ainda de pé”. E concluiu que não há qualquer “esperança que ela possa voltar a ser habitada” (LÉON AFRICAIN, [1530] 1897, Vol. II, pp. 9-13). Os resultados da intervenção portuguesa foram devastadores para a cidade, que foi arrasada e assim permaneceu por mais de três séculos. A gravura de Gravura de Anafé 1572 da obra Civitates Orbis Terrarum de Braun e Hogenberg é elucidativa da sua situação catastrófica no século XVI. Mostra uma cidade destruída, com as suas muralhas parcialmente derrubadas, os minaretes com os coroamentos arrasados, a área intramuros com as poucas casas existentes em situação de ruína.
A Expedição dos Aduares foi uma iniciativa de D. João II que organizou uma força de “trinta navios, e taforeas, em que foram cento e cinquenta de cavalo (…) e com eles mil homens de pé entre espingardeiros, besteiros, e lanceiros, de que deu por Capitão Mor D. Diogo Fernandes de Almeida (…) e com ele ia D. João de Ataíde”. O cronista Rui de Pina conta que o objectivo inicial da expedição, “se desacertou”, e então os portugueses atacaram diversas aldeias ou aduares nos arredores de Anafé, onde “morreram novecentos inimigos (…) e cativaram deles entre homens e mulheres quatrocentos que a este Reino foram trazidos com outro muito despojo e muitos cavalos” (PINA, [15–] 1792, pp. 76-77).
A Fortaleza de Targa
O ataque a Targa foi confiado a D. Fernando de Meneses que partiu com 50 velas do Algarve “providas de muita, e boa gente, que levavam muitos cavalos”, fazendo escala em Gibraltar, onde se juntaram alguns navios castelhanos e de Ceuta. Contas feitas, seriam uns 2.000 homens, entre os quais 130 cavaleiros. A vila foi tomada facilmente porque os mouros fugiram para a serra. “E, porém, alguns foram mortos, e cativos, e a Vila toda roubada, e queimada, e derrubada pelo chão”. Encontraram 25 navios que aprisionaram, bombardas, pólvora e outras armas, e muitas ferramentas. Levaram consigo 30 cristãos que encontraram cativos (PINA, [15–] 1792, pp. 103-104). De Targa seguiram para Ceuta e daí para Alcácer Ceguer, onde organizaram um ataque ao interior do território, ao lugar de Çamice, (Al-Zamij ?), onde foram mortos 400 mouros, feitos cativos 100 e pilhadas várias aldeias, com muito gado roubado, roupas e outras coisas (PINA, [15–] 1792, pp. 105-106). A descrição destes dois ataques por Garcia de Resende é em tudo igual à de Rui de Pina. Resende refere que no ataque a Camice morreram 70 portugueses (RESENDE, [1545] 1973, p. 148).
Merci beaucoup pour ce partage
Afwan sadiqi
2021-05-10 10:53 GMT+01:00, Histórias de Portugal em Marrocos